domingo, 7 de abril de 2019

Satisfação II


Por
Silvio Dutra
Abr/2019
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A474
Alves, Silvio Dutra
Satisfação II / Silvio Dutra Alves
Silvio Dutra Alves – Rio de Janeiro, 2019.
65p.; 14,8 x21cm
1. Teologia. 2. Vida Cristã. 3. Alves, Silvio Dutra.
I. Título.
CDD 252
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Em nosso primeiro livro sob este título Satisfação, nós vimos que o contentamento cristão decorre da graça e verdade que recebemos de Jesus Cristo (João 1.16,1’7).
Vimos também que é impossível estarmos contentes quanto sabemos que Deus não está contente conosco, seja por falta de fé, por causa de pecados praticados, ou por quaisquer outros motivos em que a nossa comunhão com Ele seja interrompida.
Com a ajuda do puritano Jeremiah Burroughs discorremos também sobre alguns aspectos relativos àquelas coisas que devem ser consideradas para que possamos ser achados contentes em toda e qualquer circunstância, e dentre estas foi destacado que:
1. O contentamento é o trabalho interior do Espírito Santo, que nos fornece um quadro de espírito quieto e gracioso que não se opõe a certas coisas como:
1. A um devido sentimento de aflição.
2. Não se opõe a fazer de maneira ordenada o nosso lamento e reclamação a Deus e aos nossos amigos. Embora um cristão deva ficar quieto sob a mão corretiva de Deus, ele pode, sem qualquer
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violação do contentamento cristão, queixar-se a Deus, mas não de Deus.
3. Não se opõe a toda a busca legal de ajuda em diferentes circunstâncias, nem a tentar simplesmente ser liberto das aflições presentes pelo uso de meios lícitos.
Mas ao que, então, será perguntado, esta quietude de espírito se opõe?
1. Ela se opõe a murmurar e repicar nas mãos de Deus, como os israelitas descontentes frequentemente faziam.
2. A irritação e preocupação, que é um grau além de murmurar.
3. Para a turbação do espírito, quando os pensamentos se desdobram e trabalham de maneira confusa.
4. Ele se opõe a um espírito instável e agitado, por meio do qual o coração se distrai do dever presente que Deus requer em nossos vários relacionamentos, em relação a Deus, a nós mesmos e aos outros.
5. Ele se opõe aos cuidados que consomem muita distração.
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6. Ele se opõe a afundar em desânimos.
7. Ele se opõe a mudanças pecaminosas e evasões para obter alívio e ajuda.
8. A última coisa a que a quietude de espírito é o oposto disso é o surgimento desesperado do coração contra Deus por meio de rebelião.
Vimos também em nosso primeiro livro que o contentamento tem as seguintes características:
1. É uma graça que se espalha por toda a alma.
2. O contentamento espiritual vem da estrutura da alma. A disposição de seus próprios corações provoca e produz esse contentamento gracioso, em vez de qualquer coisa externa.
3. É a estrutura do espírito que mostra o caráter habitual dessa graça de contentamento. O contentamento não é meramente um ato, apenas um lampejo de bom humor.
4. O contentamento é um quadro gracioso do coração.
5. A quinta característica é que o contentamento está operando livremente e tomando prazer na disposição de Deus.
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6. Outra coisa no contentamento é submeter-se e tomar prazer na disposição de Deus.
Estas, dentre outras abordagens foram realizadas em nosso primeiro livro, mas aqui, nos deteremos principalmente no mistério em que consiste o contentamento, quanto ao modo como ele é operado por Deus em nós.
Se não levarmos em conta este fator principal, pode ser que abriguemos a noção incorreta que está em nós o poder e a habilidade para produzir o contentamento mediante a simples observância de determinadas regras espirituais.
Mas, nisto, como em todas as demais coisas espirituais, tanto o querer quanto o realizar permanecem inteiramente na esfera da exclusiva soberania divina.
Explicando-o de modo direto e simples, podemos afirmar que o quando, o como e onde a graça que necessitamos para estar contentes, permanecem na dependência total da iniciativa e da concessão efetiva de Deus, para o propósito de nos capacitar, fortalecer, animar, satisfazer etc. Se Ele retiver ou retirar a graça para que sejamos ensinados sobre esta verdade ou outros propósitos úteis, para chegarmos a entender que toda a nossa suficiência procede dEle,
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quando a concede, e que ficamos transtornados e fracos, quando esta é retida.
Nele, podemos todas as coisas, pois a sua graça nos fortalece, mas se a graça não estiver sendo concedida para este propósito de nos fortalecer, é evidente que seremos achados fracos e sem aquela estrutura de espírito gracioso, sossegado e contente a que nos referimos anteriormente.
Por isso é dito que o evangelho em sua operação em nós consiste em graça sobre graça, ou seja, não recebemos na conversão toda a graça necessária para vencermos em toda a nossa jornada neste mundo, ao contrário, necessitamos de renovados suprimentos de graça diariamente, de modo que aquela que nos tem servido para vencer no dia de hoje, terá que ser renovada para o dia seguinte, e assim sucessivamente.
Nisto somos ensinados a depender de Deus, e a recorrer a Ele diariamente, para que possamos ser achados contentes em toda e qualquer situação. Mas em todo o caso, isto permanece como um alvo a ser atingido, algo que devemos nos esforçar para fazer, a saber, a buscar estar gratos e alegres em todas as circunstâncias. Agora, se a graça que será necessária para tanto será imediatamente ou não concedida por Deus,
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isto permanece como um mistério, cujo conhecimento Ele reserva à sua exclusiva autoridade e soberania. Não sabemos quando seremos levantados de nosso abatimento e tristeza, mas somos ordenados a continuar clamando insistentemente para que sejamos achados contentes pela graça concedida por Deus, ainda que em meio de nossas tribulações.
O Salmista bem conhecia esta verdade, e é a isto que ele se refere no Salmo 30.
Observe bem o que ele diz nos versos 6 e 7.
Ele estava prosperando em todas as coisas. Estava alegre, e associou o seu contentamento à sua prosperidade. Mas, mesmo sendo esta mantida, quando Deus virou o seu rosto ele logo ficou conturbado.
O que foi isso senão o que temos explicado anteriormente?
Vamos supor, que no seu julgamento, o salmista soubesse que Deus tinha contentamento em sua vida. Que Deus o amava a ponto de dizer que ele era um homem segundo o Seu coração. Então, se fôssemos seguir a regra geral de que estaremos contentes na mesma medida em que soubermos que Deus está contente de modo
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geral conosco, então por conseguinte, também seríamos achados contentes.
Mas não foi este o sentimento do salmista. Ele se achava conturbado, e qual foi a razão disto senão somente que a concessão da graça que nos dá contentamento foi retida por Deus naquela ocasião?
Então, funciona assim, se Deus está suprindo-nos com a sua graça, somos fortes e contentes, e se Ele a retém somos fracos e ficamos insatisfeitos com a nossa condição espiritual conturbada.
Jesus mesmo é a fonte da nossa alegria. É somente nele que podemos achar graça para qualquer ocasião oportuna.
Tanto isto é verdade que muitos que se achegam a um culto público ou reunião de oração, tendo ido para lá com seus espíritos pesados e entristecidos, caso sejam visitados pela graça de Deus, logo sentem sua condição espiritual abatida sendo transformada em alegria.
Enquanto isto, muitos outros, que buscam seguir seus formulários para serem achados fortes e contentes, e que se aplicam a todo tipo de exercício para permanecerem calmos em
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situações adversas, poderão ser achados ainda fracos e entristecidos, por lhes faltar a concessão da graça que seria necessária para se sentirem animados e fortalecidos.
Devemos buscar constantemente o socorro de Deus, mesmo quando nossas circunstâncias são leves e agradáveis, pois não é por elas que somos mantidos contentes, senão somente pela concessão do favor de Deus ao nosso espírito.
Devemos aprender a lição que o salmista aprendeu, para que a tenhamos sempre fixada diante de nossos olhos durante todo o curso da nossa existência.
Entristecidos ou alegres, devemos buscar a face de Deus continuamente, não fixando nosso olhar em nossas circunstâncias, assim como Pedro fez em relação à fúria da tempestade, tirando os olhos da graça de Jesus, e isto fez com que começasse a afundar.
Podemos estar no meio do mar agitado, mas pela graça de Jesus, conseguiremos caminhar sobre as águas.
Lembremos que o que pede recebe, mas isto é feito no tempo e lugar determinados por Deus, e não segundo os nossos desejos.
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Salmos – 30 1 Eu te exaltarei, ó SENHOR, porque tu me livraste e não permitiste que os meus inimigos se regozijassem contra mim. 2 SENHOR, meu Deus, clamei a ti por socorro, e tu me saraste. 3 SENHOR, da cova fizeste subir a minha alma; preservaste-me a vida para que não descesse à sepultura. 4 Salmodiai ao SENHOR, vós que sois seus santos, e dai graças ao seu santo nome. 5 Porque não passa de um momento a sua ira; o seu favor dura a vida inteira. Ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã. 6 Quanto a mim, dizia eu na minha prosperidade: jamais serei abalado. 7 Tu, SENHOR, por teu favor fizeste permanecer forte a minha montanha; apenas voltaste o rosto, fiquei logo conturbado. 8 Por ti, SENHOR, clamei, ao Senhor implorei.
