quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Sinais Para Confirmar a Graça e a Verdade


Por
Silvio Dutra
Ago/2019
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A474
Alves, Silvio Dutra
Sinais para confirmar a graça e a verdade
Silvio Dutra Alves – Rio de Janeiro, 2019.
29p.; 14,8 x21cm
1. Teologia. 2. Vida Cristã. 3. Alves, Silvio Dutra.
I. Título.
CDD 252
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João Batista deu o testemunho de que “a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo.”, João 1.17, e este é o motivo “porque todos nós temos recebido da sua plenitude e graça sobre graça.” (verso 16). Jesus veio para dar testemunho da verdade e derramar graça sobre graça sobre aqueles que nele acreditam, para que sejam salvos de seus pecados. Ele foi enviado pelo Pai a este mundo com a missão de ser o Senhor e Salvador do mundo, e não para condená-lo, na presente dispensação da graça que começou com a Sua morte e ressurreição e que tem durado ainda em nossos dias, e que há de durar até que se feche o período do Milênio. O Único que foi designado por Deus Pai, e que poderia realizar a obra da salvação de pecadores, deveria ter o seu ministério marcado por sinais que haviam sido anteriormente profetizados que seriam cumpridos somente por Ele. Esta é uma das principais razões de terem sido registrados nos quatro evangelhos, a saber, para marcar que o Senhor, o Salvador, o Messias, é somente Jesus, que morreu na cruz, ressuscitou
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e ascendeu ao céu, até que volte em sua segunda vinda como Juiz do mundo. Quando tomamos os sinais e prodígios como um fim em si mesmos, como se fossem o que devemos buscar para agradar a Deus, erramos completamente o alvo, pois não nos foram dados para serem um fim para a nossa fé, mas somente para apontar para Jesus como o nosso único e suficiente salvador, e para confirmar que a Palavra de Deus, em sua verdade e graça, conforme nos é apresentada na Bíblia, é de inteira aceitação, e deve ser integralmente recebida e praticada pelos crentes.
Tanto é assim, que uma vez que a palavra do evangelho foi confirmada em todo o mundo pelo ministério dos apóstolos, depois que eles começaram a evangelizar o mundo a partir do dia de Pentecostes, os grandes sinais e maravilhas que eles faziam, foram desaparecendo paulatinamente, pois o grande alvo deles já havia sido cumprido, e o que fora registrado era o suficiente para nos conduzir à fé salvífica no Salvador.
Os sinais foram, por assim dizer, o andaime com o qual Deus elevou o edifício da Igreja, mas uma vez concluída a obra, já não necessitamos mais do andaime, ainda que este tenha sido erigido algumas vezes em dias de avivamento, e
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sobretudo no mundo pagão, nas áreas que não haviam sido ainda alcançadas pelo evangelho, de modo a servir de testemunho para a confirmação da verdade da Palavra pregada e ensinada, para ser crida, e assim devotarem suas vidas à santificação que decorre da prática da mesma. (João 17.17)
Jesus continua salvando almas em todo o mundo, por meio da expiação e redenção que há no sangue que derramou na cruz, e pela justificação pela fé nEle, assim como pela regeneração e santificação do Espírito Santo. Todavia, não necessariamente com o acompanhamento de sinais e prodígios como aqueles que marcaram o seu ministério e dos apóstolos nos dias primitivos.
