sábado, 24 de agosto de 2019

O Caráter do Cidadão do Reino de Deus


Apesar de Lucas não ter se restringido no 6º capítulo do seu evangelho a destacar o caráter apontado por Jesus para o cidadão do Reino de Deus, nós estaremos focando especialmente neste aspecto, dado a sua grande importância, sobretudo nestes nossos dias em que tantos professam ser crentes em Jesus, e no entanto, pouco é visto deste caráter que pertence aos verdadeiros crentes, em muitos deles.
Devemos imitar o exemplo daqueles que andaram nas mesmas pegadas de Jesus, conforme nos é ordenado na Bíblia, e se tivermos pouco ou nenhum testemunho ao nosso redor relativo a isto, devemos recorrer à companhia daqueles servos fiéis de Deus do passado, que estando mortos, ainda nos falam através de tudo o que escreveram acerca da verdadeira vida cristã, como por exemplo temos tal testemunho da parte dos Reformadores e dos Puritanos.
As doutrinas da graça foram como que redescobertas na Bíblia nos dias da Reforma Protestante, e a compreensão delas avançou muito pelo que nos explicaram os homens  piedosos que Deus levantou e iluminou pelo Espírito Santo, para nos indicarem o significado da verdade assim como ela é em Jesus Cristo.
Como o arrebatamento da Igreja está às portas, demanda-se a santificação do povo de Deus para o encontro do mesmo com Cristo entre nuvens, e evidentemente, como sem santificação ninguém verá o Senhor (Hb 12;140) importa conhecermos a verdade, porque é por meio dela que somos santificados, e esta verdade não é subjetiva, senão a que consta da Palavra de Deus (João 17.17).
Voltamo-nos portanto, para a Palavra à busca de edificação espiritual, nesta nossa meditação do sexto capítulo de Lucas.
Lucas 6.1-5 - Vide Mateus 12.1-8
1 Aconteceu que, num sábado, passando Jesus pelas searas, os seus discípulos colhiam e comiam espigas, debulhando-as com as mãos.
2 E alguns dos fariseus lhes disseram: Por que fazeis o que não é lícito aos sábados?
3 Respondeu-lhes Jesus: Nem ao menos tendes lido o que fez Davi, quando teve fome, ele e seus companheiros?
4 Como entrou na casa de Deus, tomou, e comeu os pães da proposição, e os deu aos que com ele estavam, pães que não lhes era lícito comer, mas exclusivamente aos sacerdotes?
5 E acrescentou-lhes: O Filho do Homem é Senhor do sábado.
Uma leitura apressada desta passagem pode conduzir à interpretação errônea de que nosso Senhor descumpria o sábado sagrado da Lei de Moisés, ou então que estava ensinando a transgredir o mandamento relativo ao descanso do sétimo dia da semana.
Todavia, como poderia o próprio autor deste mandamento ordenar o seu descumprimento ou desonrá-lo?
Como lemos no Sermão do Monte, nosso Senhor afirmou que não veio revogar a Lei de Moisés, mas cumpri-la.
Nós vemos no Sermão do Monte, o quanto os escribas e fariseus haviam adulterado a Lei de Moisés, distorcendo os mandamentos da Lei, lhes acrescentando preceitos de homens, que desfiguravam os preceitos divinos relativos a estes mandamentos.
E não havia mandamento que eles mais tivessem desfigurado do que o relativo ao dia de descanso, ou sábado, conforme prescrito na Lei de Moisés, para vigorar no período do Velho Testamento. Então, quando disputava sobre o sábado, nosso Senhor não estava confrontando a lei sobre o mesmo, mas os próprios judeus, e especialmente os escribas e fariseus quanto às aplicações incorretas que faziam em seu ensino e ordenanças relativas à guarda do dia do descanso.
Eles levaram a ordenança de os judeus não se ocuparem com os seus negócios e interesses comuns diários, neste dia de descanso, separado especialmente  para se cultuar a Deus como Criador, a extremos que fugiam completamente do espírito da Lei, que era o de se cultuar a Deus, e não propriamente a cessação de qualquer tipo de atividade considerada não religiosa no referido dia, uma vez que é possível fazer-se isto e no entanto, não se tributar qualquer culto ou honra ao Senhor.
