sexta-feira, 23 de outubro de 2015

32) Crescimento 33) Criação e Desígnio de Deus

32) CRESCIMENTO

ÍNDICE

1 - Como Saber o que Deve Ser Aprovado
2 - Feliz é Aquele que Muda
3 - Crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor
4 - “cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo,” (Efésios 4.15)
5 - O Trabalho do Grande Agricultor
6 - Crescimento na Graça
7 - Falando Sobre Crescimento Na Graça
8 - As Fases da Vida
9 - Crescimento Silencioso e Invisível


1 - Como Saber o que Deve Ser Aprovado

O mero conhecimento da letra da Palavra de Deus não é suficiente para que possamos fazer uma correta avaliação daquilo que deve ser ou não aprovado.
Como discernir o que seja ou não da vontade de Deus?
Como saber, especialmente em nosso relacionamento com as demais pessoas, o que deve ser aprovado ou reprovado no seu comportamento?
A Bíblia nos dá a resposta para isto em textos como por exemplo Fp 1.9,10, onde lemos o seguinte:

“9 E também faço esta oração: que o vosso amor aumente mais e mais em pleno conhecimento e toda a percepção,
10  para aprovardes as coisas excelentes e serdes sinceros e inculpáveis para o Dia de Cristo,” (Fp 1.9,10)

Veja que o apóstolo Paulo afirma que orava para que o amor dos cristãos aumentasse progressivamente em pleno conhecimento e toda a percepção para que pudessem aprovar o que é excelente.
E que pleno conhecimento e toda a percepção são estes por ele referidos no citado texto?
Certamente é o conhecimento da vontade de Deus e o discernimento espiritual do que é e do que não é aprovado por Deus.
Este conhecimento e discernimento nos vêm das Escrituras, mas sempre pela iluminação e revelação do Espírito Santo.
É portanto a testificação do Espírito Santo com o nosso espírito, a chave para o reconhecimento do que devemos aprovar ou do que devemos rejeitar.
Assim, não é propriamente aquilo que a sociedade como um todo considere aprovado, que seja necessariamente aprovado por Deus, e isto poderemos saber, pelo modo como o Espírito Santo se move em nós, alegrando-nos, entristecendo-nos, constrangendo-nos ou operando qualquer outro tipo de sentimento que nos auxiliará no reconhecimento do que seja ou não aprovado.
Por exemplo, se numa reunião em que estejamos participando, alguém ou um grupo de pessoas começa a agir de uma determinada forma, julgada apropriada pelos participantes da reunião, a aprovação dos mesmos poderá, não necessariamente, estar em conformidade com o modo pelo qual tal ação é julgada por Deus, e isto poderemos conhecer pelo que está revelado na Palavra, e pelo modo como o Espírito Santo se move em nós, aprovando ou rejeitando o que estiver sendo feito.
Deste modo, nem mesmo a nossa própria consciência é uma boa medida para nos dirigir em tais decisões, porque é possível que estejamos interessados em sermos sinceros e coerentes com o que pensamos a respeito do assunto, e todavia, nossa sinceridade e coerência poderão não estar em conformidade com o julgamento de Deus.
Necessitamos então da direção do Espírito Santo em todos os nossos julgamentos. E isto só será possível caso andemos diariamente no Espírito, porque será impossível receber iluminação espiritual quando não temos qualquer comunhão com Ele.
Isto explica porque há tantos cristãos que não aprovam as coisas excelentes, e aprovam coisas que são reprovadas por Deus.
Andam por emoções e sentimentos.
Não julgam segundo a reta justiça.
São guiados pelo seu próprio modo de sentir e gostar, de maneira que, se gostam de alguma pessoa ou dos feitos de determinada pessoa, eles se sentirão inclinados a aprová-los, ainda que sejam reprovados por Deus.

“E não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as.” (Ef 5.11)





2 - Feliz é Aquele que Muda

Sim. Quem muda para melhor segundo à imagem de Cristo.
Nosso Senhor é imutável. É o mesmo ontem, hoje e para todo o sempre, porque sempre habitou nele a plenitude da perfeição.
Mas, nós, pecadores, somos convocados por Deus a sermos transformados de fé em fé, de glória em glória, porque importa que sejamos mudados em tudo.
Temos uma natureza pecaminosa da qual devemos nos despojar e nos revestir cada vez mais da nova natureza recebida na conversão.
Assim, bem-aventurado é aquele que cresce na graça e no conhecimento de Jesus Cristo, e quando isto pode ser constatado na experiência cotidiana de sua vida.
Devemos ser os mesmos em relação às coisas que em nós, são boas para a santificação, mas mesmo nestas coisas, importa que continuemos mudando em graus de maior crescimento, até que cheguemos à estatura de varão perfeito, conforme é do propósito de Deus.
Não deveríamos nos gloriar portanto em sermos a mesma pessoa de sempre, com seus antigos modos de vida e formas de pensamento, porque importa mudarmos - e quanto importa! para que sejamos aprovados por Deus.






3 - Crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor

 "Crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo." (2 Pedro 3.18)

"Crescer na graça" - e não apenas em uma graça, mas em toda a graça.
Cresça nessa graça-raiz, a fé . Creia mais firmemente nas promessas como nunca dantes. Deixe a fé aumentar em plenitude, constância e simplicidade.
Cresça também no amor. Peça para que seu amor possa se tornar mais amplo, mais intenso, mais prático, influenciando cada pensamento, palavra e ação.
Cresça também na humildade. Procure estar muito baixo, e saber mais da sua própria insignificância. À medida que crescer para baixo em humildade, procure também crescer para cima - tendo mais aproximação de Deus, em oração e comunhão mais íntima com Jesus.
Que Deus o Espírito Santo lhe capacite a "crescer no conhecimento de nosso Senhor e Salvador." Aquele que não cresce no conhecimento de Jesus, se recusa a ser abençoado. Conhecê-lo é a "vida eterna", e avançar no conhecimento dele é aumentar a felicidade.
Aquele que não almeja conhecer mais de Cristo, nada sabe sobre ele ainda. Quem tem bebido este vinho terá sede de mais, pois, embora Cristo  satisfaça, isto é ainda uma satisfação de um apetite não saciado, mas aguçado. Se você conhecer o amor de Jesus - como o cervo anseia pelas correntes de águas, assim vai suspirar por sorvos mais profundos do seu amor.
Se você não deseja conhecê-lo melhor, então você não o ama, porque o amor sempre clama: “mais perto, mais perto!” Estar ausente de Cristo é  inferno, mas a presença de Jesus é o céu. Não fique então contente sem um conhecimento cada vez maior de Jesus. Procure saber mais sobre ele em sua natureza divina, em seu relacionamento humano, em sua obra acabada, em sua morte, na sua ressurreição, em sua gloriosa intercessão presente e no seu futuro advento real. Permaneça na rude Cruz, e procure o mistério de Suas feridas. Um aumento de amor a Jesus, e uma apreensão mais perfeita do seu amor por nós é um dos melhores testes de crescimento na graça.

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.






4 - “cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo,” (Efésios 4.15)

Muitos cristãos permanecem atrofiados e deficientes nas coisas espirituais, de modo que se apresentam sendo os mesmos ano a após ano. Nenhum salto de aperfeiçoamento espiritual é observado neles.
Eles existem, mas não "crescem nele em todas as coisas." Mas deveríamos nos contentar em estar permanentemente na fase de erva, em vez de avançar até a espiga, e depois até o grão cheio na espiga? (Marcos 4.28). Deveríamos ficar satisfeitos em crer em Cristo, e dizer: "Eu estou seguro", sem desejar conhecer em nossa própria experiência mais da plenitude que se encontra nele? Não deveria ser assim, devemos, como bons comerciantes no mercado do céu, desejar ser enriquecidos com o conhecimento de Jesus. Está tudo muito bem em guardar as vinhas de outras pessoas, mas não deveríamos negligenciar o nosso próprio crescimento espiritual e amadurecimento.
Por que deveria ser sempre tempo de inverno em nossos corações?
Temos que ter o nosso tempo de semente, é verdade, mas somente por uma primavera - sim, uma estação de verão, que trará a promessa de uma colheita temporã.
Se quisermos amadurecer na graça, devemos viver perto de Jesus - em sua presença - amadurecidos pelo sol de seus sorrisos. Devemos manter doce comunhão com ele. Devemos deixar a visão distante do seu rosto e chegar mais perto, como João fez, e reclinar nossa cabeça sobre o seu peito; então nos encontraremos avançando em santidade, no amor, na fé, na esperança, sim, em todo o dom precioso.
Como o sol nascente aparece primeiro nos topos das montanhas e as doura com a sua luz, e oferece uma das mais belas vistas ao olho do viajante, assim é uma das contemplações mais deleitosas do mundo observar o brilho da luz do Espírito na cabeça de algum santo, que tem se levantado em estatura espiritual, até que, como um poderoso Alpes, coberto de neve, ele reflita em primeiro lugar entre os escolhidos, os raios do Sol da Justiça, e sustente o brilho do seu esplendor bem elevado para que todos que vendo isto, glorifiquem o seu Pai que está nos céus.

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.

Nota do tradutor: Aos “deveríamos” em forma de pergunta, do início  do texto também acrescentaríamos, se deveríamos estar nos deixando influenciar por esta febre que se espalha pelo mundo inteiro, e especialmente em nossa nação, quanto ao cuidado exagerado com a aparência e com o corpo, contra uma negligência quase, senão total das necessidades do espírito. É evidente que o corpo deve ser cuidado, mas quando isto leva as pessoas a pensarem que são apenas um corpo e nada mais, isto é altamente perigoso.

Vemos nisto um artifício da parte do Inimigo para impedir ou atrapalhar, respectivamente, a vida espiritual que está em Cristo, ou o seu crescimento naqueles que a têm alcançado.





5 - O Trabalho do Grande Agricultor

Até mesmo os eleitos de Deus são tolos, mundanos, avarentos, cheios de inveja, concupiscências, paixões, fraquezas, ignorância, e assim por diante.
O arado de Deus trilhando seus corações lhes ajuda a terem uma terra melhor e mais fértil para as sementes da graça, e lhes dá força ao germinarem para fixarem bem suas raízes de forma a não serem prejudicadas pelas ervas daninhas, senão de outra forma, seriam destruídas.
Assim, não devemos invejar aqueles que são poupados de aflições, e admirarmos o tipo de alegria carnal que eles possuem, porque diante de Deus são um campo estéril.
O propósito de Deus nas aflições é o de remover o orgulho carnal dos nossos corações e vontades.
Mas muitos dos filhos de Deus ainda clamam em seu sofrimento: “Oh quando haverá um final disto?”
Neste caso, eu digo, veja até que ponto você tem se aplicado em observar à Palavra, veja em qual medida ela está enxertada no seu coração. Quando podemos ouvir a palavra com alegria, e os nossos esforços se aplicam desta forma, então estamos perto do fim da nossa aflição; quando o solo do coração estiver pronto para o crescimento da graça que foi plantada em nós pelo Espírito, então é chegada a hora.
E o fim da aflição não significará em muitos casos, necessariamente a solução do problema que nos afligia, mas a remoção do nosso abatimento, tristeza, quando o coração já não mais estará turbado com o problema, em razão do poder que nos é concedido por Deus para suportá-lo com alegria, paz e paciência.
Temos visto isto em muitos casos de graves enfermidades experimentadas por servos do Senhor.
Nisto conhecemos as aflições que nos vêm do amor de Deus, quando nos fazem ter amor à Sua Palavra, e nos apegarmos a ela.
A Palavra de Deus é a semente da vida eterna que foi plantada em nós na nossa conversão, e que é poderosa para nos salvar.
Jesus afirma expressamente na Parábola do Semeador que o solo é o nosso coração e que a semente é a Palavra.
Assim, é nosso dever permitirmos o trabalho do grande Agricultor nas aflições que sofremos, para que esta semente germine, cresça e frutifique em abundância o fruto do Espírito que consiste em todas as virtudes conforme elas se encontram na pessoa de Cristo.