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9 Que proveito obterás no meu sangue, quando baixo à cova? Louvar-te-á, porventura, o pó? Declarará ele a tua verdade? 10 Ouve, SENHOR, e tem compaixão de mim; sê tu, SENHOR, o meu auxílio. 11 Converteste o meu pranto em folguedos; tiraste o meu pano de saco e me cingiste de alegria, 12 para que o meu espírito te cante louvores e não se cale. SENHOR, Deus meu, graças te darei para sempre.
Contaremos agora com o auxílio de Jeremiah Burroughs para detalharmos um pouco mais sobre o mistério do contentamento espiritual.
Enquanto lemos o que o citado puritano escreveu devemos ter sempre diante de nós que toda a associação que ele faz ao contentamento como sendo uma arte a ser aprendida, que isto depende inteiramente de tudo o que falamos antes sobre a necessidade de a graça de Jesus estar sendo suprida e operando, para que possamos ser achados de fato contentes em todas as circunstâncias.
Se não fora assim, não seria um mistério, mas algo bem conhecido por nós, e que poderíamos
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colocar em funcionamento sempre que o desejássemos.
Burroughs diz: Mas você se oporá: o que você fala é muito bom, se pudéssemos alcançá-lo; mas é possível que alguém atinja isso (contentamento)? É possível se você tiver habilidade na arte dele; você pode alcançá-lo, e isso também não será uma coisa tão difícil, se você entender o mistério disso. Há muitas coisas que os homens fazem em seus chamados, que se um camponês vem e vê, ele acha isso uma coisa muito difícil, e que ele nunca deveria ser capaz de fazê-lo. Mas isso é porque ele não entende a arte disso; há uma reviravolta da mão pela qual você pode fazer isso com facilidade.
Há um grande mistério e arte de como um cristão chega ao contentamento. Pelo que já foi aberto a você, aparecerão alguns mistérios e arte, já que um homem deve se contentar com sua aflição, e ainda ser completamente sensível à sua aflição; ser completamente sensível a uma aflição e esforçar-se por removê-la por todos os meios lícitos, e ainda assim deve se contentar: há um mistério nisso. Como unir estes dois: ser sensível a uma aflição tanto quanto a um homem ou mulher que não está contente; eu sou sensível a isso tão completamente quanto eles, e eu busco maneiras de ser liberto disso
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assim como eles, e ainda assim meu coração permanece satisfeito - isto é, eu digo, um mistério, que é muito difícil para um coração carnal compreender. Mas a graça ensina tal mistura, nos ensina a fazer uma mistura de tristeza e uma mistura de alegria; e isso opera contentamento, a mistura de alegria e tristeza, de alegria graciosa e de tristeza graciosa juntas. A graça nos ensina como moderar e ordenar uma aflição para que haja um sentido disso, e ainda assim, para todo aquele contentamento sob ela.
Há várias coisas para abrir o mistério do contentamento.
1. A primeira coisa é mostrar que há um grande mistério nele.
Pode-se dizer de alguém que está contente de uma maneira cristã que ele é o homem mais contente do mundo, e ainda o homem mais insatisfeito do mundo; estes dois juntos devem ser misteriosos. Eu digo, um homem contente, assim como ele é o mais satisfeito, então ele é o homem mais insatisfeito do mundo.
Você nunca aprendeu o mistério do contentamento, a menos que possa ser dito de você que, assim como você é o homem mais
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satisfeito, você também é o homem mais insatisfeito do mundo.
Você dirá: “Como é isso?” Um homem que aprendeu a arte do contentamento é o mais satisfeito com qualquer condição baixa que ele tenha no mundo, e ainda assim ele não pode estar satisfeito com o desfrute de todo o mundo. Ele está contente se tiver apenas uma crosta, senão pão e água, isto é, se Deus dispõe dele, para as coisas do mundo, para ter apenas pão e água para sua condição presente, ele pode estar satisfeito com a disposição de Deus naquilo; ainda assim, se Deus lhe desse reinos e impérios, todo o mundo para governar, se ele lhe desse isto por sua porção, ele não ficaria satisfeito. Aqui está o mistério disso: embora seu coração esteja tão dilatado que o desfrute de todo o mundo e dez mil mundos não possa satisfazê-lo para sua porção; contudo, ele tem um coração aquietado à disposição de Deus, se ele lhe der pão e água. Para unir estes dois juntos deve ser uma grande arte e mistério.
Embora ele esteja contente com Deus em um pouco, ainda assim aquelas coisas que satisfariam outros homens não o satisfarão. Os homens do mundo buscam riqueza e pensam que, se tivessem muito, estariam contentes. Eles não visam grandes coisas; mas se eu tivesse,
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talvez alguém pense, apenas duzentos ou trezentos por ano, então eu deveria estar bem o suficiente; se eu tivesse apenas cem por ano, ou mil por ano, diz outro, então ficaria satisfeito. Mas um coração misericordioso diz que, se ele tivesse dez mil vezes mais de um ano, isso não o satisfaria; se ele tivesse a quintessência de todas as excelências de todas as criaturas do mundo, não poderia satisfazê-lo; e ainda assim este homem pode cantar e ser feliz e alegre quando ele tem apenas uma crosta de pão e um pouco de água no mundo. Certamente a religião é um grande mistério!
Grande é o mistério da piedade, não apenas na parte doutrinária, mas também na parte prática.
A piedade nos ensina este mistério, para não ficarmos satisfeitos com todo o mundo pela nossa porção e, ainda assim, para nos contentarmos com a pior condição em que estamos. Quando Lutero recebeu grandes presentes de duques e príncipes, ele os recusou, e ele disse: “Eu protestei veementemente que Deus não deveria me exterminar; não é isso que vai me contentar.” Um pouco no mundo contenta um cristão por sua passagem. Marque bem, aqui está o mistério disso, Um pouco no mundo contentará um cristão para a sua passagem, mas todo o mundo, e dez mil vezes
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mais, não contentará um cristão para a sua porção. Um coração carnal ficará contente com estas coisas do mundo por sua porção; e essa é a diferença entre um coração carnal e um coração gracioso. Mas um coração misericordioso diz: “Senhor, faz comigo o que quiseres para minha passagem por este mundo; ficarei contente com isso, mas não posso me contentar com todo o mundo para minha parte.” Então, há o mistério do verdadeiro contentamento. Um homem contente, embora esteja mais contente com as menores coisas do mundo, ainda assim ele é o homem mais insatisfeito que vive no mundo.
Uma alma que é capaz de receber Deus pode ser preenchida com nada mais que Deus; nada além de Deus pode preencher uma alma que é capaz de Deus. Embora um coração bondoso saiba que é capaz de Deus e foi feito para Deus, os corações carnais pensam sem referência a Deus. Mas um coração cortês, sendo aumentado para ser capaz de Deus e desfrutando de algo dele, pode ser preenchido por nada no mundo; só deve ser o próprio Deus. Portanto, você observará que, seja o que for que Deus possa dar a um coração misericordioso, um coração que é piedoso, a menos que ele se dê, isso não funcionará. Um coração piedoso não somente terá a misericórdia, mas também o Deus dessa
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misericórdia; e então uma pequena coisa é suficiente no mundo, assim é, pois ele tem o Deus da misericórdia que ele desfruta.
Em Filipenses 4: 7,9 (não preciso ir além para mostrar uma Escritura clara para isso) compare o versículo 7 com o versículo 9: “E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e mentes por meio de Jesus Cristo”.
A paz de Deus guardará seus corações. Então, no verso 9: “As coisas que aprendestes, recebestes, ouvistes e vistes em mim, isso fazei: e o Deus da paz estará convosco”.
A paz de Deus te guardará, e o Deus da paz estará contigo.
Aqui está o que eu observaria deste texto. Que a paz de Deus não é suficiente para um coração misericordioso, a não ser que tenha o Deus dessa paz. Um coração carnal poderia ficar satisfeito se pudesse ter paz exterior, embora não segundo o ritmo de Deus; a paz no estado e sua negociação o satisfariam. Mas marque como um coração piedoso vai além de um carnal. Toda a paz exterior não é suficiente; eu devo ter a paz de Deus. Mas suponha que você tenha a paz de Deus. Isso não te calará? Não, eu
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devo ter o Deus da paz; como a paz de Deus. Isto é, devo gozar daquele Deus que me dá a paz; eu devo ter a causa, assim como o efeito. Preciso ver de onde vem minha paz e gozar da Fonte da minha paz, assim como da torrente da minha paz. E assim em outras misericórdias: tenho saúde de Deus? Eu devo ter o Deus da minha saúde para ser minha parte, ou então eu não estou satisfeito. Não é vida, mas o Deus da minha vida; não é riquezas, mas o Deus dessas riquezas, que eu devo ter, o Deus de minha preservação, assim como minha preservação.
Quando a alma se encontra em um estado ruim ela foge instintivamente de Jesus, porque Ele é bom, luz e paz. A primeira coisa a se fazer então para se ter paz e contentamento reais, é buscar sinceramente voltar à comunhão com Cristo. Render-se a Ele, pois é impossível obter a Sua graça sem estar em comunhão com Ele.