Os judeus haviam feito do sábado um fim em si mesmo em sua devoção religiosa.
Eles olhavam para o sábado e não para Deus.
Cultuavam o sábado e não o Senhor.
Com isso, estabeleceram proibições que nunca passaram pela mente de Deus, por exemplo, até mesmo proibindo coisas mínimas num dia de sábado, como o simples ato de dar um nó, porque segundo eles isto implicava em ação, e ação significa trabalho, e portanto, fazê-lo no dia de sábado configuraria uma violação da Lei.
Foi este espírito errado que Jesus combateu, na expectativa de que o mandamento relativo ao sábado fosse interpretado da maneira correta.
Não havia portanto, qualquer pecado em se colher espigas para se matar a fome, no dia de descanso.
Davi e seus homens, quando fugiam de Saul, e estando exauridos de fome, não tiveram nenhum outro tipo de alimento para mantê-los em vida senão os pães do tabernáculo, que eram trocados no dia de sábado, e dos quais não poderiam comer segundo a Lei, porque isto era reservado somente aos sacerdotes.
No entanto, ficaram sem culpa diante de Deus, porque não o fizeram por motivo de sacrilégio, mas pelo consentimento do próprio Deus, que abriu uma exceção naquela situação para que continuassem vivos.
Os próprios sacerdotes tinham que realizar muitas atividades no tabernáculo, e depois no templo, especialmente quanto à oferta dos dois cordeiros, que deveriam ser oferecidos à manhã e à tarde deste dia, e no entanto, apesar de ser aquele o trabalho deles, não poderiam cessá-lo porque afinal era o trabalho do próprio Deus, na antiga dispensação, e assim, ficavam sem culpa perante Ele.
Então, a questão de não trabalhar em dia de sábado não era para ser tomada literal e legalmente, para impedir toda e qualquer forma de atividade e trabalho, mas impedir que se deixasse de celebrar ao Senhor como Criador neste dia, e também para garantir a manutenção do culto que Lhe era devido por Israel, de maneira que não caísse no esquecimento a obrigação que tinham para com Ele.
Todavia, em vez de garantirem o objetivo de Deus com a lei do sábado, os escribas e fariseus levaram o povo a cultuar o próprio sábado, e não ao Senhor.
Jesus, no entanto, não era apenas maior do que o dia de descanso, mas do que o próprio templo, onde eram realizados os serviços religiosos previstos para o sábado.
A pretexto de guardarem o sábado, os líderes religiosos de Israel, para manterem os ritos e cerimonial que eles próprios haviam criado, acabavam condenando pessoas inocentes, que não tinham descumprido o mandamento relativo a tal dia, mas que eram condenáveis segundo o parecer deles, baseado na interpretação incorreta que haviam feito da lei, e principalmente por causa da sua falta de misericórdia para com o próximo, porque preferiam ver alguém morrer de fome do que dar-lhe comida em dia de sábado.
Eles comprovaram esta falta de misericórdia quando condenaram os discípulos de Jesus por estarem colhendo espigas por estarem muito famintos.
Jesus como Senhor de tudo e de todos, é também o Senhor do sábado, e como dissemos antes, foi Ele, que juntamente com o Pai e o Espírito Santo, deram a Lei do sábado a Israel, através de Moisés.
Portanto, se houvesse violação da Lei por parte dos discípulos por colherem espigas e comê-las, Ele seria o primeiro a proibi-los de fazê-lo.
Como os escribas e fariseus pretendiam pegar Jesus em alguma falta para terem motivo de acusá-lo e condená-lo à morte, passaram a tentar enquadrá-lo como culpado por transgredir o sábado, porque perceberam que não teriam muita dificuldade para fazê-lo uma vez que, como dissemos antes, haviam adulterado esta lei a tal ponto, que seria impossível que não achassem oportunidade em algum momento para acusar Jesus de estar violando o mandamento relativo ao dia do descanso.
E realmente, como vemos no evangelho de João, o que precipitou a grande perseguição que culminaria com a morte de Jesus na cruz, foi o fato de ter curado um enfermo junto ao tanque de Betesda, que significa no hebraico, casa da misericórdia.