Não necessitamos de sinais e prodígios para a nossa santificação, e esta é a grande razão que Jesus não os fazia aleatoriamente e nem para satisfazer meramente a curiosidade e desejo de muitos que lhos pediam, sem qualquer intenção de se arrependerem e crerem nEle para serem salvos. Faremos bem em ser sóbrios, discretos, reverentes em nossa aproximação de Deus, não pondo-o à prova, pela exigência de sinais para que possamos louvá-lo e servi-lo. Nisto, cabe lembrarmos da repreensão do Senhor dirigida a
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Tomé: “Bem-aventurados os que não viram e creram.” Palavras estas registradas por João na parte conclusiva do seu evangelho, na qual declara com que propósito havia registrado os sinais que Jesus havia realizado: “Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.” (João 20.30,31)
Sabendo então, juntamente com os apóstolos que Jesus veio para inaugurar uma nova dispensação, a da graça e da paciência de Deus para com os pecadores, em vários aspectos, diferente da dispensação da Lei que foi inaugurada com Moisés e durou no período do Velho Testamento, apeguemo-nos antes de tudo à Palavra do Evangelho, o qual nos foi trazido pelo próprio Filho Unigênito de Deus, do qual a própria Lei dá testemunho de que é aquele que devemos ouvir e seguir, caminhemos em inteira certeza de fé no Senhor e em tudo o que Ele proferiu e ordenou que fosse registrado para a nossa salvação.
Nosso presente propósito é o de discorrer sobre os sinais que foram registrados por Lucas no quinto capítulo do seu evangelho, de maneira a
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constatar que de fato eles confirmam a graça e a verdade que temos mediante a fé em Jesus.
Lucas 5.1-11 – Paralelo em Mateus 4.18-22 1 Aconteceu que, ao apertá-lo a multidão para ouvir a palavra de Deus, estava ele junto ao lago de Genesaré; 2 e viu dois barcos junto à praia do lago; mas os pescadores, havendo desembarcado, lavavam as redes. 3 Entrando em um dos barcos, que era o de Simão, pediu-lhe que o afastasse um pouco da praia; e, assentando-se, ensinava do barco as multidões. 4 Quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao largo, e lançai as vossas redes para pescar. 5 Respondeu-lhe Simão: Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos, mas sob a tua palavra lançarei as redes. 6 Isto fazendo, apanharam grande quantidade de peixes; e rompiam-se-lhes as redes. 7 Então, fizeram sinais aos companheiros do outro barco, para que fossem ajudá-los. E foram
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e encheram ambos os barcos, a ponto de quase irem a pique. 8 Vendo isto, Simão Pedro prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador. 9 Pois, à vista da pesca que fizeram, a admiração se apoderou dele e de todos os seus companheiros, 10 bem como de Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram seus sócios. Disse Jesus a Simão: Não temas; doravante serás pescador de homens. 11 E, arrastando eles os barcos sobre a praia, deixando tudo, o seguiram.
Se este milagre operado por Jesus fosse realizado na presença de homens incrédulos e interesseiros, eles não teriam a atitude de Pedro de se prostrar diante do Senhor, e reconhecer a Sua procedência santa e divina, temendo estar em Sua companhia, por reconhecer-se pecador, pois certamente eles pediriam a Jesus que permanecesse com eles, para que continuassem prosperando mais e mais no negócio da pesca.
Mas Jesus conhecendo os que são Seus, havia escolhido a Pedro bem como os demais
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apóstolos e discípulos, sabendo que se converteriam a Ele, e seriam instrumentos, eles mesmos, a serem usados por Ele para a salvação de outras pessoas. Isto não mudou, e continua por toda esta dispensação da graça, estando o Senhor presente conosco em espírito, e operando através do ministério do Espírito Santo.
Os fariseus e escribas que eram reputados pelo povo como homens santos, exatamente porque eram criteriosos em viver separados dos pecadores, jamais se juntariam a pescadores para pescarem com eles, e muito menos, se permitiriam ser seguidos por eles, para ministrarem a Palavra de Deus juntamente com eles.
Mas, Jesus, por amor aos pecadores, permitiu-se estar junto deles, e até mesmo participar de atividades que eram lícitas, por determinado tempo, para poder alcançá-los para um novo ministério, do que o de pescar peixes e alimentar muitos estômagos com eles, pois faria deles pescadores de homens para alimentarem suas almas com a Palavra da verdade, e assim, alcançarem a vida eterna.
