terça-feira, 2 de abril de 2019

Satisfação


Por
Silvio Dutra
Abr/2019
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A474
Alves, Silvio Dutra
Satisfação / Silvio Dutra Alves
Silvio Dutra Alves – Rio de Janeiro, 2019.
58p.; 14,8 x21cm
1. Teologia. 2. Vida Cristã. 3. Alves, Silvio Dutra.
I. Título.
CDD 252
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No dia do juízo, diante de Deus, somente estará tranquila a consciência daquele que viveu não para satisfazer a si mesmo, mas a Deus.
O que queremos dizer com isto é que não podemos ter a verdadeira satisfação e contentamento eternos quando o nosso propósito é viver apenas para agradar a nós mesmos. Tudo é passageiro e este tipo de comportamento que deixa a vontade de Deus do lado de fora, é pecaminoso.
Fomos criados para glorificar a Deus e para fazê-lo satisfeito em relação a nós.
Isto só pode ser feito vivendo em Jesus Cristo e para Ele. Jesus foi dado àqueles que lhe foram dados pelo Pai, não somente para morrer no lugar deles, mas também para viver neles e ser o Senhor, a regra, o governo de suas vidas.
É por se fazer a vontade de Jesus que podemos achar verdadeira satisfação.
No evangelho Deus nos deu, não a Lei mas o próprio Filho Unigênito. Veja o testemunho que foi dado sobre Jesus por João Batista:
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“16 Porque todos nós temos recebido da sua plenitude e graça sobre graça. 17 Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo. 18 Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou.” (João 1.16-18). Quando João se referiu à plenitude de Jesus ele marcou que ela é recebida por aqueles que receberam dele o poder de serem feitos filhos de Deus por meio da fé nele. Tudo o que Jesus é e possui em si mesmo foi dado a nós, pela graça, e é manifestado em graus crescentes desta graça à medida que permanecemos nele. A Lei foi dada por meio de Moisés, mas como não podemos guardar a Lei com perfeição em razão de sermos pecadores, tendo uma natureza corrompida pelo pecado que é contrária à Lei, algo superior à Lei deveria ser provido por Deus em relação à nossa fraqueza, e isto ele fez nos dando a própria pessoa de Jesus, e com ele, o acesso à graça, à verdade, ao amor, à paz, alegria, vida eterna, justiça, redenção, expiação, sabedoria, justificação, regeneração, santificação, glorificação, instrução, direção,
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consolação, e tudo o mais que se refira à vida abundante que Jesus veio dar aos que nele creem. A fé é o único canal para se obter tudo isto. Não são as obras da Lei, mas as da fé que são resultantes do governo de Jesus sobre nós e em nós. Confiar-se a Jesus, permanecer nele – a Videira verdadeira e o ramos, e tudo o mais, inclusive as obras da fé, procedem daí. Dentre os crentes do Velho Testamento que alcançaram o bom testemunho da parte de Deus acerca da fé e obediência que eles haviam tido em relação a Ele, e que são relacionados pelo autor de Hebreus no 11º capítulo de sua epístola, também o próprio autor de Hebreus havia alcançado tal testemunho, bem como os demais apóstolos de Jesus e todos os crentes fiéis da Igreja Primitiva, como por exemplo Timóteo, Tito, Silas, Epafrodito, Filemom, Priscila, Áquila, Apolo, João Marcos, Lucas, dentre outros. Notavelmente, entre todos eles, destaca-se o apóstolo Paulo que afirma de si mesmo ter vivido contente em todas as circunstâncias. Ele diz que mesmo quando estava triste, também estava sempre alegre, e que alegria era esta senão a resultante do contentamento que tinha em saber ser aprovado pelo Senhor em todas as
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coisas? Ele tinha este testemunho do Espírito Santo com o seu espírito, e pela certeza da comunhão que tinha continuamente com Deus, mesmo em suas prisões que duraram anos. O apóstolo Pedro também afirma que em nossos vários contristamentos podemos sentir também uma alegria cheia de glória no Senhor, em razão da nossa eleição no Espírito. O apóstolo Tiago também diz que podemos ter por motivo de toda alegria, ou seja, de contentamento em Deus, o fato de passarmos por várias provações, especialmente pelo resultado principal disto, que é o de sermos aperfeiçoados em paciência. Este contentamento cristão independe então se estamos tristes ou alegres, pois o fato de sabermos que Deus tem se agradado de nós, por nosso viver de modo piedoso e santo, é o que nos deixa também contentes. O contentamento cristão é aquilo a que Pedro se refere em I Pedro 3.10-17 , reportando-se ao que Davi havia dito anteriormente no Salmo 34.12-16, sobre a verdadeira felicidade em Deus:
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“10 Pois quem quer amar a vida e ver dias felizes refreie a língua do mal e evite que os seus lábios falem dolosamente; 11 aparte-se do mal, pratique o que é bom, busque a paz e empenhe-se por alcançá-la. 12 Porque os olhos do Senhor repousam sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos às suas súplicas, mas o rosto do Senhor está contra aqueles que praticam males. 13 Ora, quem é que vos há de maltratar, se fordes zelosos do que é bom? 14 Mas, ainda que venhais a sofrer por causa da justiça, bem-aventurados sois. Não vos amedronteis, portanto, com as suas ameaças, nem fiqueis alarmados; 15 antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós, 16 fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência, de modo que, naquilo em que falam contra vós outros, fiquem envergonhados os que difamam o vosso bom procedimento em Cristo,
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17 porque, se for da vontade de Deus, é melhor que sofrais por praticardes o que é bom do que praticando o mal.” Pedro certamente escreveu inspirado na experiência de Davi, relatada no Salmo 34, que escreveu depois de ter passado pela grande aflição que tivera na presença de Abimeleque, a ponto de ter que disfarçar-se de louco para poder livrar-se da morte. Ao mesmo tempo ele havia clamado ao Senhor e Ele o livrou, como sempre vinha livrando o seu servo de todas as suas tribulações, especialmente aquelas que padeceu em razão das perseguições que sofria da parte do rei Saul. Era por causa do seu bom testemunho, da sua completa fidelidade a Deus e à Sua Palavra que ele estava sofrendo todas aquelas coisas, e sabia que isto era de ser esperado, porque quando alguém se determina a caminhar na verdade em comunhão com Deus, do outro lado a fúria do diabo é despertada contra ele, tentando interromper a sua caminhada fiel. Davi perseverou até o fim da sua vida, e o contentamento ou alegria no Senhor, não se afastou dele. Mesmo quando parecia ter sido entregue a si mesmo, quando em aflição,
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tristeza, abatimento de alma, ou o que fosse, ele tinha a certeza de ter os olhos do Senhor sobre ele, pois, buscava fazer somente aquilo que era justo aos Seus olhos. Este é o segredo do contentamento permanente em todas as circunstâncias, mesmo quando estamos abatidos e tristes: a certeza de que temos agradado a Deus por buscarmos ser sinceros diante dEle, confessando os nossos pecados, e fazendo somente aquilo que é justo segundo a Sua Palavra, e estando prontos a sofrer e a fazer a vontade de Jesus em tudo em que formos provados nesta vida. Medite detidamente em cada palavra do Salmo 34, e veja a que Davi associa a razão do seu contentamento. Não era por ser poderoso, por ter riquezas, a ter plena saúde, e tudo aquilo que o mundo considera erroneamente como sendo a causa da nossa satisfação. “Salmos – 34 1 Bendirei o SENHOR em todo o tempo, o seu louvor estará sempre nos meus lábios. 2 Gloriar-se-á no SENHOR a minha alma; os humildes o ouvirão e se alegrarão.
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3 Engrandecei o SENHOR comigo, e todos, à uma, lhe exaltemos o nome. 4 Busquei o SENHOR, e ele me acolheu; livrou-me de todos os meus temores. 5 Contemplai-o e sereis iluminados, e o vosso rosto jamais sofrerá vexame. 6 Clamou este aflito, e o SENHOR o ouviu e o livrou de todas as suas tribulações. 7 O anjo do SENHOR acampa-se ao redor dos que o temem e os livra. 8 Oh! Provai e vede que o SENHOR é bom; bem-aventurado o homem que nele se refugia. 9 Temei o SENHOR, vós os seus santos, pois nada falta aos que o temem. 10 Os leõezinhos sofrem necessidade e passam fome, porém aos que buscam o SENHOR bem nenhum lhes faltará. 11 Vinde, filhos, e escutai-me; eu vos ensinarei o temor do SENHOR. 12 Quem é o homem que ama a vida e quer longevidade para ver o bem?
