Isto não é algo para ser justificado ou
desconsiderado, mas lamentado, pois é decorrente da nossa condição real neste
mundo, no que tange à nossa natureza terrena.
Entretanto, a par de toda limitação e imperfeição
somos exortados ao arrependimento e à busca da perfeição, a ter as faculdades
exercitadas e amadurecidas para discernir tanto o bem quanto o mal. Se assim
não fosse, não teríamos tantas admoestações e ameaças da parte do próprio
Senhor Jesus Cristo, quanto às diversas falhas das igrejas conforme apontadas
por Ele nos capítulos 2 e 3 de Apocalipse.
Não é fácil alcançar o equilíbrio entre a ortodoxia
(pregação e ensino da sã doutrina) e o poder do Espírito manifestado na vida da
igreja.
Quando a balança pende apenas para um dos lados, o
testemunho da verdade fica capenga com uma perna mais curta do que a outra. Não
se pode ter uma adequação entre a verdade e a prática, quando se incorre em um
ou ambos dos erros dos saduceus que não conheciam nem a verdade revelada e nem
o poder de Deus.
Se negarmos o poder é possível que nos
escandalizemos com as próprias demonstrações sobrenaturais do Espírito Santo,
as quais acompanharam o ministério de Jesus e dos apóstolos, assim como se
escandalizaram os escribas e fariseus que eram os guardiões da Lei de Moisés.
Se resistirmos à pregação e ensino da sã doutrina,
sob a alegação de que pode atrapalhar a livre manifestação do poder, ficamos
sujeitos a um procedimento não santificado na vida cristã, e acolhendo todo
erro e mentira que forem profetizados como sendo nova verdade revelada por Deus
Em razão desta realidade faremos bem em atentar para
as palavras do apóstolo Paulo que já em seus dias estava convivendo com a
mesma, e entendia que o que importava é que Cristo fosse pregado, que o
evangelho avançasse, ainda que a motivação daqueles que o faziam não fosse
aprovada por Deus:
“15 Alguns,
efetivamente, proclamam a Cristo por inveja e porfia; outros, porém, o fazem
de boa vontade;
16 estes, por
amor, sabendo que estou incumbido da defesa do evangelho;
17 aqueles,
contudo, pregam a Cristo, por discórdia, insinceramente,
julgando suscitar tribulação às minhas cadeias.
18 Todavia,
que importa? Uma vez que Cristo, de qualquer modo, está sendo
pregado, quer por pretexto, quer por verdade, também com isto me regozijo, sim,
sempre me regozijarei.” (Filipenses 1.15-18).
Paulo escreveu esta epístola aos Filipenses quando se encontrava
aprisionado em Roma. Enquanto isso muitos estavam pregando com o simples
intuito de superá-lo e vangloriando-se no fato de estarem prosperando e livres,
enquanto ele estava preso por cerca de quatro anos. Por isso ele diz o
seguinte: “pregam a Cristo, por discórdia, insinceramente,
julgando suscitar tribulação às minhas cadeias.” E como
ele reagiu a isto? Protestou que deveria ser honrado e obedecido por sua
autoridade apostólica? Não. Ele disse que isto pouco importava desde que Cristo
estivesse sendo pregado.
E tem sido assim no decorrer dos séculos: há os que buscam um testemunho
santo, baseado em motivações santas, e para honrarem não a si mesmos mas
exclusivamente a Deus, mas há também estes aos quais o apóstolo se refere que
estão motivados por muitos outros interesses.
Mas, o que pesa mesmo nesta questão do confronto da verdade com a
realidade é a falta de equilíbrio a que nos referimos inicialmente, entre a
ortodoxia e a prática, entre a sã doutrina e as manifestações de poder do
Espírito, pois uma não é contra a outra, e no propósito de Deus, sempre
deveriam seguir juntas.
Há aqueles que negam a importância da sã doutrina na vida cristã, e que
se deve dar atenção apenas ao mover que o Espírito Santo está realizando em
nossos dias. Quando isto acontece, cada crente é estimulado, direta ou
indiretamente, a formar o seu próprio corpo de doutrina, e sabemos que isto é
totalmente contrário à vontade revelada de Deus. Ele não mudará um só til de
sua Palavra para adequá-la ao gosto das pessoas.
Agora, quando se dá muita honra apenas à Palavra escrita, e se tem
grande conhecimento da mesma, e todavia pouca ou nenhuma prática do que nela se
ordena, na própria vida, também não há benefício real nisto para o avanço do
reino de Deus e testemunho da verdade, a qual é eficaz somente quando
incorporada à vida.
Melhor seria ter um missionário no campo, ainda que com pouco
conhecimento das doutrinas fundamentais, mas esforçando-se por tornar Cristo
conhecido, do que guardar toda a verdade no intelecto sem fazer qualquer uso da
mesma.
Que Deus nos guarde destes erros que são tão comuns de serem vistos, e
nos ajude a achar um modo de viver que se aproxime cada vez mais da Sua
aprovação e vontade, para que Ele possa ser glorificado através das nossas
obras.
Por Silvio Dutra
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