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Lucas 5.12-16 – Paralelo em Mateus 8.1-4 12 Aconteceu que, estando ele numa das cidades, veio à sua presença um homem coberto de lepra; ao ver a Jesus, prostrando-se com o rosto em terra, suplicou-lhe: Senhor, se quiseres, podes purificar-me. 13 E ele, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo: Quero, fica limpo! E, no mesmo instante, lhe desapareceu a lepra. 14 Ordenou-lhe Jesus que a ninguém o dissesse, mas vai, disse, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o sacrifício que Moisés determinou, para servir de testemunho ao povo. 15 Porém o que se dizia a seu respeito cada vez mais se divulgava, e grandes multidões afluíam para o ouvirem e serem curadas de suas enfermidades. 16 Ele, porém, se retirava para lugares solitários e orava.
Nosso Senhor não queria ser visto pelos homens como um mero curandeiro, e operador de sinais e prodígios, e por isso sempre pedia que os que eram socorridos por ele, mantivessem em segredo o bem que lhes fizera. Ele queria muito mais do que curar o corpo, ou assistir
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necessidades materiais e livrar de perigos, pois veio com a missão de salvar o espírito da condenação eterna, e para isso é necessário muito mais do que simples fé para ser curado de enfermidades, pois demanda-se arrependimento e conversão de coração a Deus, pela renúncia ao pecado para se viver em santidade de vida.
O primeiro versículo recorre ao fim do Sermão do Monte, porque as pessoas que o ouviram estavam maravilhadas da doutrina do Senhor, e o efeito foi, que quando Ele desceu do monte, grandes multidões o seguiram.
Nestes versos, temos o relato da cura de um leproso por Cristo.
Sabemos, pelo evangelho de João, que o primeiro milagre que Jesus fez foi a transformação de água em vinho nas bodas de Caná, e temos o registro em Mateus, antes de Jesus ter proferido o Sermão do Monte, que Ele havia curado a muitos, como se vê no final do quarto capítulo.
Temos então, aqui, o registro do primeiro milagre de cura que o Senhor fez depois de ter pregado o Sermão do Monte.
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Nos dias de Jesus a lepra era uma doença incurável. Portanto, através desta cura Ele mostrou que era o único que poderia também curar a enfermidade incurável do pecado, a qual continua, até os dias de hoje, e para sempre, sendo uma doença incurável.
Os leprosos eram considerados imundos pela Lei, e deviam viver fora das cidades de Israel.
De igual modo o pecado torna o homem imundo para viver no céu, e caso não seja purificado não poderá jamais entrar no reino de Deus.
Com a cura do leproso Jesus demonstrou que somente Ele é competente para salvar os que se encontram banidos da presença de Deus, por causa da enfermidade do pecado.
O leproso foi sábio em reconhecer que Jesus tem todo o poder para curar qualquer enfermidade incurável, mas isto está na esfera e dependência da Sua vontade, e por isso lhe disse: “Senhor, se quiseres, podes tornar-me limpo.”
Ele se aproximou do Senhor e o adorou, mas reconheceu que não poderia exigir nada de Jesus, caso não fosse da Sua soberana vontade.
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O Senhor não somente teve misericórdia do leproso, como tem de todos os que sofrem, como também, no seu caso, disse que era da Sua vontade purificá-lo, e o curou.
Pelos mais variados motivos, como por exemplo o de provar a nossa paciência e fidelidade na tribulação, Deus poderá não nos curar de nossas enfermidades, mas nos assistirá com a Sua graça, tal como fizera com o apóstolo Paulo quanto ao seu espinho na carne.
É muito importante o fato de Jesus ter tocado o leproso para curá-lo, porque isto demonstra que Ele não tem nenhum receio relativo a qualquer contágio do pecado, quando também nos toca para nos salvar, fazendo habitar em nós o Espírito Santo.
Segundo a lei, se alguém tocasse num leproso seria considerado imundo cerimonialmente, e impedido de participar do serviço de adoração no templo, até que fossem cumpridos o tempo e as exigências previstas na lei para a sua purificação.
Ao tocar no leproso, curando-o, Jesus demonstrou que não está sujeito, tal como nós, a ser contaminado pelas impurezas de outros.
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Motivo porque não podia ser considerado que havia violado a lei de Moisés, porque tal prescrição da Lei tinha em vista ensinar sobre a contaminação do pecado, que deveria ser evitada, sob pena de ser castigada, em caso de descumprimento da norma legal.