É nas coisas do Alto em que Jesus está que devemos fixar a nossa atenção e coração. Devemos ter a firme decisão e ousadia para confiar em plena certeza de fé que Ele nos lavará completamente de nossas impurezas e toda sorte de pecados, para que possamos ter comunhão com Ele.
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Um coração gracioso não fica satisfeito sem isto: ter o Deus da misericórdia, bem como a misericórdia. No Salmo 73:25, “A quem tenho eu no céu senão a ti, e não há ninguém sobre a terra que eu deseje além de ti?” Não há nada no céu ou na terra que possa me satisfazer, a não ser o próprio Senhor. Se Deus não lhe deu apenas a terra, mas o céu, que você deveria governar o sol, a lua e as estrelas, e ter o domínio sobre o mais elevado dos filhos dos homens, não seria suficiente satisfazê-lo, a menos que você tivesse o próprio Deus. Aí reside o primeiro mistério do contentamento. E verdadeiramente um homem contente, embora seja o homem mais contente do mundo, é o homem mais insatisfeito do mundo; isto é, aquelas coisas que satisfarão o mundo não o satisfarão.
2. Um cristão chega ao contentamento, não tanto pelo caminho da adição, como pelo caminho da subtração.
Esse é o seu modo de contentamento, e é uma maneira que o mundo não tem nenhuma habilidade. Eu abro assim: não tanto adicionando ao que ele teria, ou ao que ele tem, não adicionando mais à sua condição; mas sim subtraindo de seus desejos, de modo a fazer seus desejos e suas circunstâncias iguais.
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Um coração carnal não sabe como estar contente, senão isto: eu tenho tais e tais posses, e se eu tivesse isto acrescentado a elas, e o outro conforto se acrescentasse ao que eu não tenho agora, então eu deveria estar contente. Talvez eu tenha perdido minhas posses, se eu pudesse apenas ter me dado algo para compensar minha perda, então eu deveria ser um homem contente. Mas o contentamento não vem desse modo, não vem, digo, adicionando ao que você quer, mas subtraindo de seus desejos. É tudo o mesmo para um cristão, se eu me levanto ao que eu teria, ou trago meus desejos para o que eu tenho, seja para alcançar o que eu desejo, ou para trazer meus desejos para o que eu já alcancei. Minha riqueza é a mesma, pois é adequado para mim trazer meu desejo às minhas circunstâncias, como é levantar minhas circunstâncias para o meu desejo.
Agora eu digo que um coração que não tem graça, e não é instruído neste mistério de contentamento, não tem meios de obter contentamento, mas de ter suas posses elevadas aos seus desejos; mas o cristão tem outro caminho para o contentamento, isto é, ele pode trazer seus desejos para suas posses, e assim ele alcança seu contentamento. Assim o Senhor molda os corações dos filhos dos homens. Se o coração de um homem é moldado por suas
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circunstâncias, ele pode ter tanto contentamento como se suas circunstâncias fossem moldadas em seu coração. Alguns homens têm um coração grande, mas têm circunstâncias difíceis, e nunca podem ter contentamento quando têm corações grandes e suas circunstâncias são pequenas. Mas, embora um homem não possa trazer suas circunstâncias para serem tão grandes quanto seu coração, ainda assim, se ele puder trazer seu coração para ser tão pequeno quanto suas circunstâncias, para torná-las equilibradas, este é o caminho para o contentamento. O mundo é infinitamente enganado ao pensar que o contentamento está em ter mais do que já temos.
Aqui está o fundo e a raiz de todo contentamento, quando há uma uniformidade e proporção entre nossos corações e nossas circunstâncias. É por isso que muitos homens piedosos que estão em baixa posição vivem vidas mais doces e cômodas do que aqueles que são mais ricos.
O contentamento nem sempre é vestido com seda, púrpura e veludo, mas às vezes é feito em trajes comuns, em circunstâncias normais, bem como em superiores. Muitos homens que já tiveram grandes propriedades, e Deus os trouxe
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para uma posição mais baixa, tiveram mais contentamento naquelas circunstâncias do que antes. Agora como isso pode ser? Muito facilmente, se você apenas entendeu que a raiz do contentamento consiste na adequação e na proporção do espírito de um homem às suas posses, uma uniformidade em que um fim não é mais longo e maior do que o outro. O coração está contente e há conforto nessas circunstâncias. Mas agora que Deus dê a um homem riquezas, não importa quão grande seja, mas se o Senhor o entregar ao orgulho de seu coração, ele nunca ficará contente: por outro lado, que Deus traga alguém a circunstâncias ruins, e então deixe Deus moldar e adequar seu coração a essas circunstâncias e ele ficará contente.
É o mesmo em andar: suponha que um homem tivesse uma perna muito longa e sua outra perna fosse curta - por que, embora uma de suas pernas fosse mais longa que o normal, ele não poderia ir tão bem quanto um homem cujas pernas fossem mais curtas que as dele. Eu compararia uma perna longa, quando uma é mais longa que a outra, a um homem que tem uma alta posição e é muito rico e um grande homem no mundo, mas ele também tem um coração muito orgulhoso, e isso é mais longo e maior. do que a sua posição. Este homem não
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pode deixar de ser incomodado em suas circunstâncias. Outro homem está em uma posição mediana, suas circunstâncias são baixas e seu coração também é baixo, de modo que seu coração e suas circunstâncias são equilibrados. Este homem anda com muito mais facilidade do que o outro. Portanto, um coração bondoso pensa assim: “O Senhor se agradou de reduzir minha situação; agora, se o Senhor derrubar meu coração e torná-lo igual às minhas circunstâncias, então estou bem o suficiente.” Assim, quando Deus abate suas circunstâncias, ele não trabalha tanto para levantar suas circunstâncias novamente, a ponto de levar seu coração às circunstâncias. Até mesmo os filósofos pagãos tiveram um pequeno vislumbre disso: eles poderiam dizer que a melhor riqueza é a pobreza de desejos - essas são as palavras de um pagão. Isto é, se um homem ou mulher tem seus desejos interrompidos e não tem grandes desejos, esse homem ou mulher é rico. Portanto, esta é a arte do contentamento: não procurar adicionar às nossas circunstâncias, mas subtrair os nossos desejos. Outro autor disse: O caminho para ser rico não é aumentando a riqueza, mas diminuindo nossos desejos. Certamente é rico aquele homem ou mulher, que tem seus desejos satisfeitos. Agora um homem contente tem seus desejos satisfeitos, Deus os satisfaz, isto é, todos
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considerados, ele está convencido de que suas circunstâncias são para o presente as melhores circunstâncias.
Então ele chega a esse contentamento por meio de subtração e não de adição.
3. Um cristão se vem ao contentamento, não tanto por eliminar o encargo que está sobre ele, assim como adicionando outro custo para si mesmo.
Essa é uma maneira pela qual carne e sangue têm pouca habilidade. Você dirá: “Como é isso?” Desta maneira: você está aflito, e há uma grande carga e sobrecarga em você por causa de sua aflição? Você acha que não há nenhuma maneira no mundo de obter contentamento, mas, ó que esse fardo fosse lançado fora! Ó é uma carga pesada, e poucos sabem que carga eu tenho. Você acha que não há como contentar o seu espírito, senão por livrar-se do seu fardo? Você está enganado. O caminho do contentamento é adicionar outro fardo, isto é, trabalhar para carregar e sobrecarregar o seu coração com o seu pecado; quanto mais pesado o fardo do seu pecado é para o seu coração, mais leve será o fardo da sua aflição para o seu coração, e assim você deve se contentar. Se o fardo fosse aliviado, isso lhe satisfaria; mas você
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acha que não há como aliviá-lo, senão por tirá-lo. Mas você está enganado; pois, se você puder fazer com que seu coração fique mais sobrecarregado com seu pecado, ficará menos sobrecarregado com suas aflições.
Você dirá, esta é uma maneira estranha para um homem ou uma mulher para obter facilidade para sua condição, por colocar uma carga maior sobre eles quando eles já estão sobrecarregados? Você acha que não há outro jeito, quando você está aflito, mas para ser alegre senão entrar em companhia. Agora você está enganado, seu fardo virá novamente. Infelizmente, esta é uma maneira ruim de se deixar o espírito de alguém; pobre homem, o fardo estará sobre ele novamente. Se você quer que seu fardo seja leve, fique só e examine seu coração pelo seu pecado, e pese sua alma com o seu pecado. Se o seu fardo está em suas posses, pelo abuso delas, ou se é um fardo para o seu corpo, pelo abuso de sua força de saúde e pelo abuso de qualquer misericórdia que agora o Senhor lhe tirou, que você não tenha honrado a Deus com aquelas misericórdias que você teve, mas você andou descontroladamente e descuidadamente; se você cair em lamentar o seu pecado diante do Senhor, rapidamente encontrará o fardo de sua aflição mais leve do que era antes. Mas tente essa habilidade e arte
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para deixar suas almas satisfeitas com quaisquer circunstâncias baixas em que Deus as coloque.