Luca 6.6-11 - Vide Mateus 12.9-14
6 Sucedeu que, em outro sábado, entrou ele na sinagoga e ensinava. Ora, achava-se ali um homem cuja mão direita estava ressequida.
7 Os escribas e os fariseus observavam-no, procurando ver se ele faria uma cura no sábado, a fim de acharem de que o acusar.
8 Mas ele, conhecendo-lhes os pensamentos, disse ao homem da mão ressequida: Levanta-te e vem para o meio; e ele, levantando-se, permaneceu de pé.
9 Então, disse Jesus a eles: Que vos parece? É lícito, no sábado, fazer o bem ou o mal? Salvar a vida ou deixá-la perecer?
10 E, fitando todos ao redor, disse ao homem: Estende a mão. Ele assim o fez, e a mão lhe foi restaurada.
11 Mas eles se encheram de furor e discutiam entre si quanto ao que fariam a Jesus.
A prova de que Jesus não estava respondendo aos fariseus na expectativa de que chegassem ao conhecimento da verdade, mas simplesmente afirmando a verdade para a defesa dos inocentes que eles estavam atacando, encontra-se logo no início desta passagem, nos versos 14 e 15, em que se afirma que os fariseus logo depois de terem ouvido o que o Senhor lhes dissera e fizera, curando o homem da mão atrofiada, tomaram conselho entre si contra Jesus, com o intuito de matá-lo.
No texto paralelo de Mateus é dito também que nosso Senhor percebeu isso, e que por este motivo se retirou daquela localidade, sendo acompanhado por muitos enfermos, e Ele curou a todos eles, demonstrando que não estava em nada intimidado pelas ameaças dos fariseus.
Todavia, como não era chegada ainda a sua hora de se entregar voluntariamente para morrer na cruz, para não precipitar maiores perseguições desnecessárias, advertiu aos que haviam sido curados que não espalhassem a notícia do que lhes havia feito.
Com isto, deu-se cumprimento ao que fora profetizado acerca dEle pelo profeta Isaías:
“1 Eis aqui o meu servo que escolhi, o meu amado em quem a minha alma se compraz; porei sobre ele o meu espírito, e ele anunciará aos gentios o juízo.
2 Não contenderá, nem clamará, nem se ouvirá pelas ruas a sua voz.
3 Não esmagará a cana quebrada, e não apagará o pavio que fumega, até que faça triunfar o juízo;
4 e no seu nome os gentios esperarão.” (Is 42.1-4)
A fama de Cristo se espalharia não somente por Israel, mas por todas as nações da terra, e por todas as gerações, mas isto ocorreria sem que Ele fizesse uma propaganda extensiva da sua própria pessoa e atos.
Ele não faria exibições públicas com o fim de ser visto e aplaudido pelos homens.
Ao contrário, mesmo muitos daqueles que fossem beneficiados por Ele, sendo curados de enfermidades físicas, não se arrependeriam de seus pecados e também não Lhe dariam a devida honra e louvor, antes o odiariam por lhes dizer a verdade, de modo que é dito que:
“... como raiz que sai duma terra seca; não tinha formosura nem beleza; e quando olhávamos para ele, nenhuma beleza víamos, para que o desejássemos.” (Is 53.2)
Este foi o modo como foi visto em seu ministério terreno, porque sempre denunciou o pecado, e não omitiu a verdade.
No entanto, é dito acerca dEle nas Escrituras:
“Naquele dia o Senhor dos exércitos será por coroa de glória e diadema de formosura para o restante de seu povo;” (Is 28.5)
“Os teus olhos verão o rei na sua formosura, e verão a terra que se estende em amplidão.” (Is 33.17)
Ninguém pode ser comparado ao Senhor quanto à Sua formosura. Especialmente a formosura do Seu espírito e caráter não pode ser medida.
Ele não quer aplauso sem conversão.
Ele não busca o reconhecimento dos homens sem que reconheçam a verdade.
Por isso o Pai o elegeu para ser o capitão da nossa salvação, por se comprazer nEle por toda a sua perfeição; e assim O ungiria com o Espírito Santo quando se esvaziasse de Sua divindade, para assumir a forma de servo e ser achado na forma de homem, para anunciar aos gentios o juízo de Deus.
