quarta-feira, 22 de abril de 2020

COMO SABEMOS SE NOS CONVERTEMOS DE FATO A DEUS?



A graça, a paz e o amor de Deus sejam com todos aqueles que amam a Jesus e guardam os seus mandamentos.
Estaremos apresentando uma nova mensagem de autoria de John Owen, na qual ele responde a casos de consciência quanto a sabermos se nos convertemos de fato ou não a Deus.
Ele apresenta a seguinte pergunta:
Vendo que o ato de fechar com Cristo é secreto e oculto, e os tempos e épocas especiais de nossa conversão a Deus são desconhecidos para a maioria, quais são as evidências e promessas mais certas de que cordial e sinceramente recebemos a Cristo e nos convertemos a Deus?
Resposta. Eu reconheço que a investigação é muito grande. Falarei claramente apenas algumas coisas que para mim são uma evidência de uma conversão sincera a Cristo.
Primeiro. Quando houver permanência na escolha que fizemos de Cristo, não obstante a oposição que é feita a ela, teremos certeza de que nos convertemos de fato. Eu não falo com a natureza da escolha, ou os meios dela, - como a mente está preparada para isto; mas falo aos mais pobres, aos mais fracos do rebanho, que podem estar se perguntando se fizeram ou não uma escolha sincera de Cristo: digo: eles podem tentar permanecer na sua escolha contra toda oposição.
E existem dois tipos de oposições que nos tentarão e nos abalarão, quanto à nossa escolha:
1º. Oposição contra acusações de culpa pelo pecado e pela lei.
2º. Oposição das tentações ao pecado, pois:
1. Mesmo depois de crer e fechar com Cristo, haverá muitas acusações pesadas trazidas contra a alma provindas da lei, e da culpa do pecado na consciência. Agora, nesse caso, a pergunta é: como a alma pode permanecer firme quando é atacada? Por que, verdadeiramente, se um homem tiver apenas meras convicções, com fracas impressões trêmulas da culpa do pecado, ele estará muito pronto e inclinado em sua própria mente para se atirar sobre algum outro alívio. Eu sei disso com alguns; e sei por experiência, que quando o vento se pôs muito forte dessa maneira comigo - quando a culpa do pecado foi carregada com todas as suas circunstâncias - a alma dificilmente conseguiu manter-se segura, mas, apesar de resolvida, dizendo: “confiarei em Cristo”, todavia ela tem se empenhado em agir por si mesma, dizendo: “Preciso remediar isso; - ter alívio disso por mim mesmo; não posso cumpri-lo e viver inteiramente em Cristo; e quando a tempestade acabar, então irei para o alto mar novamente." Eu digo, isso não é um bom sinal para mim quando as coisas são assim; senão quando uma alma, em todas as acusações com que por vezes se depara, permanece firme dizendo: "Aqui confiarei em Cristo, ainda que o pior aconteça comigo"; - a isto chamo de permanência na nossa escolha contra a oposição. Espero que você tenha experiência nisso.
2. Em segundo lugar, deve haver uma permanência em nossa escolha de Cristo contra tentações ao pecado, bem como contra as acusações do pecado. Na verdade, o primeiro - de permanecer com Cristo contra as acusações do pecado - é nosso trabalho diário Mas também há tentações para o pecado - pode ser por negligência de nosso dever ou por prática de qualquer conduta má (à qual estamos sujeitos no corpo); e talvez grandes pecados.
Aqui a resposta de José, aplicada ao crente, é aquela que afirma que nossa escolha de Cristo é sincera: "Como devo praticar essa grande iniquidade e pecar contra Deus?" Quando a alma pode extrair um argumento predominante disso: "Como devo fazer isso e abandonar meu Senhor Jesus Cristo?" - “Não farei isso contra aquele a quem escolhi!” - este é um bom argumento, se reiterado com frequência, de que nossa escolha de Cristo é sincera.
Em segundo lugar. Crescer em amor à pessoa de Jesus é uma grande evidência para mim de uma escolha sincera de Cristo. É um campo abençoado que está diante de mim, mas eu apenas sugerirei coisas para você.
