Apesar de Lucas não ter se
restringido no 6º capítulo do seu evangelho a destacar o caráter apontado por
Jesus para o cidadão do Reino de Deus, nós estaremos focando especialmente
neste aspecto, dado a sua grande importância, sobretudo nestes nossos dias em
que tantos professam ser crentes em Jesus, e no entanto, pouco é visto deste
caráter que pertence aos verdadeiros crentes, em muitos deles.
Devemos imitar o exemplo daqueles que andaram nas
mesmas pegadas de Jesus, conforme nos é ordenado na Bíblia, e se tivermos pouco
ou nenhum testemunho ao nosso redor relativo a isto, devemos recorrer à
companhia daqueles servos fiéis de Deus do passado, que estando mortos, ainda
nos falam através de tudo o que escreveram acerca da verdadeira vida cristã,
como por exemplo temos tal testemunho da parte dos Reformadores e dos
Puritanos.
As doutrinas da graça foram como que redescobertas
na Bíblia nos dias da Reforma Protestante, e a compreensão delas avançou muito
pelo que nos explicaram os homens
piedosos que Deus levantou e iluminou pelo Espírito Santo, para nos
indicarem o significado da verdade assim como ela é em Jesus Cristo.
Como o arrebatamento da Igreja está às portas,
demanda-se a santificação do povo de Deus para o encontro do mesmo com Cristo
entre nuvens, e evidentemente, como sem santificação ninguém verá o Senhor (Hb
12;140) importa conhecermos a verdade, porque é por meio dela que somos santificados,
e esta verdade não é subjetiva, senão a que consta da Palavra de Deus (João
17.17).
Voltamo-nos portanto, para a Palavra à busca de
edificação espiritual, nesta nossa meditação do sexto capítulo de Lucas.
Lucas 6.1-5 - Vide Mateus
12.1-8
1 Aconteceu
que, num sábado, passando Jesus pelas searas, os seus discípulos
colhiam e comiam espigas, debulhando-as com as mãos.
2 E alguns
dos fariseus lhes disseram: Por que fazeis o que não é lícito aos sábados?
3 Respondeu-lhes
Jesus: Nem ao menos tendes lido o que fez Davi, quando teve fome, ele e seus
companheiros?
4 Como
entrou na casa de Deus, tomou, e comeu os pães da proposição, e os deu
aos que com ele estavam, pães que não lhes era lícito comer, mas exclusivamente
aos sacerdotes?
5 E
acrescentou-lhes: O Filho do Homem é Senhor do sábado.
Uma leitura apressada desta
passagem pode conduzir à interpretação errônea de que nosso Senhor descumpria o
sábado sagrado da Lei de Moisés, ou então que estava ensinando a transgredir o
mandamento relativo ao descanso do sétimo dia da semana.
Todavia, como poderia o
próprio autor deste mandamento ordenar o seu descumprimento ou desonrá-lo?
Como lemos no Sermão do
Monte, nosso Senhor afirmou que não veio revogar a Lei de Moisés, mas
cumpri-la.
Nós vemos no Sermão do
Monte, o quanto os escribas e fariseus haviam adulterado a Lei de Moisés,
distorcendo os mandamentos da Lei, lhes acrescentando preceitos de homens, que
desfiguravam os preceitos divinos relativos a estes mandamentos.
E não havia mandamento que
eles mais tivessem desfigurado do que o relativo ao dia de descanso, ou sábado,
conforme prescrito na Lei de Moisés, para vigorar no período do Velho
Testamento. Então, quando disputava sobre o sábado, nosso Senhor não estava
confrontando a lei sobre o mesmo, mas os próprios judeus, e especialmente os
escribas e fariseus quanto às aplicações incorretas que faziam em seu ensino e
ordenanças relativas à guarda do dia do descanso.
Eles levaram a ordenança de
os judeus não se ocuparem com os seus negócios e interesses comuns diários,
neste dia de descanso, separado especialmente para se cultuar a Deus como Criador, a extremos que
fugiam completamente do espírito da Lei, que era o de se cultuar a Deus, e não
propriamente a cessação de qualquer tipo de atividade considerada não religiosa
no referido dia, uma vez que é possível fazer-se isto e no entanto, não se
tributar qualquer culto ou honra ao Senhor.
Os judeus haviam feito do
sábado um fim em si mesmo em sua devoção religiosa.