Quando um leproso era curado de sua lepra, deveria se apresentar ao sacerdote com as ofertas exigidas pela lei, para testemunho da sua purificação.
Como a lepra era incurável, então toda cura que havia no passado, era o resultado de um milagre operado por Deus.
Jesus, comprovou então a Sua divindade, ao curar o leproso quando o tocou.
E para que se cumprisse a lei, lhe ordenou que se apresentasse ao sacerdote, mas que não contasse o modo pelo qual foi curado, porque não era ainda chegada a hora do Senhor ser conduzido à morte pelos líderes religiosos de Israel, portanto, a razão de seu pedido ao leproso, para manter a origem do milagre em segredo, tinha em vista não precipitar uma perseguição antes da hora.
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Lucas 5.17-26 – Paralelo em Mateus 9.1-8 17 Ora, aconteceu que, num daqueles dias, estava ele ensinando, e achavam-se ali assentados fariseus e mestres da Lei, vindos de todas as aldeias da Galileia, da Judeia e de Jerusalém. E o poder do Senhor estava com ele para curar. 18 Vieram, então, uns homens trazendo em um leito um paralítico; e procuravam introduzi-lo e pô-lo diante de Jesus. 19 E, não achando por onde introduzi-lo por causa da multidão, subindo ao eirado, o desceram no leito, por entre os ladrilhos, para o meio, diante de Jesus. 20 Vendo-lhes a fé, Jesus disse ao paralítico: Homem, estão perdoados os teus pecados. 21 E os escribas e fariseus arrazoavam, dizendo: Quem é este que diz blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão Deus? 22 Jesus, porém, conhecendo-lhes os pensamentos, disse-lhes: Que arrazoais em vosso coração? 23 Qual é mais fácil, dizer: Estão perdoados os teus pecados ou: Levanta-te e anda?
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24 Mas, para que saibais que o Filho do Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados – disse ao paralítico: Eu te ordeno: Levanta-te, toma o teu leito e vai para casa. 25 Imediatamente, se levantou diante deles e, tomando o leito em que permanecera deitado, voltou para casa, glorificando a Deus. 26 Todos ficaram atônitos, davam glória a Deus e, possuídos de temor, diziam: Hoje, vimos prodígios.
Jesus retornou de Gadara, que ficava no lado oriental do Jordão, e retornou para a cidade onde fora residir depois de ter sido batizado por João, a saber, em Cafarnaum, onde Pedro também residia.
As passagens paralelas a esta narrativa se encontram em Marcos 2.1-12, e em Mateus 9.1-8. Nestes textos paralelos é informado que o paralítico foi introduzido através do telhado, na casa em que Jesus se encontrava, provavelmente a casa de Pedro, porque o Senhor dissera que não tinha sequer onde reclinar a cabeça, isto é, uma residência própria e fixa.
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Todos os eventos narrados neste capítulo aconteceram em Cafarnaum. E a primeira ocorrência naquela cidade foi a salvação e a cura de um paralítico.
Era de tal ordem a paralisia deste homem que teve que ser carregado em sua cama por alguns amigos até a presença de Jesus. E nosso Senhor viu não somente a fé do paralítico como também daqueles que lho haviam trazido até Ele, pois é dito no verso 2: “Jesus, pois, vendo-lhes a fé...”
Deus opera de muitos modos para atrair as pessoas a Cristo, para que sejam salvas.
A uns pela busca de cura do corpo, a outros pela busca de cura da alma, e pelos mais variados motivos – tudo usa, todas as circunstâncias, conforme o conhecimento perfeito que possui do interior de cada pessoa, para conduzi-las à salvação.
Até mesmo aqueles que não podem tomar qualquer iniciativa para virem a Cristo, como foi por exemplo o caso dos dois endemoninhados gadarenos, livrará dos laços do diabo, pelo Seu próprio poder, àqueles que tem determinado manifestar a Sua misericórdia, para que sejam salvos.
