quinta-feira, 20 de junho de 2019

Para Quem Precisa da Paz


Por
Silvio Dutra
Jun/2019
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A474
Alves, Silvio Dutra
Para quem precisa da paz / Silvio Dutra Alves
Silvio Dutra Alves – Rio de Janeiro, 2019.
34p.; 14,8 x21cm
1. Teologia. 2. Vida Cristã. 3. Alves, Silvio Dutra.
I. Título.
CDD 252
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“O conforto sensível sobe ou desce, aumenta ou diminui, de acordo com a força de nosso julgamento e nossas apreensões reais. Observe, não é o que realmente é nossa propriedade - mas o que julgamos, que gera em nós conforto ou desconforto sensato. Um coração sincero e sadio é muito pesado e desconsolado com uma má interpretação e julgamento de sua verdadeira condição.”
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As palavras de Thomas Brooks em nosso texto de abertura são a chave para entendermos a que é devido ou não a nossa paz.
Observe que ele diz que isto depende de nosso julgamento de nossas condições e não propriamente das condições propriamente ditas. Isto equivale a dizer que é a forma como encaramos o que somos e o que nos sucede que é o fator determinante de nos sentirmos em paz ou não, e não propriamente o que somos ou nossas circunstâncias exteriores.
Isto está plenamente em acordo com a verdade bíblica pois nosso Senhor nos diz que podemos experimentar a sua paz que não é conforme a paz que o mundo dá.
Ao longo do nosso discurso tentaremos abrir um pouco mais estas palavras de Cristo, mas de uma forma não didática, de modo, que o significado terá que ser inferido de tudo o que for dito daqui em diante.
“Ué”, alguém dirá: “parece que está tudo invertido neste mundo, pois enquanto o justo sofre, o ímpio é poupado. O justo vive em conflitos permanentes, e não são poucos os ímpios que vivem de modo regalado e
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sossegado. Teria Deus falhado na criação do mundo? Por que há esta inversão, pois ao senso racional parece que deveria ser o justo aquele a ser recompensado com paz e não o ímpio!”
Não são poucos os que pensam deste modo, e não falta de fato alguma verdade factual naquilo que eles dizem, pelo menos no plano das aparências que são julgadas racionalmente.
Mas, se pesarmos este julgamento na balança da Providência e Onisciência divina, e não na balança da razão humana, nós veremos que há muito pecado nesta forma de julgar as coisas e grande ofensa à honra da santidade e justiça de Deus, conforme poderemos ver adiante.
Para entender a criação devemos sempre voltar ao princípio de tudo. Havia perfeita paz e harmonia no céu até quando um querubim se rebelou arrastando muitos anjos juntamente com ele em sua insurreição. Como não havia a mínima possibilidade de restauração deles à sua condição inicial, foram imediatamente expulsos do céu, sendo aprisionados no abismo, mas a alguns deles e a Satanás foi permitido estarem na Terra, quando da criação do homem.
O homem foi criado justamente para que Satanás fosse derrotado em seus argumentos
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contra Deus, de que Ele era cruel, tirano, e tudo o mais que denigre o caráter, pois em permitindo que o pecado entrasse no mundo, usaria de misericórdia com o homem caído, e revelaria através dele todo o Seu amor, justiça, longanimidade e todas as partes que compõem o Seu caráter santo, justo, amoroso e perfeito.
O homem foi derrotado por Satanás, e seria nesta mesma natureza humana, assumida pelo Filho Unigênito de Deus, que a cabeça de Satanás seria esmagada, para que o homem tivesse a oportunidade de se livrar da escravidão ao diabo e ao pecado, e retornar para Deus.
Então, desde o princípio da criação, a paz do homem dependeria de ser achada em Deu em meio a um mundo que lhe seria adverso, pois o próprio Adão, quando ainda estava sem pecado, deveria vigiar e guardar-se das tentações que lhe seriam desferidas por Satanás.
A condição do homem, em relação à luta pela paz se agravou muito depois da entrada do pecado, pois ele teria agora não apenas uma luta exterior contra o diabo e seus anjos caídos, mas também em seu próprio interior, e da parte de seus semelhantes.
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Como a paz é resultante do julgamento de nossa consciência de que tudo está bem em nós em relação a Deus, em atendimento à Sua justiça e santidade, então somente aquele que é justo por praticar a justiça pode ter paz com Deus, e receber a paz de Deus, independentemente das circunstâncias em que ele viva, sejam elas boas ou más.