6 - Crescimento na Graça

Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.

"Antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo." (2 Pedro 3.18)

Vale a pena ressaltar que esta passagem segue imediatamente o versículo 17, onde o apóstolo diz: "Vós, pois amados, prevenidos como estais de antemão, acautelai-vos não suceda que, arrastados pelo erro desses insubordinados, descaiais da vossa própria firmeza. Antes crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo."
Ele coloca um argumento após o outro, como se um tem de ser o meio de outro. Houve alguns, no dia do Apóstolo, que tinham torcido, para sua própria destruição, certas expressões nas epístolas de Paulo, Pedro disse que essas porções eram "difíceis de entender". E, por isso, alertou homens e mulheres cristãos a tomarem cuidado para que eles não sendo levados pelo erro desses ímpios caíssem de sua própria firmeza.
A fim de que eles pudessem saber como agirem e serem preservados de cair, deu-lhes esta direção, "crescei na graça" porque esta é a maneira de permanecer firme e crescer. A maneira de ficar firme é ir para a frente. Não há nenhuma outra forma, exceto pela progressão. Enquanto o cristão estiver em movimento, ele permanece firme na fé, mas se fosse possível o movimento cessar, então o cristão cairia de sua firmeza. Glória a Deus, ele será preservado de cair, pois deve ser apresentado irrepreensível diante do Trono de Deus!
A maneira de permanecer firme, então, é ir para a frente. A maneira de ser firme é progredir. A maneira de estar vivo, de acordo com o apóstolo, é "crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo."
A primeira observação que fazemos é que há um sentido em que não existe essa coisa de crescimento da própria Graça. Se você entender a palavra, Graça, como significando favor livre e o amor de Deus para com o Seu povo, não é, e não pode haver qualquer crescimento em qualquer sentido, porque no momento em que um pecador crê e confia em seu Deus crucificado - ele é, pela graça de Deus, completamente justificado em Cristo Jesus! E se ele viver até seu cabelo embranquecer, ele nunca vai ser mais justificado, e nunca será mais amado do que foi no primeiro momento em que crê em Cristo. Tão logo eu tenha uma conexão vital com o Cordeiro de Deus, eu estou "em Graça."
Nós é que devemos crescer no conhecimento de Graça e de Jesus, mas não a Graça e nem mesmo Jesus.
Deixe-me viver, deixe minha graça crescer, deixe minha fé aumentar, que meu zelo se torne mais fervoroso, deixe meu amor ser mais ardente, mas não terei mais "graça" do que tinha antes! Nós nunca cresceremos na graça da eleição. Somos sempre, como Pedro diz em sua primeira epístola: "eleitos segundo a presciência de Deus Pai". E nessa questão de estar "em Graça", não há nem crescimento, nem qualquer movimento retrógrado. Assim também é na questão da justificação,
"Em união com o Cordeiro, livre da condenação, os santos sempre foram, e sempre estarão."
Assim que eu ponho a minha confiança no Salvador, tornei-me completo na Graça, sendo aperfeiçoado em Cristo Jesus. Eu não posso ser mais do que perfeito e, portanto, não posso nesse aspecto crescer na graça. Não consigo receber mais misericórdia justificadora. Não consigo receber mais perdão da Graça, para tornar-me perfeito em Cristo.
Mas você vai notar que nosso texto nada diz sobre Graça crescente, ele não diz que a Graça cresce! Ele nos diz para "crescer na graça". Há uma grande diferença entre Graça crescendo e nosso crescimento na graça. A graça de Deus não aumenta, é sempre infinita. É sempre eterna.
O texto nos diz para "crescermos na graça". Estamos no mar da Graça de Deus, e não podemos estar em um mar mais profundo, mas devemos crescer, agora que estamos no mesmo.
Você não vai me dizer que um homem, que é raramente visto chegando à casa de Deus, e que está cotidianamente em um estado de inanição religiosa, está em pé de igualdade na Graça com um homem que está trabalhando para seu Mestre, cujo amor é evidente para todos, e cuja fé é testemunhada perante toda a congregação! Há homens de espíritos fervorosos que têm mais graça totalmente desenvolvida neles do que em outros. É verdade, eles não são mais amados de Deus do que outros, e nem mais justificados, nem mais aceitos, mas, quanto ao desenvolvimento da Graça em nossas almas e a exibição da Graça em nossas vidas, todos devem admitir que há uma diferença entre os diferentes santos.
Agora, uma outra observação, é que o crescimento na graça não deve ser medido por semanas, meses e anos. Muitas vezes Deus se deleita em mostrar como ele despreza e ridiculariza todas as distinções do homem. Ele faz com que os jovens sejam prudentes e Ele mesmo dá a crianças, conhecimento e discrição!
É verdade, nós acreditamos e devemos acreditar que há mais conhecimento sob os cabelos brancos do que nos jovens, em geral,  é assim.
Não acho que as pessoas cresçam na graça de acordo com a sua idade. Alguns crescem mais rápido na Graça em cinco minutos do que outros fazem em 50 anos. Acredito que alguns santos progridem mais na Graça em um único mês do que outros fazem em 12 meses ou 12 anos. Tenho certeza de que posso falar de mim mesmo. Às vezes eu tenho crescido mais na Graça, em uma hora, do que eu tenho em outras épocas do ano em uma semana, um mês ou um ano, quando Deus, em sua infinita sabedoria, tem o prazer de me dar uma visão do Salvador, ou para acabar com as fontes do mal que estava escondido em minha alma. Eu aprendi mais em uma hora, quando a mão do Espírito Santo estava sobre mim, do que eu tenho em semanas e meses apenas com o meu próprio estudo.
Eu posso dizer-lhe que muitas vezes você vai crescer mais rápido no calabouço do que no topo de uma montanha, mas não é um lugar agradável para se estar. Quando a nossa depravação nos é revelada, quando a nossa desolação de espírito e nosso desespero total e impotência são descobertos e manifestados pelo Espírito Santo de Deus, nós crescemos, creio eu, ainda mais rápido do que quando, nas asas de serafins! Assim, não meça o seu crescimento na graça por seus sentimentos. Alguns de vocês fazem uma espécie de barômetro de seus sentimentos. Não faça isso! Se estamos em Cristo, estamos em Cristo pela fé, e não por sentimentos, e lembre-se, se seus sentimentos são bons ou ruins, você não é mais ou menos um filho de Deus.
É sua fé, pecador, que o une ao Cordeiro, e não os seus sentimentos! Confie nEle nas trevas, confie nEle em perigo, incline-se sobre ele quando você não puder vê-Lo.
Apenas por meio de aviso, deixe-me pedir-lhe para não pensar que você está crescendo na graça porque está fazendo um pouco mais para a igreja externamente. Alguns dizem: “Eu estou fazendo isso, ou aquilo, agora estou realmente crescendo na graça." Ah, isso é uma coisa boa - ser diligentes em boas obras e ser abundante em atos de justiça, mas se você começar a dizer, "Agora eu estou crescendo", por causa disso, você cometeu um grande erro! Muitas vezes acontece que quando estamos muito cheios de trabalhos públicos, somos muito menos ocupados com as devoções particulares. Devo confessar que foi assim comigo, e isso é uma coisa muito lamentável, porque então eu não estava realmente crescendo em tudo.
Agora vamos para o segundo pensamento, que o crescimento na graça está intimamente ligado com o crescimento "no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo." Na verdade, não pode haver qualquer Graça em tudo, exceto quando conhecemos mais a Cristo!
Quanto mais você conhecer o seu Mestre, quanto mais você vai amá-lo.
Assim é com relação à fé. Qual é a razão pela qual tantos de nós gememos, porque nossa fé é tão fraca? É porque nós não sabemos o suficiente de Cristo! Se soubessem mais sobre Jesus, eles teriam mais fé.
Se você quiser ter mais fé, mantenha seus olhos em Jesus! Se você deseja crescer na fé, você deve viver perto da Cruz.
Eu acredito que quando chegamos verdadeiramente a conhecer a Cristo, perdemos o medo de tudo. Devemos ter medo do homem? Não! Vamos dizer: "se é justo obedecer antes a Deus do que aos homens." Devemos ter medo do diabo quando conhecemos a Cristo? Não! Vamos dizer: "Cristo tem o diabo acorrentado e Ele sempre pode puxar o cão do inferno quando ele tenta nos morder. Nós não teremos medo do mensageiro da morte, porque haveremos de vê-lo como um anjo da Aliança enviado para buscar o povo de Deus para o Céu! A coragem será sempre aumentada na proporção em que conhecemos mais de Jesus.
Assim também com relação ao nosso zelo. Se quisermos ser mais zelosos, devemos viver mais perto de Cristo.
Além disso, se quisermos crescer também na graça do amor fraternal, devemos conhecer mais de Cristo.
Por que não amamos uns aos outros, tanto quanto deveríamos? É porque nós não amamos o suficiente o Salvador, e ainda não vimos o suficiente dele.
 Por fim, há outra graça, na qual precisamos crescer. Ou seja, a graça da humildade. Estou certo de que iríamos crescer em Graça se vivêssemos mais perto de Cristo.
Quando você crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, você terá a certeza de crescer em humildade!
Cristãos em crescimento se julgam nada, mas, os cristãos maduros pensam de si mesmos ser menos do que nada. Quanto mais nos aproximamos de Jesus, menor ficará o nosso ego.  






7 - Falando Sobre Crescimento Na Graça

J. C. Ryle

Quando falo sobre crescimento na graça, nem por um momento estou dizendo que os benefícios de um cristão em Cristo podem crescer; não estou dizendo que o cristão pode crescer em sua posição, segurança ou aceitação diante de Deus; que o cristão pode ser mais justificado, mais perdoado, mais redimido e desfrutar de maior paz com Deus do que desde o primeiro momento em que ele creu.
Afirmo categoricamente: a justificação de um cristão é uma obra completa, perfeita, consumada; e o mais fraco dos cristãos (embora ele não o saiba, nem o sinta) está tão completamente justificado quanto o mais forte deles. Declaro com firmeza: a nossa eleição, chamada e posição em Cristo não admitem qualquer progresso, aumento ou diminuição.
Se alguém pensa que, por crescimento na graça, estou querendo dizer crescimento na justificação, está completamente enganado a respeito do assunto que estou considerando.
Estou pronto a morrer na fogueira (se Deus me assistir), por causa da gloriosa verdade de que, no assunto da justificação diante de Deus, todo cristão está completo em Cristo (Cl 2.10). Nada pode ser acrescentado à justificação do cristão, desde o momento em que ele crê, e nada pode ser removido.
Quando eu falo sobre crescimento na graça, estou me referindo somente ao crescimento em grau, tamanho, força, vigor e poder das graças que o Espírito Santo implanta no coração de um cristão. Estou dizendo categoricamente que todas aquelas graças admitem crescimento, progresso e aumento. Estou declarando com firmeza que o arrependimento, a fé, o amor, a esperança, a humildade, o zelo, a coragem e outras virtudes semelhantes podem ser maiores ou menores, fortes ou fracas, vigorosas ou débeis e podem variar muito em um mesmo cristão, em diferentes épocas de sua vida.
Quando eu falo sobre um cristão que está crescendo na graça, estou dizendo apenas isto: os sentimentos dele em relação ao pecado estão se tornando mais profundos; a sua fé, mais forte; a sua esperança, mais brilhante; o seu amor, mais abrangente; sua disposição espiritual, mais sensível. Este cristão sente mais o poder da piedade em seu próprio coração; manifesta mais piedade em sua vida; está progredindo de força em força, de fé em fé, de graça em graça. Deixo que outros descrevam a condição de tal cristão, utilizando as palavras que lhe forem agradáveis. Eu mesmo penso que a melhor e mais verdadeira descrição de tal cristão é esta: ele está crescendo na graça!