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Não importa se podemos caminhar por nossos próprios meios ou se outros têm que nos conduzir ao Senhor, uma coisa é certa, Ele não perderá a nenhum daqueles que Lhe foram dados pelo Pai.
Como aquela paralisia, naquele caso, foi o meio usado para que houvesse a busca de nosso Senhor pelo paralítico, Ele não concentrou Sua atenção na enfermidade, mas na transformação do paralítico em filho de Deus, perdoando-lhe todos os seus pecados.
Ele poderia até mesmo permanecer com a paralisia, como tantos outros em toda a história da humanidade, porque aquilo que é realmente de importância, a única coisa que nos é necessária, já havia sido feita em relação ao destino eterno do seu espírito.
O que deu ocasião à cura da paralisia foi a murmuração de alguns escribas, que disseram consigo mesmos que Jesus estava blasfemando ao dizer que os pecados do paralítico haviam sido perdoados.
Ninguém ao redor ouviu o que eles diziam em seus corações, com exceção do Senhor, que tem o poder de conhecer os nossos pensamentos, e
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por isso lhes disse: “Por que pensais o mal em vossos corações?”.
Ele não precisaria fazer nenhuma outra coisa para provar-lhes a Sua divindade, quando lhes demonstrou a Sua onisciência, e capacidade de ler pensamentos.
Todavia, Deus não tem o dever de provar coisa nenhuma a qualquer pessoa, e por isso nosso Senhor curaria o paralítico, não por ter sido provocado por aqueles escribas, mas para manifestar a Sua misericórdia, que é a causa de sermos perdoados por Ele, e não por qualquer bondade própria ou mérito que haja em nós.
Quem pode mais pode menos.
É mais fácil curar um enfermidade física do que justificar um pecador, perdoando todos os seus pecados.
O trabalho de salvação de uma alma é muito maior e de duração eterna, do que a cura do corpo.
No entanto, para a percepção humana, limitada e falha, incapaz de perceber os poderes que operam salvando o espírito, justificando e dando um novo nascimento espiritual ao salvo, e que considera portanto, ser uma evidência de poder
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muito maior ver uma cura física sendo efetuada, Jesus disse o seguinte:
“Pois qual é mais fácil? dizer: Perdoados são os teus pecados, ou dizer: Levanta-te e anda?”
Realmente, é mais fácil dizer perdoados são os teus pecados, do que levanta-te e anda, segundo a avaliação humana, à qual nos referimos anteriormente.
Por isso nosso Senhor disse que levantaria o paralítico, para que os circunstantes soubessem que Ele tem autoridade sobre a terra para perdoar pecados.
O efeito da cura foi que as multidões temeram e glorificaram a Deus.
Quão cega é a natureza humana!
Tão incapaz de ver o mundo espiritual, e necessitada de ver sinais para poder crer no poder de Cristo, dando a devida honra à Sua divindade.
Convém que seja diferente disso, ao menos quanto aos que foram libertados da escravidão ao pecado. Convém crescer na fé, e ter os olhos espirituais cada vez mais abertos, para discernir o mundo espiritual, dando honra e glória ao
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Senhor, em espírito, sem que haja necessidade de qualquer manifestação visível da Sua glória e poder, porque somos chamados a caminhar por fé e não por vista.
Lucas 5.27-32 - Vide Mateus 9.9-13 27 Passadas estas coisas, saindo, viu um publicano, chamado Levi, assentado na coletoria, e disse-lhe: Segue-me! 28 Ele se levantou e, deixando tudo, o seguiu. 29 Então, lhe ofereceu Levi um grande banquete em sua casa; e numerosos publicanos e outros estavam com eles à mesa. 30 Os fariseus e seus escribas murmuravam contra os discípulos de Jesus, perguntando: Por que comeis e bebeis com os publicanos e pecadores? 31 Respondeu-lhes Jesus: Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes. 32 Não vim chamar justos, e sim pecadores, ao arrependimento.
Temos aqui o registro da chamada de Mateus para o apostolado.
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Ele era até então um publicano, ou seja, um coletor de impostos para Roma, sendo um judeu.