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13 Refreia a língua do mal e os lábios de falarem dolosamente. 14 Aparta-te do mal e pratica o que é bom; procura a paz e empenha-te por alcançá-la. 15 Os olhos do SENHOR repousam sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos ao seu clamor. 16 O rosto do SENHOR está contra os que praticam o mal, para lhes extirpar da terra a memória. 17 Clamam os justos, e o SENHOR os escuta e os livra de todas as suas tribulações. 18 Perto está o SENHOR dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito oprimido. 19 Muitas são as aflições do justo, mas o SENHOR de todas o livra. 20 Preserva-lhe todos os ossos, nem um deles sequer será quebrado. 21 O infortúnio matará o ímpio, e os que odeiam o justo serão condenados. 22 O SENHOR resgata a alma dos seus servos, e dos que nele confiam nenhum será condenado.
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O contentamento na experiência real de vida cotidiana do crente, não consiste apenas em saber que já não há qualquer condenação sobre ele para uma ruína eterna, por ter sido salvo por Jesus, pois se andar de modo desordenado contra a vontade de Deus, não poderá sentir a Sua presença, e também a Sua aprovação, e de fato, seria falsidade e cinismo carnal de sua parte sentir-se contente em tal condição. Somente quando confessar o seu pecado, converter-se de seus maus caminhos, andando humildemente com o Senhor, em obediência à Sua Palavra, que poderá retornar ao processo de ser educado pela graça em um viver santo, piedoso e fiel, o qual será a causa do seu contentamento, porque os olhos do Senhor repousam sobre os justos, e fará com que se sintam bem e felizes mesmo em meio às suas tribulações.
Portanto, se estamos contentes com nossa vida sem que Jesus esteja satisfeito em relação a nós, em razão do modo desordenado e sem comunhão com ele, como temos caminhado, não deveríamos então estar contentes quando somos reprovados por Ele, assim como foi o caso dos crentes da Igreja de Laodiceia citada no livro de Apocalipse. Eles estavam muito satisfeitos consigo mesmos, mas Jesus disse deles que
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eram na verdade infelizes, pobres, miseráveis, cegos e nus. Eles estavam na posição de serem repreendidos e castigados e não havia portanto, motivo para estarem contentes em tal condição.
Já os crentes da Igreja de Filadélfia, que eram pobres de bens deste mundo, fracos em número e prestígio e perseguidos pelo mundo, receberam o testemunho da parte de Jesus de que estava satisfeito com eles, em razão de não terem negado o Seu nome e a Sua Palavra. Eles tinham então motivo para se gloriarem no Senhor e estarem satisfeitos totalmente, uma vez que Ele estava contente com a conduta deles, de caminharem segundo a Sua vontade.
Para entendermos melhor o assunto do contentamento cristão muito nos auxilia o que foi escrito pelo sábio e piedoso Jeremiah Burroughs (1600-1646), do que destacamos algumas citações a seguir:
“Eu aprendi, em qualquer estado que eu esteja, a estar contente”. (Filipenses 4:11). Este texto contém um consolo para reanimar os espíritos abatidos dos santos nestes momentos de tristeza e afundamento. Pois a “hora da tentação” já chegou a todo o mundo para tentar os habitantes da terra. Em particular, este é o dia
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do trabalho de Jacó em nossas próprias entranhas.
Nosso grande apóstolo sustenta experimentalmente neste texto evangélico a própria vida e alma de toda a divindade prática. Nele podemos claramente ler sua própria proficiência na escola de Cristo, e que lição todo cristão que deve provar o poder e o crescimento da piedade em sua própria alma deve necessariamente aprender com ele. Estas palavras são trazidas por Paulo como um argumento claro para persuadir os filipenses de que ele não buscava grandes coisas no mundo, e que ele não procurava "deles", mas "eles". Ele não ansiava por grande riqueza. Seu coração foi tomado por coisas melhores. " Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação." (v.11). Eu aprendi - Contentamento em todas as condições é uma grande arte, um mistério espiritual. É para ser aprendido como um mistério. E assim, no versículo 12, ele afirma: “Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez”.
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A palavra que é traduzida como “já tenho experiência”, tem no original o sentido de "instruído" e é derivada da palavra que significa "mistério"; é como se ele tivesse dito: "aprendi o mistério desse negócio". O contentamento deve ser aprendido como um grande mistério, e aqueles que são completamente treinados nesta arte, que é como o enigma de Sansão para um homem natural, aprenderam um profundo mistério. "Eu aprendi isso" - não tenho que aprender agora, nem tenho a arte a princípio; eu consegui isso, embora com muita demora, e agora, pela graça de Deus, eu me tornei o mestre desta arte. Em qualquer estado que eu esteja - a palavra estado não está no original, mas simplesmente no que sou, isto é, em qualquer preocupação ou acontecimento, se tenho pouco ou nada. Com isto, para estar contente - A palavra processada contente aqui tem grande elegância e plenitude de significado no original. No sentido estrito, só é atribuído a Deus, que se intitulou "Deus todo-suficiente", em que ele descansa plenamente satisfeito em si mesmo e sozinho. Mas ele tem o prazer de comunicar livremente sua plenitude à criatura, de modo que, de Deus em Cristo, os santos recebem graça sobre graça (João 1:16). Como resultado, há neles a mesma graça que está em Cristo, de acordo com a medida deles. Nesse sentido,
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Paulo diz que tem uma autossuficiência, que é o que a palavra significa.
Mas Paulo tem uma autossuficiência? você dirá. Como somos suficientes de nós mesmos? Nosso apóstolo afirma em outro caso: "Que não somos suficientes de nós mesmos para pensar qualquer coisa como de nós mesmos" (2 Coríntios 3: 5).
Portanto, seu significado deve ser, eu acho uma suficiência de satisfação em meu próprio coração, através da graça de Cristo que está em mim. Embora eu não tenha conforto exterior e conveniências mundanas para suprir minhas necessidades, ainda assim tenho uma porção suficiente entre Cristo e minha alma abundantemente para satisfazer-me em todas as condições. Essa interpretação concorda com esse lugar: "Um homem bom está satisfeito consigo mesmo" (Provérbios 14:14) e também com o que Paulo se dedica em outro lugar, que "embora não tivesse nada, possuía todas as coisas". Porque ele tinha o direito ao pacto e promessa, que praticamente contém tudo, e um interesse em Cristo, a fonte e o bem de tudo, não é de admirar que ele disse que em qualquer estado que ele se encontrava, ele estava contente.
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Isto não decorre de se ter ou não ter, de ter convicção de bênçãos futuras ou não neste mundo, mas de um sentimento e condição espiritual que é infundido em nós pela operação do Espírito Santo, que, por exemplo, nos faz sentir quietos e sossegados, quando teríamos, segundo a carne, motivos para estarmos intranquilos e desesperados.
Assim você tem a verdadeira interpretação do texto. Eu não farei qualquer divisão das palavras, porque eu as levo apenas para promover o dever mais necessário, acalmando e consolando os corações do povo de Deus sob os problemas e mudanças com os quais eles se encontram nestes momentos agitados pelo coração.
A conclusão doutrinal resumidamente é a seguinte: que ser bem qualificado no mistério do contentamento cristão é o dever, a glória e a excelência de um cristão.
Esta verdade evangélica é apresentada suficientemente nas Escrituras, mas podemos tomar um ou dois outros lugares paralelos para confirmar isso. Em 1 Timóteo 6: 6 você encontra expressado tanto o dever quanto a glória dele: Tendo comida e vestuário, ele diz no versículo 8, estejamos contentes - existe o dever. Mas a piedade com contentamento é grande ganho (v.