8 - As Fases da Vida

Por D. M. Lloyd Jones

Há fases na vida cristã, como acontece na vida em geral. O Novo Testamento fala do estado de bebês em Cristo, fala acerca do crescimento. João escreve sua primeira carta para crianças, jovens e homens de idade. É um fato; é bíblico. A vida cristã não é sempre a mesma; há começo, continuação e fim. E, por causa dessas fases, há muitas variações.

Os sentimentos são, quiçá, os mais variáveis. Você esperaria ter os sentimentos predominando no início, e é o que comumente sucede. Sucede com muita freqüência que cristãos ficam aflitos porque se lhes foram certos sentimentos. Não percebem que essa diferença se deve à sua maturidade. Porque já não são o que eram, acham que estão lavrando em erro total. Mas, à medida em que crescemos e nos desenvolvemos espiritualmente, têm que ocorrer mudanças, e é claro que essas coisas todas fazem diferença em nossa experiência. . .

Outro dia tive ocasião de ver uma criancinha de cerca de quatro anos, segundo me pareceu, saindo de casa junto com sua mãe, e não pude deixar de sentir-me atraído pelo modo como ela saiu de casa. Não andava; pulava, saltava, dava cabriolas como um cordeiro; mas notei que a mãe simplesmente caminhava. Há alguma coisa parecida com isso na vida espiritual. Na criança há exuberância de energia, e ela não aprendeu ainda a controlá-la. A mãe, na verdade, tinha muito mais energia do que a filha pequena, embora parecesse ter muito menos porque andava tranqüilamente. Entretanto, sabemos que não é assim. A energia é, realmente, muito maior no adulto, embora pareça maior na criança; e é porque não compreendem esta experiência quanto a diminuir a pressa, que muitos acham que perderam alguma coisa de vital importância e ficam aflitos e deprimidos.

Reconheçamos que há fases. . . que há estágios de desenvolvimento da vida cristã.






9 - Crescimento Silencioso e Invisível

O crescimento progressivo da graça em santidade pela santificação pode ser comparado com o crescimento gradual das árvores e plantas de um modo geral.

“5 Eu serei para Israel como o orvalho. Ele florescerá como o lírio e lançará as suas raízes como o Líbano.
6 Estender-se-ão os seus galhos, e a sua glória será como a da oliveira, e sua fragrância como a do Líbano.” (Os 14.5,6).

“3 Porque derramarei água sobre o sedento, e rios sobre a terra seca; derramarei o meu Espírito sobre a tua posteridade, e a minha bênção sobre os teus descendentes.
4 E brotarão como a erva, como salgueiros junto aos ribeiros das águas.” (Is 44.3,4).

Nós vemos isto em muitas outras passagens das Escrituras, a saber, Deus comparando o nosso crescimento espiritual aos das plantas.

Assim como as plantas possuem um princípio vital em si mesmas que as conduz ao crescimento, de igual modo a graça é a semente da vida eterna que contém um princípio vivente e crescente.

Por conseguinte, se o crescimento que alguém pensa estar tendo em santidade, se não vier de um princípio de vida espiritual no coração, não será de modo nenhum um fruto da santidade e nem é pertencente a ela.

A fonte da água da graça que jorra de Jesus Cristo é uma fonte para a vida eterna (João 4.14), e assim trabalhará no sentido de produzir a plenitude desta vida no cristão, e sabemos que a natureza desta vida é a santidade que procede de Deus.

Então é da natureza da santidade prosperar e crescer, assim como é a natureza das árvores e plantas em geral.

E assim como o crescimento destas árvores e plantas é progressivo, até gerarem o fruto próprio a cada espécie, de igual modo a santificação cresce progressivamente, e este e um outro motivo do trabalho de Deus no cristão para o seu crescimento espiritual ser comparado ao crescimento das árvores.

E este crescimento de árvores e plantas é secreto e imperceptível.

O olho mais alerta pode discernir pouco de seu movimento em crescimento.

E não é o mesmo que ocorre com o crescimento progressivo em santificação?

Isto não pode ser visto e medido pelo olho ou pelos demais sentidos naturais. E a única forma de se conhecer a medida do crescimento é pelo tipo de fruto que comprovará se árvore é boa ou má, e se está sadia ou não.

Mas há ainda um grande paralelo comparativo no crescimento das plantas e dos cristãos, porque este crescimento, tanto num quanto noutro, não é uniforme por todo o período de sua existência. Há saltos de crescimento em determinadas épocas em que se faz muito maior progresso do que em outros períodos.

E isto se vê particularmente no trabalho da graça nos cristãos que em certas ocasiões se intensifica em ações vigorosas, gerando grande aumento de fé, amor, humildade, abnegação, generosidade e nas demais virtudes que estão em Cristo.

Todos os cristãos são árvores plantadas no jardim de Deus, e alguns prosperam mais do que outros neste crescimento em santificação, e há decadência de crescimento, mesmo nestes a que nos referimos em determinadas épocas, mas o maior crescimento que possa existir será ainda secreto.










33) CRIAÇÃO E DESÍGNIO DE DEUS

ÍNDICE

1 - A Natureza da Nova Criatura em Cristo Jesus
2 - Qual é de Fato o Poder do Espírito Santo?
3 - Cujas Saídas São Desde os Tempos Antigos
4 - A Boa Vontade Perfeita de Deus
5 - Não Errando o Alvo Proposto
6 - A Última Palavra de Cristo na Cruz (reduzido)
7 - O Plano é Perfeito Embora Sejamos Imperfeitos
8 - Não Havia o Mal no Princípio, na Criação
9 - O Objetivo de Deus na Criação do Mundo
10 - Por Que Deus Criou?
11 - Compreendendo o Significado da Nossa Existência Pela Perspectiva Correta
12 - OS DECRETOS ETERNOS DE DEUS  


1 - A Natureza da Nova Criatura em Cristo Jesus

Por mais repetitivos que sejamos em relação a este assunto da natureza da nova criatura em Cristo, na qual somos transformados na conversão, nunca será demais, em face da importância de termos isto devidamente gravado e lembrado em nossas mentes.

“Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram.” (Rom 5.12)

“Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados,” (Ef 2.1).

Estas e outras passagens bíblicas se referem à condição de morte, perante Deus, de toda a humanidade em razão do pecado, tal como ele havia dito ao primeiro homem que ele morreria e nele toda a sua descendência, caso lhe fosse desobediente.
Então Jesus nos foi dado para nos transportar da morte para a vida.

“Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida.” (João 5.24)

“Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos; aquele que não ama permanece na morte.” (I João 3.14)

Vejamos então como passamos da morte para a vida, por sermos agora novas criaturas, por meio da fé em Jesus.
Isto não significa que recebemos um novo espírito para ocupar o lugar do nosso espírito.
Não significa também o recebimento de uma nova personalidade para substituir a que tínhamos até a nossa conversão, uma vez que esta permanece em nós.
Não encontramos amparo para este tipo de ensino nas páginas de toda a Bíblia, mas lá encontramos que passamos a ter um novo princípio de vida espiritual, divina e celestial que é implantado em nós, quando temos o nosso primeiro encontro pessoal com Cristo, como uma semente, destinada a germinar, e a crescer e a produzir frutos de justiça, consoante as virtudes da própria pessoa de Jesus, I Pe 1.23; Tg 1.21; 1 João 3.9.
É pela habitação do Espírito Santo no crente, e por esta nova disposição de vida nele implantada, que todas as faculdades e disposições do nosso corpo, alma e espírito são vivificados e renovados, para o que se chama de novidade de vida.
Por fazer aumentar e crescer em nós estas graças referidas, mortificamos o princípio operante do pecado, e adquirimos mais das virtudes do próprio Cristo, em operações progressivas renovadoras do Espírito Santo.
Assim, lemos em Romanos 8.6-13 o seguinte:

“Rom 8:6 Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz.
Rom 8:7 Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar.
Rom 8:8 Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus.
Rom 8:9 Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele.
Rom 8:10 Se, porém, Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito é vida, por causa da justiça.
Rom 8:11 Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do seu Espírito, que em vós habita.
Rom 8:12 Assim, pois, irmãos, somos devedores, não à carne como se constrangidos a viver segundo a carne.
Rom 8:13 Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis.”

A qualidade da vida de Deus somente pode ser vista portanto, naqueles que foram  e que têm sido vivificados pelo Espírito Santo.
É destes e somente destes que Deus declara nas Escrituras que vivem. Seguramente, a qualidade de vida que se tem fora da comunhão com Deus não pode ser chamada propriamente de vida, senão de morte, por causa da impossibilidade da citada condição de nos habilitar a amarmos a Deus e a ter prazer na sua vontade e mandamentos, provando este amor, por permitir que Sua Palavra seja aplicada às nossas próprias vontades e vidas.





2 - Qual é de Fato o Poder do Espírito Santo?

“Repousará sobre ele o Espírito do SENHOR, o Espírito de sabedoria e de entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do SENHOR.” (Isaías 11.2)

Por comodismo ou por falta de conhecimento do desígnio de Deus, não são poucos os que limitam a influência do Espírito Santo sobre as vidas dos crentes, simplesmente como Espírito de poder para realização de sinais e prodígios.
Todavia, nem mesmo no texto de Isaías 11.2, onde são citadas as suas principais funções, encontra-se esgotado tudo o que deve ser nomeado como o fruto completo de suas influências e ações.
O texto citado está relacionado à sua operação na própria vida do Senhor Jesus Cristo, em seu ministério terreno, e assim, não se vê ali citado que seria para ele Espírito de regeneração, de santificação, de purificação, porque nosso Senhor não dependia disto, porque não tinha pecado, senão somente nós dependemos, porque somos pecadores.
Todavia, o que se cita em relação ao Senhor, é também aplicável a nós, a saber, a necessidade de sabedoria, entendimento, conselho, fortaleza, conhecimento e temor do Senhor, pela ação do Espírito Santo em nós, porque é evidente que necessitamos de todas estas coisas, bem como de amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade,  mansidão, e domínio próprio – o fruto do Espírito.
Quão distantes ficamos portanto, do grande objetivo de Deus em nos ter dado o Espírito Santo, quando limitamos em nosso entendimento a sua área de atuação ao simples mover sobrenatural , especialmente no culto público, por pensarmos que tudo o que devemos receber do Espírito Santo é apenas o poder para operar sinais e prodígios, ou então para a manifestação de qualquer dom sobrenatural, como o falar em línguas ou profetizar. E não são poucos os que consideram tais operações como sendo o máximo ou o clímax da espiritualidade.
Na verdade não somos espirituais por simplesmente possuirmos os dons sobrenaturais relacionados nos capítulos 12 e 14 de 1 Coríntios, a par da sua grande importância, mas por possuirmos as virtudes do amor destacas no 13º capítulo da mesma epístola.
O Espírito Santo nos foi dado para realizar a nossa transformação à imagem de nosso Senhor Jesus Cristo. Para nos fazer crescer na graça e no conhecimento de sua pessoa divina, aumentando em nós  em graus cada vez maiores, a sabedoria, o entendimento, a obediência, a força, o conhecimento espiritual e o temor do Senhor. É com isto que seremos também cada vez mais misericordiosos, longânimos, benignos, pacientes, perseverantes, sóbrios, moderados, gentis, amorosos, pacificadores, alegres, fiéis, mansos e possuindo tudo o mais que nos torna efetivamente semelhantes a Cristo, como pessoas que amam a Deus e que são por ele amadas, em íntima comunhão espiritual.
Por isso não se afirma nas Escrituras que o Espírito Santo é apenas Espírito de poder, mas também Espírito de amor e de moderação, 2 Tim 1.7.
E mesmo quando se fala de Espírito de poder, o foco não está associado exclusivamente a operações de sinais e maravilhas, mas sobretudo ao poder de moldar o caráter dos crentes, e para instruí-los na verdade e confortá-los na esperança da sua vocação de terem a sua entrada amplamente suprida no reino de Deus, e ele faz isto não com estrépito, mas com brandura e mansidão, Gál 6.1.
“Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo.”, Rom 14.17.
 “e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade.”, Ef 4,23.24.
O poder do Espírito Santo é sobretudo usado para nos convencer do pecado, da justiça e do juízo, de modo que possamos ser conduzidos, pecadores que somos, à conversão.
Por isso nos é ordenado que não vivamos apenas no Espírito, por tê-lo recebido na conversão, mas que andemos em santidade no Espírito, ou seja, que sejamos guiados por ele em todo o nosso comportamento, Gál 5.16.