Muitas vezes em uma família, quando qualquer aflição lhes sobrevém, oh, que quantidade de descontentamento existe entre marido e mulher! Se eles são atravessados em suas posses em terra, ou têm más notícias do outro lado do mar, ou se aqueles em quem confiam estão arruinados ou talvez algo na família cause discórdia entre marido e mulher, em referência aos filhos ou servos, e não há nada além de brigas e descontentamento entre eles, agora eles estão muitas vezes sobrecarregados com seu próprio descontentamento; e talvez dirá um ao outro, é muito desconfortável para nós vivermos tão descontentes como temos vivido. Mas você já tentou dessa maneira, marido e mulher? Você já ficou sozinho e disse: “Vem, oh, vamos e humilhemos nossas almas diante de Deus, vamos entrar em nossa sala e humilhar nossas almas diante de Deus por nosso pecado, pelo qual abusamos dessas misericórdias que Deus afastou de nós, e nós provocamos Deus contra nós. Oh, vamos nos encarregar de nossos pecados e sermos humilhados perante o Senhor juntos”. Você já tentou de alguma forma algo como isso? Oh, você descobriria que a nuvem seria tirada, e o sol brilharia sobre você, e você
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teria muito mais contentamento do que nunca. Se a propriedade de um homem é quebrada, seja por saqueadores ou por qualquer outro meio; como este homem terá contentamento? Como? Pela quebra de seu coração. Deus quebrou sua propriedade; Oh, busque nele a quebra do seu coração da mesma forma. De fato, uma propriedade quebrada e um coração inteiro, um coração duro, não se unirão; não haverá contentamento. Mas uma propriedade quebrada e um coração partido se harmonizarão, pois haverá mais contentamento do que antes.
Adicione, portanto, à quebra de sua propriedade, a quebra de seu coração, e esse é o caminho para se contentar de uma maneira cristã, que é o terceiro mistério no contentamento cristão.
4. Não é tanto a remoção da aflição que está sobre nós a mudança da aflição, a metamorfose da aflição, assim que é muito transformada e alterada em outra coisa.
Quero dizer, no que diz respeito ao uso dela, embora para a própria coisa a aflição permaneça. O caminho do contentamento para um coração carnal é apenas a remoção da aflição. Oh que possa ter ido! “Não”, diz um
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coração cortês, “Deus me ensinou um modo de estar contente, embora a própria aflição ainda continue”.
Existe um poder de graça para transformar essa aflição em boa; tira a picada e o veneno disso. Tomemos o caso da pobreza, as posses de um homem estão perdidas: bem, não há como ficar contente até que suas posses sejam refeitas de novo? Até que sua pobreza seja removida? Sim, certamente, o cristianismo ensinaria contentamento, embora a pobreza continue. Ele vai lhe ensinar como transformar sua pobreza em riqueza espiritual. Ainda será pobre quanto às suas possessões exteriores, mas isso será alterado; enquanto que antes era um mal natural para você, agora ele se transforma em um benefício espiritual para você. E então você fica contente.
Há um ditado de Ambrósio: "Até a própria pobreza é riqueza para os homens santos".
Homens piedosos transformam sua pobreza em riquezas; eles obtêm mais riquezas a partir de sua pobreza do que nunca saem de suas receitas. De todos os seus negócios neste mundo, eles nunca tiveram rendimentos como os que tiveram a partir de sua pobreza. A este coração carnal parecerá estranho, que um homem faça
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da pobreza o comércio mais lucrativo que já teve no mundo. Estou convencido de que muitos cristãos descobriram que eles se tornaram melhores com a pobreza do que com a riqueza que conseguiram. Você encontra isto nas Escrituras.
Portanto, não é estranho o que eu estou falando. Você não encontra um homem piedoso que saiu de uma aflição, pior do que quando entrou nela; embora por um momento ele estivesse abalado, mas afinal ele seria melhorado por uma aflição.
Mas muitos homens piedosos, você acha, foram piores por sua prosperidade. Não há um único homem piedoso que você lê na Escritura, que não ficou pior pela prosperidade (exceto Daniel e Neemias - eu não leio sobre qualquer dano que eles tenham tido pela prosperidade); não creio que haja apenas um exemplo de um homem piedoso que não fosse pior por sua prosperidade do que melhor. São, sim, você vê que não é estranho para quem é gentil que eles devem ficar bem por sua aflição.
Lutero tem uma expressão similar em seu comentário sobre o capítulo 5 de Gálatas, versículo 17: ele diz: “O cristão se torna um poderoso trabalhador e um maravilhoso criador, isto é”, diz ele, “para criar com alegria,
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o conforto do terror, a justiça do pecado e a vida da morte.“ Ele traz luz da escuridão. Era a prerrogativa e o grande poder de Deus, seu poder criador de comandar a luz para brilhar nas trevas. Agora, um cristão é participante da natureza divina, assim diz a Escritura; a graça faz parte da natureza divina e, sendo parte da natureza divina, tem uma impressão do poder onipotente de Deus, isto é, de criar luz nas trevas, para trazer o bem para fora do mal - por isso, um cristão vem a estar contente. Deus tem um poder tão forte que ele pode transformar aflições em misericórdias, pode transformar as trevas em luz. Se um homem tivesse o poder que Cristo tinha, quando os potes de água fossem preenchidos, ele poderia, por uma palavra, transformar a água em vinho. Se você, que tem apenas água para beber, tem o poder de transformá-la em vinho, então você pode estar contente; certamente, um cristão recebe esse poder de Deus para trabalhar milagrosamente. É a natureza da graça transformar água em vinho, isto é, transformar a água de sua aflição no vinho da consolação celestial.
Se você entender isso de uma maneira carnal, eu sei que será ridículo para um ministro falar assim para você, e muitas pessoas carnais estão prontas para fazer expressões muito ridículas, ao entendê-las de um modo carnal.
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Isto é como Nicodemos, no terceiro capítulo de João: “O que! Pode um homem nascer quando é velho? pode ele entrar pela segunda vez no ventre de sua mãe e nascer?” Assim, quando dizemos da graça, que ela pode transformar a água em vinho, transformar a pobreza em riqueza e tornar a pobreza um negócio proveitoso, um coração carnal diz: “Que eles tenham esse ofício se quiserem, e que tenham água para beber, e veja se eles podem transformá-lo em vinho.” Preste atenção para que você não fale de maneira desdenhosa dos caminhos de Deus; a graça tem o poder de transformar as aflições em misericórdias. Dois homens podem ter a mesma aflição; a um será como fel e absinto; todavia será vinho e mel, deleite e alegria, e proveito e riquezas para o outro. Este é o mistério do contentamento, não tanto removendo o mal, mas metamorfoseando o mal, transformando o mal em bem.
5. Um cristão vem a este contentamento não fazendo os desejos de suas circunstâncias, mas pelo desempenho do trabalho de suas circunstâncias.
Esse é o caminho do contentamento. Há estas circunstâncias em que estou, com muitos desejos: quero isto e o outro conforto - bem, como me tornarei satisfeito e contente? Um
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coração carnal pensa, eu devo ter meus desejos inventados, ou então é impossível que eu esteja contente. Mas um coração bondoso diz: “Qual é o dever das circunstâncias em que Deus me colocou?
De fato, minhas circunstâncias mudaram, eu não estava há muito tempo em um estado próspero, mas Deus mudou minhas circunstâncias. O Senhor não me chamou mais Noemi, mas Mara. Agora o que devo fazer? O que posso pensar agora o que são aqueles deveres que Deus requer de mim nas circunstâncias em que ele agora me colocou? Deixe-me exercer minha força para realizar os deveres das minhas circunstâncias presentes. Outros gastam seus pensamentos em coisas que os perturbam e inquietam, e assim eles ficam cada vez mais descontentes.
Deixe-me gastar meus pensamentos em pensar qual é o meu dever, “Oh”, diz um homem cuja condição é alterada e que perdeu sua riqueza, “Se eu tivesse a minha riqueza, como eu tinha antes, como eu a usaria para sua glória? Deus me fez ver que eu não o honrei com minhas posses como deveria ter feito. Se eu tivesse de novo, faria melhor do que antes.” Mas isso pode ser apenas uma tentação. Você deveria pensar: “O que Deus requer de mim nas circunstâncias
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em que sou trazido agora?” Você deve trabalhar para trazer o seu coração para se aquietar e se contentar, colocando sua alma para trabalhar nos deveres da sua condição atual. E a verdade é que eu não conheço nada mais eficaz para acalmar uma alma cristã e obter contentamento do que isso, colocando seu coração para trabalhar nos deveres das circunstâncias imediatas em que você está agora, e tomando atenção de seus pensamentos sobre outras condições como um mera tentação.
Não posso comparar melhor a loucura daqueles homens e mulheres que acham que vão se contentar em refletir sobre outras circunstâncias do que sobre o modo das crianças: talvez tenham escalado uma colina, pareçam bem e vejam outra colina, e pensem que se eles estivessem no topo disso, eles seriam capazes de tocar as nuvens com seus dedos; mas quando estão no topo daquela colina, estão tão longe das nuvens quanto antes. Assim é com muitos que pensam: se eu estivesse em tais circunstâncias, então deveria ter contentamento; e talvez eles entrem em tais circunstâncias, e eles estão tão longe de contentamento como antes. Mas então eles pensam que, se estivessem em outras circunstâncias, ficariam contentes, mas quando chegaram a essas circunstâncias, ainda estão
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longe do contentamento de antes. Não, não, deixe-me considerar qual é o dever das minhas circunstâncias presentes, e satisfaço meu coração com isso, e digo: “Bem, embora eu esteja em uma posição baixa, ainda estou servindo aos conselhos de Deus naquelas circunstâncias em que estou; é o conselho de Deus que me trouxe a essas circunstâncias em que estou, e desejo servir ao conselho de Deus nessas circunstâncias.”