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6) - há a glória e excelência dela; como se sugerisse que a piedade não era ganho, exceto o contentamento com ela. A mesma exortação que você tem em Hebreus: Deixe a sua conversa ser sem cobiça, e esteja contente com as coisas que você tem (Hebreus 13: 5).
Eu não encontro nenhum apóstolo ou escritor das Escrituras que lide tanto com este mistério espiritual de contentamento como este nosso apóstolo fez ao longo de suas epístolas.
Para explicar e provar a conclusão acima, tentarei demonstrar quatro coisas:
1. A natureza deste contentamento cristão: o que é isso.
2. A arte e o mistério dele.
3. Que lições devem ser aprendidas para trazer o contentamento ao coração.
4 Em que consiste a gloriosa excelência desta graça.
Eu ofereço a seguinte descrição: O contentamento cristão é aquela estrutura de espírito doce, interior, tranquila e graciosa, que livremente se submete e se deleita na
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disposição sábia e paternal de Deus em todas as condições.
Vou abrir essa descrição, pois é uma caixa de unguento precioso, e muito reconfortante e útil para corações perturbados, em tempos e condições difíceis.
1. O contentamento é um coração doce para o interior.
É UM TRABALHO INTERIOR DO ESPÍRITO SANTO.
Não é apenas que não procuremos ajudar-nos pela violência exterior ou que nos abstenhamos de expressões descontentes e murmurações com palavras perversas e contra Deus e os outros. Mas é a submissão interna do coração. Verdadeiramente, minha alma espera em Deus (Salmo 62: 1) e minha alma, espera somente em Deus (verso 5) - assim é em suas Bíblias, mas as palavras podem ser traduzidas como corretamente: Minha alma fica em silêncio para Deus. Santidade é a tua paz, ó minha alma. Não só a língua deve manter a paz; a alma deve ficar em silêncio. Muitos podem sentar-se em silêncio, abstendo-se de expressões descontentes, mas interiormente estão
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explodindo de expressões descontentes, estando cheios de descontentamento.
Isso mostra uma desordem complicada e uma grande perversidade em seus corações. E apesar de seu silêncio exterior, Deus ouve a linguagem rabugenta e irritada de suas almas. Um sapato pode ser liso e arrumado do lado de fora, enquanto o interior aperta a carne. Externamente, pode haver grande calma e quietude, ainda que no interior haja surpreendente confusão, amargura, perturbação e irritação.
Algumas pessoas são tão fracas que não conseguem conter a inquietação de seus espíritos, mas em palavras e comportamento elas revelam quais perturbações lamentáveis existem em seu interior. Seus espíritos são como o mar revolto, lançando nada além de lama e terra, e são problemáticos não só para si mesmos, mas também para todos com quem eles vivem. Outros, no entanto, são capazes de conter tais desordens de coração, como fez Judas quando ele traiu a Cristo com um beijo, mas mesmo assim eles fervem interiormente e comem como um cancro. Então Davi fala de alguns cujas palavras são mais doces do que o mel e macias do que a manteiga, e ainda têm guerra em seus corações.
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Em outro lugar, ele diz: "Enquanto eu mantive silêncio, meus ossos ficaram velhos". Da mesma forma, essas pessoas, enquanto há uma serena calma em suas línguas, têm tempestades violentas sobre seus espíritos e, enquanto mantêm silêncio, seus corações ficam perturbados e até mesmo desgastados pela angústia e aflição. Eles têm paz e sossego exteriormente, mas em seu interior estão em guerra a partir do funcionamento desordenado e turbulento do seu coração.
Se a obtenção do verdadeiro contentamento fosse tão fácil quanto ficar quieto externamente, não precisaria de muito aprendizado. Pode ser tido com menos força e habilidade do que um apóstolo possuía, sim, menos do que um cristão comum tem ou pode ter. Portanto, há certamente mais do que pode ser alcançado por dons comuns e pelo poder ordinário da razão, que muitas vezes freiam a natureza. É um negócio do coração. E para alcançá-lo é necessário ser educado pela graça de Jesus em um viver santo e piedoso, pela renúncia às paixões carnais e amor ao mundo.
2. É o espírito quieto do coração.
Tudo é calmo e ainda está lá. Para que você possa entender isso melhor, eu acrescentaria que esse
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quadro de espírito quieto e gracioso não se opõe a certas coisas:
1. A um devido sentimento de aflição. Deus dá a sua gente a permissão para sentir o que sofrem. Cristo não diz: "Não conte como cruz o que é uma cruz"; ele diz: "Tome sua cruz diariamente". É como a saúde física: se você toma remédio e não consegue segurá-lo, mas imediatamente vomita , ou se não sente nada e não o move - em ambos os casos, o remédio não adianta, mas sugere que você está muito desordenado e dificilmente será curado. Assim é com os espíritos dos homens sob aflições: se eles não podem suportar as poções de Deus e trazê-los de novo, ou se eles são insensíveis a eles e não são mais afetados por eles do que o corpo é por um pequeno gole de cerveja, é um triste sintoma de que suas almas estão em uma condição perigosa e quase incurável. Portanto, essa quietude interior não está em oposição a um sentimento de aflições, pois, de fato, não haveria verdadeiro contentamento se você não estivesse apreensivo e sensível às suas aflições, quando Deus estivesse irado.
2. Não se opõe a fazer de maneira ordenada o nosso lamento e reclamação a Deus e aos nossos amigos. Embora um cristão deva ficar quieto sob a mão corretiva de Deus, ele pode, sem qualquer
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violação do contentamento cristão, queixar-se a Deus, mas não de Deus. Como diz um dos antigos: Embora não com um clamor tumultuoso e gritando em uma paixão confusa, ainda assim, de um modo quieto, sossegado e submisso, ele pode confiar seu coração a Deus. Da mesma forma ele pode comunicar sua triste condição a seus amigos cristãos, mostrando-lhes como Deus lidou com ele, e quão pesada é a aflição sobre ele, para que eles possam falar uma palavra no tempo para sua alma cansada.
3. Não se opõe a toda a busca legal de ajuda em diferentes circunstâncias, nem a tentar simplesmente ser liberto das aflições presentes pelo uso de meios lícitos. Não, eu posso buscar provisão para a minha libertação e usar os meios de Deus, esperando por ele, porque eu não sei, mas que pode ser sua vontade alterar a minha condição. E até onde ele me conduzir, eu posso seguir sua providência; é meu dever, Deus é misericordiosamente indulgente com a nossa fraqueza, e ele não vai ficar doente se nós, por sincera e inoportuna oração, o buscarmos para sermos libertados, até que saibamos qual é a sua boa vontade no assunto. Certamente buscando assim ajuda, com tal submissão e santa resignação de espírito, para ser livrado quando Deus quiser, e como Deus quiser, de modo que nossas vontades sejam fundidas na vontade de
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Deus - isso não é contrário ao desejo de Deus quanto à quietude que Deus requer em um espírito satisfeito.
Mas ao que, então, será perguntado, esta quietude de espírito se opõe?
1. Ele se opõe a murmurar e repicar nas mãos de Deus, como os israelitas descontentes frequentemente faziam. Se não podemos suportar isso em nossos filhos ou servos, muito menos Deus pode suportar isso em nós.
2. A irritação e preocupação, que é um grau além de murmurar. Lembro-me do ditado de um pagão: "Um homem sábio pode sofrer, mas não ficar aborrecido com suas aflições". Existe um vasto diferencial entre uma gentil aflição e uma perturbação desordenada.
3. Para a turbação do espírito, quando os pensamentos se desdobram e trabalham de maneira confusa, de modo que as afeições são como a multidão indisciplinada nos Atos, que sabiam com que propósito se haviam reunido. O Senhor espera que você fique em silêncio sob sua vara de correção e, como foi dito em Atos 19:36, você deve ficar quieto e não fazer nada precipitadamente.