Eles olhavam para o sábado e
não para Deus.
Cultuavam o sábado e não o
Senhor.
Com isso, estabeleceram
proibições que nunca passaram pela mente de Deus, por exemplo, até mesmo
proibindo coisas mínimas num dia de sábado, como o simples ato de dar um nó,
porque segundo eles isto implicava em ação, e ação significa trabalho, e
portanto, fazê-lo no dia de sábado configuraria uma violação da Lei.
Foi este espírito errado que
Jesus combateu, na expectativa de que o mandamento relativo ao sábado fosse
interpretado da maneira correta.
Não havia portanto, qualquer
pecado em se colher espigas para se matar a fome, no dia de descanso.
Davi e seus homens, quando
fugiam de Saul, e estando exauridos de fome, não tiveram nenhum outro tipo de
alimento para mantê-los em vida senão os pães do tabernáculo, que eram trocados
no dia de sábado, e dos quais não poderiam comer segundo a Lei, porque isto era
reservado somente aos sacerdotes.
No entanto, ficaram sem
culpa diante de Deus, porque não o fizeram por motivo de sacrilégio, mas pelo
consentimento do próprio Deus, que abriu uma exceção naquela situação para que
continuassem vivos.
Os próprios sacerdotes
tinham que realizar muitas atividades no tabernáculo, e depois no templo,
especialmente quanto à oferta dos dois cordeiros, que deveriam ser oferecidos à
manhã e à tarde deste dia, e no entanto, apesar de ser aquele o trabalho deles,
não poderiam cessá-lo porque afinal era o trabalho do próprio Deus, na antiga
dispensação, e assim, ficavam sem culpa perante Ele.
Então, a questão de não
trabalhar em dia de sábado não era para ser tomada literal e legalmente, para
impedir toda e qualquer forma de atividade e trabalho, mas impedir que se
deixasse de celebrar ao Senhor como Criador neste dia, e também para garantir a
manutenção do culto que Lhe era devido por Israel, de maneira que não caísse no
esquecimento a obrigação que tinham para com Ele.
Todavia, em vez de
garantirem o objetivo de Deus com a lei do sábado, os escribas e fariseus
levaram o povo a cultuar o próprio sábado, e não ao Senhor.
Jesus, no entanto, não era
apenas maior do que o dia de descanso, mas do que o próprio templo, onde eram
realizados os serviços religiosos previstos para o sábado.
A pretexto de guardarem o
sábado, os líderes religiosos de Israel, para manterem os ritos e cerimonial
que eles próprios haviam criado, acabavam condenando pessoas inocentes, que não
tinham descumprido o mandamento relativo a tal dia, mas que eram condenáveis
segundo o parecer deles, baseado na interpretação incorreta que haviam feito da
lei, e principalmente por causa da sua falta de misericórdia para com o
próximo, porque preferiam ver alguém morrer de fome do que dar-lhe comida em
dia de sábado.
Eles comprovaram esta falta
de misericórdia quando condenaram os discípulos de Jesus por estarem colhendo
espigas por estarem muito famintos.
Jesus como Senhor de tudo e
de todos, é também o Senhor do sábado, e como dissemos antes, foi Ele, que
juntamente com o Pai e o Espírito Santo, deram a Lei do sábado a Israel,
através de Moisés.
Portanto, se houvesse
violação da Lei por parte dos discípulos por colherem espigas e comê-las, Ele
seria o primeiro a proibi-los de fazê-lo.
Como os escribas e fariseus
pretendiam pegar Jesus em alguma falta para terem motivo de acusá-lo e
condená-lo à morte, passaram a tentar enquadrá-lo como culpado por transgredir
o sábado, porque perceberam que não teriam muita dificuldade para fazê-lo uma
vez que, como dissemos antes, haviam adulterado esta lei a tal ponto, que seria
impossível que não achassem oportunidade em algum momento para acusar Jesus de
estar violando o mandamento relativo ao dia do descanso.
E realmente, como vemos no
evangelho de João, o que precipitou a grande perseguição que culminaria com a
morte de Jesus na cruz, foi o fato de ter curado um enfermo junto ao tanque de
Betesda, que significa no hebraico, casa da misericórdia.
Luca 6.6-11 - Vide Mateus
12.9-14
6 Sucedeu
que, em outro sábado, entrou ele na sinagoga e ensinava. Ora,
achava-se ali um homem cuja mão direita estava ressequida.