Os gentios que andavam sem a revelação de Deus neste mundo, teriam nEle a esperança de serem alcançados e reunidos à família de Deus, por meio dEle.
Isto seria feito a partir da Sua manifestação a Israel, de forma quase velada, anunciando a verdade e curando toda sorte de enfermidades entre o povo, mas sem fazer alarido chamando a atenção para a Sua própria pessoa.
Seu alvo não era agradar o mundo, conquistar o mundo, mas alcançar as ovelhas perdidas.
Por isso não esmagaria a cana quebrada e nem apagaria o pavio fumegante, ou seja os pobres e miseráveis pecadores, destituídos de toda e qualquer justiça diante de Deus, antes faria nestes que são pobres de espírito, e que reconhecem a sua real condição diante de Deus, o trabalho de restauração de suas vidas, levantando os quebrantados de coração, e acendendo a chama divina, nos corações desprovidos do fogo e da luz do Espírito Santo.
E isto será feito enquanto durar todo o período da dispensação da graça, até que venha para julgar os vivos e os mortos.
Nesta nova dispensação da graça, Deus não está estabelecendo um juízo final sobre os pecadores, mas dando-lhes a oportunidade de serem salvos por Seu Filho unigênito.
Lucas 6.12-19 - Vide Mateus 10.1-4
12 Naqueles dias, retirou-se para o monte, a fim de orar, e passou a noite orando a Deus.
13 E, quando amanheceu, chamou a si os seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu também o nome de apóstolos:
14 Simão, a quem acrescentou o nome de Pedro, e André, seu irmão; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu;
15 Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelote;
16 Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, que se tornou traidor.
17 E, descendo com eles, parou numa planura onde se encontravam muitos discípulos seus e grande multidão do povo, de toda a Judeia, de Jerusalém e do litoral de Tiro e de Sidom,
18 que vieram para o ouvirem e serem curados de suas enfermidades; também os atormentados por espíritos imundos eram curados.
19 E todos da multidão procuravam tocá-lo, porque dele saía poder; e curava todos.
Até este ponto, nós vimos apenas Jesus pregando, ensinando, curando, ressuscitando, expulsando demônios, fazendo cessar a fúria das tempestades, e o seus discípulos se limitando a acompanhá-lo.
Todavia, aumentando as frentes de trabalho e as necessidades a serem atendidas, nós vimos no capítulo anterior o Senhor dizendo aos discípulos para orarem para que Deus enviasse outros trabalhadores para a Sua seara.
Nós vemos no relato paralelo de Marcos e Mateus, que Jesus havia passado toda uma noite em oração, e que ao descer do monte pela manhã, designou doze dentre os seus discípulos, aos quais chamou de apóstolos, e temos aqui o registro dos seus nomes, e temos em outras passagens quais foram as instruções específicas que o Senhor lhes dera naquela ocasião.
O Senhor lhes deu, especialmente: “autoridade sobre os espíritos imundos, para expulsarem, e para curarem toda sorte de doenças e enfermidades.”
Isto não significa que teriam autoridade por si mesmos, independentemente do Senhor, mas que Deus operaria com o Seu poder através deles.
É importante frisar esta verdade, num tempo em que grassa a triste heresia que muitos estão ensinando e praticando, dizendo que Jesus já nos deu a autoridade necessária, e que tudo agora está por nossa conta, sem que haja necessidade de incomodá-Lo com nossas orações, pedindo-Lhe o que podemos fazer pelo nosso próprio poder, conforme a autoridade que Ele já nos deu.