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4. Ele se opõe a um espírito instável e agitado, por meio do qual o coração se distrai do dever presente que Deus requer em nossos vários relacionamentos, em relação a Deus, a nós mesmos e aos outros. Devemos premiar mais o dever do que nos distrair com todas as ocasiões triviais. De fato, um cristão valoriza tanto todo serviço de Deus que, embora alguns possam ser, aos olhos do mundo e da razão natural, um negócio leve e vazio, elementos mórbidos ou insensatez, mas, como Deus o chama, a autoridade do comando. Assim, surpreende o seu coração que ele está disposto a gastar-se e a ser gasto em descarregá-lo. É uma expressão de Lutero que as obras comuns, feitas com fé, são mais preciosas do que o céu e a terra. E se isto é assim, e um cristão sabe disso, ele não deve ser desviado por pequenos assuntos, mas deve responder a toda distração, e resistir a toda tentação, como Neemias fez em relação a Sambalate, Gesem e Tobias, quando eles teriam impedido a construção do muro de Jerusalém, com isto: "Estou fazendo grande obra, de modo que não poderei descer; por que cessaria a obra, enquanto eu a deixasse e fosse ter convosco?" (Neemias 6: 3).
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5. Ele se opõe aos cuidados que consomem muita distração. Um coração misericordioso estima tanto a sua união com Cristo e a obra que Deus estabelece que não aceitará de bom grado que nada venha para sufocá-lo ou enfraquecê-lo. Um cristão está desejoso de que a Palavra de Deus tome posse tão completa dele a ponto de dividir entre alma e espírito (Hebreus 4:12), mas ele não permitiria que o medo e o ruído das más notícias tomassem tal poder em sua alma fazendo uma divisão e luta, como os gêmeos no ventre de Rebeca. Um grande homem permitirá que pessoas comuns fiquem do lado de fora de suas portas, mas ele não permitirá que elas entrem e façam barulho em seu quarto quando ele deliberadamente se aposentar de todos os negócios mundanos. Assim, um espírito bem-humorado pode investigar as coisas fora do mundo e sofrer alguns cuidados e medos comuns para invadir os subúrbios da alma, de modo a tocar levemente os pensamentos. No entanto, não será de forma alguma uma intrusão na sala privada, que deve ser totalmente reservada para Jesus Cristo como seu templo interior.
6. Ele se opõe a afundar em desânimos. Quando as coisas não caem de acordo com a expectativa, quando a maré das segundas causas é tão baixa que vemos pouco em meios externos para
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sustentar nossas esperanças e corações, então o coração começa a raciocinar como fez em 2 Reis 7: 2: Se o Senhor abrisse as janelas do céu, como deveria ser isso? Nós nunca consideramos que Deus pode abrir os olhos dos cegos com barro e saliva, ele pode trabalhar acima, além, e até mesmo contrariamente aos meios. Muitas vezes, ele faz as mais belas flores dos esforços do homem murcharem e faz com que coisas improváveis passem, a fim de que a glória do empreendimento possa ser dada a Si mesmo. De fato, se o seu povo precisa de milagres para realizar sua libertação, os milagres caem tão facilmente das mãos de Deus como para dar pão ao seu povo diariamente. Muitas vezes, a bênção de Deus é um segredo de seus servos, de modo que eles não sabem de que caminho está vindo, como "não vereis o vento, nem vereis chuva, mas o vale se encherá de água" (2 Reis 3 : 17).
Deus quer que dependamos dele, embora não vejamos como isso pode acontecer; de outra forma, não mostramos um espírito quieto. Embora uma aflição esteja em você, não deixe seu coração afundar nela. Tanto quanto o seu coração afunda e você está desanimado sob aflição, você precisa aprender muito essa lição de contentamento.
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7. Ele se opõe a mudanças pecaminosas e evasões para obter alívio e ajuda. Vemos esse tipo de coisa em Saul correndo para a feiticeira de Endor e oferecendo sacrifícios antes que Samuel viesse. Não, o bom rei Josafá se une a Acazias (2 Crônicas 20:35). E Asa dirige-se a Ben-Hadade, rei da Síria, em busca de ajuda, não confiando no Senhor (2 Crônicas 16: 7,8), embora o Senhor tenha entregue o exército etíope em suas mãos, consistindo de milhares de pessoas (2 Crônicas 14: 12). E o bom Jacó juntou-se a sua mãe mentindo para Isaque; não contente em aguardar o tempo de Deus e usar os meios de Deus, ele fez uma grande pressa e saiu do seu caminho para obter a bênção que Deus pretendia para ele. Assim, muitos agem, através da corrupção de seus corações e da fraqueza de sua fé, porque eles não são capazes de confiar em Deus e segui-lo plenamente em todas as coisas e sempre. Por esta razão, o Senhor frequentemente segue os santos com muitas dolorosas cruzes temporais, como vemos no caso de Jacó, embora eles obtenham a misericórdia. Pode ser que o seu coração carnal pense, eu não me importo como eu sou livrado, se eu puder ser libertado dele. Não ocorre tantas vezes em alguns de seus corações, quando alguma cruz ou aflição acontece com vocês? Você não experimenta tais trabalhos de espírito como isto? Oh, se eu pudesse ser libertado dessa
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aflição de alguma forma, eu não me importaria - seus corações estão longe de estarem quietos. Esta mudança pecaminosa é a próxima coisa que está em oposição à quietude que Deus requer em um espírito contente.
8. A última coisa a que a quietude de espírito é o oposto disso é o surgimento desesperado do coração contra Deus por meio de rebelião. Isso é o mais abominável. Espero que muitos de vocês tenham aprendido até agora a se contentar em restringir seus corações de tais desordens. No entanto, a verdade é que não apenas homens perversos, mas às vezes os próprios santos de Deus encontram o começo disso, quando uma aflição permanece por um longo tempo e é muito severa e uma aflição permanece por muito tempo e é muito severa e pesada para eles, e os atinge, por assim dizer, na veia mestra. Eles acham em seus corações algo para levantar-se contra Deus, seus pensamentos começam a borbulhar, e suas afeições começam a se mover em rebelião contra o próprio Deus.
Especialmente é este o caso daqueles que, além de suas corrupções, têm uma grande dose de melancolia. O diabo trabalha tanto na corrupção de seus corações quanto na doença melancólica de seus corpos, e embora muita graça possa
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estar por baixo, ainda que sob aflição, pode haver alguns levantes contra o próprio Deus.
Agora a quietude cristã se opõe a todas essas coisas. Quando a aflição vem, seja o que for, você não murmura; embora você sinta isso, embora faça seu clamor a Deus, embora deseje ser liberto, e busque-o por todos os meios, ainda que não murmure, não se preocupe nem se aborreça, não há turbação de espírito em você, não uma instabilidade, não há medos distraídos em seus corações, nenhum desânimo afundando, nenhuma mudança indigna, nenhum surgimento de rebelião contra Deus de qualquer forma: Isto é quietude de espírito sob uma aflição, e essa é a segunda coisa , quando a alma é tão capaz de suportar uma aflição quanto manter-se quieta sob ela.
3. Agora a próxima coisa que quero explicar na descrição é isso, é um quadro inspirado, tranquilo e gracioso de espírito.
É um quadro de espírito e também um quadro gracioso. O contentamento é um negócio de alma. Primeiro, é interno; em segundo lugar, quieto; em terceiro lugar, é uma estrutura sossegada de espírito. Quero dizer três coisas quando digo que o contentamento consiste no quadro quieto do espírito de um homem.
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1. Que é uma graça que se espalha por toda a alma. É no julgamento, isto é, o julgamento da alma de um homem ou mulher tende a acalmar o coração - no meu julgamento estou satisfeito. Uma coisa é ficar satisfeito com o julgamento e a compreensão de alguém, de modo a poder dizer: Esta é a mão de Deus e é o que é adequado à minha condição ou melhor para mim.
Embora eu não veja a razão da coisa, ainda assim estou satisfeito com o meu julgamento sobre isso. Então é nos pensamentos de um homem ou mulher. Quando meu julgamento é satisfeito, meu pensamento é mantido em ordem, de modo que passe por toda a alma.
Há uma consciência interna testificada no espírito de que Deus está agradado conosco, e que sendo assim aprovados pelo Seu Juízo, ficamos contentes ainda que em meio às circunstâncias mais adversas ou pareceres contrários daqueles que julgam segundo a carne.