7 Os
escribas e os fariseus observavam-no, procurando ver se ele faria uma cura no sábado, a
fim de acharem de que o acusar.
8 Mas ele,
conhecendo-lhes os pensamentos, disse ao homem da mão
ressequida: Levanta-te e vem para o meio; e ele, levantando-se, permaneceu de
pé.
9 Então, disse
Jesus a eles: Que vos parece? É lícito, no sábado,
fazer o bem ou o mal? Salvar a vida ou deixá-la perecer?
10 E, fitando
todos ao redor, disse ao homem: Estende a mão. Ele assim o fez, e a mão
lhe foi restaurada.
11 Mas eles
se encheram de furor e discutiam entre si quanto ao que fariam a Jesus.
A prova de que
Jesus não estava respondendo aos fariseus na expectativa de que chegassem ao
conhecimento da verdade, mas simplesmente afirmando a verdade para a defesa dos
inocentes que eles estavam atacando, encontra-se logo no início desta passagem,
nos versos 14 e 15, em que se afirma que os fariseus logo depois de terem
ouvido o que o Senhor lhes dissera e fizera, curando o homem da mão atrofiada,
tomaram conselho entre si contra Jesus, com o intuito de matá-lo.
No texto
paralelo de Mateus é dito também que nosso Senhor percebeu isso, e que por este
motivo se retirou daquela localidade, sendo acompanhado por muitos enfermos, e
Ele curou a todos eles, demonstrando que não estava em nada intimidado pelas
ameaças dos fariseus.
Todavia, como
não era chegada ainda a sua hora de se entregar voluntariamente para morrer na
cruz, para não precipitar maiores perseguições desnecessárias, advertiu aos que
haviam sido curados que não espalhassem a notícia do que lhes havia feito.
Com isto, deu-se
cumprimento ao que fora profetizado acerca dEle pelo profeta Isaías:
“1 Eis aqui o
meu servo que escolhi, o meu amado em quem a minha alma se compraz; porei sobre
ele o meu espírito, e ele anunciará aos gentios o juízo.
2 Não
contenderá, nem clamará, nem se ouvirá pelas ruas a sua voz.
3 Não esmagará a
cana quebrada, e não apagará o pavio que fumega, até que faça triunfar o juízo;
4 e no seu nome
os gentios esperarão.” (Is 42.1-4)
A fama de Cristo
se espalharia não somente por Israel, mas por todas as nações da terra, e por
todas as gerações, mas isto ocorreria sem que Ele fizesse uma propaganda
extensiva da sua própria pessoa e atos.
Ele não faria
exibições públicas com o fim de ser visto e aplaudido pelos homens.
Ao contrário,
mesmo muitos daqueles que fossem beneficiados por Ele, sendo curados de
enfermidades físicas, não se arrependeriam de seus pecados e também não Lhe
dariam a devida honra e louvor, antes o odiariam por lhes dizer a verdade, de
modo que é dito que:
“... como raiz
que sai duma terra seca; não tinha formosura nem beleza; e quando olhávamos
para ele, nenhuma beleza víamos, para que o desejássemos.” (Is 53.2)
Este foi o modo
como foi visto em seu ministério terreno, porque sempre denunciou o pecado, e
não omitiu a verdade.
No entanto, é
dito acerca dEle nas Escrituras:
“Naquele dia o
Senhor dos exércitos será por coroa de glória e diadema de formosura para o
restante de seu povo;” (Is 28.5)
“Os teus olhos
verão o rei na sua formosura, e verão a terra que se estende em amplidão.” (Is
33.17)
Ninguém pode ser
comparado ao Senhor quanto à Sua formosura. Especialmente a formosura do Seu
espírito e caráter não pode ser medida.
Ele não quer
aplauso sem conversão.
Ele não busca o
reconhecimento dos homens sem que reconheçam a verdade.
Por isso o Pai o
elegeu para ser o capitão da nossa salvação, por se comprazer nEle por toda a
sua perfeição; e assim O ungiria com o Espírito Santo quando se esvaziasse de
Sua divindade, para assumir a forma de servo e ser achado na forma de homem,
para anunciar aos gentios o juízo de Deus.
Os gentios que
andavam sem a revelação de Deus neste mundo, teriam nEle a esperança de serem
alcançados e reunidos à família de Deus, por meio dEle.
