A justiça divina exige a morte do ofensor. Se o ofensor
morrer eternamente, a justiça está vindicada. Mas, para que um ofensor seja
perdoado e trazido de novo à vida, um substituto deve morrer em seu lugar, e
não somente isto, o sangue do substituto deve ser apresentado diante de Deus,
para testificar que de fato ofereceu a sua vida de forma vicária.
Se Deus é espírito, porque a sua justiça somente poderia ser
satisfeita com o derramamento do sangue de Jesus? A morte de sangue, com o
sangue fora do corpo, prova que de fato a vida do corpo cessou pela falta do
sangue, sendo então este a evidência de que houve o sacrifício substitutivo
exigido pela justiça.
Pelos sacrifícios de animais no VT Deus ensinou didaticamente
que a expiação exigia a morte da vítima e o uso do seu sangue para expiação sendo
apresentado no Santo dos Santos, sobre o propiciatório. Por aqueles sacrifícios
revelou então que a expiação seria feita com a morte de Jesus na cruz. Eles
profetizavam em figura a Sua morte, ensinando que não morreria de forma
natural, ou acidental, em que não houvesse derramamento de sangue.
A vida do homem lhe foi dada por Deus para que lha desse por
devolvida a Ele. É nas mãos e governo de Deus que nossas vidas deveriam estar,
mas dali foram retiradas pela desobediência de Adão. Como o sangue representa a
vida, ao ser oferecido por Jesus no Santo dos Santos celestial, para a nossa
justificação, ele não somente confirmou que Jesus de fato morreu como um sacrifício
para cumprir a exigência da justiça e da lei, como também como recolocar nossas
vidas nas mãos de Deus, pois somos um só corpo com Ele, a saber, os que cremos,
e participamos da aliança com Ele através do Seu sangue, o qual, a propósito
está figurado na Ceia, e que bebemos como sendo a vida de Jesus em todos nós, a
vida que é aceitável a Deus.
Os homens não viram nada disto quando Jesus morria na cruz,
mas Ele e o Pai viram perfeitamente em todos os ângulos e propósitos de Sua
morte vicária e sobre a necessidade de o Seu sangue precioso ser derramado,
para que fosse a causa da Sua morte. Fora do alcance da vista humana, e até
mesmo fora da compreensão dos próprios anjos, o Pai visitou com a Sua ira
contra o pecado o Seu próprio Filho Unigênito, para fazer dEle um sacrifício
que cobrisse todos os nossos pecados. O que estava destinado a nós, a saber, a
morte, foi trazido a Ele, para que os benefícios daquela morte fossem aplicados
a nós.
Não haveria outro modo de o pecador ser libertado da sentença
condenatória da Lei, de morte eterna, de forma a ficar para sempre separado de
Deus em sofrimentos eternos.
Deus não poderia declarar absolvidos de condenação, nem mesmo
os santos que estavam no céu, como Abraão, Moisés e Davi, por exemplo, se Jesus
não morresse no lugar deles. A justiça divina exigiria a expulsão deles do céu,
caso Cristo tivesse falhado em Sua missão.
É portanto, uma grande ofensa à santidade e justiça divinas
quando alguém, de per si, tenta se apresentar a Deus aprovado, baseando-se
apenas em suas boas obras ou justiça própria, e aparte de uma completa
confiança de fé em Jesus, pois temos visto que sem o Seu sacrifício, não há
remissão de pecados. É somente pelos benefícios de Sua morte que podemos voltar
à vida que foi perdida em Adão.
É dito em Levítico
que “Porque a vida da carne está no sangue. Eu vo-lo tenho
dado sobre o altar, para fazer expiação pela vossa alma, porquanto é o sangue
que fará expiação em virtude da vida.” (Levítico 17.11). Aqui reside o significado do mistério do
tipo de relação que há entre o crente e Cristo, o qual foi plenamente
compreendido pelo apóstolo Paulo, que afirmou que não era ele quem vivia, senão
Cristo nele. Isto é o propósito de Deus para cada crente, a saber, que vivam
pela vida do Filho de Deus neles, e não por suas próprias vidas, uma vida que é
esta nova vida santa celestial, espiritual e divina implantadas como a nova natureza
do crente, que Deus está aceitando e desenvolvendo até a perfeição. Para isto
Jesus foi feito sangue do nosso sangue, para que sejamos participantes do Seu
sangue, e assim tenhamos vida abundante.
Isso estabelece nossa alegria e glória, estamos identificados com Cristo
e somos crucificados com Ele, sepultados com Ele e nEle elevados à novidade de
vida. “Estou crucificado com Cristo”, mas vivo. “Estamos mortos com Cristo, e nossa
vida está escondida com Cristo em Deus.”
Uma religiosidade sem isto é vã e ilusória. A verdadeira
religião, ou seja, a religação do homem a Deus, é feita somente por este meio,
e nenhum outro poderia ser designado para efetuá-la.
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