Isto não confere de modo algum, com o próprio testemunho dos apóstolos, como por exemplo o de Pedro, diante dos israelitas, quando o Senhor curou o coxo que estava no templo, pela instrumentalidade de Pedro e João:
“Pedro, vendo isto, disse ao povo: Varões israelitas, por que vos admirais deste homem? Ou, por que fitais os olhos em nós, como se por nosso próprio poder ou piedade o tivéssemos feito andar?” (Atos 3.12)
E depois de lhes ter falado sobre Jesus, Pedro lhes disse o seguinte:
“E pela fé em seu nome fez o seu nome fortalecer a este homem que vedes e conheceis; sim, a fé, que vem por ele, deu a este, na presença de todos vós, esta perfeita saúde.” (Atos 3.16)
 Os apóstolos tiveram que primeiro aprender de Cristo antes de poderem ser enviados por Ele às cidades, mas continuariam em total dependência dEle para poderem realizar o seu ministério, e nós tanto quanto eles, continuamos na mesma dependência tanto de aprendizado prévio, quanto do poder da Sua graça, para a obra que nos tiver designado.
Tal como fizera em relação aos primeiros discípulos, o Senhor primeiro nos chama à conversão e a segui-lo para aprender dEle, e depois, nos chamará para a realização da Sua obra, e a alguns chamará de modo especial, tal como havia feito com os apóstolos, para o exercício do ministério pastoral.
E estes que são assim chamados de um modo distintivo, serão conhecidos pela evidência de terem recebido da parte do Senhor, “autoridade sobre os espíritos imundos, para expulsarem, e para curarem toda sorte de doenças e enfermidades”, sendo que na autoridade sobre os espíritos imundos está incluída também a capacitação sobrenatural recebida para discernir o ensino de demônios e espíritos enganadores, para a manutenção da verdade da Palavra entre os cristãos.
Mateus nomeou os apóstolos em duplas, provavelmente, conforme os pares que o Senhor designou naquela ocasião, quando foram enviados por Ele. Então temos: 1) Pedro e André; 2) Tiago e João; 3) Felipe e Bartolomeu; 4) Tomé e Mateus; 5) Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; 6) Simão Cananeu e Judas Iscariotes.
Lucas registra que Tadeu tinha também o nome de Simão, que era chamado de Zelote; e que Simão Cananeu era também chamado por Judas, filho de Tiago. E tal como Mateus, Lucas também apresenta os nomes dos apóstolos aos pares.
Lucas 6.20-23 - Vide Mateus 5.1-12
20 Então, olhando ele para os seus discípulos, disse-lhes: Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus.
21 Bem-aventurados vós, os que agora tendes fome, porque sereis fartos. Bem-aventurados vós, os que agora chorais, porque haveis de rir.
22 Bem-aventurados sois quando os homens vos odiarem e quando vos expulsarem da sua companhia, vos injuriarem e rejeitarem o vosso nome como indigno, por causa do Filho do Homem.
23 Regozijai-vos naquele dia e exultai, porque grande é o vosso galardão no céu; pois dessa forma procederam seus pais com os profetas.
Lucas apresenta as bem-aventuranças em uma forma mas condensada e reduzida do que a mesma é apresentada no registro da introdução do Sermão do Monte no quinto capítulo do evangelho de Mateus.
Os discípulos de Cristo são bem-aventurados porque são eles os cidadãos do reino de Deus. Foi para eles que o Pai destinou o reino, a par de serem como o Senhor os chama em outra passagem de “pequenino rebanho” (Lucas 12.32), São, não necessariamente os pobres de bens materiais, mas os pobres de espírito que são os herdeiros do reino de Deus.
Os que têm fome e sede de justiça são bem-aventurados porque serão saciados com a plenitude que há em Cristo, e aqueles que choram por causa do pecado, tanto deles quanto dos outros, serão consolados com a vitória sobre o pecado por serem remidos por Cristo, e por serem chamados a participar do reino de justiça e paz e santidade que há de se manifestar na volta do Senhor.
Por serem regenerados e santificados em Cristo, os cidadãos do reino de Deus, serão odiados, rejeitados e perseguidos por aqueles que não conhecem o Senhor, e que não têm o temor de Deus, a saber, os ímpios. Mas, isto não deve ser um motivo para tristeza, pois serão fortalecidos pela graça para suportarem toda forma de oposição. E através destas tribulações a fé dos mesmos será purificada e confirmada, razão porque acharão nisto motivo para grande exultação na presença do Senhor.
Lucas 6.24-26:
24 Mas ai de vós, os ricos! Porque tendes a vossa consolação.
25 Ai de vós, os que estais agora fartos! Porque vireis a ter fome. Ai de vós, os que agora rides! Porque haveis de lamentar e chorar.