Isto seria feito
a partir da Sua manifestação a Israel, de forma quase velada, anunciando a
verdade e curando toda sorte de enfermidades entre o povo, mas sem fazer
alarido chamando a atenção para a Sua própria pessoa.
Seu alvo não era
agradar o mundo, conquistar o mundo, mas alcançar as ovelhas perdidas.
Por isso não
esmagaria a cana quebrada e nem apagaria o pavio fumegante, ou seja os pobres e
miseráveis pecadores, destituídos de toda e qualquer justiça diante de Deus,
antes faria nestes que são pobres de espírito, e que reconhecem a sua real
condição diante de Deus, o trabalho de restauração de suas vidas, levantando os
quebrantados de coração, e acendendo a chama divina, nos corações desprovidos
do fogo e da luz do Espírito Santo.
E isto será
feito enquanto durar todo o período da dispensação da graça, até que venha para
julgar os vivos e os mortos.
Nesta nova
dispensação da graça, Deus não está estabelecendo um juízo final sobre os
pecadores, mas dando-lhes a oportunidade de serem salvos por Seu Filho
unigênito.
Lucas 6.12-19 - Vide Mateus
10.1-4
12 Naqueles
dias, retirou-se para o monte, a fim de orar, e passou a noite orando a Deus.
13 E, quando
amanheceu, chamou a si os seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos
quais deu também o nome de apóstolos:
14 Simão, a quem
acrescentou o nome de Pedro, e André, seu irmão; Tiago e
João; Filipe e Bartolomeu;
15 Mateus e
Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelote;
16 Judas,
filho de Tiago, e Judas Iscariotes, que se tornou traidor.
17 E,
descendo com eles, parou numa planura onde se encontravam muitos discípulos seus
e grande multidão do povo, de toda a Judeia, de Jerusalém e do
litoral de Tiro e de Sidom,
18 que vieram
para o ouvirem e serem curados de suas enfermidades; também os atormentados por
espíritos imundos eram curados.
19 E todos da
multidão procuravam tocá-lo, porque dele saía poder; e
curava todos.
Até este ponto, nós vimos
apenas Jesus pregando, ensinando, curando, ressuscitando, expulsando demônios,
fazendo cessar a fúria das tempestades, e o seus discípulos se limitando a
acompanhá-lo.
Todavia, aumentando as
frentes de trabalho e as necessidades a serem atendidas, nós vimos no capítulo
anterior o Senhor dizendo aos discípulos para orarem para que Deus enviasse
outros trabalhadores para a Sua seara.
Nós vemos no relato paralelo
de Marcos e Mateus, que Jesus havia passado toda uma noite em oração, e que ao
descer do monte pela manhã, designou doze dentre os seus discípulos, aos quais
chamou de apóstolos, e temos aqui o registro dos seus nomes, e temos em outras
passagens quais foram as instruções específicas que o Senhor lhes dera naquela
ocasião.
O Senhor lhes deu,
especialmente: “autoridade sobre os espíritos imundos, para expulsarem, e para
curarem toda sorte de doenças e enfermidades.”
Isto não significa que
teriam autoridade por si mesmos, independentemente do Senhor, mas que Deus
operaria com o Seu poder através deles.
É importante frisar esta
verdade, num tempo em que grassa a triste heresia que muitos estão ensinando e
praticando, dizendo que Jesus já nos deu a autoridade necessária, e que tudo
agora está por nossa conta, sem que haja necessidade de incomodá-Lo com nossas
orações, pedindo-Lhe o que podemos fazer pelo nosso próprio poder, conforme a
autoridade que Ele já nos deu.
Isto não confere de modo
algum, com o próprio testemunho dos apóstolos, como por exemplo o de Pedro,
diante dos israelitas, quando o Senhor curou o coxo que estava no templo, pela
instrumentalidade de Pedro e João:
“Pedro, vendo isto, disse ao
povo: Varões israelitas, por que vos admirais deste homem? Ou, por que fitais
os olhos em nós, como se por nosso próprio poder ou piedade o tivéssemos feito
andar?” (Atos 3.12)
E depois de lhes ter falado
sobre Jesus, Pedro lhes disse o seguinte:
“E pela fé em seu nome fez o
seu nome fortalecer a este homem que vedes e conheceis; sim, a fé, que vem por
ele, deu a este, na presença de todos vós, esta perfeita saúde.” (Atos 3.16)
Os apóstolos tiveram que primeiro aprender de Cristo antes
de poderem ser enviados por Ele às cidades, mas
continuariam em total dependência dEle para poderem realizar o
seu ministério, e nós tanto
quanto eles, continuamos na mesma dependência tanto de
aprendizado prévio, quanto do poder da Sua graça, para a obra que nos tiver
designado.