Há uma notável Escritura sobre Davi, de quem se diz que ele serviu a sua geração: “Depois que Davi serviu a sua geração de acordo com a vontade de Deus, então ele dormiu.” É uma declaração de Paulo a respeito dele em Atos 13:36. Nas vossas Bíblias, depois de ter servido a sua própria geração segundo a vontade de Deus, a palavra que é traduzida significa o conselho de Deus, e assim também pode ser traduzida: “sua geração serviu ao conselho de Deus, então ele adormeceu“. Nós ordinariamente tomamos as palavras assim: que Davi serviu a sua geração: isto é, ele fez a obra de sua geração - isto é, servir a geração de um homem. Mas fica mais claro se você o ler assim: “depois que Davi, em sua geração, serviu ao conselho de Deus, Davi adormeceu.” O que deveria ser o cuidado de um cristão, para servir aos conselhos de Deus. Qual é o conselho de Deus? As circunstâncias em que
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estou, Deus me colocou por seu próprio conselho, o conselho de sua própria vontade. Agora devo servir ao conselho de Deus em minha geração; qualquer que seja o conselho de Deus em minhas circunstâncias, devo ter cuidado para servir a isso. Por isso, terei meu coração aquietado pelo presente, e viverei e morrerei pacífica e confortavelmente, se tiver o cuidado de servir ao conselho de Deus.
6. Um coração gracioso é continuado pelo ausência de sua vontade e deseja a vontade e os desejos de Deus; por isso significa que ele recebe contentamento.
Isso também é um mistério para um coração carnal. Não é por ter seus próprios desejos satisfeitos, mas por dissolver sua vontade e desejos na vontade de Deus. De modo que, em certo sentido, ele passa a ter seus desejos satisfeitos, embora não obtenha aquilo que desejava antes; ainda assim ele fica satisfeito com isso, porque faz sua vontade de ser um com a vontade de Deus. Isso é um pouco maior do que se submeter à vontade de Deus. Todos vocês dizem que devem se submeter à vontade de Deus; um cristão tem além disso. Ele pode fazer a vontade de Deus e a sua própria. Diz-se dos crentes que eles estão unidos ao Senhor e são um espírito; isso significa que, seja qual for a
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vontade de Deus, eu não vejo apenas uma boa razão para me submeter a ela, mas a vontade de Deus é a minha vontade. Quando a alma pode fazer, por assim dizer, a sua vontade para Deus, deve ser satisfeita. Outros gostariam de conseguir aquilo que desejavam, mas um coração misericordioso diria: “Oh, o que Deus teria, eu também teria; eu não apenas cederei a ele, mas também o teria.”
Um coração bondoso aprendeu esta arte, não apenas para fazer com que a vontade dominante de Deus seja sua própria vontade - isto é, o que Deus me manda fazer, eu farei - mas para fazer a vontade providencial de Deus e a vontade operativa de Deus para ser sua vontade também. Deus ordena essa coisa, para a qual talvez você, que é cristão, tenha alguma habilidade, mas seja lá o que Deus queira que você deve fazer, assim como o que Deus manda. Você deve fazer a vontade providencial e a vontade operativa de Deus, a sua vontade e a vontade de Deus, e desta forma você deve chegar ao contentamento. Um cristão faz sua vontade ser a de Deus, e em fazer sua vontade a Deus, ele não tem outra vontade senão a de Deus. Suponha que um homem pagasse sua dívida a outro homem. Se o homem a quem devo a dívida ficar satisfeito e contente, estou satisfeito porque o entreguei a ele, e não preciso ficar descontente e dizer: "Minha dívida
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não é paga e não estou satisfeito". Sim, você está satisfeito, porque aquele a quem você fez a sua dívida está satisfeito. É exatamente o mesmo, para todo o mundo, entre Deus e um cristão: um coração cristão faz sua vontade ser a de Deus: agora, então, se a vontade de Deus é satisfeita, então estou satisfeito, pois não tenho vontade própria, é derretido na vontade de Deus. Essa é a excelência da graça: a graça não apenas sujeita a vontade a Deus, mas derrete a vontade na vontade de Deus, de modo que agora elas são apenas uma vontade. Que satisfação doce a alma deve ter nesta condição, quando tudo é entregue a Deus. Você dirá: Isso é difícil!
Vou exprimi-lo um pouco mais: um coração misericordioso precisa ter satisfação dessa maneira, porque a piedade lhe ensina isso, para ver que seu bem está mais em Deus do que em si mesmo. O bem da minha vida e conforto e minha felicidade e minha glória e minhas riquezas estão mais em Deus do que em mim mesmo. Talvez possamos falar mais sobre isso quando chegarmos às lições que devem ser aprendidas. É por isso que um coração cortês se satisfaz; Ele derrete sua vontade em Deus, pois ele diz: “Se Deus tem glória, eu tenho glória; a glória de Deus é a minha glória e, portanto, a vontade de Deus é minha; se Deus tem riquezas, então eu tenho riquezas; se Deus é magnificado,
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então eu sou magnificado; se Deus está satisfeito, então estou satisfeito; a sabedoria e a santidade de Deus são minhas e, portanto, sua vontade precisa ser minha, e minha vontade precisa ser dele. Esta é a arte do contentamento de um cristão: ele derrete a sua vontade na vontade de Deus e faz a sua vontade ser a de Deus: "Ó Senhor, escolherás a nossa herança para nós" (Salmos 47: 4).
7. O mistério não consegue trazer nada de fora para fazer minha condição mais confortável, mas em disparar algo que está dentro.
Agora os homens do mundo, quando eles teriam contentamento, e não têm nada, Oh, eles devem ter algo de fora para contentá-los. Mas um homem piedoso diz: “Deixe-me tirar algo que já está em minha vida e então voltarei ao contentamento”. Suponha que um homem tenha febre, que faça com que ele beba um gosto amargo: ele diz: "Você deve colocar um pouco de açúcar na minha bebida"; sua esposa coloca um pouco, e a bebida ainda é amarga. Por quê? Porque a amargura vem de um amargo humor colérico interior. Mas deixe o médico chegar e dar-lhe uma porção amarga para purgar a amargura que está dentro, e então ele pode saborear sua bebida bem o suficiente. É exatamente o mesmo com os homens do
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mundo: Oh, tal clemência adicionada a essa misericórdia, então seria doce; mas mesmo que Deus colocasse uma colher ou duas de açúcar, ainda assim seria amargo. O caminho para o contentamento é purgar suas luxúrias e amargos humores. “De onde são as guerras e as lutas? Não são elas de suas luxúrias que estão dentro de vocês?” (Tiago 4: 1).
Elas não são tanto de coisas externas, mas de dentro. Eu tenho dito às vezes: "Nem todas as tempestades que estão no exterior podem causar um terremoto, senão os vapores que estão dentro da Terra". Então, se essas luxúrias que estão dentro, em seu coração, fossem retiradas, sua condição seria uma condição contente. Estes são os caminhos misteriosos da piedade, que os homens do mundo nunca pensam. Quando você já pensou em algo assim, em ir e eliminar as doenças do seu coração que estão dentro?
Aqui estão sete detalhes agora nomeados, e há muitos mais. Sem a compreensão dessas coisas e a prática delas, você nunca chegará a um verdadeiro contentamento em sua vida; Oh, você será incompetente nesse assunto do cristianismo. Mas a percepção correta dessas coisas ajudará você a ser instruído, como em um mistério.
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O mistério do contentamento pode ser mostrado ainda mais. Um coração gracioso se satisfaz de uma maneira misteriosa, uma maneira que o mundo não conhece.
8. Ele vive sobre a morte da benção de Deus.
Um pobre ou uma mulher que tem um pouco de graça, vive uma vida mais contente do que seu vizinho rico que tem uma grande renda; nós o encontramos tão ordinariamente - embora eles tenham pouco, mas eles têm um segredo –a bênção de Deus com isso, que eles não podem expressar para ninguém. Se você fosse até eles e dissesse: "Como é que você vive tão feliz como você?", Eles não podem dizer o que eles têm; mas eles acham que há uma doçura naquilo de que gostam e sabem, por experiência, que nunca tiveram tal doçura nos tempos antigos. Embora tivessem uma abundância maior em tempos antigos do que têm agora, ainda assim sabem que nunca tiveram tal doçura; mas como isso acontece, eles não podem dizer. Podemos mencionar algumas considerações, no que os homens piedosos gozam, que tornam sua condição doce.
Por exemplo, considere estas quatro ou cinco considerações com as quais um homem piedoso
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encontra contentamento no que ele tem, embora seja sempre muito pouco.
1. Porque no que ele tem, ele tem o amor de Deus a ele. Se um rei enviasse um pedaço de carne de sua própria mesa, seria muito mais agradável para um cortesão do que se ele tivesse vinte pratos como uma mesa comum; se o rei manda até mesmo uma coisinha e diz: "Vá e leve-a àquele homem como um símbolo do meu amor". Oh, quão delicioso seria para ele! Quando seus maridos estão no mar e lhe enviam um sinal do amor deles, vale mais do que quarenta vezes o que você já tem em suas casas. Tudo de bom que o povo de Deus desfruta, eles desfrutam isto no amor de Deus, como um sinal do amor de Deus, e vindo do amor eterno de Deus para eles, e isto deve ser muito doce para eles.
