Quando vemos uma pessoa de idade madura para
avançada, vivendo por tanto anos seguidos sob a escravidão de vícios os mais
diversos, como o de álcool ou de drogas ilícitas, por exemplo, ou então, pelo
lado oposto, julgando-se tão boa entre seus semelhantes, e tão cheia de
virtudes, que julga nada precisar ser feito para ir para o céu depois desta
vida, temos um desafio diante de nós, quanto ao modo de alcançar tanto a um e a
outro com a verdade divina sobre a condição respectiva de ambos, que é a mesma,
no tocante à necessidade de salvação.
Por mais incrível que possa parecer, a pessoa que exemplifica o primeiro
grupo é mais facilmente convencida pela verdade do que a do segundo, conforme a
experiência tem demonstrado ao longo da história da humanidade, e
apresentaremos algumas das razões para isto.
Segundo o modo comum de se julgar, a maioria de nós pensa que o pecador
contumaz e aberto é um caso irremediavelmente perdido, e que aqueles que estão
cheios de virtudes morais estão mais próximos do reino de Deus do que os
primeiros, e que seria portanto muito mais fácil alcançarem a salvação em
Cristo do que os grandes pecadores.
Todavia, não se pode medir a possibilidade de salvação de alguém por este
meio de avaliação, e ainda que não pretendamos dizer que é melhor ser um
pecador contumaz do que alguém virtuoso, Deus nos livre disto! Senão apenas
afirmar que seria mais fácil para o primeiro ser salvo do que o segundo,
conforme o próprio Jesus disse aos escribas e fariseus, que eram religiosos
virtuosos externamente, que publicanos e meretrizes entravam no reino de Deus
antes deles. Não porque eram ladrões e prostitutas, mas porque era mais fácil
para eles reconhecerem que são de fato pecadores, do que aqueles que são justos
a seus próprios olhos.
Por que as coisas são dispostas por Deus desta forma?
Há uma razão para isto?
Sim. E é esta razão que devemos sempre e unicamente considerar no assunto
relativo à nossa salvação, conforme veremos adiante.
Por estarmos acostumados à ideia de mérito pessoal, de capacidade, de
dons, talentos, fortuna, poder, e outros atributos semelhantes, como o meio de nos
tonar distintos e superiores a outros, é comum que transportemos estas noções
para o campo da salvação espiritual, para a nossa aceitação por Deus e a
consequente obtenção da vida eterna e o direito de ir para o céu depois desta
vida.
Todavia, nenhuma destas coisas é levada em conta por Deus para nos
salvar, porque o principal fator relativo à salvação tem a ver com o próprio
Deus, e nem tanto conosco. Eu explico:
O atributo da justiça e santidade divinos são perfeitos e exigem de todas
as criaturas morais, que para serem aceitas por Ele e poderem viver juntamente
com Ele, elas necessitam também de uma justiça e uma santidade perfeitas.
Olhemos para nós. E se houver sinceridade, o melhor de nós há de admitir
que ninguém possui o que é exigido pela justiça de Deus, que é conformação
absoluta e perfeita da nossa parte à Sua santidade.
O pior de tudo. Não tendo esta perfeição de justiça e santidade, todos
somos devedores em completo estado de miséria e condenação perante Deus, nosso
Criador. Ele não poderá deixar de executar a sentença de condenação sobre todos
aqueles que não tiverem sido justificados por Ele.
É desta condenação e desta nossa condição de miséria que Deus se propõe a
nos salvar por meio de Cristo.
Chegamos agora a uma palavra muito importante no assunto da salvação:
JUSTIFICAÇÃO.
Ela se encontra na Bíblia, especialmente no Novo Testamento, em que somos
ensinados direta e claramente que ela significa o fato de sermos perdoados por
Deus, e considerados perfeitamente justos por Ele, de forma que possa nos
aceitar como seus filhos amados. Veja bem, não que já sejamos feitos por ele,
por meio da justificação, real e perfeitamente justos, enquanto neste mundo, mas
que somos assim considerados por ele por causa de Jesus, quando nele cremos.
Esta JUSTIFICAÇÃO pela fé em Cristo é o único bilhete que temos para ir
para o céu e para obter a vida eterna. Não há outro designado para tal, e nem
mesmo poderia haver, pois o plano de salvação de Deus é perfeito e único.
É pela justificação que somos reconciliados com Deus, pois sendo
pecadores, naturalmente, por melhor que sejamos, por nós mesmos, estamos
separados dele, e na verdade, não apenas separados, mas debaixo da maldição da
Lei e da condenação eterna.