Tal como fizera em relação aos primeiros discípulos, o
Senhor primeiro nos chama à conversão e a segui-lo para aprender dEle, e depois, nos
chamará para a realização da Sua
obra, e a alguns chamará de modo especial, tal como havia feito com os
apóstolos, para o exercício do ministério pastoral.
E estes que são assim
chamados de um modo distintivo, serão conhecidos pela evidência de terem
recebido da parte do Senhor, “autoridade sobre os espíritos imundos, para
expulsarem, e para curarem toda sorte de doenças e enfermidades”, sendo que na
autoridade sobre os espíritos imundos está incluída também a capacitação
sobrenatural recebida para discernir o ensino de demônios e espíritos
enganadores, para a manutenção da verdade da Palavra entre os cristãos.
Mateus nomeou os apóstolos em
duplas, provavelmente, conforme os pares que o Senhor designou naquela ocasião,
quando foram enviados por Ele. Então temos: 1) Pedro e André; 2) Tiago e João;
3) Felipe e Bartolomeu; 4) Tomé e Mateus; 5) Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; 6)
Simão Cananeu e Judas Iscariotes.
Lucas registra que Tadeu
tinha também o nome de Simão, que era chamado de Zelote; e que Simão Cananeu
era também chamado por Judas, filho de Tiago. E tal como Mateus, Lucas também
apresenta os nomes dos apóstolos aos pares.
Lucas 6.20-23 - Vide Mateus
5.1-12
20 Então, olhando
ele para os seus discípulos, disse-lhes: Bem-aventurados vós, os
pobres, porque vosso é o reino de Deus.
21 Bem-aventurados
vós, os que agora tendes fome, porque sereis fartos. Bem-aventurados vós, os que
agora chorais, porque haveis de rir.
22 Bem-aventurados
sois quando os homens vos odiarem e quando vos expulsarem da sua companhia, vos
injuriarem e rejeitarem o vosso nome como indigno, por causa do Filho do Homem.
23 Regozijai-vos
naquele dia e exultai, porque grande é o vosso galardão no céu; pois
dessa forma procederam seus pais com os profetas.
Lucas apresenta as bem-aventuranças em uma forma mas condensada e
reduzida do que a mesma é apresentada no registro da introdução do Sermão do
Monte no quinto capítulo do evangelho de Mateus.
Os discípulos de Cristo são bem-aventurados porque são eles os cidadãos
do reino de Deus. Foi para eles que o Pai destinou o reino, a par de serem como
o Senhor os chama em outra passagem de “pequenino rebanho” (Lucas 12.32), São,
não necessariamente os pobres de bens materiais, mas os pobres de espírito que
são os herdeiros do reino de Deus.
Os que têm fome e sede de
justiça são bem-aventurados porque serão saciados com a plenitude que há em
Cristo, e aqueles que choram por causa do pecado, tanto deles quanto dos
outros, serão consolados com a vitória sobre o pecado por serem remidos por
Cristo, e por serem chamados a participar do reino de justiça e paz e santidade
que há de se manifestar na volta do Senhor.
Por serem regenerados e
santificados em Cristo, os cidadãos do reino de Deus, serão odiados, rejeitados
e perseguidos por aqueles que não conhecem o Senhor, e que não têm o temor de
Deus, a saber, os ímpios. Mas, isto não deve ser um motivo para tristeza, pois
serão fortalecidos pela graça para suportarem toda forma de oposição. E através
destas tribulações a fé dos mesmos será purificada e confirmada, razão porque
acharão nisto motivo para grande exultação na presença do Senhor.
Lucas 6.24-26:
24 Mas ai de
vós, os ricos! Porque tendes a vossa consolação.
25 Ai de vós, os que
estais agora fartos! Porque vireis a ter fome. Ai de vós, os que
agora rides! Porque haveis de lamentar e chorar.
26 Ai de vós, quando
todos vos louvarem! Porque assim procederam seus pais com os falsos profetas.
A partícula adversativa "mas"
do início do versículo 24, o
liga ao que foi dito anteriormente, de que bem-aventurados são os pobres de
espírito, porque deles é o reino de Deus.