3 - Cujas Saídas São Desde os Tempos Antigos

“E tu, Belém-Efrata, pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade.” (Miqueias 5.2)

O Senhor Jesus tinha saídas para o seu povo como seu representante diante do trono, muito antes de elas apareceram no palco do tempo. Foi "desde a eternidade" que ele assinou o pacto com seu Pai, que ele pagaria sangue por sangue,  sofrimento por sofrimento, agonia por agonia e morte por morte, no nome de seu povo, e isto foi "desde a eternidade", que ele se entregou por nós sem uma única palavra de murmuração.
Desde o alto da cabeça até a sola do seu pé, ele suou grandes gotas de sangue em sua agonia, e assim ele poderia ser cuspido, perfurado, escarnecido, traspassado, e esmagado sob as dores da morte e não recuaria.
Suas saídas como nosso Fiador foram desde a eternidade. Contemple isto minha alma, e fique maravilhada! Acontecimentos que tu tens diante de ti relativos à pessoa de Jesus "desde a eternidade." Não somente quando nasceste no mundo que Cristo tem te amado, mas se agradou com os filhos dos homens, antes que eles existissem.
Frequentemente ele pensava neles; de eternidade a eternidade ele tinha se afeiçoado a eles.
O quê! minha alma, ele tem sido assim por muito tempo quanto à tua salvação, e ele não vai realizá-la? Será que ele saiu desde a eternidade  para me salvar, e ele vai me perder agora?
O quê! Tem ele me carregado em sua mão, como sua joia preciosa, e agora ele me deixará escorregar por entre os seus dedos? Teria ele me escolhido antes que os montes nascessem, e ele vai me rejeitar agora? Impossível!
Tenho certeza que ele não teria me amado tanto tempo se não tivesse sido um Deus amoroso imutável. Se ele pudesse se cansar de mim, ele teria ficado cansado de mim muito antes de agora. Se ele não tivesse me amado com um amor tão profundo como o inferno, e tão forte como a morte, ele teria se afastado de mim há muito tempo.
Oh, alegria acima de todas as alegrias, saber que eu sou sua herança eterna e inalienável, dada a ele por seu Pai antes da fundação do mundo! O amor eterno será o travesseiro para a minha cabeça esta noite.

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.






4 - A Boa Vontade Perfeita de Deus

Somos incentivados a sermos sinceros suplicantes decididos a receber as graças do Espírito de Deus, porque temos a certeza de que ele está disposto a concedê-las.
Nosso Salvador nos encoraja a fazê-lo, quando usou a  ilustração de um pai, que não pode ir contra a natureza e se livrar de suas afeições para negar atender às necessidades de seu filho, e não lhe dará para a sua subsistência uma pedra em lugar de pão, ou uma serpente no lugar de peixe.
Assim, se o homem que possui uma natureza terrena má, decaída no pecado, se apressa a atender de boa vontade às necessidades de seu filho, quanto mais Deus, que é o Pai perfeitamente amoroso, que possui uma natureza santa e bondosa, jamais deixará de dar o Espírito Santo e as graças do Espírito, àqueles que o desejarem como uma necessidade essencial a ser atendida em suas vidas.
Ainda que por vezes, Deus coloque a nossa busca do Espírito Santo, à prova, parecendo não estar disposto a não concedê-lo a nós, devemos agir como a mulher da parábola do Juiz Iníquo, que insistente e importunamente continuou lhe clamando que julgasse a sua causa com justiça. E a conclusão que nosso Senhor apresenta para esta parábola é a de que, se um juiz ímpio, que não age de bom grado, não deixou de atender àquela mulher pelo motivo de não continuar sendo importunado, diferentemente dele, Deus que tem prazer e boa vontade em nos atender, quando recorremos ao seu Trono de Graça, à busca da justiça eterna para as nossas vidas, justiça pela qual podemos ser transformados à imagem e semelhança de Jesus, jamais deixará de conceder isto àqueles que o buscarem com um coração realmente desejoso de obtê-lo, o que poderão demonstrar pela insistência em pedi-lo até que o tenham recebido.
Não devemos portanto, conceber ou atribuir a Deus qualquer inclinação  para ser indiferente a nós, ou então para agir de má vontade para conosco. A Sua inclinação é sempre para fazer o bem, assim como uma mãe se aplica com cuidado e carinho para alimentar os seus filhos, e para satisfazer todas as suas necessidades, para que sejam saudáveis em tudo.
O Senhor colocou esta inclinação nos pais para que possamos entender por quais sentimentos ele é dirigido na sua relação com os seus filhos.
E assim como os pais terrenos negam a seus filhos aquilo que possa ser prejudicial à sua saúde ou desenvolvimento pessoal, de igual modo nosso Pai celestial agirá em relação a nós, nos negando aquelas coisas que possam enfraquecer ou prejudicar o desenvolvimento do homem interior, que recebemos no novo nascimento (regeneração) do Espírito Santo.
Portanto tudo o que lhe pedirmos com as pirraças do velho homem, não pode estar contemplado na promessa, e seremos por Ele disciplinados, assim como os pais terrenos fazem com seus filhos pirracentos.
Busquemos as coisas do Espírito Santo, o reino de Deus e a sua justiça, e todas as nossas demais necessidades serão atendidas por Deus, na forma de acréscimo àquelas coisas espirituais que devemos buscar em primeiro lugar.

Pr Silvio Dutra






5 - Não Errando o Alvo Proposto

Jesus Cristo não veio a este mundo para morrer no nosso lugar, e continuar intercedendo por nós, e nos concedendo a sua graça, amor e poder, apenas para resolver os nossos problemas cotidianos.
Recorrer a Ele somente nas horas de necessidades decorrentes especialmente de enfermidades, perigos de mortes e dificuldades financeiras ou de qualquer outra natureza temporal, não responde ao propósito de Deus ao nos ter dado um Salvador e Senhor.
Ele veio para dar vida eterna a mortos espirituais.
Veio para nos libertar de nossos pecados e nos tornar participantes da natureza celestial de Deus, que é de santidade.
Se não formos socorridos por Ele quanto a isto, não terá sido então de grande proveito para nós, tudo o mais, porque não estaremos vivendo no centro do propósito divino em relação a nós, quanto à nossa união com Jesus Cristo.
Se lermos a Bíblia sem preconceitos, especialmente as passagens do Novo Testamento que se referem à pessoa e obra de nosso Senhor Jesus Cristo, poderemos constatar por nós mesmos, o que importa buscarmos antes de tudo o mais.

Mat 6:31 Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com que nos vestiremos?
Mat 6:32 Porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas;
Mat 6:33 buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.





6 - A Última Palavra de Cristo na Cruz (reduzido)