Em alguns, há um contentamento parcial. Não é a estrutura da alma, mas alguma parte da alma tem algum contentamento. Muitos homens podem estar satisfeitos em seu julgamento sobre algo que não pode, por sua vida, dominar suas afeições, nem seus pensamentos, nem sua
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vontade. Não duvido que muitos de vocês conheçam isso em sua própria experiência, se observarem o funcionamento de seus próprios corações. Você não pode dizer quando uma certa aflição acontece com você, mas pode bendizer a Deus que está satisfeito em seu julgamento sobre isso? Eu vejo a mão de Deus e devo estar contente, sim, no meu julgamento, estou convencido de que a minha é uma boa condição.
Mas não posso, para minha vida, dominar meus pensamentos, vontade e afeições.
Acho que sinto meu coração pesado e triste e mais do que deveria ser; ainda meu julgamento está satisfeito. Esta parecia ser a posição de Davi no Salmo 42: "Ó minha alma, por que estás inquieta?" No que diz respeito ao julgamento de Davi, houve um contentamento, isto é, seu julgamento foi satisfeito quanto à obra de Deus sobre ele. Ele estava perturbado, mas não sabia por que: “Ó minha alma, por que estas perturbada dentro de mim? Este é um salmo muito bom para aqueles que sentem uma doença incômoda e atormentada em seus corações a qualquer momento, para ser lido e cantado. Ele diz uma ou duas vezes naquele Salmo: Por que tu rejeitas, ó minha
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alma? e no versículo 5: “Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu.”
Davi teve o suficiente para acalmá-lo, e o que ele tinha prevaleceu com seu julgamento, pois sabia que Deus era com Ele, e isto o acalmava e lhe dava esperança em sua aflição. Mas depois de ter prevalecido com seu julgamento, ele não conseguiu mais. Ele não poderia obter essa graça de contentamento para percorrer todo o quadro de sua alma.
Às vezes, uma grande quantidade de perturbações está envolvida na obtenção de contentamento nos julgamentos das pessoas, isto é, para satisfazer seu julgamento sobre sua condição. Se você vier a muitos, sobre os quais a mão de Deus está, talvez, de uma maneira dolorosa, e procure satisfazê-los e dizer-lhes que não têm motivo para ficarem tão inquietos, eles dirão: “Oh, não há motivo?”, diz o espírito conturbado, então não há motivo para que alguém fique inquieto. Nunca houve tamanha aflição como a que eu sinto. E eles têm cem coisas com as quais evadir a força do que lhes é dito, de modo que você não pode sequer chegar a seus julgamentos para satisfazê-los. Mas há muita esperança de alcançar contentamento, se
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uma vez seus julgamentos estiverem satisfeitos, se você puder sentar e dizer em seu julgamento: "Eu vejo boas razões para estar contente". No entanto, mesmo quando você chegou tão longe, você ainda pode ter muito a ver com seus corações depois. Há tal desleixo em nossos pensamentos e afetos que nossos julgamentos nem sempre são capazes de governar nossos pensamentos e afeições. É isso que me faz dizer que o contentamento é uma estrutura de espírito interior, tranquila e graciosa - toda a alma, julgamento, pensamentos, vontade, afeições e tudo está satisfeito e quieto. Suponho que apenas ao abrir esse assunto você começa a ver que é uma lição que precisa ser aprendida, e que, se o contentamento é assim, não é facilmente obtido.
2. O contentamento espiritual vem da estrutura da alma. O contentamento de um homem ou mulher que é justamente satisfeito não vem tanto de argumentos externos ou de qualquer ajuda externa, como da disposição de seus próprios corações. A disposição de seus próprios corações provoca e produz esse contentamento gracioso, em vez de qualquer coisa externa.
Deixe-me me explicar. Alguém está perturbado, suponha que seja uma criança ou um homem ou
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uma mulher. Se você vier e trouxer alguma coisa grande para agradá-los, talvez isso os acalme e eles se sintam contentes. É a coisa que você traz que os acalma, não a disposição de seus próprios espíritos, nem qualquer bom temperamento em seus próprios corações, mas a coisa externa que você os traz. Mas quando um cristão está contente no caminho certo, o silêncio vem mais do temperamento e disposição de seu próprio coração do que de qualquer argumento externo ou da posse de qualquer coisa no mundo.
Eu revelaria isso ainda mais a você com essa analogia: ficar contente como resultado de alguma coisa externa é como aquecer as roupas de um homem junto ao fogo. Mas estar contente por uma disposição interior da alma é como o calor que as roupas de um homem têm do calor natural do corpo. Um homem que é saudável no corpo veste suas roupas, e talvez a princípio, numa manhã fria, eles sintam frio. Mas depois de um pouco de tempo, eles estão aquecidos. Agora, como eles se aqueceram? Eles não estavam perto do fogo? Não, isso veio do calor natural de seu corpo. Agora, quando um homem doentio, o calor natural de cujo corpo se deteriorou, veste suas roupas, elas não esquentam depois de muito tempo. Ele deve
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aquecê-las junto ao fogo e, mesmo assim, logo estarão frias novamente.
Isso ilustrará os diferentes contentamentos dos homens. Alguns são muito bondosos, e quando uma aflição vem sobre eles, embora a princípio pareça um pouco frio, depois de terem suportado por um tempo, o próprio temperamento de seus corações facilita suas aflições. Eles são silenciosos e não se queixam de qualquer descontentamento. Mas agora há outros que têm uma aflição sobre eles e não têm esse bom humor em seus corações. Suas aflições são muito frias e problemáticas para eles. Talvez, se você trouxer alguns argumentos externos sobre eles como o fogo que aquece as roupas, eles ficarão quietos por um tempo. Mas, infelizmente, se lhes falta uma disposição graciosa em seus próprios corações, esse calor não durará muito. O calor do fogo, isto é, um contentamento que resulta meramente de argumentos externos, não durará muito. Mas aquilo que vem do temperamento gracioso do espírito de alguém durará. Quando vem do espírito de um homem ou mulher - isso é verdadeiro contentamento.
No entanto, teremos mais a dizer sobre isso, explicando o mistério do contentamento.
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3. É a estrutura do espírito que mostra o caráter habitual dessa graça de contentamento. O contentamento não é meramente um ato, apenas um lampejo de bom humor. Você encontra muitos homens e mulheres que, se estiverem de bom humor, ficarão muito quietos. Mas isso não vai acontecer. Não é um curso constante. Não é o teor constante de seus espíritos serem santos e graciosos sob a aflição.
Agora eu digo que o contentamento é uma estrutura silenciosa de espírito e com isso quero dizer que você deve encontrar homens e mulheres de bom humor não apenas neste ou naquele tempo, mas segundo o teor constante e temperamento de seus corações. Um cristão que, no constante teor e temperamento de seu coração, pode manter-se sossegado com constância aprendeu essa lição de contentamento. Caso contrário, seu cristianismo não vale nada, pois ninguém, por mais furioso que seja em seu descontentamento, não ficará quieto quando estiver de bom humor.
Então, primeiro, o contentamento é um negócio do coração; em segundo lugar, é o silêncio do coração; e depois, em terceiro lugar, é um quadro do coração.
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4. O contentamento é um quadro gracioso do coração.
De fato, no contentamento há um composto de todas as graças, se o contentamento é espiritual, se é verdadeiramente cristão. Há, digo, um composto de muitos ingredientes preciosos, por isso é nesta graça de contentamento, que iremos mais desdobrar quanto à sua excelência. Mas agora a estrutura graciosa do espírito está em oposição a três coisas:
1. Em oposição à quietude natural de muitos homens e mulheres. Alguns são tão constituídos pela natureza que são mais quietos e sossegados; outros são de constituição violenta e esquentada e são mais impacientes.
2. Em oposição a uma resolução robusta. Alguns homens através da força de uma resolução robusta não parecem estar preocupados, aconteça o que acontecer. Então eles não estão inquietos tanto quanto os outros.
3. Por meio de distinção da força da razão natural (embora não santificada), que pode acalmar o coração em algum grau. Mas agora eu digo que uma estrutura de espírito graciosa não é meramente uma quietude do corpo que vem de sua constituição natural e temperamento, nem
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uma resolução robusta, nem meramente através da força da razão.