Quando a alma recebeu a Cristo, não pode deixar de estudá-lo ; e embora não seja argumento contra a sinceridade da fé e graça de um homem, que ele considere principalmente os ofícios e graças de Cristo, e os benefícios que temos por ele, ainda é um argumento contra a salvação e o desenvolvimento dela: pois uma fé e graça prósperas respeitarão principalmente à pessoa de Cristo.
Eu queria dizer isso: - quando a alma estuda a pessoa de Cristo, - a glória de Deus nele, - de suas naturezas humana e divina, da união delas em uma pessoa, - de seu amor, condescendência e graça; e o coração é atraído para amá-lo e clama: "Sem dúvida conto todas as coisas, como perdas e estrume, pela excelência de Cristo Jesus, meu Senhor". Ver uma excelência, uma conveniência na pessoa de Cristo, de modo a crescer em admiração e amor a ele, é para mim uma evidência de que, quando tudo falhar além, apoiará muito a alma e a convencerá de que sua escolha é verdadeira.  Isto é uma das evidências mais espirituais; pois questiono muito se um homem não regenerado pode amar a Cristo por seu próprio bem. Mas é um bom sinal de crescimento, quando nosso amor à pessoa de Cristo cresce, quando meditamos muito sobre isso e pensamos muito sobre isso. Eu poderia mostrar-lhe em que mais a beleza da pessoa de Cristo consiste; mas não tenho tempo agora para fazê-lo.
Aqui, devemos abrir um parêntesis nas palavras de Owen, para considerar que o estas coisas que ele diz, não são absolutas, pois, como ele mesmo admite, esta é uma investigação muita ampla e que contém muitos ângulos, a saber, esta de alguém concluir por evidências se é de fato ou não um cristão.
Antes de tudo devemos lembrar que o Espírito Santo testifica junto com o nosso espírito que somos filhos de Deus, quando somos justificados e regenerados.
Além disso, há, sobretudo em nossa época, por um ensino nas próprias igrejas quanto ao modo como o pecado deve ser tratado, admitindo-se que um crente pode conviver com determinados tipos de pecado, e prosseguir normalmente em sua vida cristã, e isto dificulta e muito a verificação da evidência de que há um trabalho real da graça no coração do crente, quanto à mortificação de pecados, porque estes não poderão ser removidos onde são assim admitidos com naturalidade. Daí haver tantos crentes carnais e mundanos em nossos dias, por desconhecerem a necessidade real da santificação e do trabalho de mortificação de pecados, que é uma das partes dela.
Ora, mas quando um destes crentes é submetido a uma pregação consistente e densa contra o pecado e da posição santa que deve se esforçar para obter em Cristo, ele poderá ser trabalhado pela graça de Deus, e assim verificará o seu poder real para nos libertar do pecado, e em  consequência terá uma evidência mais firme em si mesmo que de fato pertence a Cristo e é convertido a ele.
Isto pode ser comprovado pelas seguintes palavras de Owen, na continuação que ele dá a este assunto.
Em terceiro lugar. Outra evidência para mim de que a alma fez uma escolha sincera de Cristo é quando continua a aprovar, julga bem e, todos os dias, vê cada vez mais a glória, a excelência, a santidade, a graça, que está no caminho da salvação por Jesus Cristo; aprova isso como não apenas um caminho necessário, - um caminho a que se propôs, porque deve inevitavelmente perecer de qualquer outro modo -, mas quando o aprova como o caminho mais excelente, perdoando pecados livremente pela expiação que ele fez, e a imputação de sua justiça a nós, - enquanto a justiça, a santidade e a graça de Deus em tudo isso são glorificadas.
A alma diz: “Que criatura cega e miserável eu era, que não via excelência antes! Isto é melhor do que o caminho da lei e a antiga aliança. Eu aprovo esse caminho com todo o meu coração. Se todos os outros caminhos fossem apresentados a mim, e tornados possíveis, eu escolheria esse caminho, de ir a Deus por Jesus Cristo, como o melhor caminho - que traz mais glória a Deus e mais satisfação à criatura, e é o mais adequado. para os desejos do meu coração, eu não teria outro caminho. Jesus diz: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”, e isso eu respeitarei, aconteça o que acontecer comigo”, responde a alma; “Embora eu deva perecer, eu o respeitarei, pois Deus me deu tal descoberta da glória de salvar pecadores por Cristo. Vejo nela a glória de Deus, a exaltação a Cristo, a quem eu amarei, a honra ao Espírito Santo e a segurança à minha própria alma, que eu respeitarei.” Um crescimento na aprovação dessa maneira dá alguma garantia de que fizemos uma escolha verdadeira e sincera de Cristo.