Por Charles Haddon Spurgeon

Então Jesus, clamando em alta voz, disse: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito. E havendo dito isso, expirou”. Lucas 23: 46.
Estas foram as palavras de nosso Senhor Jesus Cristo ao morrer: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito”. Poderia ser instrutivo que lhes recordasse que foram sete as palavras de Cristo na cruz. Se denominamos cada um de Seus clamores ou expressões com o título de: “uma palavra”, então falaremos das últimas sete palavras do nosso Senhor Jesus Cristo. Permitam-me repassá-las neste momento:
A primeira palavra, quando o cravaram na cruz, foi: “Pai, perdoa-os, porque não sabem o que fazem”. Lucas preservou esta palavra. Mais tarde, quando um dos ladrões disse a Jesus: “Lembra-te de mim quando entrares no teu reino”, Jesus respondeu: “De certo te digo que hoje estarás comigo no paraíso”. Esta palavra também foi preservada cuidadosamente por Lucas. Mais adiante, estando em grande agonia, nosso Senhor viu Sua mãe, que estava junto à cruz com um coração quebrantado; observou-a com amor e dor indizível, e lhe disse: “Mulher, eis aqui teu filho”; e ao discípulo amado disse: “Eis aqui tua mãe”, e assim forneceu um lugar para ela quando partisse. Esta expressão foi preservada unicamente por João.
A quarta e mais central das sete palavras foi: “Eloi, Eloi, lama sabactani?, que traduzido é: Deus meu, Deus, por que me desamparaste?” Esta foi a culminação de Sua dor, o ponto central de toda Sua agonia. Essa palavra, a mais terrível que jamais brotará de lábios de homens para expressar a quintessência de uma agonia agudíssima, é sabiamente colocada em quarto lugar, como se exigiu de três palavras na vanguarda e de três palavras na retaguarda como suas guarda-costas. Descreve a um homem bom, a um filho de Deus, ao Filho de Deus, desamparado por Seu Deus. Essa palavra no centro das sete se encontra em Mateus e Marcos, mas em Lucas e João não. A quinta palavra foi preservada por João e é: “Tenho sede”, a mais breve, mas, talvez, não a mais incisiva de todas as palavras do Senhor, ainda sob um aspecto corporal, possivelmente seja a mais dilacerante de todas elas. João entesourou também outra palavra preciosa de Jesus Cristo desde a cruz, aquela prodigiosa palavra: “Está consumado”. Essa foi a penúltima palavra: “Está consumado”, o resumo da obra de toda Sua vida, pois não deixava nada pendente, nenhum fio foi retalhado, toda a urdidura da redenção havia sido tecida igual Sua túnica: de cima até embaixo, e consumada a perfeição. Depois que disse: “Está consumado”, pronunciou a última palavra: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito”, que tomei como nosso texto essa noite, pelo qual nos aproximamos de imediato.
Agora, em referência a estas sete palavras da cruz, muitos autores têm extraído delas lições concernentes a sete deveres. Escutem. Quando nosso Senhor disse: “Pai, perdoa-os”, nos disse a nós, Em vigor: “Perdoai vossos inimigos”, mesmo quando abusarem de ti malignamente e te causarem dor terrível, deves estar disposto a perdoá-los. Deves ser como a árvore do sândalo, que perfuma o machado que a derruba. Deves ser muito benevolente, amável e amoroso, e esta deve ser sua oração: “Pai, perdoa-os”.
O seguinte dever é extraído da segunda palavra, e se trata do dever de penitência e da fé em Cristo, pois Ele disse ao ladrão moribundo: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”Você tem confessado seu pecado como ele o fez? Tem sua fé e devoção? Então, você será aceito igual ele foi. Aprenda, então, da segunda palavra, o dever da penitência e da fé.
Quando nosso Senhor, na terceira palavra, disse a Sua mãe: “Mulher, eis aqui teu filho”, nos ensinou o dever do amor filial. Nenhum cristão deve carecer de amor por sua mãe, por seu pai, por aqueles que são seus entes queridos pelas relações que Deus tem estabelecido que nós observássemos. Oh, pelo amor agonizante de Cristo, por Sua mãe, nenhum homem presente aqui deve despojar-se da sua condição de homem ouvindo a sua mãe! Ela te gerou; sustentá-la na velhice, e protegê-la amorosamente até o fim.
A quarta palavra de Jesus Cristo nos ensina o dever de nos agarrarmos a Deus e de confiar nEle: “Deus meu, Deus meu”. Vejam como se apega a Ele com ambas as mãos: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste”? Não pode suportar ser abandonado por Deus; todo o mais lhe causa pouca pena em comparação com a angústia de ser desamparado por Deus. Então, aprenda a agarrar-se a Deus, sujeitar-se a Ele com as mãos da fé, se pensas que Ele tem te desamparado, clama a Ele, e Lhe diz: “Faz-me compreender por que contendes comigo, pois não posso suportar estar sem Ti”.
A quinta palavra, “Tenho sede”, nos ensina a valorizar altamente o cumprimento da Palavra de Deus. “Depois disto, sabendo Jesus que já estava tudo consumado, disse, para que a Escritura se cumpra: Tenho sede”. Preste muita atenção, em toda Sua dor e debilidade, a preservar a Palavra de Deus, a obedecer ao preceito, a aprender a doutrina e a deleitar-se na promessa. Assim como o Senhor, em Sua grande angústia disse: “Tenho sede”, porque estava escrito que Ele diria isso, você tem que ter em consideração a Palavra de Deus, inclusive nas pequenas coisas.
A sexta palavra, “Está consumado”, no ensina obediência perfeita. Agarre-se ao cumprimento do mandamento de Deus; não deixe de fora nenhum mandamento, e siga obedecendo até que possa dizer: “Está consumado”. Faz a obra de sua vida, obedeça seu Mestre, sofra ou sirva de acordo com a Sua vontade, mas não descanse até que possa dizer com teu Senhor: “Está consumado. Eu acabei a obra que disseste para fazer.”
E a última palavra. “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”, nos ensina renúncia. Entregue todas as coisas, entregue inclusive seu espírito a Deus e a Seu mandato. Mantenha-se quieto e submeta-se plenamente ao Senhor, e que essa seja sua disposição do princípio ao fim: “Em tuas mãos, meu Pai, entrego meu espírito”.
Eu penso que esse estudo das últimas palavras de Cristo deveria interessá-los; portanto, permitam-me demorar um pouco mais no tema. Essas sete palavras da cruz nos ensinam também algo acerca dos atributos e ofícios do nosso Senhor. São sete janelas de ágatas e portões de cárbunculos³ através das quais podem vê-Lo e achegar-se a Ele.
Primeiro, você quer vê-Lo como Intercessor? Então, Ele clama: “Pai, perdoa-os, porque não sabem o que fazem”. Querem contemplá-lo como Rei? Então, olhe Sua segunda palavra: “Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso”. Quer identificá-lo como um ternoGuardião? Olhem-no dizer a Maria: “Mulher, eis aqui teu filho”, e a João: “Eis aqui tua mãe”. Querem espionar dentro do abismo profundo das agonias de Sua alma? Olhem-no clamar: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste”? Quer entender a realidade e a intensidade de Seus sofrimentos corporais? Então, olhem-no dizer: “Tenho sede”, pois há algo diferente na tortura da sede quando essa é provocada pela febre das feridas sangrentas. Os homens que têm perdido muito sangue no campo da batalha são devorados pela sede, e nos comentam que é a pior de todas as torturas. “Tenho sede”, disse Jesus. Contemple o Sofrimento no corpo, e entenda como Ele pode identificar-se com quem sofre, já que sofreu tanto na cruz.
Quer vê-lo como o Consumador de sua salvação? Então, escute seu clamor: “Consummatum est”, “Está consumado”. Oh, que nota tão gloriosa! Aqui você vê o bendito Consumador de sua fé. E, claro, quer dar mais uma olhada e entender quão voluntário foi Seu sofrimento? Então, olhem-no dizer, não como alguém que tem sua vida roubada, mas como alguém que toma Sua alma e a entrega para a custódia do outro: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito”.
Por acaso não há muito a aprender dessas palavras da cruz? Certamente estas sete notas constituem uma assombrosa escala musical, se nós soubermos como escutá-las. Permitam-me recorrer à escala novamente. Aqui, primeiro, têm a comunhão de Cristo com os homens: “Pai, perdoa-os”. Ele está junto dos pecadores e tenta fazer uma apologia a favor deles. “Não sabem o que fazem”. Aqui temos, continuando, Seu poder de Rei. Ele abre largamente as portas do céu para o ladrão moribundo, e o faz passar. “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”. Em terceiro lugar, contemplem Sua relação humana. Ele é nosso parente mui próximo! “Mulher, eis aqui teu filho”. Recordem como disse: “Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, e irmã, e mãe”. Ele é osso dos nossos ossos e carne da nossa carne. Ele pertence à família humana. É mais homem que qualquer homem. Tão certamente como Deus é Deus verdadeiro, Ele é também homem muito verdadeiro, tomando para Si a natureza, não somente de judeu, mas também de gentio. Pertencendo a Sua própria nacionalidade, mas elevando-se acima de todas, Ele é o Homem dos homens, o Filho do Homem.
Vejam-No, em seguida, removendo nosso pecado. Vocês se perguntarão: “Qual nota é essa?” Bem, todas elas são para tal efeito; mas está o é principalmente: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste”? Foi porque Ele mesmo levou nossos pecados em Seu corpo, sobre o madeiro, que foi desamparado por Deus. “Eloi, Eloi, lama sabctani” Contemplem-no, em sua quinta palavra: “Tenho sede”, tomando, não apenas nosso pecado, mas também nossa debilidade e todo o sofrimento de nossa natureza corporal. Então, se vocês querem ver Sua plenitude, assim como Sua debilidade, e se querem ver Sua suficiência em tudo, assim como também Sua aflição, ouçam-no exclamar: “Está consumado”. Que plenitude maravilhosa há nessa nota! Toda a redenção está cumprida, toda ela está completa; toda ela é perfeita. Nada permaneceu pendente, nem uma só gota de amargura na taça do fel; Jesus bebeu até a última gota dela.  Nem meia nota deve ser somada ao preço do resgate; Jesus pagou por tudo. Contemplem Sua plenitude no clamor:
“Está consumado”. E, logo, se vocês querem ver como Ele nos têm reconciliado com Deus, contemplem-no: o Varão se fez maldição por nós, retornando a Seu Pai com uma benção, e levando-nos com Ele, quando leva todos nós ao alto por essa última palavra amada: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito”.
“Agora a Fiança e o pecador estão livres”.
Cristo retorna ao Pai, pois: “Está consumado”, e vocês e eu vamos ao Pai por meio de Sua obra perfeita.
Só tenho praticado duas ou três músicas que podem ser tocadas com esta harpa, mas é um instrumento maravilhoso. Se não fosse uma harpa de dez cordas, seria, de qualquer maneira, um instrumento de sete cordas, e nem o tempo nem a eternidade seriam capazes de extrair jamais toda a música. Essas sete palavras agonizantes do Cristo sempre vivo tocarão para nós a melodia na glória ao longo de todas as idades da eternidade.
Agora vou pedir sua atenção por um breve tempo no mesmo texto: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito”. Vê aí nosso Senhor? Mesmo morrendo, Seu rosto olha para o homem. Sua última palavra para o homem é este clamor: “Está consumado”. Poderia se encontrar uma palavra mais seleta com a qual Ele poderia dizer-te “Adieu” (Adeus) na hora da morte? Ele te disse que não há de temer que Sua obra seja imperfeita, que não tem de tremer porque poderia resultar em algo insuficiente. Ele fala e lhe declara com Sua palavra agonizante: “Está consumado”.
Agora que terminou de falar contigo, volta Seu rosto para outra direção. Pense nessas palavras, e que possam ser também suas primeiras palavras quando retornou para Seu Pai! Que você possa falar assim ao teu Pai Divino na hora da morte! Elas costumavam ser expressas em latim pelos moribundos: “In manus tuas, Domine, commendo spiritum meum”. (Senhor, em tuas mãos entrego meu espírito). Todo moribundo costumava tentar dizer estas palavras em latim, e se não o fazia, alguém tratava de dizê-las por ele. Foram convertidas em uma espécie de feitiço de feiticeira; e assim, em latim perderam essa doçura para nossos ouvidos, mas no idioma inglês sempre serão como a própria essência da música para um santo moribundo: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito”.
É digno de advertir-se que as últimas palavras que nosso Senhor expressou, foram tomadas das Escrituras. Esta frase é tomada – e me atrevo a dizer que a maioria de vocês o sabe – do Salmo 31, do versículo cinco. Jesus não era daqueles que tem pouca consideração pela Palavra de Deus. Estava saturado dela. Estava tão cheio da Escritura como a lã de Gideão estava cheia de orvalho. Não podia falar, nem sequer em Sua morte, sem citar a Escritura. Assim é como Davi o expressou: “Em tuas mãos entrego meu espírito; tu me tens redimido, oh Jeová, Deus de verdade”.
Agora, amados, o Salvador alterou essa passagem, pois do contrário não se haveria adequado a Ele. Vocês vem que primeiro Ele foi obrigado a agregar-lhe algo, a fim de que se adequasse ao Seu próprio caso? Que foi o que lhe agregou? Pois bem, essa palavra: “Pai”. Davi disse: “Em tuas mãos entrego meu espírito”; mas Jesus disse: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito”. É um avanço abençoado! Ele sabia mais do que Davi sabia, pois Ele era mais Filho de Deus do que Davi poderia ser. Ele era o Filho de Deus em um sentido mui excelso e especial por filiação eterna; e assim começou a oração com: “Pai”. Mas logo ocultou algo. Era necessário que o fizesse. Pois Davi disse: “Em tuas mãos entrego meu espírito, tu tens me redimido”. Nosso bendito Mestre não foi redimido, pois Ele é o Redentor, e poderia ter dito: “Em tuas mãos entrego meu espírito, pois redimi meu povo”, mas decidiu não dizer isso. Ele simplesmente tomou aquela parte que se lhe adequava, e a usou como Sua: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito”.