Você perguntará: De que maneira a graça do contentamento se distingue de tudo isso? Mais se falará disso quando chegarmos a mostrar o mistério do contentamento e as lições a serem aprendidas. Mas agora podemos falar um pouco por meio da distinção da quietude natural do espírito e de tal constituição corporal que você raramente os encontra inquietos. Agora, marque essas pessoas e você verá que elas são igualmente de um espírito muito monótono em qualquer coisa boa; eles não têm rapidez ou vivacidade de espírito em tais assuntos também.
Mas onde o contentamento do coração brota da graça, o coração é muito rápido e vivo no serviço de Deus. Sim, quanto mais qualquer coração gracioso puder trazer-se numa disposição contente, mais adequado será para qualquer serviço de Deus. E assim como um coração contente é muito ativo e ocupado na obra de Deus, ele é muito ativo e ocupado em santificar o nome de Deus na aflição que lhe ocorre. Inclusive, sem isto, sem este serviço a Deus, especialmente na reunião com os demais crentes, não se poderia contar com a aprovação divina, e com isto, não teríamos qualquer contentamento operado pela graça.
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A diferença é muito clara: aquele cuja disposição é quieta não é inquietado como os outros são, mas também não mostra qualquer atividade de espírito para santificar o nome de Deus em sua aflição. Mas, por outro lado, aquele cujo contentamento é da graça não é inquietado e mantém seu coração quieto com respeito a aflição e problemas, e ao mesmo tempo não é enfadonho ou pesado mas muito ativo para santificar o nome de Deus na aflição que ele está experimentando.
Pois, se um homem deve estar livre de descontentamento e preocupação, não é suficiente simplesmente não murmurar, mas você deve estar ativo em santificar o nome de Deus na aflição. Na verdade, isso vai diferenciá-lo de uma resolução robusta para não ser incomodado. Embora você tenha uma resolução firme para não se incomodar, você faz questão de consciência em santificar o nome de Deus em sua aflição e é daí que vem sua resolução? Essa é a principal coisa que traz tranquilidade de coração e ajuda contra o descontentamento em um coração cortês. Eu digo, o desejo e cuidado que sua alma tem de santificar o nome de Deus em uma aflição é o que acalma a alma, e isto é o que falta aos outros.
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Uma quietude que vem da forma da razão também não faz isso. Diz-se de Sócrates que, embora ele fosse apenas um pagão, ele nunca mudaria seu semblante, fosse o que fosse, e teria esse poder sobre seu espírito apenas pela força da razão e da moralidade. Mas o contentamento gracioso vem de princípios além da força da razão. Eu não posso desenvolver isso até que venhamos a desvendar o mistério do contentamento espiritual.
Sócrates, como tudo fazia para sua própria glória, não poderia contar com o agrado de Deus, e portanto, não poderia conhecer o verdadeiro contentamento espiritual que decorre da consciência do nosso amor e serviço ao Senhor, para a Sua exclusiva glória.
Eu lhe darei apenas uma marca da diferença entre um homem ou uma mulher que está contente de uma maneira natural e aquele que é contencioso de um modo espiritual:
Aqueles que estão contentes de uma maneira natural se superam quando as aflições externas os atingem e ficam contentes. Eles ficam contentes também mesmo quando cometem pecado contra Deus. Quando eles têm cruzes exteriores ou quando Deus é desonrado, é tudo o mesmo para eles; se eles são cruzados ou se
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Deus é cruzado. Mas um coração misericordioso que se contenta com sua própria aflição, se erguerá fortemente quando Deus for desonrado.
5. A quinta característica é que o contentamento está operando livremente e tomando prazer na disposição de Deus.
É um trabalho livre do espírito. Há quatro coisas a serem explicadas nesta liberdade de espírito:
1. Que o coração é prontamente trazido. Quando alguém faz algo livremente, ele não precisa de muito movimento para fazê-lo. Muitos homens e mulheres, quando as aflições pesam sobre eles, podem ser levados a um estado de satisfação com grande prazer. Finalmente, talvez, eles possam ser levados a acalmar seus corações em sua aflição, mas apenas com uma grande quantidade de problemas, e não de todo livremente. Se eu desejo uma coisa de outra pessoa e a obtenho com muita dificuldade, não há liberdade de espírito aqui. Quando um homem é livre em uma coisa, apenas mencione e imediatamente ele o faz. Então, se você aprendeu esta arte de contentamento, você não apenas ficará contente e tranquilizará seu coração depois de um grande tempo, mas tão logo você venha a ver que é a mão de Deus, seu
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coração age prontamente e se fecha imediatamente com o Senhor e a Sua vontade.
2. É livremente, isto é, não por restrição. Não, como dizemos, paciência pela força.
Assim, muitos dirão que você deve estar contente: Esta é a mão de Deus e você não pode evitá-la. Oh, mas esta é uma expressão muito baixa para os cristãos.
No entanto, quando os cristãos vêm visitar um ao outro, eles dizem: Amigo (ou vizinho), você deve estar contente. Não, deveria ser: "prontamente e livremente estarei contente". É apropriado para meu coração ceder a Deus e estar contente. Acho que é natural que minha alma esteja contente. Oh, você deve responder aos seus amigos para que venham e digam que devem estar contentes: Não, estou disposto a ceder a Deus e estou livremente satisfeito. Esse é o segundo ponto sobre a liberdade de espírito.
Agora um ato livre vem de maneira racional. Isso é liberdade; não vem pela ignorância, porque não conheço melhor condição ou porque não sei por que minha aflição ocorre, mas vem através de um julgamento santificado. É por isso que nenhuma criatura, a não ser uma criatura racional, pode fazer um ato de
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liberdade. A liberdade de ação é apenas em criaturas racionais e vem daí, pois é apenas a liberdade que é feita de uma maneira racional. Liberdade natural é quando eu, pelo meu julgamento, veja o que deve ser feito, entendo a coisa, e meu julgamento concorda com o que eu entendo: isso é feito livremente.
Mas se um homem faz algo, não entendendo o que ele está fazendo, dele não pode ser dito fazê-lo livremente. Suponha que uma criança tenha nascido na prisão e nunca tenha saído dela. Ele está contente, mas por quê? Porque ele nunca soube de nada melhor. Seu contentamento não é um ato livre. Mas para os homens e mulheres que sabem melhor, que sabem que a condição em que se encontram é uma condição aflita e triste, e ainda por um julgamento santificado podem trazer seus corações ao contentamento - isso é liberdade.
3. Essa liberdade está em oposição à mera estupidez. Um homem ou mulher pode se contentar apenas com a falta de sentido. Isto não é livre, mais do que um homem que está paralisado de um modo mortal e não o sente quando o beliscado é paciente livremente. Mas se alguém deve ter sua carne beliscada e sentir isso, e ainda assim por tudo isso pode controlar-se e fazê-lo livremente, isso é outro assunto.
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Então é aqui: muitos se contentam com a mera estupidez. Eles têm uma paralisia morta sobre eles. Mas um coração gracioso tem bom senso e ainda assim está contente e, portanto, é livre.
6. O contentamento é enviado livremente e toma prazer na disposição de Deus.
Submeter-se à disposição de Deus - O que é isso? A palavra submeter não significa mais nada a não ser enviar sob. Assim, em alguém que está descontente, o coração será indisciplinado e até mesmo se elevará acima de Deus até onde prevalece o descontentamento.
Mas agora vem a graça do contentamento e o envia, pois submeter é mandar sob uma coisa. Agora, quando a alma vem para ver seu próprio desleixo - a mão de Deus está trazendo uma aflição e, ainda assim, meu coração está perturbado e descontente - o que, ela diz, você estará acima de Deus? Não é esta a mão de Deus e deve a sua vontade ser considerada mais do que a de Deus? Oh, para baixo! Oh alma, rebaixe-se! Mantenha sob! mantenha baixo! Mantenha-se sob os pés de Deus! Você está sob os pés de Deus e fica sob os pés dele! Mantenha-se sob a autoridade de Deus, a majestade de Deus, a soberania de Deus, o poder que Deus tem sobre você! A alma pode se submeter a Deus no
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momento em que pode ser enviada sob o poder e autoridade e soberania e domínio que Deus tem sobre ela. Esse é o sexto ponto, mas nem isso é suficiente.
Você não alcançou essa graça de contentamento, a menos que o próximo ponto seja verdadeiro sobre você.