26 Ai de vós, quando todos vos louvarem! Porque assim procederam seus pais com os falsos profetas.
A  partícula adversativa "mas" do início do versículo 24, o liga ao que foi dito anteriormente, de que bem-aventurados são os pobres de espírito, porque deles é o reino de Deus.
E estes que possuem o reino de Deus, ainda que tenham que padecer fome, chorar e serem odiados e perseguidos pelos homens, sendo injuriados e rejeitados por eles, sendo considerados como indignos por causa do amor deles a Cristo, todavia serão saciados, e têm motivo de se alegrar no espírito em tudo isso, por saberem que somente serve para confirmar que são de fato cidadãos do reino dos céus, pois de outro modo não seriam tão odiados e perseguidos por causa de Cristo.
Aos que suportarem tais sofrimentos com paciência e alegria é feita a promessa por Cristo de terem um grande galardão no céu, tal como receberam os profetas que haviam padecido sob a mão de seus compatriotas de Israel que não temiam a Deus.
Então especialmente os escribas e fariseus, e os sacerdotes de Israel que eram ricos e avarentos, tinham motivo não para se gloriarem, mas para temer, pois suas consolações presentes não eram uma garantia do favor de Deus para com eles, muito ao contrário, lhes aguardava um juízo mais rigoroso porque em toda a abundância que tiveram não se voltaram para Ele tributando-lhe a devida honra e glória, em um viver santificado.
Assim, suas alegrias presentes se transformariam em pranto e ranger de dentes no juízo condenatório eterno que lhes aguardava depois da sua morte.
Os que se gloriavam no fato de serem louvados pelos homens tinham também motivo para temer pois seus antepassados haviam louvado aos falsos profetas de Israel, de modo que ser louvado não é nenhuma garantia de ser de fato honrado.
Melhor é sofrer desonras neste mundo por amor a Cristo e permanecer no reino de Deus, do que buscar honrarias e permanecer debaixo de uma condenação eterna.
Lucas 6.27-38 - Vide Mateus 5 a 7
27 Digo-vos, porém, a vós outros que me ouvis: amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam;
28 bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam.
29 Ao que te bate numa face, oferece-lhe também a outra; e, ao que tirar a tua capa, deixa-o levar também a túnica;
30 dá a todo o que te pede; e, se alguém levar o que é teu, não entres em demanda.
31 Como quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles.
32 Se amais os que vos amam, qual é a vossa recompensa? Porque até os pecadores amam aos que os amam.
33 Se fizerdes o bem aos que vos fazem o bem, qual é a vossa recompensa? Até os pecadores fazem isso.
34 E, se emprestais àqueles de quem esperais receber, qual é a vossa recompensa? Também os pecadores emprestam aos pecadores, para receberem outro tanto.
35 Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus.
36 Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai.
37 Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados;
38 dai, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão; porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão também.
Jesus delineia a conduta que devem ter os crentes, sobretudo no seu relacionamento com o próximo, seja ele crente ou não crente, temente ou não temente a Deus.
Muitos se espantam com estas instruções e consideram-nas impraticáveis em grande parte, e não são poucos os que pensam que o que Jesus está recomendando é algum tipo de autoflagelação ou forma de masoquismo.
Todavia, não podemos esquecer que estas instruções são necessárias para que a obra de evangelização do mundo, para fazer avançar o reino de Deus, uma vez que os crentes fiéis sofrerão grande resistência tanto da parte de pecadores quanto de demônios, e principalmente do próprio diabo. Estas oposições gerarão sofrimentos nos servos de Deus, e se estes não forem suportados com paciência, confiando em serem fortalecidos pela graça, de modo nenhum eles poderão prosseguir adiante no trabalho de anunciar a salvação que há em Jesus Cristo, por amor aos pecadores.
Não são portanto, recomendações para se buscar algum tipo de vida monástica ou alienada, para a busca de algum tipo de êxtase espiritual, ou prazer em sofrimentos, mas uma mera decorrência de se estar sendo chamado a operar num mundo de trevas e hostil.