Como o homem se tornou pecador, estando desprovido de justiça própria, somente por meio da fé em Cristo, e pela imputação da justiça do próprio Cristo na justificação, e da sua implantação na santificação, que ele pode ter um julgamento, uma consciência, pacificados em relação a Deus, achando conforto e graça para o seu coração.
Mas alguém dirá: “mas não são muitos os ímpios que estão em paz com suas consciências mesmo quando praticam muitos males?” É verdade. Todavia eles não desfrutam da aprovação de Deus e esta aprovação própria é o resultado de uma consciência que foi cauterizada pelo pecado e enganada pelo diabo, pois tal pessoa está condenada e sob a maldição da lei divina, e portanto, a sua paz, é uma paz falsa, é uma paz segundo o mundo e Satanás, que por fim produzirá a sua destruição eterna.
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A paz verdadeira não é resultante da nossa própria aprovação de nossa vida e atos, mas da aprovação de Deus que recebemos da testificação do Espírito Santo e mediante a prática da Palavra.
É nisto principalmente em que a aparência deste mundo engana a muitos, e por esse motivo não devemos nos guiar pelas aparências, mas pela verdade das Escrituras, que nos ordenam alcançar a paz, resistindo a toda forma de pecado, e vencendo todas as tentações do diabo, da carne e do mundo.
Outro ponto importante a ser considerado é o de que não fomos criados para a individualidade, mas para nos amarmos uns aos outros com o mesmo tipo do amor de Cristo.
Deus estará agradado de nós na medida em que nos dedicamos a um viver honesto e útil como pessoas públicas, e não apenas interessadas no que é privado e restrito a nós mesmos.
Tanto que no amor prático que demonstrarmos aos outros, em fazer o bem a eles, que somos conhecidos como verdadeiros servos de Jesus.
Ora, sendo chamados a viver assim em um mundo que está sujeito ao pecado, a
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decorrência imediata é que teremos que enfrentar muitas dificuldades para cumprir o mandamento de amor ao próximo, pois receberemos ofensas, ingratidões, perseguições, e toda sorte de injustiças que colocarão à prova a nossa perseverança no amor. E nisto vemos a perfeição da Providência em nos provar de tal forma, para que saibamos até que ponto estamos sendo conduzidos pela graça e amor de Jesus, pois com um amor natural não é possível vencer as circunstâncias citadas.
Nisto aprendemos a renunciar ao ego, ao que é do nosso próprio interesse e deixando de ser egoístas aprendemos a buscar o que é do interesse de muitos, para o bem da sociedade, independentemente do que possamos sofrer, e assim somos de fato sal e luz neste mundo.
Nas ofensas recebidas aprendemos a ser perdoadores, assim como Deus é perdoador.
Nas perseguições e injustiças sofridas aprendemos a ser longânimos, assim como Deus é longânimo.
Nas misérias que vemos no mundo aprendemos a ser misericordiosos, assim como Deus é misericordioso.
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O mundo torna-se assim para nós, uma verdadeira escola para o exercício da fé, do amor, da paciência, e o resultado disso, se somos aprovados, é paz e alegria em nossas almas, pois Deus no-las dará como prova de recompensa da nossa obediência aos Seus mandamentos.
Se apreciamos a paz divina então devemos viver de modo justo, e atender todas as condições que são necessárias para tal: “8 Finalmente, sede todos de igual ânimo, compadecidos, fraternalmente amigos, misericordiosos, humildes, 9 não pagando mal por mal ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo, pois para isto mesmo fostes chamados, a fim de receberdes bênção por herança. 10 Pois quem quer amar a vida e ver dias felizes refreie a língua do mal e evite que os seus lábios falem dolosamente; 11 aparte-se do mal, pratique o que é bom, busque a paz e empenhe-se por alcançá-la. 12 Porque os olhos do Senhor repousam sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos às suas
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súplicas, mas o rosto do Senhor está contra aqueles que praticam males. 13 Ora, quem é que vos há de maltratar, se fordes zelosos do que é bom? 14 Mas, ainda que venhais a sofrer por causa da justiça, bem-aventurados sois. Não vos amedronteis, portanto, com as suas ameaças, nem fiqueis alarmados; 15 antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós, 16 fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência, de modo que, naquilo em que falam contra vós outros, fiquem envergonhados os que difamam o vosso bom procedimento em Cristo, 17 porque, se for da vontade de Deus, é melhor que sofrais por praticardes o que é bom do que praticando o mal.” (I Pedro 3.8-17).