Poucos conhecem a verdade que Deus tem amaldiçoado para sempre a todo aquele
que descumprir um só mandamento da Sua Lei, ainda que fosse por uma única vez
em toda a sua vida. A conclusão então é que todos chegamos a este mundo e
permanecemos amaldiçoados e destinados a uma condenação eterna, a menos que
sejamos livrados desta maldição para sempre por meio da fé em Jesus, que é o único
que pode nos remover de debaixo dela, porque se fez maldição em nosso lugar na
cruz.
“Cristo nos resgatou da
maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está
escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro),” (Gálatas 3.13).
“Justificados pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso
Senhor Jesus Cristo.” (Romanos 5.1).
Esta paz com Deus se refere à reconciliação. À
reaproximação dele por meio da fé que temos em Jesus.
Então alguém dirá: “É muito fácil. Basta dizer,
portanto, que creio em Jesus e já estou salvo para sempre.” Sim, e não, pois
algumas coisas devem acompanhar a nossa fé. Uma delas é o arrependimento
sincero por reconhecermos que somos pecadores, transgressores da lei de Deus e
da Sua vontade, e lamentarmos isto, e buscarmos a Cristo para que possamos ser
lavados e perdoados de nossos pecados, com a firme decisão de que o teremos
como o Senhor da nossa vida, para nos transformar, ensinar e guiar na verdade e
na justiça.
Assim, embora o bêbado e o moralista sincero, não
necessitem dar o seu caso como perdido, o primeiro por sua imundície, e o
segundo por seu orgulho espiritual, pois há esperança para ambos, de igual
modo, em Cristo, se requer um reconhecimento verdadeiro de sua real condição
quanto a não terem tido no decorrer de suas vidas tributado a devida adoração
ao Senhor e obediência à Sua Palavra.
Quando pedimos a Cristo para entrar no nosso coração
e mudar a nossa vida, passamos a ter o desejo de orar a ele, sentimos amor a
Deus e aos demais que também o amam verdadeiramente, e sentimos que muito
daquelas coisas que antes nos dominavam começam a bater em retirada, na medida
em que caminhamos em obediência à Sua vontade.
O que furtava não mais furtará.
O que era adúltero se tornará fiel.
O bêbado deixará as más companhias e a bebida.
O boca suja receberá uma boca limpa.
Ainda que não sejamos salvos pela remoção absoluta e
total de tudo isto e de todos os demais pecados a que estamos sujeitos,
caminhamos para a total libertação deles, e nossa salvação não pode ser anulada
por Deus, porque ele decidiu nos salvar por meio da justificação e não por
nossas boas obras.
É porque Jesus se tornou o nosso Fiador, que não
somos considerados mais como sendo devedores de Deus, pois ele, e somente ele,
quitou completamente a nossa dívida de pecados.
De modo que a aliança que Deus fez para nos salvar
foi antes de tudo e em primeiro lugar com o próprio Filho Unigênito, com Jesus
Cristo, de maneira que a capacidade de permanecermos salvos foi colocada sobre
os ombros dele, e não sobre os nossos, pois somos imperfeitos e falhos, e
assim, a aliança seria considerada anulada toda vez que a violássemos com algum
pecado que pratiquemos.
Assim, podemos retornar à comunhão da aliança com
Deus, simplesmente pela confissão de nossos pecados, isto é, de dizermos a Deus
que fizemos o que é contrário à Sua vontade, pedindo-lhe que nos livre de viver
pecando. Com isto seremos aceitos, porque, como dissemos, Jesus é o nosso
Fiador na Aliança, e intercederá em nosso favor junto a Deus Pai.
Jesus se ofereceu como Sacrifício eterno por nós,
morrendo por nós, carregando a nossa culpa, para que pudéssemos ser
considerados livres por Deus Pai para sempre.
A nossa culpa é infinita e exige uma penalidade, um
castigo, infinitos, de modo, que somente aquele que é infinito poderia ter
morrido por nós, para nos obter uma salvação e um perdão infinitos.
Desta forma, nem todos os anjos do céu, sendo
criaturas, poderiam fazer este trabalho por nós, senão somente nosso Senhor
Jesus Cristo, pois ele é Deus, e se fez homem para que pudesse oferecer o seu
corpo humano como sacrifício na cruz.
A ele então toda a nossa gratidão, e toda a honra,
glória e louvor!
Não importa que você saiba tudo sobre justificação,
santificação, regeneração, glorificação, para que seja salvo. Deus o salvará se
simplesmente crer em Jesus e se arrepender de seus pecados.
É importante saber também que temos em nós uma
resistência natural a Deus e às coisas de Deus, de modo, que somos muito
afeitos à vida natural e às coisas visíveis, e pouco afeitos à vida espiritual
e às coisas invisíveis do céu, até que sejamos habitados pelo Espírito Santo, a
partir da nossa conversão.
