quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

A Verdade e a Realidade


 A verdade é Jesus Cristo e a Bíblia que testemunha esta verdade, mas a realidade dos que são de Cristo e o testemunho que dão da verdade neste mundo sempre é variável e imperfeito, pois se Jesus, sendo Deus é perfeito, o crente, por mais santo que seja sempre conhecerá em parte e em consequência disso terá um testemunho que não corresponde integralmente à verdade, pois ainda que se alcance o essencial de tudo que é a salvação da alma, todavia, a santificação, o conhecimento e transmissão da verdade, sempre será imperfeito.
Isto não é algo para ser justificado ou desconsiderado, mas lamentado, pois é decorrente da nossa condição real neste mundo, no que tange à nossa natureza terrena.
Entretanto, a par de toda limitação e imperfeição somos exortados ao arrependimento e à busca da perfeição, a ter as faculdades exercitadas e amadurecidas para discernir tanto o bem quanto o mal. Se assim não fosse, não teríamos tantas admoestações e ameaças da parte do próprio Senhor Jesus Cristo, quanto às diversas falhas das igrejas conforme apontadas por Ele nos capítulos 2 e 3 de Apocalipse.
Não é fácil alcançar o equilíbrio entre a ortodoxia (pregação e ensino da sã doutrina) e o poder do Espírito manifestado na vida da igreja.
Quando a balança pende apenas para um dos lados, o testemunho da verdade fica capenga com uma perna mais curta do que a outra. Não se pode ter uma adequação entre a verdade e a prática, quando se incorre em um ou ambos dos erros dos saduceus que não conheciam nem a verdade revelada e nem o poder de Deus.
Se negarmos o poder é possível que nos escandalizemos com as próprias demonstrações sobrenaturais do Espírito Santo, as quais acompanharam o ministério de Jesus e dos apóstolos, assim como se escandalizaram os escribas e fariseus que eram os guardiões da Lei de Moisés.
Se resistirmos à pregação e ensino da sã doutrina, sob a alegação de que pode atrapalhar a livre manifestação do poder, ficamos sujeitos a um procedimento não santificado na vida cristã, e acolhendo todo erro e mentira que forem profetizados como sendo nova verdade revelada por Deus
Em razão desta realidade faremos bem em atentar para as palavras do apóstolo Paulo que já em seus dias estava convivendo com a mesma, e entendia que o que importava é que Cristo fosse pregado, que o evangelho avançasse, ainda que a motivação daqueles que o faziam não fosse aprovada por Deus:
15 Alguns, efetivamente, proclamam a Cristo por inveja e porfia; outros, porém, o fazem de boa vontade;
16 estes, por amor, sabendo que estou incumbido da defesa do evangelho;
17 aqueles, contudo, pregam a Cristo, por discórdia, insinceramente, julgando suscitar tribulação às minhas cadeias.
18 Todavia, que importa? Uma vez que Cristo, de qualquer modo, está sendo pregado, quer por pretexto, quer por verdade, também com isto me regozijo, sim, sempre me regozijarei.” (Filipenses 1.15-18).
Paulo escreveu esta epístola aos Filipenses quando se encontrava aprisionado em Roma. Enquanto isso muitos estavam pregando com o simples intuito de superá-lo e vangloriando-se no fato de estarem prosperando e livres, enquanto ele estava preso por cerca de quatro anos. Por isso ele diz o seguinte: “pregam a Cristo, por discórdia, insinceramente, julgando suscitar tribulação às minhas cadeias.” E como ele reagiu a isto? Protestou que deveria ser honrado e obedecido por sua autoridade apostólica? Não. Ele disse que isto pouco importava desde que Cristo estivesse sendo pregado.
E tem sido assim no decorrer dos séculos: há os que buscam um testemunho santo, baseado em motivações santas, e para honrarem não a si mesmos mas exclusivamente a Deus, mas há também estes aos quais o apóstolo se refere que estão motivados por muitos outros interesses.
Mas, o que pesa mesmo nesta questão do confronto da verdade com a realidade é a falta de equilíbrio a que nos referimos inicialmente, entre a ortodoxia e a prática, entre a sã doutrina e as manifestações de poder do Espírito, pois uma não é contra a outra, e no propósito de Deus, sempre deveriam seguir juntas.
Há aqueles que negam a importância da sã doutrina na vida cristã, e que se deve dar atenção apenas ao mover que o Espírito Santo está realizando em nossos dias. Quando isto acontece, cada crente é estimulado, direta ou indiretamente, a formar o seu próprio corpo de doutrina, e sabemos que isto é totalmente contrário à vontade revelada de Deus. Ele não mudará um só til de sua Palavra para adequá-la ao gosto das pessoas.
Agora, quando se dá muita honra apenas à Palavra escrita, e se tem grande conhecimento da mesma, e todavia pouca ou nenhuma prática do que nela se ordena, na própria vida, também não há benefício real nisto para o avanço do reino de Deus e testemunho da verdade, a qual é eficaz somente quando incorporada à vida.
Melhor seria ter um missionário no campo, ainda que com pouco conhecimento das doutrinas fundamentais, mas esforçando-se por tornar Cristo conhecido, do que guardar toda a verdade no intelecto sem fazer qualquer uso da mesma.
Que Deus nos guarde destes erros que são tão comuns de serem vistos, e nos ajude a achar um modo de viver que se aproxime cada vez mais da Sua aprovação e vontade, para que Ele possa ser glorificado através das nossas obras.
                

Por Silvio Dutra







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