Se a nossa paz com Deus está ordenada de tal forma e dependendo do atendimento de determinadas condições, como esta de um viver justo pela fé, podemos concluir então que o
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crente terá mais ou menos paz segundo ande a referida regra.
Se não tiver paz de mente e coração em determinadas ocasiões, isto não significa que esteja necessariamente excluído daquela paz objetiva com Deus que alcançou por meio da fé em Jesus Cristo, pela justificação: “justificados pois pela fé temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.” “15 até que se derrame sobre nós o Espírito lá do alto; então, o deserto se tornará em pomar, e o pomar será tido por bosque; 16 o juízo habitará no deserto, e a justiça morará no pomar. 17 O efeito da justiça será paz, e o fruto da justiça, repouso e segurança, para sempre. 18 O meu povo habitará em moradas de paz, em moradas bem seguras e em lugares quietos e tranquilos, 19 ainda que haja saraivada, caia o bosque e seja a cidade inteiramente abatida.” (Isaías 32.15-19).
Mas a paz experiencial no viver diário dependerá de um andar justo e obediente, pois não seria adequado se admitir que Deus
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recompense o caminhar injusto com paz e alegria.
Por isso a paz está sempre associada à graça e à santificação na Palavra de Deus, pois é decorrente de ambas.
Paulo sempre introduziu suas epístolas com “graça e paz a vós outros.” A graça como agente, e a paz como consequência da ação da graça, “ Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor.” (Hebreus 12.14).
Daqui podemos entender melhor o significado das palavras de Jesus de que não veio trazer paz à terra: “32 Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus; 33 mas aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus. 34 Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada.
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35 Pois vim causar divisão entre o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e entre a nora e sua sogra. 36 Assim, os inimigos do homem serão os da sua própria casa. 37 Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim; 38 e quem não toma a sua cruz e vem após mim não é digno de mim. 39 Quem acha a sua vida perdê-la-á; quem, todavia, perde a vida por minha causa achá-la-á. 40 Quem vos recebe a mim me recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou. 41 Quem recebe um profeta, no caráter de profeta, receberá o galardão de profeta; quem recebe um justo, no caráter de justo, receberá o galardão de justo. 42 E quem der a beber, ainda que seja um copo de água fria, a um destes pequeninos, por ser este meu discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão.” (Mateus 10.32-42).
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Lidas em seu contexto, estas palavras “não vim trazer paz à terra”, bem demonstram que a paz aqui referida é aquela que é segundo as expectativas do mundo, de uma fraternidade humana universal, em que todos se unem em um só espírito visando ao bem comum. Ora, isto não é possível em decorrência do pecado e de que há aqueles que são pelo mal, assim como há aqueles que são pelo bem. Há os que são lobos e não ovelhas. Os que são árvores de mau e não de bom fruto. Há joio misturado com trigo. E deveria ser admitida como uma paz verdadeira e aprovada por Deus aquela que é celebrada entre luz e trevas, entre Cristo e Belial, entre o crente e o incrédulo? A paz que Jesus veio trazer é aquela que existe entre aqueles que o amam e o servem, porque foram justificados, regenerados, santificados por meio da fé nele e um andar diário no Espírito. Os que resistem a Jesus são excluídos da Sua paz, e resistirão também àqueles que O servem.
Nós observamos neste texto de Mateus 10 que Jesus associa a obtenção da paz a uma renúncia ao ego, a uma mortificação do pecado pela cruz, e uma absoluta determinação em segui-lo,
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imitando a Sua atitude e Seu comportamento, em plena obediência à Sua vontade.
Os do mundo, enquanto no mundo, jamais poderão responder a isso de modo positivo, em razão do pecado que rege o coração de todo aquele não foi libertado do seu domínio por Jesus. “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.” (João 14.27). A qualidade da paz que Jesus nos dá é de tal ordem que nos permite não ter o coração turbado e atemorizado por quaisquer circunstâncias difíceis, e é exatamente deste tipo de paz que necessitamos em um mundo tenebroso como o nosso. “32 Eis que vem a hora e já é chegada, em que sereis dispersos, cada um para sua casa, e me deixareis só; contudo, não estou só, porque o Pai está comigo. 33 Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo.” (João 16.32,33).