As passagens paralelas de Marcos 2.15 e Mateus 9.9-13, registram que a casa em que Jesus se encontrava, conforme relatado nesta passagem era a casa do próprio Mateus, a quem Marcos e Lucas chamam de Levi, nos seus respectivos evangelhos.
Lucas afirma que Mateus ofereceu um grande banquete em sua casa, e que numerosos publicanos e outros estavam com eles à mesa.
Pode-se inferir portanto, que depois de ter sido chamado por Jesus, Mateus pensou em dar este grande banquete em honra ao Senhor.
É certo que muitos daqueles publicanos e demais pecadores que se encontravam à mesa com Jesus, não eram pessoas honestas e de boa reputação, porque, de outra sorte os fariseus não teriam protestado perguntando aos discípulos do Senhor, por que o Mestre deles comia em companhia de publicanos e pecadores, diferentemente deles, fariseus, que privavam apenas da companhia de pessoas religiosas.
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Como o Senhor ouviu o que tinham falado, respondeu com as seguintes palavras: “Não necessitam de médico os sãos, mas sim os enfermos. Ide, pois, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifícios. Porque eu não vim chamar justos, mas pecadores.”
O espírito de julgamento, hipercrítico, que o Senhor havia condenado no Sermão do Monte, aparece de maneira muito clara na pessoa dos fariseus, nesta passagem, e em muitas outras, dos evangelhos.
O orgulho religioso e a justiça própria foram manifestados na pergunta que os fariseus fizeram aos discípulos de Jesus.
Corremos sempre o mesmo risco que eles, se somos fermentados pela hipocrisia, que nos cega, e não permite que enxerguemos, que aos olhos de Deus não há um só justo, que possa se apresentar diante dele sem pecado, pela sua justiça própria.
Todos os homens justos terão sido obrigatoriamente justificados pela graça de Jesus.
Deste modo, neste mundo, nosso Senhor será sempre achado trabalhando para chamar
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pecadores à salvação, até mesmo entre os piores deles, porque, conforme a Bíblia afirma, não há um justo sequer aos olhos de Deus, que não necessite ser perdoado e lavado de seus pecados.
É importante portanto, observar, que o que há de mais condenável é a falta deste reconhecimento da nossa condição pecaminosa diante de Deus, como existia nos fariseus, do que a condição reconhecida de pecadores, como estava em Mateus e certamente, num bom número daqueles publicanos e demais pecadores, que estavam à mesa do banquete juntamente com Jesus.
Devemos vigiar, e tomar cuidado para não sermos tomados por este espírito de falta de misericórdia, e que condena até mesmo o próprio Cristo por se mostrar favorável aos pecadores.
Jesus é o único e grande médico do espírito. Nenhum outro pode curar a enfermidade do pecado, e livrar da morte espiritual e eterna que é ocasionada pelo pecado.
Ele tem prazer em exercer o Seu ofício, e criticá-lo nesta Sua função, significa atribuir grande
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desonra ao Seu santo nome, Jesus, que significa o Salvador.
Ele veio para nos salvar de nossos pecados, e será portanto, honrado somente por aqueles que se submetem ao remédio da graça que Ele veio nos administrar para sermos curados.
Os fariseus argumentavam que somente aqueles que conhecessem as Escrituras, tal como eles, poderiam estar reunidos em nome de Deus, então Jesus citou o texto das Escrituras no qual o Senhor falou através do profeta Oseias: “Pois misericórdia quero, e não sacrifícios; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos.” (Os 6.6).
Esta citação feita por Jesus mostra em que consiste a verdadeira religião: não em observâncias externas; não no cumprimento dos ritos e cerimônias externas do Antigo Testamento para a oferta de sacrifícios no templo; não em disputas e debates teológicos, mas em fazer o bem aos corpos, almas e espíritos de outros, em justiça e paz, levando-lhes a mensagem da salvação, em demonstração de misericórdia.