Aquele que vai atravessar um deserto e ter que enfrentar feras no caminho, deve estar preparado em sua mente para tudo o que deve sofrer, de modo que sem isto, não será provável que perseverará.
Não é à toa que se diz que os que perseveram na fé e na paciência são os que são salvos e ganham suas almas.
Se o crente entrar em amargura de espírito e perder a doçura de Jesus em sua alma, em razão de sentimentos rancorosos por conta das injustiças que possa sofrer, certamente ele se revelará enquanto debaixo de tais sentimentos, imprestável para a obra do evangelho.
O mal pode ser vencido somente com o bem. Por isso devemos nos fortalecer na graça que está em Jesus, porque é o seu amor em nós, e não propriamente o nosso amor natural, que tudo suporta, tudo sofre, tudo crê e tudo espera.
Lucas 6.39-42
39 Propôs-lhes também uma parábola: Pode, porventura, um cego guiar a outro cego? Não cairão ambos no barranco?
40 O discípulo não está acima do seu mestre; todo aquele, porém, que for bem instruído será como o seu mestre.
41 Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?
42 Como poderás dizer a teu irmão: Deixa, irmão, que eu tire o argueiro do teu olho, não vendo tu mesmo a trave que está no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro que está no olho de teu irmão.
Estas palavras estão conectadas ao que foi dito nos versículos imediatamente anteriores nos quais nosso Senhor afirma que não devemos julgar para não sermos julgados, e não condenar para não sermos condenados, e perdoar para sermos perdoados, recomendando também a nossa generosidade no trato com o próximo.
Um espírito arrogante e elevado fora de medida nos conduz à cegueira espiritual, pois Deus resiste aos soberbos, e desta forma como poderíamos, sendo cegos, julgar a outros pela nossa medida que não corresponde à reta justiça de Deus?
Então, nos é ordenado que tratemos primeiro de remover a nossa cegueira por aprendermos do Espirito de Deus em nossa própria experiência, para que assim possamos ser conselheiros e não julgadores ou condenadores de nossos irmãos.
Lucas 6.43-45 - Vide Mateus 12.33-37
43 Não há árvore boa que dê mau fruto; nem tampouco árvore má que dê bom fruto.
44 Porquanto cada árvore é conhecida pelo seu próprio fruto. Porque não se colhem figos de espinheiros, nem dos abrolhos se vindimam uvas.
45 O homem bom do bom tesouro do coração tira o bem, e o mau do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala do que está cheio o coração.
Faça-se boa a árvore e o fruto será bom.
Somente Deus tem o poder de transformar espinheiros em ciprestes e sarças em murtas, conforme tem prometido fazer aos que são do Seu povo (Isaías 55.13).
É pelo fruto que se conhece a árvore. Não propriamente pelos dons, que nada mais são do que folhas, que para pouco servem, no assunto da alimentação. Deus busca o fruto do Espírito nos Seus servos (Gálatas 5.22,23). É somente quando frutificamos que podemos ser úteis em Suas mãos.
Lucas 6.46-49 - Vide Mateus 7.24-27
46 Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando?
47 Todo aquele que vem a mim, e ouve as minhas palavras, e as pratica, eu vos mostrarei a quem é semelhante.
48 É semelhante a um homem que, edificando uma casa, cavou, abriu profunda vala e lançou o alicerce sobre a rocha; e, vindo a enchente, arrojou-se o rio contra aquela casa e não a pôde abalar, por ter sido bem construída.
49 Mas o que ouve e não pratica é semelhante a um homem que edificou uma casa sobre a terra sem alicerces, e, arrojando-se o rio contra ela, logo desabou; e aconteceu que foi grande a ruína daquela casa.
O senhorio de Jesus é visto em nossas vidas somente quando obedecemos a Sua Palavra. É somente por guardar os Seus mandamentos que podemos ser de fato confirmados na fé, já não sendo mais movidos de um lado para o outro por qualquer vento de doutrina. Nossa união ao Senhor torna-se cada vez mais consolidada e forte à medida que prosseguimos guardando a Sua Palavra, de forma que isto nos dá não somente crescimento na graça, mas também aumento do conhecimento espiritual do próprio Jesus (II Pedro 3.18).

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