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“Ora, o Senhor da paz, ele mesmo, vos dê continuamente a paz em todas as circunstâncias. O Senhor seja com todos vós.” (II Tessalonicenses 3.16). Jesus é a causa e a fonte da nossa paz com Deus e também da nossa paz subjetiva em nossa experiência diária, mas como temos afirmado, esta última depende do atendimento das condições relativas à nossa santificação: “4 Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos. 5 Seja a vossa moderação conhecida de todos os homens. Perto está o Senhor. 6 Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças. 7 E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus. 8 Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum
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louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento. 9 O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso praticai; e o Deus da paz será convosco.” (Filipenses 4.4-9). Como a nossa paz real neste mundo, em sua manifestação factual está em dependência direta do atendimento das condições da fé, então não é para se admirar que ela seja pontuada por muitas falhas ao longo de toda a nossa existência, a par de podermos aprender pelo amadurecimento espiritual e confirmação na fé, a ter um caminhar constante nesta paz, em razão de nossa permanência em Cristo, em santificação do Espírito. A paz absoluta e perfeita, sem qualquer interrupção, evidentemente, em razão de tais pressupostos, é algo para ser alcançado somente no por vir. Mas, pelas experiências com esta paz sobrenatural de Jesus, que excede todo o entendimento, já aqui neste mundo, temos o testemunho e a garantia de que a teremos de forma perfeitamente absoluta no céu. Contudo, não é para desanimarmos ou então para não darmos a devida consideração a esta
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paz porque será somente perfeita e absoluta no céu, porque é pela evidência da paz com Deus que sabemos que temos caminhado neste mundo segundo a Sua vontade. Além disso, não podemos esquecer que a promessa que temos da parte do Senhor é a de receber dEle uma paz perfeita mesmo enquanto vivemos neste mundo (Isaías 26.3). A razão disso é que a paz de Jesus e perfeita assim como Ele é perfeito. Não é comunicada a nós, por partes, ou de modo imperfeito, senão que é sempre perfeita enquanto a experimentamos em seu modo sobrenatural de existência. Ora, se a paz é a evidência da harmonia da nossa vontade em relação à de Deus, devemos valorizá-la sobremaneira, pois é por meio desta comunhão com Deus, da harmonia com a Sua vontade, que somos mais e mais, de fé em fé, de glória e glória, transformados à imagem de Cristo, segundo o Seu propósito eterno de ter muitos filhos semelhantes a Ele. “9 Por esta razão, também nós, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós e de pedir que transbordeis de pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual;
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10 a fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus; 11 sendo fortalecidos com todo o poder, segundo a força da sua glória, em toda a perseverança e longanimidade; com alegria, 12 dando graças ao Pai, que vos fez idôneos à parte que vos cabe da herança dos santos na luz. 13 Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, 14 no qual temos a redenção, a remissão dos pecados. 15 Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; 16 pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. 17 Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste.
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18 Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia, 19 porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude 20 e que, havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele, reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus. 21 E a vós outros também que, outrora, éreis estranhos e inimigos no entendimento pelas vossas obras malignas, 22 agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis, 23 se é que permaneceis na fé, alicerçados e firmes, não vos deixando afastar da esperança do evangelho que ouvistes e que foi pregado a toda criatura debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, me tornei ministro.” (Colossense 1.9-23). E se tivermos falhado nisto, teremos falhado em tudo o mais quanto ao real objetivo da vida.
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Não há vida e paz à parte de Jesus Cristo. Tudo o que somos e teremos segundo a vontade de Deus terá sido alcançado por meio dEle vivendo em nós. Separados dEle somos galhos estéreis e mortos na Videira Verdadeira, e destinados a ser queimados com um fogo inextinguível. A nossa busca da paz não se trata portanto do atendimento de uma conveniência pessoal relacionada simplesmente ao nosso conforto presente, mas a sermos achados naquela condição de bem-aventurança que nos transportará para o céu. Não somos salvos pela paz, senão pela fé, mas a paz é uma das grandes evidências de sermos da fé que salva. “8 Agora, porém, despojai-vos, igualmente, de tudo isto: ira, indignação, maldade, maledicência, linguagem obscena do vosso falar. 9 Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem com os seus feitos 10 e vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou;
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11 no qual não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos. 12 Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. 13 Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós; 14 acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição. 15 Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos. 16 Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração. 17 E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai.” (Colossenses 3.8-17).