7. O contentamento toma prazer na disposição de Deus.
Isto é assim quando eu estou bem satisfeito com o que Deus faz, na medida em que eu posso ver Deus nele, embora, como eu disse, eu possa ser sensível à aflição, e possa desejar que Deus no devido tempo a remova e posso usar meios para removê-la. No entanto, estou bem satisfeito, na medida em que a mão de Deus está nela. Estar bem satisfeito com a mão de Deus é maior do que o anterior. Vem daí: não vejo apenas que eu deveria estar contente nessa aflição, mas vejo que há algo bom nisso. Eu acho que há mel nesta pedra, e então eu não apenas digo, devo, ou vou me submeter à mão de Deus. Não, a mão de Deus é boa, é bom que eu esteja aflito. Reconhecer que é apenas que estou aflito é possível em alguém que não está verdadeiramente contente. Eu posso estar convencido de que Deus lida justamente nesse assunto, ele é justo
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e é certo que eu me submeta ao que ele fez; O Senhor fez retamente de todas as maneiras! Mas isso não é suficiente! Você deve dizer: Boa é a mão do Senhor. Era a expressão do velho Eli: "Boa é a mão do Senhor", quando era uma palavra dolorida e difícil. Foi uma palavra que ameaçou coisas muito graves para Eli e sua casa, e mesmo assim Eli disse: Boa é a palavra do Senhor. Talvez, alguns de vocês possam dizer, como Davi, "É bom que eu tenha sido afligido", mas vocês devem chegar a isso: "É bom que eu esteja aflito". Não apenas bom quando você vê o bom fruto que isto produziu, mas para dizer quando você está aflito, É bom que eu esteja aflito. Qualquer que seja a aflição, ainda que pela misericórdia de Deus a minha seja uma boa condição. É de fato, o topo e a altura desta arte de contentamento para chegar a este ponto e para poder dizer: “bem, minha condição e aflições são assim e assim, e muito dolorosas; contudo, pela misericórdia de Deus, estou em boas condições, e a mão de Deus é boa apesar de tudo!”
Eu deveria ter lhe dado várias Escrituras sobre isso, mas eu lhe darei uma ou duas, que são muito impressionantes. Você vai pensar que é uma lição difícil chegar não apenas a ficar sossegado, mas sentir prazer na aflição. “Na casa dos justos há muito tesouro, mas nas riquezas
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dos ímpios há angústia.” (Provérbios 15: 6): aqui está uma Escritura para mostrar que um coração misericordioso tem motivos para dizer que está em boas condições, o que quer que seja. Na casa dos justos há muito tesouro; sua casa - que casa? Pode ser um chalé pobre, e talvez ele não tenha um banco para sentar. Talvez ele seja forçado a sentar-se em um toco de madeira ou parte de um bloco em vez de um banquinho, ou talvez ele tenha apenas uma cama para se deitar, ou uma refeição diária para comer. No entanto, o Espírito Santo diz: Na casa do justo há muito tesouro. Deixe o homem justo ser o homem mais pobre do mundo - pode ser que alguém tenha vindo e levado todos os bens de sua casa por dívidas. Talvez sua casa seja saqueada e tudo tenha acabado; ainda assim, na casa do justo há muito tesouro. O homem justo nunca pode ser tão pobre, ter sua casa tão fuzilada e estragada, mas haverá muito tesouro por dentro. Se ele tiver apenas um prato ou uma colher ou qualquer coisa no mundo em sua casa, haverá muito tesouro enquanto ele estiver lá. Há a presença de Deus e a bênção de Deus sobre ele, e nisso há muito tesouro. Mas nas receitas dos ímpios há problemas. Há mais tesouro na casa do corpo mais pobre, se ele é piedoso, do que na casa do maior homem do mundo, que tem seus finos trajes e camas e cadeiras bem trabalhadas e sofás e armários de pratos e afins. O que quer
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que ele tenha, ele não tem tanto tesouro como há na casa da mais pobre alma justa.
Não é de se admirar, portanto, que Paulo estivesse contente, por um ou dois versos depois do meu texto que você leu: “Recebi tudo e tenho abundância; estou suprido.” (Filipenses 4:18). Eu tenho tudo? Pobre homem! o que Paulo tinha para fazê-lo dizer que ele tinha tudo? Onde havia um homem mais aflito do que Paulo? Ele se encontrava em uma prisão em Roma quando escreveu aos filipenses. Muitas vezes ele não tinha farrapos para pendurar sobre seu corpo para cobrir sua nudez. Ele não tinha pão para comer, muitas vezes estava nu e dizia: "Mas eu tenho tudo", diz Paulo, por tudo isso. Sim, você encontrará em 2 Coríntios: Ele professa lá que ele possui todas as coisas: “entristecidos, mas sempre alegres; pobres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo.” (2 Coríntios 6:10).
Marque o que ele diz - é "como não tendo nada", mas "possuindo todas as coisas". Ele não diz: Como possuindo todas as coisas, mas possuindo todas as coisas. Eu tenho muito pouco no mundo, ele diz, mas ainda possuindo todas as coisas. Então você vê que um cristão tem motivo para ter prazer na mão de Deus, qualquer que seja sua mão.
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8. A oitava coisa no contentamento é submeter-se e tomar prazer na disposição de Deus.
Isto é, a alma que aprendeu esta lição de contentamento olha para Deus em todas as coisas. Ele não olha para os instrumentos e os meios, de modo a dizer que tal homem fez isso, que foi a falta de razoabilidade de tais e tais instrumentos, e uso bárbaro semelhante para tal; mas ele olha para Deus. Um coração satisfeito procura a disposição de Deus e se submete à disposição de Deus, isto é, ele vê a sabedoria de Deus em tudo. Em sua submissão, ele vê sua soberania, mas o que faz com que ele tenha prazer é a sabedoria de Deus. O Senhor sabe ordenar as coisas melhor do que eu. O Senhor vê mais do que eu; eu só vejo as coisas no momento, mas o Senhor vê um grande momento a partir de agora. E como eu sei, se não fosse por essa aflição, eu deveria ter sido arruinado. Sei que o amor de Deus também pode suportar uma condição aflita, como uma condição próspera. Existem raciocínios desse tipo em um espírito satisfeito, submetendo-se à disposição de Deus.
9. A última coisa é, que isto está em cada condição.
Agora vamos ampliar isso um pouco.
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1. Submeter-se a Deus em qualquer aflição que nos aconteça: quanto ao tipo de aflição.
2. Quanto ao tempo e continuidade da aflição.
3. Quanto à variedade e mudanças de aflição: o que elas forem, contudo, deve ser uma submissão para a eliminação por Deus em cada condição.
1. Quanto ao tipo de aflição. Muitos homens e mulheres em geral dizem que devem se submeter a Deus em aflição; Suponho que se você fosse agora de uma extremidade desta congregação a outra, e falasse assim para toda alma: "Você não se submeteria à disposição de Deus, em qualquer condição que ele pudesse lhe colocar?", Você diria, Deus não permita que seja de outro modo! Mas nós temos um ditado, há uma grande dose de engano nas declarações gerais. Em geral, você se submeteria a qualquer coisa; mas e se for neste ou naquele caso particular que mais o atravessa? - Então, tudo menos isso! Geralmente, estamos aptos a pensar que qualquer condição é melhor que aquela em que Deus nos colocou. Agora, isso não é contentamento; não deve ser apenas para qualquer condição em geral, mas para o tipo de aflição, incluindo aquilo que mais o aflige. Deus, pode ser, atinge você em seu filho. - Oh, se
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tivesse sido em minhas posses você diz, eu ficaria contente! Talvez ele lhe atinja em seu casamento. Oh, você diz, eu preferiria ter sido afetado pela minha saúde. E se ele tivesse lhe atingido em sua saúde ... "Ah, então, se tivesse sido no meu negócio, eu não teria me importado." Mas não devemos ser nossos próprios escultores. Quaisquer que sejam as aflições em que Deus possa nos colocar, devemos estar contentes nelas.