Oh, meus irmãos, vocês não fariam nada melhor, depois de tudo, que citar a Escritura, especialmente em oração. Não há orações tão boas como aquelas que estão saturadas da palavra de Deus. Que toda nossa conversação estivesse temperada com textos! Eu desejaria que estivessem mais. Nós riamos de nossos antepassados puritanos porque os próprios nomes de seus filhos eram selecionados de passagens da Escritura, mas eu, de minha parte, preferiria que rissem de mim por falar muito da Escritura do que por falar tanto de novelas sem nenhum valor, romances com os quais – me envergonho dizer – são preenchidos muitos sermões de nossos dias, sim, preenchidos por novelas que não são aptas para serem lidas por homens decentes e que estão revestidas de tal maneira, que dificilmente se sabe se você está ouvindo acerca de um feito histórico ou unicamente de uma peça de ficção cientifica. Livra-nos, bom Deus, de tal abominação.
Podem ver, então, quão bem o Salvador usou a Escritura, e como, desde Sua primeira batalha com o diabo no deserto até Sua última luta com a morte na cruz, Sua arma sempre foi: “Está escrito”.
Agora chego ao próprio texto, e vou pregar sobre ele somente por um breve espaço de tempo. Ao fazê-lo, aprendamos a doutrina da última palavra na cruz, em segundo lugar, cumpramos o dever, e, em terceiro lugar, desfrutemos do privilégio.
I. Primeiro, APRENDAMOS A DOUTRINA da última palavra do nosso Senhor na cruz.
Qual é a doutrina dessa última palavra do nosso Senhor Jesus Cristo? “Deus é Seu Pai, e Deus é nosso Pai”, pois o Pai é o Pai de Cristo em um sentido mais excelso do que é nosso Pai; contudo, Ele não é mais verdadeiramente Pai de Cristo do que é nosso Pai, se temos crido em Jesus “Todos são filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus”. Jesus disse a Maria Madalena: “Subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus”. Creiam na doutrina da Paternidade de Deus quanto a Seu povo. Tal como lhes adverti antes, abominem a doutrina da paternidade universal de Deus, pois é uma mentira e um profundo engano.
Primeiro, ela acerta punhaladas no coração da doutrina da adoção ensinada na Escritura, pois, como pode Deus adotar aos homens, se todos já são seus filhos? Em segundo lugar, acerta punhaladas no coração da doutrina da regeneração, que é certamente ensinada na palavra de Deus. Agora, é pela regeneração e pela fé que nos convertemos em filhos de Deus, mas, como poderia ser se já somos todos seus filhos? “Para todos os que o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes poder de se tornarem filhos de Deus, que não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus“.  Como poderia Deus dar aos homens o poder de torná-los Seus filhos se já tinham esse poder? Não creiam nessa mentira do diabo,  mas antes, creiam na verdade de Deus: que Cristo e todos os que estão em Cristo mediante uma fé viva, podem regozijar-se na Paternidade de Deus.
Continuando, vocês devem aprender essa doutrina: que neste fato reside nosso principal consolo. Em nossa hora de tribulação, em nosso tempo de guerra, devemos dizer: “Pai”. Notem que a primeira palavra da cruz é semelhante à última; a nota mais alta é como a mais baixa. Jesus começa com: “Pai, perdoa-os”, e conclui com: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito” Peçam ajuda em qualquer dever rigoroso, clamando: “Pai”. Para receber ajuda num sofrimento agudo e na morte, clamem: “Pai”. Sua força principal reside em ser verdadeiramente um filho de Deus.
Aprendam a seguinte doutrina, que morrer é ir para a casa de nosso Pai. Não faz muito tempo, disse a um velho amigo: “O velho senhor ‘Fulano de Tal’ foi para a casa”. Quis dizer que havia morrido. Ele comentou: “Sim, onde mais haveria de ir?” Quando nossos cabelos envelhecem e nosso labor do dia está cumprido, para onde iríamos senão para casa? Então, quando Cristo disse: “Está consumado”, Sua palavra seguinte é, claro: “Pai”. Ele concluiu Sua vida terrena, e agora irá para a casa no céu. Assim como um filho corre ao peito de sua mãe quando está cansado e quer dormir, assim Cristo disse: “Pai”, antes de adormecer na morte.
Aprendam esta doutrina: que se Deus é nosso Pai, e nós consideramos como ir para casa quando morrermos porque vamos a Ele, então, Ele nos receberá. Não há nenhuma insinuação de que podemos entregar nosso espírito a Deus, e que, contudo, Ele não nos receberá. Recordem como Estevão clamou sob uma chuva de pedras: “Senhor Jesus, recebe meu espírito”. De qualquer maneira que morremos, temos de fazer dessa nossa última emoção ainda que não seja nossa última expressão: “Pai, recebe meu espírito”. Não receberá nosso Pai celestial a Seus filhos? Se vocês, sendo maus, recebem a seus filhos ao cair da noite quando voltam para casa para dormir, seu Pai que está no céu não o receberá quando seu dia de labuta esteja concluído? Essa é a doutrina que temos que aprender desta última palavra da cruz: a Paternidade de Deus e tudo o que provém dela para os crentes.
II. Em segundo lugar, CUMPRAMOS COM O DEVER.
Esse dever me parece que é, primeiro, a renúncia. Sempre que algo lhes turbar e alarmar, submetam-se a Deus. Digam: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito”. Cantem com Faber:
“Eu me inclino à Tua vontade, oh Deus,
E adoro todos os Teus caminhos;
E cada dia que eu viver buscarei
Agradar-te mais e mais”.
Continuando, aprendam o dever da oração. Quando vocês estão mergulhados em dor, quando estão rodeados por amargas aflições, tanto da mente como do corpo, sigam orando. Não abandonem o “Pai Nosso”. Não permitam que seus choros sejam dirigidos ao vento; não permitam que seus gemidos sejam antes ao médico ou sua enfermeira, mas vocês devem clamar: “Pai”. Por acaso o menino não clama que se perdeu no caminho? Se ele estiver escuro na noite, e se desperta em uma habitação solitária, não grita: “Pai”; e por acaso o coração de um pai não é comovido por esse grito? Há alguém aqui que nunca tenha clamado a Deus? Há alguém aqui que nunca tenha dito: “Pai”? Então, meu Pai, ponha Teu amor em seus corações, e os conduza a dizer esta noite:“Me levantarei e irei a meu Pai”. Você será reconhecido como filho de Deus se ressoar esse clamor em seu coração e em seus lábios.
O seguinte dever é nossa entrega a Deus pela fé. Entreguem-se a Deus, confiem em Deus. Cada manhã, quando se levantarem, tomem e ponham-se debaixo da custódia de Deus; encerrem-se, por assim dizer, no cofre da proteção divina; e cada noite, quando você tirar a chave da casa, antes de deitar-se para dormir, feche-a com a chave novamente, e ponham a chave na mão d’Aquele que é capaz de guardá-los quando a imagem da morte estiver em seu rosto. Antes de seu sonho, entreguem-se a Deus; quero dizer, façam isso quando não há nada que os aterrorize, quando tudo está tranquilo, quando o vento sopra suavemente do sul, e o barco se aproxima velozmente ao porto desejado, não se tranquilizem com sua própria tranquilidade. O que corta a carne por si mesmo, cortará os dedos e ainda terá um prato vazio. O que deixa que Deus trinche a carne por ele verá frequentemente espessos tutanos apresentados diante de si. Se puder confiar, Deus recompensará tua confiança de uma maneira que ainda não conheces.
E logo cumpram outro dever, o da experimentação contínua e pessoal da presença de Deus. “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito”. “Tu estas aqui, eu sei que estas aqui. Percebo que estás aqui no tempo da aflição, e de perigo, e me ponho em Tuas mãos. Da mesma maneira que se alguém me atacasse, eu me entregaria à proteção de um policial, ou de um soldado, assim me entrego a Ti, Guardião invisível da noite, a ti, incansável Guarda do dia. Tu cobrirás minha cabeça no dia da batalha. Debaixo das tuas asas confiarei como um pintinho se esconde debaixo da galinha”.
Observe, então, seus deveres. Consiste em submeter-se a Deus, em orar a Deus, em entregar-se a Deus, e descansar graças a sentir a presença de Deus. Que o Espírito de Deus te ajude na prática de tais deveres inestimáveis como estes!
III. Agora, por último, DEVEMOS GOZAR DO PRIVILÉGIO.
Primeiro, devemos gozar do excelso privilégio de descansar em Deus em todos os tempos de perigo de dor. O doutor acaba de anunciar que você terá que sofrer uma operação. Diga: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito”. Existe toda a probabilidade de que essa sua debilidade, ou essa sua enfermidade, se agravará, e que imediatamente terás de repousar na cama, e permanecer ali, talvez, durante muitos dias. Então, diga: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito”. Não te agonies, pois isso não lhe ajudará. Entrega-te a Deus – é privilégio seu fazê-lo – para que seja guardado por essas amadas mãos que foram perfuradas por ti, para que sejas entregue ao amor desse amado coração que foi aberto pela lança para comprar tua redenção. É PORTENTOSO o descanso do espírito que Deus pode proporcionar ao homem ou a mulher que se encontram na pior condição. Oh, como alguns dos mártires cantaram na fogueira! Como se regozijaram sobre o poço de tormento! A carvoeira de Bonner, do outro lado da água, em Fulham, onde deixavam os mártires, era um lugar infeliz para estar numa noite de frio no inverno; mas nos é informado que: “eles se animavam na palha, quando estavam na carvoeira; com o canto mais doce proveniente do céu, e quando Bonner lhes dizia: “Que vergonha que façam tanto barulho”!, eles lhe responderam que ele também faria barulho semelhante se estivesse feliz como eles estavam”. Quando confiar seu espírito a Deus, então você poderá gozar de um doce descanso em tempos de perigo e de dor.
O seguinte privilégio é o de uma confiança valorosa no momento da morte, ou diante do temor da morte. Fui conduzido a refletir sobre este texto, utilizando-o muitas vezes na noite de quinta-feira passada. Talvez nenhum de vocês esquecerá a noite de quinta-feira passada. Eu penso que nunca a esquecerei, ainda que chegue a ser tão velho como Matusalém. Daqui até que chegasse em casa, parecia que ia no meio de uma cortina de fogo, e quanto mais avançava, mais vívidos se tornavam os relâmpagos; mas quando finalmente cheguei próximo a Leigham Court Road, então os raios pareciam descer em barras do céu; e por fim, quando alcancei a última colina, se produziu um estrondo do tipo mais horripilante, e caiu uma torrente de granizo, pedras de granizo que não tentarei descrever, pois poderiam pensar que exagero, e então senti, e meu amigo sentiu o mesmo, que dificilmente poderíamos chegar vivos em casa. Encontramos-nos ali no próprio centro e no ápice da tormenta. Por todos os lados ao redor de nós, e por assim dizer, dentro de nós, não se via outra coisa que o fluído elétrico; e a destra de Deus parecia desnuda para a guerra. Eu pensei então: “Bem, agora mui provavelmente irei para casa”, e entreguei meu espírito a Deus; e a partir daquele momento, ainda que não pudesse dizer que sentia prazer com os estrondos dos trovões e os clarões dos raios, me senti tão tranquilo como me sinto aqui nesse momento; talvez estava um pouco mais tranquilo do que me sinto na presença de tantas pessoas, pois me sentia feliz ao pensar que, em um instante, poderia entender mais que tudo o que poderia aprender na terra, e ver num instante mais do poderia esperar ver se vivesse aqui durante um século. Eu somente podia dizer a meu amigo: “Entreguemo-nos a Deus, sabemos que estamos cumprindo com nosso dever ao seguir adiante como o estamos fazendo, e tudo estará bem para nós”. Então, só podíamos regozijar juntos diante da perspectiva de estarmos de imediato com Deus. Não fomos levados para a casa no carro de fogo; nos foi permitido seguir um pouco mais de tempo com a obra de nossa vida; mas experimentei a doçura de ser capaz de concluir com tudo, de não ter nenhum desejo, nenhuma vontade, nenhuma palavra, escassamente uma oração, e de somente elevar nosso coração e entregá-lo ao grandioso Guarda, dizendo: “Pai, cuida de mim. Debaixo do Teu cuidado hei de viver, e debaixo do Teu cuidado hei de dormir. A partir desse momento não tenho desejo de nada, há de ser como Tu queres. “Em tuas mãos entrego meu espírito”.
Este privilégio não consiste unicamente em ter descanso no perigo e confiança diante da perspectiva da morte; está cheio também de gozo consumado. Amados, se soubéssemos como entregar-nos nas mãos de Deus, que lugar é para que estejamos ali! Que lugar para estar ali; nas mãos de Deus! Há miríades de estrelas; até o próprio universo; a mão de Deus sustém todos os seus pilares eternos, e não caem. Se nos colocamos nas mãos de Deus, chegamos onde todas as coisas se apoiam, e temos um lar e felicidade. Saímos do nada da criatura e entramos na suficiência do Criador para tudo. Oh, ponham-se ali, apressem-se para estar ali, queridos amigos, e a partir de agora, vivam nas mãos de Deus!
“Está consumado“. Vocês não concluíram, mas Cristo o fez. Tudo está consumado. O que terão de fazer será unicamente executar o que Ele já consumou para vocês, e mostrá-lo aos filhos dos homens em suas vidas. E posto que tudo está consumado, digam: “Agora, Pai, volto-me para Ti. Minha vida a partir de agora será estar em Ti. Meu gozo será nada na presença do Tudo em todos, morrer para entrar na vida eterna; fundir meu ego a Jeová, e deixar que minha humanidade, que minha condição de criatura viva unicamente para seu Criador, e manifeste unicamente a glória do Criador”. Oh, amados, terminem esta noite e comecem amanhã de manhã com: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito“. O Senhor esteja com todos vocês! Oh, se você nunca orou, que Deus te ajude a orar agora, por Jesus Cristo nosso Senhor! Amém.