E estes que possuem o reino
de Deus, ainda que tenham que padecer fome, chorar e serem odiados e
perseguidos pelos homens, sendo injuriados e rejeitados por eles, sendo
considerados como indignos por causa do amor deles a Cristo, todavia serão
saciados, e têm motivo de se alegrar no espírito em tudo isso, por saberem que
somente serve para confirmar que são de fato cidadãos do reino dos céus, pois
de outro modo não seriam tão odiados e perseguidos por causa de Cristo.
Aos que suportarem tais
sofrimentos com paciência e alegria é feita a promessa por Cristo de terem um
grande galardão no céu, tal como receberam os profetas que haviam padecido sob
a mão de seus compatriotas de Israel que não temiam a Deus.
Então especialmente os
escribas e fariseus, e os sacerdotes de Israel que eram ricos e avarentos,
tinham motivo não para se gloriarem, mas para temer, pois suas consolações
presentes não eram uma garantia do favor de Deus para com eles, muito ao
contrário, lhes aguardava um juízo mais rigoroso porque em toda a abundância
que tiveram não se voltaram para Ele tributando-lhe a devida honra e glória, em
um viver santificado.
Assim, suas alegrias
presentes se transformariam em pranto e ranger de dentes no juízo condenatório
eterno que lhes aguardava depois da sua morte.
Os que se gloriavam no fato
de serem louvados pelos homens tinham também motivo para temer pois seus
antepassados haviam louvado aos falsos profetas de Israel, de modo que ser
louvado não é nenhuma garantia de ser de fato honrado.
Melhor é sofrer desonras
neste mundo por amor a Cristo e permanecer no reino de Deus, do que buscar
honrarias e permanecer debaixo de uma condenação eterna.
Lucas 6.27-38 - Vide Mateus
5 a 7
27 Digo-vos,
porém, a vós outros que me ouvis: amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos
odeiam;
28 bendizei
aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam.
29 Ao que te
bate numa face, oferece-lhe também a outra; e, ao que tirar
a tua capa, deixa-o levar também a túnica;
30 dá a todo o
que te pede; e, se alguém levar o que é teu, não entres
em demanda.
31 Como
quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles.
32 Se amais
os que vos amam, qual é a vossa recompensa? Porque até os pecadores amam aos
que os amam.
33 Se
fizerdes o bem aos que vos fazem o bem, qual é a vossa
recompensa? Até os pecadores fazem isso.
34 E, se
emprestais àqueles de quem esperais receber, qual é a vossa
recompensa? Também os pecadores emprestam aos pecadores, para receberem outro
tanto.
35 Amai, porém, os
vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga; será grande o
vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno
até para com os ingratos e maus.
36 Sede
misericordiosos, como também é
misericordioso vosso Pai.
37 Não julgueis
e não sereis julgados; não condeneis e não sereis
condenados; perdoai e sereis perdoados;
38 dai, e
dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos
darão; porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão também.
Jesus delineia a conduta que
devem ter os crentes, sobretudo no seu relacionamento com o próximo, seja ele
crente ou não crente, temente ou não temente a Deus.
Muitos se espantam com estas
instruções e consideram-nas impraticáveis em grande parte, e não são poucos os
que pensam que o que Jesus está recomendando é algum tipo de autoflagelação ou
forma de masoquismo.
Todavia, não podemos
esquecer que estas instruções são necessárias para que a obra de evangelização
do mundo, para fazer avançar o reino de Deus, uma vez que os crentes fiéis
sofrerão grande resistência tanto da parte de pecadores quanto de demônios, e
principalmente do próprio diabo. Estas oposições gerarão sofrimentos nos servos
de Deus, e se estes não forem suportados com paciência, confiando em serem
fortalecidos pela graça, de modo nenhum eles poderão prosseguir adiante no
trabalho de anunciar a salvação que há em Jesus Cristo, por amor aos pecadores.
Não são portanto,
recomendações para se buscar algum tipo de vida monástica ou alienada, para a
busca de algum tipo de êxtase espiritual, ou prazer em sofrimentos, mas uma
mera decorrência de se estar sendo chamado a operar num mundo de trevas e
hostil.
Aquele que vai atravessar um
deserto e ter que enfrentar feras no caminho, deve estar preparado em sua mente
para tudo o que deve sofrer, de modo que sem isto, não será provável que
perseverará.