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Nada tem a ver com este tipo de paz que é celestial, espiritual e divina a proposta de paz da Revolução Francesa para o mundo, que é ainda tão propalada em nossos dias que consiste no ideal de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, para o mundo como um todo. Eles buscam isto pela via política, e não pela conversão a Deus, e quando chegarem ao ponto de ter um controle sobre toda a população da Terra pelo governo do Anticristo, pensarão ter enfim alcançado o propósito deles, mas veja o que Deus diz acerca deste sentimento de segurança e paz carnal que não é baseado na verdade e na justiça: “1 Irmãos, relativamente aos tempos e às épocas, não há necessidade de que eu vos escreva; 2 pois vós mesmos estais inteirados com precisão de que o Dia do Senhor vem como ladrão de noite. 3 Quando andarem dizendo: Paz e segurança, eis que lhes sobrevirá repentina destruição, como vêm as dores de parto à que está para dar à luz; e de nenhum modo escaparão. 4 Mas vós, irmãos, não estais em trevas, para que esse Dia como ladrão vos apanhe de surpresa;
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5 porquanto vós todos sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite, nem das trevas. 6 Assim, pois, não durmamos como os demais; pelo contrário, vigiemos e sejamos sóbrios. 7 Ora, os que dormem, dormem de noite, e os que se embriagam é de noite que se embriagam. 8 Nós, porém, que somos do dia, sejamos sóbrios, revestindo-nos da couraça da fé e do amor e tomando como capacete a esperança da salvação; 9 porque Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação mediante nosso Senhor Jesus Cristo, 10 que morreu por nós para que, quer vigiemos, quer durmamos, vivamos em união com ele.” (I Tessalonicenses 5.1-10). É necessário viver na prática das boas obras de justiça, conforme Deus as preordenou desde antes da fundação do mundo, mas isto não apenas para o bem público, mas sobretudo para a glória de Deus, pois quando se perde este alvo superior, tudo descamba para a glória e exaltação do próprio homem, e tudo se transforma em injustiça, ainda que tenha alguma aparência de bem.
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Como Deus poderia estar de acordo com tal estado de coisas? Porventura não as sujeitará ao Seu justo Juízo?
A paz deles é uma paz de trevas e não de luz.
A segurança deles é carnal e não santa.
Eles não amaram a verdade, antes a injustiça, e por isso Deus lhes enviou a operação do erro para que fossem enganados, por darem crédito à mentira, e não à Palavra divina, e por fim destruídos.
Eles recusaram o evangelho, recusaram a fé e o arrependimento, e afirmaram a própria justiça deles baseada em artifícios e enganos políticos, e o justo Juiz não permitirá que permaneçam impunes.
Deus é Deus da paz, mas da paz que é celebrada no sangue de Jesus em santificação. “O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.” (I Tessalonicenses 5.23).
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“22 Foge, outrossim, das paixões da mocidade. Segue a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor. 23 E repele as questões insensatas e absurdas, pois sabes que só engendram contendas. 24 Ora, é necessário que o servo do Senhor não viva a contender, e sim deve ser brando para com todos, apto para instruir, paciente, 25 disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade, 26 mas também o retorno à sensatez, livrando-se eles dos laços do diabo, tendo sido feitos cativos por ele para cumprirem a sua vontade.” (II Tessalonicenses 2.22-26). “Ora, é em paz que se semeia o fruto da justiça, para os que promovem a paz.” (Tiago 3.18). “1 Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos que são forasteiros da Dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia, 2 eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a
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aspersão do sangue de Jesus Cristo, graça e paz vos sejam multiplicadas.” (I Pedro 1.1,2). “1 Judas, servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago, aos chamados, amados em Deus Pai e guardados em Jesus Cristo, 2 a misericórdia, a paz e o amor vos sejam multiplicados.” (Judas 1,2). Não há paz com Deus senão aquela que seja fundada na justiça do evangelho: “Encontraram-se a graça e a verdade, a justiça e a paz se beijaram.” (Salmo 85.10). “Grande paz têm os que amam a tua lei; para eles não há tropeço.” (Salmo 119.65). A paz de Deus sempre flui para nós por Jesus: “6 Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz; 7 para que se aumente o seu governo, e venha paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o firmar mediante o juízo e a justiça, desde agora e para sempre. O