Deixe-me acrescentar mais uma coisa:
Quarto. Que um deleite na obediência a Deus por Cristo, nos caminhos de sua própria nomeação, é uma grande evidência de que escolhemos Cristo, e ele a nós; - o escolhemos como nosso rei, profeta e sacerdote. Os caminhos da adoração a Deus em sua igreja e ordenanças, são os caminhos de adoração a Deus em Cristo, a quem ele designou.
Tome essas coisas absolutamente e em si mesmas, e devemos estar aptos a dizer sobre elas, como foi dito sobre Cristo: "Não há beleza nelas, nem glória, que elas sejam desejadas". Há muito mais beleza externa e glória de outras maneiras, que Cristo não designou. Mas se amamos os caminhos que Cristo designou, porque ele os designou, então escolhemos esses caminhos porque o escolhemos para ser nosso rei; e é isso que lhes dá beleza e vida. E quando os caminhos da nomeação de Cristo se tornam pesados e onerosos para nós, estamos cansados ​​deles e dispostos a ter o pescoço debaixo do jugo - é um sinal de que nos cansamos daquele que é o autor deles; e este é um grande sinal de que nunca fizemos uma escolha certa e sincera dele.
Muitas outras coisas podem ser oferecidas como evidências de um fechamento sincero com Cristo; mas estas são algumas que me foram úteis: e espero que sejam assim para alguns de vocês. Em nome de Jesus amém.
Quanto às evidências apontadas por Owen, gostaríamos de acrescentar para nossa reflexão o que se chama de estado ou estrutura ruim da alma, que sendo prolongado ou permanente, é uma das maiores evidências de que não somos convertidos realmente.
Quando um crente peca, e seja qual for a forma do seu pecado, isto faz com que imediatamente o Espírito Santo se entristeça e apague as suas operações abençoadoras e consoladoras sobre a alma, e assim esta entra nesta condição de estado ou estrutura ruim, em que não sente prazer em se aproximar de Deus e de nada do que for espiritual e santo. A luz que antes amava e buscava é agora repelida pela alma, pois se acomoda à condição de trevas em que se acha agora.
Neste ponto, duas coisas principais podem acontecer: ou o crente confessa o pecado e o abandona, para recuperar a condição abençoada de sua alma, ou ele se acomoda à situação ruim em que se encontra, e isto será acompanhado de outros pecados que agravarão o seu caso, como os de negligência, de fraqueza de ânimo, de comunicação e consentimento com as obras das trevas, e muitos outros. De maneira, que quanto maior for o tempo em que permanecer nisto, tanto maior será a dificuldade para a sua recuperação.
A vida de fé que é vitoriosa impõem-nos então que haja constantes oposições ao pecado e humilhações diante de Deus, para que nos perdoe e restaure. Com isto a fé é exercitada e fortalece a nossa confiança no poder e amor do Senhor para nos livrar.
Mas, quando o próprio ensino teológico da época em que temos vivido, não aponta para a necessidade de se fazer uma luta diária contra o pecado, o diabo e o mundo, muitos chegam a considerar erroneamente que o viver carnal e mundano é a condição normal da vida cristã, quando na verdade é o oposto dela, e o fator principal determinante da morte espiritual e da cessação da comunhão com Deus. Assim, não é sem motivo que a Bíblia sempre nos exorte à vigilância, à oração e meditação constantes, à mortificação do pecado, à negação do ego, ao carregar diário da cruz, entre muitos outros deveres que não sendo cumpridos com diligência, acabaremos por ser achados no estado ou estrutura ruim de alma a que nos referimos anteriormente.
Que Deus possa aplicar esta palavra aos nossos corações, em nome de Jesus, amém.


Nenhum comentário:

Postar um comentário