7 - O Plano é Perfeito Embora Sejamos Imperfeitos

Muitos pensam que Deus errou ao ter criado o homem, porque a perfeição moral original que existiu no primeiro casal foi perdida, e a maior parte da humanidade tem sempre sido desobediente a Deus e aos Seus mandamentos.
Como um Deus perfeito e Todo-Poderoso criaria seres que poderiam vir a se tornar imperfeitos?
Primeiro os anjos que caíram juntamente com Satanás, transformando-se em demônios, e depois o homem na terra, que passou a ser pecador.
Todavia, a queda no pecado, que conduz a um viver contrário ao de Deus, e à não subordinação à Sua vontade, comprova, por si só, que o Criador deu à criatura moral a liberdade de escolher o seu destino, de imitá-lO ou não, de amá-lO ou não, de servi-lO ou o contrário, enfim, de caminhar rumo à perfeição, ou à destruição.
No que tange à humanidade, que foi totalmente encerrada no pecado, isto ensejou que Deus pudesse manifestar a grandeza do Seu amor, misericórdia e perdão, que tem estendido a todos, sem qualquer exceção, que se arrependem desta condição de escravidão ao pecado, para serem libertados e reconciliados com Ele por meio da fé em Jesus.  

O amor e a misericórdia de Deus não são meros sentimentos de empatia e compaixão por seres que se tornaram de nenhum valor para ele, e que viviam somente para os seus próprios prazeres egoístas, indiferentes à Sua Pessoa e vontade, e agindo como seus inimigos.
A extensão disto não pode ser avaliada por nenhum de nós, senão somente pelo próprio Senhor, cujo julgamento e conhecimento do estado do nosso coração são perfeitos.
Contudo, podemos deduzir por nossos sentimentos, imaginações, ações e pensamentos o quanto estamos longe da santidade, bondade, amor, misericórdia, justiça e todos os demais atributos infinitos e perfeitos de Deus, o quão distante estamos de ser aquilo que Ele é  em Sua própria natureza.
Desde que o pecado entrou no mundo todos os homens ficaram desprovidos da graça de Deus.
Esta é a razão de estarem caídos diante dEle.
Somente pela graça de Jesus é que poderão ser levantados e permanecerem firmes em Sua presença pela mesma graça que os levantou.
Mas tendo encerrado a todos debaixo da desobediência, Deus revelou qual era o Seu propósito de usar de misericórdia com todos, e demonstrou fartamente tanto a anjos quanto a homens o quanto é um Deus misericordioso.
Ele demonstrou com isto que não é bom somente para com aqueles que são perfeitos como Ele, mas para com todos os que desejam obedecer-Lhe, fazer Sua vontade e viver para Ele, ou seja, viverem  segundo o propósito para o qual foram criados.
Vemos portanto que não houve qualquer falha em Deus ou no Seu plano eterno de criar o homem para ser conforme à Sua própria imagem e semelhança.
Os que não buscam isto não frustram o plano da criação, porque Deus sabia desde o princípio que entre seres criados para serem livres, não seriam poucos os que escolheriam viver em escravidão à própria vontade e à dos inimigos da santidade de Deus.
Por outro lado, sabia também que seriam muitos, conforme se declara na Bíblia, que seriam pela verdade eterna que foi manifestada na pessoa de Jesus.






8 - Não Havia o Mal no Princípio, na Criação

É muito incomum que as pessoas deem a devida consideração ao fato de que no princípio da criação não havia no primeiro casal que habitou o planeta, qualquer falha, impureza ou rebelião, conforme o testemunho das Escrituras.
Todavia, é de vital importância disso ter consciência porque, senão, se torna muito difícil para o homem pecador, conceber a idéia de que fora criado para ser perfeito, e sobretudo perfeito com a mesma santidade que existe em Deus, por participação direta da sua natureza divina.
Como há em todo homem, desde a queda de Adão, uma tendência em sua natureza para o mal, e se comportar de um modo que Deus até mesmo abomina, dificilmente alguém será livrado de tal condição, enquanto não reconhecer seu pecado e a real necessidade de libertação, e para isto necessitará do convencimento do pecado que é operado pelo Espírito Santo, para ser levado ao arrependimento que conduz à salvação.
Quando se mantém no esquecimento a verdade de que Deus criou o homem perfeito no princípio, é muito comum que se veja o homem se consentindo padrões de pensamento e de comportamento totalmente contrários a tudo quanto Deus havia planejado.
Contingentes imensos são conduzidos diariamente para o inferno, por causa da desconsideração desta verdade de que fomos criados para sermos perfeitos em santidade.
A negligência para com a nossa principal necessidade nos levará a não recorrer ao único remédio que pode nos curar do mal do pecado, a saber, o arrependimento e a fé em Jesus Cristo.
A fé nos levará a viver em união vital e espiritual com Ele, e é por meio desta união que seremos conduzidos à plena restauração, a qual começa aqui neste mundo, e que será perfeita no céu.
É necessário ter o início deste trabalho de santificação operando aqui na terra, para que possamos ter a certeza de que fomos salvos e de que seremos restaurados até a plena conformidade com o próprio Senhor Jesus Cristo, porque, afinal, fomos criados para a perfeição, sem qualquer pecado.






9 - O Objetivo de Deus na Criação do Mundo

Por Jonathan Edwards

Ao conferir à criatura uma semelhança cada vez maior a Deus, este faz de si mesmo a causa primária e o fim supremo

Ainda resta considerarmos que o objetivo de Deus na criação do mundo, o fim último que tinha em vista, era a comunicação de si mesmo, intentada por ele por toda a eternidade [desde a criação e para sempre no futuro]. E, se observarmos com atenção a natureza e as circunstâncias dessa emanação eterna de bem divino, ficará mais claro DE QUE MODO, ao fazer desse o seu fim, Deus demonstra uma reverência suprema por si mesmo e faz de si mesmo o seu fim.

Diversos motivos nos permitem crer que o objetivo de Deus numa comunicação progressiva de si mesmo ao longo da eternidade é o conhecimento crescente de Deus, o amor por ele e a alegria nele. É importante considerar, ainda, que, quanto mais essas comunicações divinas se multiplicam na criatura, mais esta se une a Deus, pois, quanto mais ela é unida a Deus em amor, mais o seu coração é atraído para Deus, mais firme e íntima se torna a união com ele e, ao mesmo tempo, mais conforme a Deus a criatura se torna. A imagem é cada vez mais perfeita, de modo que o bem que se encontra na criatura se aproxima eternamente de uma identidade com o que há em Deus. Assim, na visão de Deus, que tem diante de si um vasto panorama de união e conformidade crescentes ao longo da eternidade, a proximidade, a conformidade e a unidade devem ser infinitamente íntimas e perfeitas, pois se aproximarão de modo crescente e eterno da exatidão e perfeição da união que existe entre o Pai e o Filho.45 Portanto, aos olhos de Deus, que vê perfeitamente a totalidade do processo no seu progresso e crescimento infinitos, trata-se de uma resposta clara ao pedido de Cristo em João 17.21,23. "Afim de que todos sejam UM; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós;... eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na UNIDADE".

Conforme esse conceito, as criaturas eleitas - que devem ser tidas como o fim de todo o restante da criação, consideradas com respeito à totalidade da sua duração eterna e, como tal, transformadas no fim pretendido por Deus - também devem ser vistas em união com Deus. Elas foram reverenciadas ao serem levadas para o lar divino, unidas com Deus, centradas nele com perfeição, como se absorvidas nele, de modo que a reverência de Deus por elas finalmente coincidiu e se tornou a mesma coisa que a sua reverência por si mesmo. O interesse da criatura é, por assim dizer, o próprio interesse de Deus, proporcional ao grau do seu relacionamento e união com Deus.

Assim, o interesse de um homem pela família é considerado a mesma coisa que o próprio interesse, em razão do relacionamento da família com ele, da honradez dele para com seus familiares e da união íntima destes com ele.46 Porém, as criaturas eleitas de Deus, no tocante à sua duração eterna, são infinitamente mais preciosas para Deus do que a família de um homem o é para ele. O que foi dito mostra que todas as coisas vêm de Deus, aquele que é sua causa primária e origem; assim, todas as coisas pendem para ele e, em seu progresso, se aproximam cada vez mais dele por toda a eternidade, comprovando que ele é a causa primária e o fim supremo.







10 - Por Que Deus Criou?

Por Jonathan Edwards

Deus estava perfeitamente satisfeito em si mesmo, mas sentiu alegria em criar.

Se Deus visou a algum fim último na criação do mundo, também visou, de algum modo, a um propósito futuro e destinado a ser cumprido pela criação do mundo, algo agradável à sua inclinação ou vontade, quer a sua própria glória, quer a felicidade de suas criaturas ou outra coisa. Se existe algo que Deus busque porque isso lhe é grato [isto é, agradável], ele se satisfaz na realização de tal coisa. Se o fim último visado por ele na criação do mundo é, de fato, algo que lhe é grato [isto é, agradável] (como sem dúvida é o caso, se consiste no seu fim e no objeto de sua vontade), também é aquilo em que ele verdadeiramente se deleita e em que tem prazer. Porém, de acordo com o argumento da objeção, como é possível Deus ter algo futuro a desejar ou buscar, se ele se encontra perfeita, eterna e imutavelmente satisfeito em si mesmo? O que ainda resta para ele se deleitar ou encontrar satisfação ainda maior, tendo em vista que o seu deleite eterno e imutável se encontra nele e ele é o objeto completo do seu prazer? O opositor se verá, desse modo, pressionado por sua objeção; que aceite, então, qualquer conceito que lhe aprouver acerca do fim de Deus na criação. Creio, porém, que não lhe resta outro modo de responder senão aquele apresentado neste livro.

Assim, talvez caiba aqui uma observação. Qualquer que seja o fim último de Deus, esse fim deve ser algo em que ele tem prazer real e perfeito. Qualquer que seja o objeto verdadeiro da vontade divina, Deus se satisfaz [nele]. E esse objeto é grato [isto é, agradável] a Deus em si mesmo ou para algo que Deus deseja usá-lo, um fim ulterior igualmente agradável. Porém, qualquer que seja o fim último de Deus, é algo que ele deseja em si mesmo, algo que lhe é grato [isto é, agradável] de per si ou em que ele tem certo grau de prazer verdadeiro e perfeito. De outro modo, devemos negar que Deus possua qualquer coisa semelhante à vontade em relação àquilo que ele realiza no tempo e, portanto, também devemos negar que a obra da criação ou qualquer obra da sua providência são atos verdadeiramente voluntários.

No entanto, temos motivos para supor que as obras de Deus na criação e no governo do mundo são, inequivocamente, frutos da sua vontade e do seu entendimento. E, se há algo em Deus correspondente àquilo a que nos referimos como atos de vontade, ele não permanece indiferente ao cumprimento ou descumprimento da sua vontade. E, se Deus tem prazer real em ver a realização de um fim objetivado por ele, essa realização diz respeito, então, à sua felicidade, àquilo de que consiste, em maior ou menor grau, o deleite ou prazer de Deus. Supor que Deus tem prazer nas coisas que realiza no tempo apenas no nível metafórico e figurativo é o mesmo que supor que ele exerce a sua vontade sobre essas coisas e faz delas o seu fim apenas metaforicamente.