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Lucas 5.33-39 - Vide Mateus 9.14-17 33 Disseram-lhe eles: Os discípulos de João e bem assim os dos fariseus frequentemente jejuam e fazem orações; os teus, entretanto, comem e bebem. 34 Jesus, porém, lhes disse: Podeis fazer jejuar os convidados para o casamento, enquanto está com eles o noivo? 35 Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o noivo; naqueles dias, sim, jejuarão. 36 Também lhes disse uma parábola: Ninguém tira um pedaço de veste nova e o põe em veste velha; pois rasgará a nova, e o remendo da nova não se ajustará à velha. 37 E ninguém põe vinho novo em odres velhos, pois o vinho novo romperá os odres; entornar-se-á o vinho, e os odres se estragarão. 38 Pelo contrário, vinho novo deve ser posto em odres novos [e ambos se conservam]. 39 E ninguém, tendo bebido o vinho velho, prefere o novo; porque diz: O velho é excelente.
Nós lemos no texto paralelo desta passagem, em Marcos 2.18, o seguinte:
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“Ora, os discípulos de João e os fariseus estavam jejuando; e foram perguntar-lhe: Por que jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, mas os teus discípulos não jejuam?”
Este texto paralelo registra que os discípulos de João e os fariseus estavam em acordo prático, quanto à questão do jejum.
Nós já comentamos na parte relativa ao jejum, no Sermão do Monte, que os fariseus haviam acrescentado à prática religiosa, um jejum obrigatório não previsto na Lei de Moisés.
É bem provável que João e seus discípulos tenham sido influenciados por tal prática e se submeteram à mesma, uma vez que era generalizada em Israel.
Poderia, portanto, parecer aos discípulos de João que era uma violação da lei, ou então algo pecaminoso em si mesmo, não observar aquele jejum prescrito pelos fariseus, para determinados dias da semana.
Nós vemos que não foi sem razão que Jesus advertiu os Seus discípulos quanto ao cuidado que deveriam ter para não se contaminarem com o fermento dos fariseus.
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É muito comum que pessoas piedosas se deixem levar por práticas religiosas que lhes sejam impostas como obrigatórias, sem que haja qualquer base ou ordenação bíblica para as mesmas.
E quão difícil é dissuadir aqueles que adotam tais práticas quanto ao fato de não serem exigidas por Deus, porque admiti-lo, geralmente ofende suas consciências fracas e sensíveis.
Tanto que Jesus não condenou a prática dos fariseus e dos discípulos de João, mas, como jejuavam desfigurando o rosto, e como motivo de tristeza, deu-lhes a resposta de que não havia motivo para que os Seus discípulos fizessem um jejum de tal tipo, enquanto tinham a Sua companhia com eles, sendo a sua permanente alegria.
Quando Ele lhes fosse tirado temporariamente, em Sua morte na cruz, então teriam motivo de tristeza, e poderiam jejuar tal como faziam os discípulos de João.
No entanto, Cristo veio inaugurar uma Nova Aliança, diferente em muitos aspectos da Antiga, que regia os discípulos de João, que se encontravam debaixo das disposições do Antigo Testamento.
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Nosso Senhor não veio colocar um remendo de pano novo no vestido da Antiga Aliança, que vigorava no Velho Testamento, mas trazer a veste nova da Sua justiça.
Muitos pensam que ao ter dito as palavras do verso 16, que nosso Senhor veio colocar remendo novo em vestido novo.
Todavia, não é o caso, porque este vestido novo não necessita de remendo, porque a justiça com a qual fomos justificados é perfeita e eterna.
Usando uma outra metáfora, nosso Senhor disse que o vinho novo da Nova Aliança não é colocado em odres velhos, mas em recipientes novos, para que sejam conservados tanto o odre quanto o vinho.
O cristão é uma nova criatura. Ninguém pode fazer parte desta Nova Aliança se não for justificado e se não nascer de novo do Espírito.
A obra de salvação não é uma obra de remendo do pecador, mas a formação de uma nova criação. Deus destrói o velho para erigir o novo. Tudo o que herdamos de Adão será removido pela mortificação do pecado, para que permaneça somente aquilo que temos herdado em Cristo e por Cristo.

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