2. O que eles têm é santificado para eles para sempre. Outros homens têm o que desfrutam no caminho da providência comum, mas os santos o têm de uma maneira especial. Outros têm o que têm e não mais: comida, bebida, casas, roupas e dinheiro, e isso é tudo. Mas um coração misericordioso encontra contentamento nisso, eu o tenho, e eu tenho um uso santificado disso também; eu acho que Deus vai junto com o que eu tenho que puxar meu coração mais perto
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dele, e santificar meu coração para ele. Se eu encontrar meu coração mais perto de Deus pelo que gosto, isso é muito mais do que se eu o tivesse sem santificar meu coração por ele. Há um orvalho secreto que acompanha isto: o orvalho do amor de Deus nele e o orvalho da santificação.
A santificação é absolutamente necessária para o contentamento, tanto que Jesus destacou a santificação na verdade (Palavra de Deus) em sua oração sacerdotal em João 17.
É Deus quem opera a santificação em nós, mas ela é feita e mantida consoante a verdade da Sua Palavra. É imperioso portanto não somente conhecermos a verdade da Palavra como também tê-la aplicada em nossas vidas pelo poder do Espírito Santo. Para isto, como já tem sido dito antes, é necessário permanecer em comunhão com Jesus.
3. Um coração gracioso tem o que ele tem livre de custos; ele provavelmente não será chamado a pagar por isso. A diferença entre o que um homem piedoso tem e um homem ímpio é esta: um homem piedoso é como um filho numa estalagem, um hospedeiro tem seu filho na casa e fornece sua dieta e alojamento, e o que é necessário. para ele. Agora vem um estranho, e
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ele janta e se hospeda, mas o estranho deve pagar por tudo. Pode ser que a porção do filho seja menor do que a do estranho; a do estranho foi cozida e assada, mas ele deve pagar por isso, deve haver um acerto de contas. Exatamente assim é com muitos do povo de Deus que têm apenas uma porção média das coisas deste mundo, mas Deus como um Pai a provê, e é livre de custos, eles não precisam pagar pelo que têm, pelo que é pago antes; mas os ímpios em toda a sua pompa, orgulho e elegância: eles têm o que pedem, mas deve haver um acerto de contas para tudo, eles devem pagar por todos no fim, e não é melhor ter um pouco de custo do que ter que pagar por tudo?
Assim como toda aflição que os ímpios têm aqui é apenas o começo das tristezas e precursoras das tristezas eternas que provavelmente terão no além, então todo conforto que você tem é um precursor daqueles misericórdias eternas que você terá com Deus no céu. Não são apenas os consolos do Espírito de Deus os precursores daqueles confortos eternos que você terá no Céu, mas quando você se senta à sua mesa e se alegra com sua esposa e filhos e amigos, você pode olhar para cada um deles, senão como um precursor, sim a fiança muito sincera da vida eterna para você. Agora, se é assim, não é de admirar que um cristão esteja contente, mas
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isso é um mistério para os ímpios. Eu tenho o que tenho do amor de Deus, e tenho-o santificado para mim por Deus, e tenho livre de custo de Deus pela compra do sangue de Jesus Cristo, e tenho isso como um precursor daquelas eternas misericórdias que são reservadas para mim; e nisso minha alma se alegra. Há um orvalho secreto da bondade e bênção de Deus sobre ele em seu estado que outros não têm. Por tudo isso você pode ver o significado daquela Escritura: “Melhor é o pouco, havendo justiça, do que grandes rendimentos com injustiça.” (Provérbios 16: 8). Um homem que tem pouco, mas se o tem com retidão, melhor do que muito sem justiça, sim, melhor do que os grandes ganhos dos iníquos - assim você o tem em outra Escritura. Essa é a próxima coisa no contentamento cristão: o mistério é que ele vive no orvalho da bênção de Deus, em todas as coisas boas que ele desfruta. 9. Não somente em boas coisas, um cristão tem a vontade da bênção de Deus. E acha-as muito doces para ele, mas em todas as aflições, todos os males que lhe acontecem, ele pode ver o amor e pode apreciar a doçura do amor em suas aflições, bem como em suas misericórdias. A verdade é que nas aflições de Deus “as pessoas
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vêm do mesmo amor eterno de que Jesus Cristo veio.“ Jerome disse: “É feliz aquele homem que é espancado quando o açoite é um golpe de amor”.
Todos os golpes de Deus são golpes de amor e misericórdia, todos os caminhos de Deus são misericórdia e verdade para aqueles que o temem e o amam (Salmos 25:10). Os caminhos de Deus, os caminhos da aflição, bem como os caminhos da prosperidade, são misericórdia e amor para ele. A graça dá a um homem um olho, um olho penetrante para perfurar o conselho de Deus, aqueles conselhos eternos de Deus para o bem, mesmo em suas aflições; ele pode ver o amor de Deus em toda aflição, bem como na prosperidade. Agora isso é um mistério para um coração carnal. Eles não podem ver tal coisa; talvez sejam ricos, mas acham que Deus os ama quando os faz prosperar e enriquecer, mas acham que Deus não os ama quando os aflige.
A graça capacita os homens a ver o amor na própria carranca da face de Deus, e assim vêm a receber contentamento.
10. Um homem de Deus tem contentamento como um mistério porque assim como ele vê todas as suas aflições vindas do mesmo amor que Jesus Cristo possui, assim ele vê todas elas
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santificadas em Jesus Cristo, santificadas em um Mediador. Ele vê, eu digo, toda a picada e veneno delas tirados pela virtude de Jesus Cristo, o Mediador entre Deus e o homem. Por exemplo, quando um cristão teria contentamento, ele trabalha assim: qual é a minha aflição? É com pobreza que Deus me atinge? - Jesus Cristo não tinha uma casa para reclinar a cabeça, as aves do céu tinham ninhos e as raposas covis, mas o Filho do homem não tinha um buraco para esconder a cabeça; agora minha pobreza é santificado pela pobreza de Cristo. Eu posso ver pela fé a maldição, picada e veneno tirados da minha pobreza pela pobreza de Jesus Cristo.
Cristo Jesus era pobre neste mundo para me livrar da maldição da minha pobreza. Então minha pobreza não é aflitiva, se eu puder me contentar com tal condição. Esse é o caminho, não ficar de pé e repisar, porque eu não tenho o que os outros têm; não, mas eu sou pobre, e Cristo era pobre, para que ele pudesse abençoar minha pobreza para mim.
E mais uma vez, estou desonrado ou vituperado? Meu bom nome é tirado?
Porque, Jesus Cristo tinha desonra colocado sobre ele; ele foi chamado Belzebu e um
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samaritano, e eles disseram que ele tinha um demônio nele. Todas as difamações que poderiam ser, foram lançadas sobre Jesus Cristo, e isto foi para mim, para que eu pudesse ter a desgraça que me é conferida, santificada para mim. Enquanto o coração de outro homem é subjugado pela desonra e pela desgraça, ele procura assim contentar-se: talvez você tenha sido mal falado e não tenha outro jeito de aliviar e endireitar-se, mas se eles abusarem de você, você abusará deles de volta; e assim você pensa em se aliviar. Ah, mas um cristão tem outra maneira de se aliviar: outros abusam e falam mal de mim, mas não abusaram de Jesus Cristo e falam mal dele? E o que eu sou em comparação com Cristo? E a sujeição de Cristo a tal mal foi para mim, que, embora tal coisa viesse sobre mim, eu poderia saber que a maldição dela foi tirada de mim através da sujeição de Cristo àquele mal.
Assim, um cristão pode se contentar quando alguém fala mal dele. Agora, isso é um mistério para você, para obter contentamento dessa maneira. Então, se os homens zombam de você, eles não o fazem a Jesus Cristo? Eles zombaram dele e zombaram dele, e quando ele estava em sua maior extremidade na cruz: eles disseram: Aqui está o Rei dos Judeus, e eles se ajoelharam, e disseram: Salve, Rei dos Judeus, e colocaram
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uma cana em sua mão como se fosse seu cetro, e zombaram dele. Agora fico satisfeito em meio a escárnios e zombarias, considerando que Cristo foi desprezado e agindo com fé sobre o que Cristo sofreu por mim.
Presentemente no mundo, neste século XXI tempos presenciado muito escárnio e blasfêmia contra Deus, contra Cristo, contra o Espírito Santo, contra os crentes, e contra tudo o que se nomeia santo e divino. Precisamos muito estar prevenidos com este espírito de nos identificarmos com as aflições de Cristo, para que não fiquemos amargurados e revoltados com todas as injustiças e escândalos que têm sido praticados neste mundo.
A iniquidade, como nosso Senhor profetizou, tem se multiplicado muito, a ponto de pensarmos que não há mais limite para ser ultrapassado e que a medida da mesma já transbordou, chamando pelos juízos de Deus.