2. Deve haver uma submissão a Deus em toda aflição, quanto ao tempo e continuação da aflição. Talvez eu pudesse me submeter e ficar contente, diz alguém, mas essa aflição tem estado em mim há muito tempo, três meses, um ano, muitos anos, e eu não sei como ceder e me submeter a ela, minha paciência está desgastada e quebrada. Eu posso até ter uma aflição espiritual - você pode se submeter a Deus, você diz, em qualquer aflição exterior, mas não em uma aflição da alma.
Ou se fosse a retirada da face de Deus - No entanto, se isso tivesse acontecido por pouco tempo, eu poderia me submeter; mas buscar a Deus por tanto tempo e ainda assim ele não aparece, Oh, como suportarei isso? Nós não devemos ser nossos próprios operadores para o
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tempo de libertação mais do que para o tipo e forma de libertação.
Eu lhe darei uma Escritura ou duas sobre isso. Que devemos nos submeter a Deus tanto para o tempo quanto para o tipo de aflição. Veja o final do primeiro capítulo de Ezequiel: "Quando o vi, caí sobre o meu rosto e ouvi a voz de alguém que falou". O Profeta foi lançado em seu rosto, mas por quanto tempo ele deve deitar-se em seu rosto? E ele disse-me: “Filho do homem, fica em pé e eu falarei contigo. E entrou o espírito em mim, quando falou comigo e me pôs de pé.” Ezequiel foi lançado em seu rosto, e ali ele deve deitar-se até que Deus lhe peça que se levante; sim, e não apenas assim, mas até que o Espírito de Deus entrou nele e permitiu que ele se levantasse. Então, quando Deus nos derruba, devemos nos contentar em ficar deitados até que Ele nos peça para se levantar, e o Espírito de Deus entra em nós para nos capacitar a se levantar. Você sabe como Noé foi colocado na Arca - certamente ele sabia que havia muita aflição na Arca, com todos os tipos de criaturas com ele por doze meses juntos - era uma coisa poderosa, mas Deus o havia calado, mesmo que as águas fossem amenizadas, Noé não deveria sair da Arca até que Deus lhe desse uma proposta. Assim, embora estejamos calados em grandes aflições, e possamos pensar nisso e
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naquilo e nos outros meios para sair dessa aflição, ainda assim, até que Deus abra a porta, devemos estar dispostos a ficar; Deus nos colocou e Deus nos tirará. Assim, lemos nos Atos de Paulo, quando eles o haviam trancado na prisão e teriam lhe dito para sair. Não, disse Paulo, eles nos prenderam e eles devem vir nos libertar. Assim, de uma maneira santa e graciosa, deve uma alma dizer: Bem, esta aflição em que sou trazido é pela mão de Deus, e estou contente em estar aqui até que Deus me tire por Si mesmo. Deus requer isto em nossas mãos, que nós não devamos estar dispostos a sair até que ele venha e nos busque.
Em Josué 4:10 há uma história notável que pode servir muito bem ao nosso propósito: lemos sobre os sacerdotes que eles carregavam a arca e ficavam no meio do Jordão (você sabe que quando os filhos de Israel entraram na terra de Canaã, atravessou o rio Jordão). Agora, para atravessar o rio, o Jordão era uma coisa muito perigosa, mas Deus lhes dissera para ir. Eles podem ter medo da água que vem sobre eles. Mas é dito que os sacerdotes que levavam a arca ficaram no meio do Jordão até que tudo estava terminado, que o Senhor ordenou a Josué que falasse ao povo, de acordo com tudo o que Moisés ordenara a Josué, e o povo se apressou e passou. E aconteceu que, passado todo o povo,
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passou a arca do Senhor e os sacerdotes na presença do povo. Agora foi da disposição de Deus que todas as pessoas devem passar primeiro, que devem estar seguras em terra; mas os sacerdotes devem ficar parados até que todas as pessoas tenham passado, e então eles devem ter permissão para partir. Certamente, para raciocinar e sentir, havia um grande perigo em permanecer, pois o texto diz que as pessoas apressaram-se. mas os sacerdotes devem ficar até que o povo vá embora, fique até que Deus os convoque para fora daquele lugar de perigo. E tantas vezes prova que Deus tem o prazer de dispor das coisas para que seus ministros permaneçam mais em perigo do que o povo, e também os magistrados e os que estão em lugares públicos, o que deve fazer as pessoas ficarem satisfeitas com uma menor posição em que Deus as colocou. Embora sua posição seja baixa, você não está no mesmo perigo que aqueles que estão em uma posição mais alta. Deus chama os que ocupam cargos públicos a ficarem mais tempo no vão e no local de perigo que outras pessoas, mas devemos nos contentar em permanecer no Jordão até que o Senhor tenha prazer em nos chamar para fora.
3. E então pela variedade de nossa condição. Devemos nos contentar com a aflição em particular, e o tempo, e todas as circunstâncias
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sobre a aflição - por vezes as circunstâncias são aflições maiores do que as próprias aflições - e pela variedade. Deus pode nos exercitar com várias aflições, uma após a outra, como tem sido muito perceptível, mesmo ultimamente, que muitos que foram saqueados e saíram, depois adoeceram e morreram; eles haviam fugido para salvar suas vidas e depois a praga veio entre eles; e se não essa aflição, pode ser outra. É muito raro que uma aflição venha sozinha; comumente, aflições não são coisas únicas, mas elas vêm uma no pescoço de outra. Deus pode atacar um homem em suas posses, depois em seu corpo, depois em seu nome, esposa, filho ou amigo querido, e assim acontece de várias maneiras; é o caminho de Deus ordinariamente (você pode achar isto pela experiência) que uma aflição raramente vem só. Ora, isto é difícil, quando uma aflição se segue após outra, quando há uma variedade de aflições, quando há uma mudança poderosa na condição de alguém, para cima e para baixo, deste modo, e que: de fato há o julgamento de um cristão. Agora deve haver submissão à disposição de Deus neles. Lembro-me que foi dito até mesmo de Catão, que era um pagão, que nenhum homem o viu ser mudado, embora ele tenha vivido em uma época em que a comunidade era tão frequentemente mudada; ainda assim é dito sobre ele, ele era o mesmo ainda, embora sua condição tenha mudado, e
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ele passou por uma variedade de condições. Oh, o mesmo poderia ser dito de muitos cristãos, que apesar de suas circunstâncias serem mudadas, ainda que ninguém pudesse vê-los mudados, eles são os mesmos! Você viu o temperamento gracioso, doce e santo em que eles estavam antes? Eles ainda estão nele. Assim, devemos nos submeter à disposição de Deus em todas as condições. O contentamento é a estrutura de espírito interior, tranquila e graciosa, submetendo-se livremente e recebendo prazer na disposição de Deus em todas as condições: essa é a descrição, e nela nove coisas distintas foram abertas, as quais resumimos da seguinte forma:
Primeiro, que o contentamento é uma obra do coração dentro da alma; em segundo lugar, é a quietude do coração; em terceiro lugar, é a estrutura do espírito; em quarto lugar, é um quadro gracioso; em quinto lugar, é o trabalho livre deste quadro gracioso; em sexto lugar, há uma submissão a Deus, enviando a alma a Deus; em sétimo lugar, há um prazer na mão de Deus; oitavo, tudo é traçado à disposição de Deus; em nono lugar, em todas as condições, por mais dura que seja e por quanto tempo ela continue.
Agora, aqueles de vocês que aprenderam a se contentar, aprenderam a alcançar essas várias
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coisas. Espero que a própria abertura dessas coisas possa até agora funcionar em seus corações, para que possa colocar suas mãos sobre seus corações sobre o que foi dito, eu digo, que o que está lhe dizendo qual é a lição pode fazer com que você ponha suas mãos em seus corações e diga: Senhor, vejo que há mais contentamento cristão do que eu pensava, e estou longe de aprender esta lição. De fato, eu só aprendi meu ABC nesta lição de contentamento. Eu estou apenas na classe inferior na escola de Cristo, se é que estou nela. Falaremos dessas coisas mais tarde, mas meu objetivo particular ao abrir este ponto é mostrar que grande mistério existe no contentamento cristão e quantas lições distintas devem ser aprendidas, para que possamos chegar a essa disposição celestial, à qual o apóstolo Paulo alcançou.

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