Para isso Deus prometeu a todo o que crer em Cristo,
o recebimento da habitação do Espírito Santo, para ser transformado, instruído
e guiado durante toda a sua jornada terrena.
É somente pela operação do Espírito Santo em nós,
que podemos ser convencidos de que somos pecadores e concordarmos com esta
verdade, sabendo exatamente qual é o significado real da nossa culpa diante de
Deus e dos homens.
Por que é tão essencial esta operação de convencimento
realizada pelo Espírito Santo no sentido de nos levar a reconhecer que somos
pecadores?
A própria experiência real o comprova.
Alguém já viu algum alcoólatra reconhecer que é alcoólatra
com facilidade?
E mais do que isso, quem não acha que já seja tão
bom para o céu, como outro qualquer?
Alguém considera a verdade espiritual de que todos
estão debaixo do pecado, da maldição e condenação de Deus?
Muito ao contrário, a maioria acha que Deus é
devedor a eles pela bondade que praticam.
O mal que fizeram está sendo coberto pelo bem que têm
feito. É o que pensam, sem saber que não há como cobrir um mal praticado, com
alguma coisa boa que façamos. Um assassino poderia ser livrado da culpa do seu
ato, pela simples razão de ter matado a fome de alguém que estava morrendo? Ou
terá que responder pelo crime que cometeu independentemente da boa ação que
realizou?
Mas o grande problema para o pecador é que o céu é
um lugar de perfeição absoluta que não pode receber nada e ninguém que não seja
também perfeito. Além disso, ninguém pode ir para lá carregando uma sentença de
condenação em suas costas, mesmo que esta tenha sido suspensa aqui na terra,
quanto à sua execução.
Na verdade, como todo juízo de Deus, para a condenação
eterna, será executado naquele Grande Dia do Seu Juízo Final, muitos se
equivocam com esta bondade e paciência de Deus, dando-lhes tempo para se
arrependerem, pensando que não há nenhum juízo a ser executado no final das
contas.
Mas a Bíblia está cheia de exemplos de juízos que Deus
executou na Terra, como no dilúvio, no fogo sobre Sodoma e Gomorra, e sobre as
nações poderosas do passado, como um sinal de que haverá de fato um Juízo
Final, em que até mesmo aqueles que foram julgados com juízos locais no
passado, serão levantados para serem julgados com este juízo terrível final.
Por isso precisamos ser justificados e lavados enquanto
ainda nos encontramos neste mundo, pois uma vez chegada a morte nada mais há a
esperar senão o terrível juízo de Deus, caso não tenhamos sido justificados por
ele em Cristo.
Sem este convencimento anterior e reconhecimento de
que somos pecadores, é impossível que sejamos justificados por Deus, pois ele
não pode dizer que está perdoado, alguém que não buscou o perdão; que é santo,
quem não buscou a santidade; que é justo, quem não buscou a justiça; que é
limpo, quem não buscou se purificar.
O sangue que Jesus derramou na cruz, quando ali morreu
no nosso lugar, é o meio que Deus aceitou para que fôssemos considerados
limpos, perdoados, justificados, santos, quando nele cremos, desde a primeira
vez, e para sempre.
Foi para isto que a Bíblia foi escrita por pessoas
que Deus inspirou pelo Espírito Santo, para nos ensinar sobre o modo e a
necessidade da nossa salvação.
Foi para isto que Jesus veio a este mundo morrer
naquela cruz, e depois ressuscitar e subir ao céu, de onde continua salvando
pessoas e santificando suas vidas.
Esta é a oferta, o convite da salvação que agora
está sendo feito pelo Evangelho, desde que ele morreu e ressuscitou, e feliz é
todo aquele que atende a este convite e se volta para Deus, arrependido de seus
pecados.
Aqueles que não derem a devida consideração ao
convite, e continuarem rejeitando a Deus Pai, a Jesus, ao Espírito Santo, ao
Evangelho, continuarão debaixo da sentença de condenação eterna no inferno, e
jamais poderão sair de lá, depois que deixarem este mundo pela morte.
Devemos a todo o custo evitar ser convencidos pelo
nosso próprio pensamento que tendo já vivido bastante aqui neste mundo, não
importa o que possa suceder depois. Este é um maldito pensamento que procede do
nosso coração enganoso, que é o nosso pior inimigo, pois estando sujeito ao pecado
é mentiroso e mente para nós mesmos dizendo que tudo estará bem, sem que
saibamos que nos aguarda um terrível e eterno castigo que jamais cessará.