Não podemos ser achados contentes e sossegados com um cristianismo que não coloque por prática tudo o que a Palavra de Deus nos ordena. Mais do que nunca necessitamos ser exercitados em paciência, longanimidade e misericórdia, para não ficarmos transtornados por tudo aquilo que têm feito aqueles não creem
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em Deus, que não amam a Deus, que odeiam a Jesus Cristo e o evangelho, e cujo propósito é o mesmo de Satanás, a saber, a erradicar a fé em Cristo da Terra.
Outra coisa a ser considerada para permanecermos contentes no Senhor, é o modo de considerar nossas dores e enfermidades físicas.
Estou com muita dor no corpo? - Jesus Cristo teve tanta dor em seu corpo quanto eu tenho (embora seja verdade que ele não teve o mesmo tipo de doenças que nós, ainda assim ele teve tanta dor e torturas em seu corpo, e aquilo que era mortal para ele, tanto quanto qualquer doença é para nós). O exercício da fé naquilo que Cristo suportou é o caminho para obter contentamento em meio às nossas dores.
Alguém fica inquieto e se angustia, e não suporta a sua dor: você é cristão? Você já tentou essa maneira de obter contentamento, de agir com fé em todas as dores e sofrimentos que Jesus Cristo sofreu: esse seria o caminho do contentamento, e um cristão fica satisfeito quando está sofrendo, dessa forma.
Às vezes, alguém que é muito piedoso e gracioso, pode ser encontrado com dores e
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fortes dores muito alegremente, e você se surpreende com isso. Ele obtém agindo sua fé sobre as dores Jesus Cristo sofreu.
Você tem medo da morte - o caminho para obter satisfação é exercitando sua fé na morte de Jesus Cristo. Pode ser que você tenha problemas internos em sua alma, e Deus se afaste de você; ainda sua fé deve ser exercida sobre os sofrimentos que Jesus Cristo suportou em sua alma. Ele derramou sua alma diante de Deus, e quando ele suou gotas de água e sangue, ele estava em agonia em seu próprio espírito, e encontrou até o próprio Deus a ponto de abandoná-lo. Agora, agir desse modo, sua fé em Jesus Cristo traz contentamento, e isso não é um mistério para os corações carnais?
Um coração gracioso encontra contentamento como um mistério; não é de admirar que Paulo tenha dito: "Sou instruído em um mistério, para me contentar com qualquer condição em que esteja".
11. Há ainda mais um mistério, pois espero que você ache isso um ponto muito útil e que, antes de terminarmos, você verá como é simples para alguém que é hábil em religião obter contentamento, embora seja difícil para quem é carnal. Eu digo, o décimo primeiro mistério em
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contentamento é este: um coração gracioso tem contentamento obtendo força de Jesus Cristo; ele é capaz de suportar seu fardo obtendo força de outra pessoa. Ora, este é um enigma, e seria considerado ridículo nas escolas dos filósofos dizer: se há um fardo em você, você deve obter força de outra pessoa. De fato, se você precisa que outro venha e permaneça sob o fardo, eles poderiam entender isso; mas que você deve ser fortalecido pela força de outra pessoa, que não está perto de você tanto quanto você pode ver, eles pensariam ser isto ridículo. Mas um cristão encontra satisfação em todas as circunstâncias obtendo força de outro, saindo de Jesus Cristo para si mesmo, por sua fé agindo sobre Cristo, e trazendo a força de Jesus Cristo em sua própria alma, ele é assim habilitado a suportar tudo que Deus coloca sobre ele, pela força que ele encontra de Jesus Cristo. De sua plenitude recebemos graça por graça; há força em Cristo não apenas para nos santificar e salvar, mas para nos sustentar sob todos os nossos fardos e aflições, e Cristo espera que, quando estivermos sob algum peso, devemos agir com fé sobre ele para extrair dele a virtude e a força. A fé é a grande graça que deve ser exercida sob aflições. É verdade que outras graças devem ser atuadas, mas a graça da fé extrai força de Cristo, olhando para aquele que tem a plenitude de toda a força transmitida aos corações de todos os crentes.
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Agora, se um homem tem um fardo para suportar, e ainda assim pode ter força acrescentada a ele - se o fardo for dobrado, ele pode ter sua força triplicada - o fardo não será mais pesado, mas mais leve do que era antes para sua força natural.
De fato, nossas aflições podem ser pesadas, e clamamos: Oh, não podemos suportá-las, não podemos suportar tal aflição. Embora você não possa dizer como suportá-lo com sua própria força, contudo, como pode dizer o que fará com a força de Jesus Cristo? Você diz que não pode suportar? Então você acha que Cristo não suportaria isso? Mas se Cristo pôde suportá-lo, por que você não possa vir a suportá-lo? Você dirá: Posso ter a força de Cristo? Sim, é entregue a você pela fé: as Escrituras dizem que o Senhor é nossa força, O próprio Deus é a nossa força e Cristo é a nossa força. Há muitas Escrituras para esse efeito, que a força de Cristo é sua, entregue a você, para que você possa ser capaz de suportar qualquer coisa sobre você, e, portanto, encontramos uma expressão tão estranha na Epístola de Paulo aos Colossenses. orando pelos santos: “Que eles sejam fortalecidos com todo o poder de acordo com o seu poder glorioso”, para que? “Para toda a paciência e longanimidade, com alegria” - fortalecidos com toda a força, segundo o poder de Deus, o poder glorioso de
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Deus, para toda a paciência, e longânimos com alegria. Você não deve, portanto, contentar-se com um pouco de força, de modo que você seja capaz de suportar o que um homem pode suportar pela força da razão e da natureza, mas você deve ser fortalecido com todo o poder, de acordo com o poder glorioso de Deus, para toda a paciência e para toda a longanimidade.
Oh, vocês que estão agora sob muito pesadas e tristes aflições mais do que o habitual, olhem para esta Escritura, e considerem como isto é feito em você; e por que você não pode ter esta Escritura aplicada em você, se você é piedoso?
Você não deve ficar quieto em seu próprio espírito, a menos que em alguma medida você consiga ter esta Escritura aplicada em você, para que você possa com algum conforto dizer: “Pela misericórdia de Deus, eu acho que a força que entra em mim é falada neste Escritura.” Você deve trabalhar quando você está sob qualquer grande aflição (você que é piedoso) para andar de forma que outros possam ver que tal Escritura se tornou boa em você. Este é o poder glorioso de Deus que fortalece seus servos para toda a longanimidade, e isso com alegria. O Espírito Santo dar-nos-á esta capacidade, como podemos ver no testemunho do apóstolo Pedro:
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“18 Servos, sede submissos, com todo o temor ao vosso Senhor, não somente se for bom e cordato, mas também ao perverso; 19 porque isto é grato, que alguém suporte tristezas, sofrendo injustamente, por motivo de sua consciência para com Deus. 20 Pois que glória há, se, pecando e sendo esbofeteados por isso, o suportais com paciência? Se, entretanto, quando praticais o bem, sois igualmente afligidos e o suportais com paciência, isto é grato a Deus. 21 Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos,” (I Pedro 2.18-21). “12 Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo; 13 pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois coparticipantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando.
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14 Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus.” (I Pedro 4.12-14).
Infelizmente, pode ser que você não exerça muita paciência como um homem sábio ou uma mulher sábia que tenha apenas uma razão natural. Mas onde está o poder de Deus, o poder glorioso de Deus? Onde está o fortalecimento com todo o poder, para toda a longanimidade e paciência, e com alegria? É verdade, o espírito de um homem pode ser capaz de sustentar suas fraquezas, pode ser capaz de sustentar e manter seus espíritos, o espírito natural de um homem pode fazer isso, mas muito mais quando o espírito é dotado de graça e santidade, e quando está cheio da força de Jesus Cristo. É assim que um homem piedoso fica contente, o mistério disso, obtendo força de Jesus Cristo.
Temos este testemunho da parte do apóstolo Paulo na sua experiência com o espinho na carne: “2 Conheço um homem em Cristo que, há catorze anos, foi arrebatado até ao terceiro céu (se no corpo ou fora do corpo, não sei, Deus o sabe)
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3 e sei que o tal homem (se no corpo ou fora do corpo, não sei, Deus o sabe) 4 foi arrebatado ao paraíso e ouviu palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir. 5 De tal coisa me gloriarei; não, porém, de mim mesmo, salvo nas minhas fraquezas. 6 Pois, se eu vier a gloriar-me, não serei néscio, porque direi a verdade; mas abstenho-me para que ninguém se preocupe comigo mais do que em mim vê ou de mim ouve. 7 E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte. 8 Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. 9 Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. 10 Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque,
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quando sou fraco, então, é que sou forte.” (II Coríntios 12.2-10).