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zelo do SENHOR dos Exércitos fará isto.” (Isaías 9.6,7). Esta paz nos vem pelo firme propósito de fé em Jesus: “Tu, SENHOR, conservarás em perfeita paz aquele cujo propósito é firme; porque ele confia em ti.” (Isaías 26.3). Esta fé em Jesus é provada por várias tribulações, e a paciência em suportá-las nos trará finalmente a paz, conforme foi a experiência do rei Ezequias em toda a grande aflição que sofreu, pois disse: “Eis que foi para minha paz que tive eu grande amargura; tu, porém, amaste a minha alma e a livraste da cova da corrupção, porque lançaste para trás de ti todos os meus pecados.” (Isaías 38.17). Se somos levados pela aflição a reconhecer o nosso caminhar errado e a confessar e a deixar os nossos pecados, então o resultado disto será para o nosso benefício, pois teremos paz com Deus. “Ah! Se tivesses dado ouvidos aos meus mandamentos! Então, seria a tua paz como um
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rio, e a tua justiça, como as ondas do mar.” (Isaías 48.18). A par de toda a importância e preciosidade da paz, não é ela no entanto, como já dissemos o grande objetivo a ser alcançado em nossa vida, senão obedecer a vontade de Deus e glorificá-lo, conforme nos foi revelado no supremo exemplo do próprio Senhor Jesus Cristo, que tudo sofreu neste mundo por amor de nós, e para fazer a vontade do Pai e glorificá-lo. Por causa do pecado jamais poderíamos ter paz com Deus, a não ser pelo sacrifício de Jesus por nós. Ele viveu aqui não para obter felicidade e paz, mas para trazer isto para nós. E do mesmo modo que Ele viveu para nós, devemos também viver para os irmãos dando nossas vidas por eles, pois é nisto que se cumpre a vontade de Deus no propósito para o qual nos criou. “4 Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. 5 Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.
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6 Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos. 7 Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca. 8 Por juízo opressor foi arrebatado, e de sua linhagem, quem dela cogitou? Porquanto foi cortado da terra dos viventes; por causa da transgressão do meu povo, foi ele ferido. 9 Designaram-lhe a sepultura com os perversos, mas com o rico esteve na sua morte, posto que nunca fez injustiça, nem dolo algum se achou em sua boca. 10 Todavia, ao SENHOR agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do SENHOR prosperará nas suas mãos. 11 Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si.
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12 Por isso, eu lhe darei muitos como a sua parte, e com os poderosos repartirá ele o despojo, porquanto derramou a sua alma na morte; foi contado com os transgressores; contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu.” (Isaías 53.4-12). Por meio do sacrifício e sangue de Jesus, Deus Pai tem feito uma aliança eterna de paz com os que se encontram aliançados com Ele. “7 Por breve momento te deixei, mas com grandes misericórdias torno a acolher-te; 8 num ímpeto de indignação, escondi de ti a minha face por um momento; mas com misericórdia eterna me compadeço de ti, diz o SENHOR, o teu Redentor. 9 Porque isto é para mim como as águas de Noé; pois jurei que as águas de Noé não mais inundariam a terra, e assim jurei que não mais me iraria contra ti, nem te repreenderia. 10 Porque os montes se retirarão, e os outeiros serão removidos; mas a minha misericórdia não se apartará de ti, e a aliança da minha paz não será removida, diz o SENHOR, que se compadece de ti.
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11 Ó tu, aflita, arrojada com a tormenta e desconsolada! Eis que eu assentarei as tuas pedras com argamassa colorida e te fundarei sobre safiras. 12 Farei os teus baluartes de rubis, as tuas portas, de carbúnculos e toda a tua muralha, de pedras preciosas. 13 Todos os teus filhos serão ensinados do SENHOR; e será grande a paz de teus filhos. 14 Serás estabelecida em justiça, longe da opressão, porque já não temerás, e também do espanto, porque não chegará a ti. 15 Eis que poderão suscitar contendas, mas não procederá de mim; quem conspira contra ti cairá diante de ti. 16 Eis que eu criei o ferreiro, que assopra as brasas no fogo e que produz a arma para o seu devido fim; também criei o assolador, para destruir. 17 Toda arma forjada contra ti não prosperará; toda língua que ousar contra ti em juízo, tu a condenarás; esta é a herança dos servos do SENHOR e o seu direito que de mim procede, diz o SENHOR.” (Isaías 54.7-17).
34
Deus não reserva a Sua paz para os ímpios, senão somente para os que o temem e o amam: “18 Tenho visto os seus caminhos e o sararei; também o guiarei e lhe tornarei a dar consolação, a saber, aos que dele choram. 19 Como fruto dos seus lábios criei a paz, paz para os que estão longe e para os que estão perto, diz o SENHOR, e eu o sararei. 20 Mas os perversos são como o mar agitado, que não se pode aquietar, cujas águas lançam de si lama e lodo. 21 Para os perversos, diz o meu Deus, não há paz.” (Isaías 57.18-21).

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