Não é à toa que se diz que
os que perseveram na fé e na paciência são os que são salvos e ganham suas
almas.
Se o crente entrar em amargura
de espírito e perder a doçura de Jesus em sua alma, em razão de sentimentos
rancorosos por conta das injustiças que possa sofrer, certamente ele se
revelará enquanto debaixo de tais sentimentos, imprestável para a obra do
evangelho.
O mal pode ser vencido
somente com o bem. Por isso devemos nos fortalecer na graça que está em Jesus,
porque é o seu amor em nós, e não propriamente o nosso amor natural, que tudo
suporta, tudo sofre, tudo crê e tudo espera.
Lucas 6.39-42
39 Propôs-lhes
também uma parábola: Pode, porventura, um cego guiar a outro
cego? Não cairão ambos no barranco?
40 O discípulo não está acima do
seu mestre; todo aquele, porém, que for bem instruído será como o seu mestre.
41 Por que vês tu o
argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas
na trave que está no teu próprio?
42 Como poderás dizer a
teu irmão: Deixa, irmão, que eu tire o argueiro do teu olho, não vendo tu
mesmo a trave que está no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e,
então, verás claramente para tirar o argueiro que está no olho de teu irmão.
Estas palavras estão
conectadas ao que foi dito nos versículos imediatamente anteriores nos quais
nosso Senhor afirma que não devemos julgar para não sermos julgados, e não
condenar para não sermos condenados, e perdoar para sermos perdoados,
recomendando também a nossa generosidade no trato com o próximo.
Um espírito arrogante e
elevado fora de medida nos conduz à cegueira espiritual, pois Deus resiste aos
soberbos, e desta forma como poderíamos, sendo cegos, julgar a outros pela
nossa medida que não corresponde à reta justiça de Deus?
Então, nos é ordenado que
tratemos primeiro de remover a nossa cegueira por aprendermos do Espirito de
Deus em nossa própria experiência, para que assim possamos ser conselheiros e
não julgadores ou condenadores de nossos irmãos.
Lucas 6.43-45 - Vide Mateus
12.33-37
43 Não há árvore boa
que dê mau fruto; nem tampouco árvore má que dê bom
fruto.
44 Porquanto
cada árvore é conhecida pelo seu próprio fruto. Porque não se colhem figos de
espinheiros, nem dos abrolhos se vindimam uvas.
45 O homem
bom do bom tesouro do coração tira o bem, e o mau do mau
tesouro tira o mal; porque a boca fala do que está cheio o
coração.
Faça-se boa a árvore e o fruto será bom.
Somente Deus tem o poder de
transformar espinheiros em ciprestes e sarças em murtas, conforme tem prometido
fazer aos que são do Seu povo (Isaías 55.13).
É pelo fruto que se conhece
a árvore. Não propriamente pelos dons, que nada mais são do que folhas, que
para pouco servem, no assunto da alimentação. Deus busca o fruto do Espírito
nos Seus servos (Gálatas 5.22,23). É somente quando frutificamos que podemos
ser úteis em Suas mãos.
Lucas 6.46-49 - Vide Mateus
7.24-27
46 Por que me
chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando?
47 Todo
aquele que vem a mim, e ouve as minhas palavras, e as pratica, eu vos mostrarei
a quem é semelhante.
48 É
semelhante a um homem que, edificando uma casa, cavou, abriu profunda vala e
lançou o alicerce sobre a rocha; e, vindo a enchente, arrojou-se o rio contra
aquela casa e não a pôde abalar, por ter sido bem construída.
49 Mas o que
ouve e não pratica é semelhante a um homem que edificou uma casa
sobre a terra sem alicerces, e, arrojando-se o rio contra ela, logo desabou; e
aconteceu que foi grande a ruína daquela casa.
O senhorio de Jesus é visto
em nossas vidas somente quando obedecemos a Sua Palavra. É somente por guardar
os Seus mandamentos que podemos ser de fato confirmados na fé, já não sendo
mais movidos de um lado para o outro por qualquer vento de doutrina. Nossa
união ao Senhor torna-se cada vez mais consolidada e forte à medida que
prosseguimos guardando a Sua Palavra, de forma que isto nos dá não somente
crescimento na graça, mas também aumento do conhecimento espiritual do próprio
Jesus (II Pedro 3.18).
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