Se depois da morte do corpo houvesse a aniquilação
total do nosso ser, do nosso espírito, certamente não haveria muito com que se
preocupar com o futuro quanto ao aspecto da condenação eterna. Mas, como o espírito
humano não pode ser aniquilado, assim como os dos próprios anjos que se
transformaram em demônios, bem faremos em nos desviar deste juízo eterno
fugindo para os braços de Cristo.
Se fosse possível extinguir a existência de espíritos,
Deus o teria feito em ralação aos demônios, ou pelo menos quanto a uma boa
parte deles, mas aí eles estão e por toda a eternidade sujeitos a um castigo
eterno. Por enquanto é permitido a muitos deles, tanto quanto a nós neste
mundo, ficarem fora do abismo de fogo atormentador, mas chegará o dia em que
Deus os enviará a todos para lá, para se juntarem àqueles que lá já se
encontram, pela determinação da Sua vontade divina.
Este pensamento de aniquilação de espíritos rebeldes
depois da morte seria um grande prêmio para o viver pecaminoso, porque não
faria nenhuma diferença, quanto à aplicação da justiça, ser justo ou injusto
aqui na terra. Mas, a justiça divina, perfeita que é, não permitiria que tal
coisa ocorresse, de modo que aquele que não foi justificado do pecado, deverá
pagar por suas transgressões por toda a eternidade.
Uma das razões de ser este castigo eterno, é que não
tendo sido justificado e santificado, o pecador continuará nesta condição
pecaminosa e sempre transgredindo em pensamentos de ódio e blasfêmias contra
Deus, mesmo no inferno, e daí, que a sua culpa nunca cessará, exigindo uma
penalidade que seja também eterna.
Deveríamos dar a devida consideração de que o ódio
da justiça de Deus ao pecado é tão grande, tão infinito, que o próprio Deus, na
pessoa de seu Filho, visitou e castigou o pecado em Si mesmo, para que tendo
sofrido a pena em nosso lugar, pudesse nos livrar de toda a culpa e nos
perdoar, por reconhecermos que Ele de fato morreu no nosso lugar, e assim, nos
considerarmos também mortos para o pecado, de maneira a não mais viver na sua
prática.
Precisamos, portanto, vigiar contra o nosso próprio
coração enganoso, para não pensarmos que depois da morte não mais existiremos,
ou então, que poderemos ir para o céu sem sermos salvos e santificados por
Jesus.
Jesus mesmo nos alertou sobre a malignidade do nosso
coração, do qual procede todo o tipo de pecado e má obra, de modo que o
trabalho de salvação é operado sobretudo no coração, na raiz, na fonte de todo
o mal.
Se o coração for feito bom, todo o corpo o será. Somente
Deus conhece os recônditos mais ocultos do coração humano, e somente ele pode
transformá-lo num coração santo e precioso. Nada e ninguém mais poderá fazê-lo,
nem mesmo nós.
Por isso toda a nossa salvação depende da nossa união
com Cristo em espirito. Do nosso retorno à comunhão espiritual com Deus. Pois é
a sua própria vida em nós, a fonte de toda a nossa transformação e santificação.
Uma vez convertidos a Cristo, esta transformação será
processada gradualmente, até que atinjamos a confirmação e aperfeiçoamento da
nossa fé, alcançando assim a maturidade espiritual esperada por Deus.
Para obter tudo isto, volte-se a Jesus, simplesmente
pela fé nele, pois a justificação é somente pela fé, e ele fará com que você
nasça de novo pelo Espírito Santo, que será o agente de toda a santificação que
for realizada em sua vida. Deus mesmo já providenciou tudo o que necessário
para lhe conduzir para o céu, e ele mesmo tudo realizará em sua vida. Tão
somente creia e não duvide.
Junte-se a outros verdadeiros crentes em Jesus, para
que ore por eles e eles por você. Para compartilhar a Palavra de Deus e
aprendê-la para ser aplicada em sua vida.
Persevere na fé, vencendo toda oposição, perseguição
ou tribulação que possam vir sobre a sua vida, pois afinal, você já não morrerá
mais espiritualmente, pois será reavivado em espirito pelo poderoso Senhor
Jesus Cristo, a partir do momento em que se entregar a ele.
Se você não pode fazer a si mesmo um filho de Deus,
Ele não somente pode, como o deseja fazer, e isto somente por você crer em
Jesus como seu Senhor e Salvador.
Não dê ouvidos ao que lhe diz a carne, o diabo e o
mundo. Creia no testemunho que Deus dá de Jesus na Bíblia. Não creia em outro
Jesus, senão apenas no único e verdadeiro, que é o que está na Bíblia.