Um homem piedoso não vive tanto em si mesmo como vive em Deus. Agora isso é um mistério para um coração carnal. Eu digo que um homem gracioso não vive tanto em si mesmo como em Deus; ele vive em Deus continuamente. Se alguma coisa é cortada do córrego, ele sabe como ir até a fonte e faz as pazes lá. Deus é seu tudo em tudo, enquanto ele vive; eu digo que é Deus quem é seu tudo em tudo. "Não sou eu melhor para ti", disse Elcana a Ana, "em vez de dez filhos?" Assim diz Deus a um coração misericordioso: “Você não tem isto, sua propriedade é saqueada - Por que? Não sou eu para você melhor que dez casas e dez lojas, eu sou para você em vez de tudo; e não somente em vez de tudo, mas vem a mim, e você terá tudo de novo em mim.“
Esta é de fato uma excelente arte, a saber, poder extrair de Deus o que alguém tinha antes na criatura. Agora, se você gosta de Deus como sua porção, se sua alma pode dizer com a Igreja em Lamentações 3:24: “O Senhor é a minha porção, diz a minha alma”, por que você não deveria estar satisfeito e contente como Deus? Deus está contente, ele está em eterno contentamento em si mesmo; agora, se você tem Deus como sua
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porção, por que você não deveria estar contente com ele somente? Uma vez que Deus está contente consigo mesmo, se você o tem, você pode se contentar com ele sozinho, e pode ser, essa é a razão pela qual seus confortos exteriores são tirados de você, para que Deus possa ser tudo em tudo para você. Pode ser que, enquanto você tivesse essas coisas que elas compartilhavam com Deus em seu afeto, e uma grande parte do fluxo de seu afeto corria dessa maneira; mas Deus teria todo o fluxo correndo para ele agora.
Um coração gracioso pode realmente dizer como desfrutar de Deus como tudo em tudo para ele. Essa é a felicidade do céu para que Deus seja tudo em todos. Os santos no céu não têm casas, nem terras nem dinheiro, e bebidas, e roupas; você dirá, que eles não precisam deles - por que não? É porque Deus é tudo em todos eles imediatamente. Agora, enquanto você vive neste mundo, você pode vir a desfrutar muito de Deus, você pode ter muito do céu, enquanto nós vivemos nesta vida, podemos vir a desfrutar muito da própria vida que está no céu, e o que é isso, senão o gozo de Deus para ser tudo em todos para nós? Há um texto no Apocalipse que fala da condição gloriosa da Igreja que provavelmente estará aqui mesmo neste mundo: “E não vi nenhum templo nela, pois o
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Senhor Deus Todo-Poderoso e o Cordeiro são o templo dela, e a cidade não precisava do sol, nem da lua brilhando nela, porque a glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é a sua luz.” (Apocalipse 21:22).
Eles não precisavam do sol ou da lua. Fala de uma condição tão gloriosa que a Igreja provavelmente estará aqui neste mundo; isto não fala do céu, mas de uma propriedade gloriosa que a Igreja estará aqui, neste mundo; e isso aparece claramente, pois segue imediatamente nos versículos 24 e 24: "E os reis da terra trazem para si a glória e a honra"; porque, os reis da terra não trarão a sua glória e honra ao céu, mas esta é uma ocasião em que os reis da terra trarão a sua glória e honra à Igreja. E no versículo 26: "E eles trarão a glória e a honra das nações para ela"; portanto aqui deve significar este mundo e não o céu. Agora é que há um tempo assim aqui neste mundo, quando Deus será tudo em todos, e, em comparação, não haverá necessidade de criaturas como as que existem agora, então os santos devem trabalhar para viver o mais próximo possível da vida, isto é, para fazer tudo em Deus.
Oh, que você considerasse este mistério, para que possa ser uma realidade para o coração dos santos em tempos como estes. Eles
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encontrariam esse privilégio que obtêm pela graça, valendo milhares de mundos. Portanto, é essa afirmação de Jacó que mencionei em outro caso; é notável e é muito pertinente aqui. Naquele notável discurso de Jacó, em Gênesis 33, quando seu irmão Esaú o encontrou, você encontra em um lugar que Esaú recusou o presente de Jacó; no verso 8, quando Jacó deu seu presente a ele, ele recusou, e disse a Jacó que ele tinha o suficiente: “O que você quer dizer com tudo isso que eu encontrei? E ele disse: Estes são para achar graça aos teus olhos e disse Esaú: Já tenho o bastante. Agora, no versículo 11, Jacó ainda insistiu e, diz Jacó, "peço-te, aceite-o, pois tenho o suficiente". Agora na sua Bíblia é o mesmo em inglês - eu tenho o suficiente, diz Esaú, e eu tenho o suficiente, diz Jacó - mas no hebraico a palavra de Jacó é diferente da de Esaú:
A palavra de Jacó significa que tinha todas as coisas e, no entanto, Jacó era mais pobre que Esaú. Oh, isso deveria ser uma vergonha para nós que um Esaú possa dizer, eu tenho o suficiente. Mas um cristão deve dizer, eu não tenho apenas o suficiente, mas eu tenho tudo.
Como ele teve tudo? - porque ele tinha Deus que era tudo. Foi uma frase notável de alguém: "Ele tem todas as coisas que tem aquele que tem
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todas as coisas". Certamente você tem todas as coisas, porque você o tem para sua porção aquele que tem todas as coisas: Deus tem todas as coisas em si mesmo, e você tem Deus para sua porção, e nisso você tem tudo, e este é o mistério do contentamento. Ele faz todos os seus desejos se concentrarem em Deus: é nisso que os homens do mundo têm pouca habilidade.
Agora tenho muitas outras coisas ainda a serem abertas no mistério do contentamento. Devo mostrar da mesma forma que um homem piedoso não apenas inventa tudo em Deus, mas encontra em si mesmo o suficiente para compensar tudo - para inventar tudo em si mesmo, não de si mesmo, mas em si mesmo - e isso pode parecer mais estranho que de outros. Formar tudo em Deus é algo, ou melhor, inventar tudo em si mesmo (não de si mesmo, mas em si mesmo) - um coração misericordioso tem tanto de Deus dentro de si, que tem o suficiente para compensar todas as suas necessidades externas. Em Provérbios 14:14, lemos: “O homem bom ficará satisfeito consigo mesmo”, daquilo que está dentro de si mesmo - esse é o significado. Um homem gracioso tem um pássaro dentro de seu próprio peito que canta melodias suficientes, embora ele não tenha música. “O Reino dos céus está dentro de você” (Lucas 17:21). Ele tem um reino dentro
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dele, um reino de Deus; você o vê falar mal do exterior, mas ele tem uma consciência dentro dele que compõe a falta de um nome e crédito, isto é, em vez de mil testemunhas.
Um coração grosseiro recebe o contentamento da aliança que Deus fez com ele.
Agora, esta é uma maneira de obter contentamento que os homens do mundo não conhecem: eles podem obter contentamento, se tiverem a criatura para satisfazê-los; mas em obter contentamento do Pacto da graça, eles têm pouca habilidade. Eu deveria ter aberto duas coisas aqui, primeiro, como obter contentamento do Pacto da graça em geral (mas eu falarei disso no próximo sermão, e agora, apenas uma palavra no segundo). Em segundo lugar, como ele recebe o contentamento dos ramos particulares do Pacto, isto é, das promessas particulares que ele tem, para suprir cada necessidade particular. Não há condição em que um homem ou uma mulher piedosa possam estar, mas há alguma promessa na Escritura para ajudá-los nessa condição. E esse é o caminho de seu contentamento, ir às promessas e obter da promessa aquilo que pode suprir. Este é apenas um negócio seco para um coração carnal; mas é a coisa mais real no mundo para um coração gracioso: quando ele
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encontra falta de contentamento, ele recorre à promessa, e ao Pacto, e começa a alegar as promessas que Deus fez. Como eu deveria ter mostrado várias promessas que Deus fez, qualquer que seja a aflição, mencionarei apenas uma, a aflição mais triste de todas, no caso da visitação e da praga (Salmo 91). Aqueles cujos amigos não podem chegar a eles por causa da praga, e que não podem ter outros confortos, em outras aflições pode ter seus amigos e outras coisas para consolá-los - mas nisso eles não podem. Nós lemos: “Nenhum mal te sucederá, nenhuma praga chegará à tua habitação”; então há uma promessa para a peste nos versos 5 e 6, isto é uma Escritura para aqueles que estão em perigo disto. Você dirá que esta é uma promessa de que a praga não se aproximará deles; mas marque que estes dois estão unidos: nenhum mal te sucederá, nem a praga te virá; o mal dela não chegará a ti.
A causa imediata da bênção desta promessa é proferida no verso anterior: “Pois disseste: O Senhor é o meu refúgio. Fizeste do Altíssimo a tua morada.”
Este crente está fazendo morada em Deus. Ele tem se refugiado sempre no Senhor para busca de um viver cristão vitorioso. Então todas as promessas do Salmo se cumprem em sua vida.
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“4 Cobrir-te-á com as suas penas, e, sob suas asas, estarás seguro; a sua verdade é pavês e escudo. 5 Não te assustarás do terror noturno, nem da seta que voa de dia, 6 nem da peste que se propaga nas trevas, nem da mortandade que assola ao meio-dia.” (Salmo 91.4-6). A graça de Jesus espantará o temor, removerá o mal, vencerá a tentação. Em tudo o que vier a sofrer e a ser afligido, o seu coração estará firme, confiante e contente no seu Senhor, pois Ele fortalecerá o coração com graça para que não tema qualquer mal. O grande mal que pode suceder a um crente é decair na fé. Mas enquanto a fé for firmada em seu coração pela graça de Jesus ele terá contentamento em Deus, porque Deus está contente com aqueles que permanecem firmes na fé, do mesmo modo que a Sua alma não tem prazer naqueles que recuam na fé.

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