11 - Compreendendo o Significado da Nossa Existência Pela Perspectiva Correta

A compreensão do propósito para o qual fomos criados por Deus, e do verdadeiro significado de nossas vidas, depende de que o vejamos pela perspectiva correta, ou seja, pela do espírito eterno que nos foi dado, por termos sidos criados à Sua imagem e semelhança.
Assim, quando um ente querido morre podemos ficar cheios de saudade e até mesmo de tristeza pela ruptura momentânea da companhia que desfrutávamos aqui na Terra.
Porém, isto não significa de modo algum, para aqueles que atendem ao propósito da criação da humanidade por Deus, uma ruptura dos laços de amor e união, que são eternos, e prosseguirão portanto, pela eternidade afora, quando todos estivermos reunidos com Ele no céu.
Assim, juntamos às nossas saudades e tristezas a grande alegria e certeza da esperança de que a morte não passa na verdade de um até breve querido (a).
Seria cruel, se a existência de seres conscientes, que possuem o conhecimento do que seja a vida e a morte, se limitasse apenas ao curto período de vida que temos neste mundo. Mas, como amamos a um Deus que não é cruel, senão perfeito amor, podemos estar certos da Sua fidelidade em cumprir todas as boas promessas que nos fez por estarmos unidos a Jesus Cristo.
As tribulações e perdas que experimentamos deste outro lado do céu não são motivo para descrermos na bondade e amor do Senhor. Ao contrário, é justamente por meio delas que prova o Seu grande amor e misericórdia para conosco, porque em meio a elas, nos fortalece com a Sua graça e nos dá a certeza da Sua sempre presença conosco em toda e qualquer circunstância, e o melhor de tudo, faz com que nisto a nossa fé nEle seja aperfeiçoada, e o nosso caráter é melhorado a cada tentação e provação que são vencidas pelo poder de Jesus Cristo, que opera em nós por meio do Espírito Santo.
Nós podemos ver isto, por exemplo na vida do profeta Jeremias,que quando se encontrava ainda preso no pátio da guarda, por ordem do rei Zedequias, e mesmo ali, encarcerado, o Senhor continuou lhe dando as grandes e preciosas revelações e promessas relativas à Nova Aliança (Jeremias 33).
Ele encorajou o Seu profeta a não ficar intimidado pelas circunstâncias em que se encontrava, mas que continuasse na Sua presença, clamando a Ele, porque lhe responderia ao clamor e lhe anunciaria, ou seja, lhe revelaria as coisas grandes e ocultas relativas ao futuro glorioso do Seu povo, que Jeremias ainda não conhecia, e que não se cumpririam nos seus dias de vida na Terra.
Jerusalém estava sendo invadida pelos babilônios, mas o Senhor ainda faria com os judeus, no futuro, tudo o que está escrito a partir do verso 6, no qual afirma o seguinte:

“Eis que lhe trarei a ela saúde e cura, e os sararei, e lhes manifestarei abundância de paz e de segurança.” (v. 6)

Deus formou Israel para ser um povo santo, e Ele teria este povo santo, quando lhes desse o Messias, porque não somente faria com que voltassem do exílio em Babilônia, mas os edificaria, purificando-lhes de toda a iniquidade do seu pecado contra Ele, e perdoaria todas as suas iniquidades com que haviam pecado e transgredido contra Ele, conforme promessa que já havia feito através do profeta em Jer 31.27-34.
Jerusalém serviria então, conforme a vocação que lhe fora dada por Deus, de nome de júbilo, de louvor e de glória diante de todas as nações da terra, por verem todo o bem e paz que o Senhor daria ao Seu povo (Jer 33.9).
Uma demonstração desta bem-aventurança eterna, quando estivessem reunidos ao Messias, seria o fato de trazê-los de volta de Babilônia para a sua própria terra, na qual eles seriam alegrados novamente por Ele (v. 10 a 14).
E depois disto, ainda lhes daria o Rei justo prometido em Jer 23.5,6, pelo qual seria cumprida a promessa de inauguração de uma Nova Aliança com o Seu povo.
É importante lembrar que mesmo depois da volta dos judeus de Babilônia em 537. a. C, eles tiveram que esperar ainda 570 anos, até a morte e ressurreição de Jesus, quando foi finalmente inaugurada a Nova Aliança prometida.
Por isso o Senhor se referiu ao cumprimento desta promessa como sendo relativa a dias futuros, com a expressão “Eis que vêm os dias, diz o Senhor, em que cumprirei...”.
Ele chamou a Nova Aliança em Cristo, como sendo o cumprimento da boa promessa que havia dado a Israel e a Judá (v. 14). É boa palavra porque se refere à boa nova, ao evangelho, que é o Seu poder para salvar os que creem.
O enfoque da promessa da Nova Aliança não está no povo, mas no Renovo de justiça, que brotaria a Davi e que executaria juízo e justiça na Terra, porque é a Ele que o Pai tem dado o poder de julgar tanto a vivos quanto a mortos, como também de justificar os pecadores que se arrependem e que nEle creem.
É por isso que o povo que se acha debaixo do governo deste Rei justo será chamado pelo nome: O SENHOR É NOSSA JUSTIÇA. Porque é por causa da Sua justiça em nós que temos salvação e segurança eternas (v. 15,16), a saber a Sua justiça eterna e perfeita com a qual somos justificados.
É nele que se cumpriria a promessa feita por Deus a Davi no passado de que não lhe faltaria varão que se assentasse sobre o trono da casa de Israel, e que seria da sua descendência.
Este varão que nunca faltará a Davi, assentado em Seu trono, é Cristo (v. 17).
A segurança deste pacto firmado com Davi é eterna, do mesmo modo que ninguém pode fazer com que deixe de existir dia e noite (v. 20 a 26).  







12 - OS DECRETOS ETERNOS DE DEUS  

Por Martyn Lloyd-Jones

A descrição que é apresentada na Bíblia referente ao modo ou ao método de Deus operar consiste no que comumente se chama a doutrina dos decretos eternos de Deus.
Essas são coisas que Deus determinou e ordenou antes que tivesse feito qualquer coisa.
Ora, quero admitir muito francamente que estou chamando sua atenção outra vez para um tema extremamente difícil.
Não peço desculpas por isso porque, como lhes mostrarei, esta não é uma questão de escolha.
A obrigação de alguém, ao expor a Bíblia, é a de expor toda a Bíblia.

Sentimo-nos tão interessados numa experiência subjetiva, e numa salvação subjetiva, que nos esquecemos desta doutrina do próprio Deus; e tal fato é responsável por muitos de nossos conflitos e problemas.
Quanto mais conhecermos sobre Deus e Sua infinitude, tanto mais O adoraremos.
Desde a eternidade, Deus tem tido um plano imutável com referência às Suas criaturas. A Bíblia está constantemente fazendo uso de uma frase como esta: “Antes da fundação do mundo” (Vejam Ef. 1:4).
Como o apóstolo Paulo disse sobre o nascimento de nosso Senhor: “Mas, vindo a plenitude dos tempos...” (GáI. 4:4).

Podemos colocá-lo em termos negativos: Deus jamais faz algo com indiferença. Nunca há algo incerto em Suas atividades. Poderia pô-lo ainda noutra forma: Deus jamais tem uma segunda reflexão. Lembrem-se de que já concordamos que Ele é onisciente e onipresente, que Ele conhece tudo desde o princípio ate o fim, Portanto Ele não pode ter uma segunda reflexão.
Nada é acidental, casual, incerto ou fortuito. Deus tem um plano, um propósito definido sobre a criação, sobre os homens e as mulheres, sobre a salvação, sobre a vida neste mundo na sua totalidade, sobre o fim de tudo, sobre o destino final.
Tudo o que Deus tem feito e causado é segundo o Seu próprio plano eterno, e esse é fixo, certo, imutável e absoluto. Essa é a primeira afirmação.

A segunda consiste em que o plano de Deus compreende e determina todas as coisas e eventos, de toda espécie, que acontecem.
Se vocês crêem que Deus determinou certos fins, então precisam crer que Ele determina tudo o que conduz a esses fins.
Se crêem que Deus decidiu criar num dado ponto, que Ele decidiu que o fim do mundo, de acordo com o tempo, deve suceder num dado ponto, seguramente, se o fim é determinado, tudo o que conduz a esse fim deve ser também determinado; e vocês compreendem que há também uma espécie de interrelação entre todos os eventos e coisas que acontecem, e que todos estão se dirigindo para esse fim.
Desse modo, a doutrina dos decretos eternos de Deus declara que todas as coisas são finalmente determinadas e decretadas por Ele.
Por conseguinte, se tudo está determinado por Deus, devem-se incluir, necessariamente, as ações livres, as ações voluntárias de agentes livres e voluntários.
Ora, essa é uma afirmação fundamental.
Deixem-me fragmentá-la um pouco e apresentar-lhes a evidência escriturística.
Com respeito ao sistema como um todo, isso é colocado muito claramente pelo apóstolo Paulo.
Diz ele: “De tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra; nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade” (E£ 1: 10,11).
Com efeito, isso se aplica a todas as coisas.
Paulo está falando ali do cosmo como um todo sendo unido em Cristo, e ele diz que Deus irá realizar isso dessa maneira.
Em seguida temos mais evidência escriturística a demonstrar que Deus, dessa maneira, governa, controla e determina os eventos que aparentam aos nossos olhos ser totalmente fortuitos.
No livro de Provérbios, lemos: “A sorte se lança no regaço, mas do Senhor procede toda a sua disposição” (Prov. 16:33).
Chamamos “sorte” uma questão de probabilidade e casualidade, não é verdade?
Vocês “lançam” a sorte. Sim, diz essa passagem das Escrituras: “mas do Senhor procede toda a sua disposição”.
Também no Novo Testamento lemos que nosso Senhor diz: “Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? e nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai” (Mat. 10:29).
Um pequeno pardal morre e cai por terra. Acidente, diz você. Casualidade. Absolutamente, não! “Nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai.”
A vida de um pequeno pardal está nas mãos de Deus.
Ele, porém, prossegue: “E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados” (v. 30).
Há eventos que parecem ser totalmente acidentais, no entanto são controlados por Deus.
Em seguida, tomem nossas ações livres. Leiam Provérbios 2 1: 1: “Como ribeiros de águas, assim é o coração do rei na mão do Senhor; a tudo quanto quer o inclina.”
O rei parece estar livre, porém Deus está controlando-o como controla os próprios rios. Efésios 2: 10 nos declara: “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.”
E Filipenses 2:13 nos diz: “Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade.”

OS DECRETOS ETERNOS DE DEUS

Martyn Lloyd-Jones

P 2

As Escrituras nos ensinam que até mesmo as ações pecaminosas estão nas mãos de Deus.
Ouçam Pedro pregando no dia de Pentecoste, em Jerusalém: “A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, tomando-o vós, o crucificastes e matastes pelas mãos de injustos” (Atos 2:23).
Em seguida, Pedro o coloca nestes termos: “Porque verdadeiramente contra o teu santo Filho Jesus, que tu ungiste, se ajuntaram, não só Herodes, mas Pôncio Pilatos, com os gentios e os povos de Israel” - prestem atenção – “para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho tinham anteriormente determinado que se havia de fazer” (Atos 4:27,28).
O terrível pecado daqueles homens fora determinado de antemão, pelo conselho de Deus.
Temos também um tremendo exemplo disso no livro de Gênesis, aquela famosa declaração de José a seus irmãos.
José, rememorando os fatos de sua história, virou para seus irmãos e disse: “Assim não fostes vós que me enviastes para cá, e sim Deus...” (Gên. 45:8).
Do nosso ponto de vista, foram eles que o fizeram. Eles haviam agido perversamente, haviam feito algo muito ímpio, movidos por motivos mercenários e como resultado de sua própria inveja. “Mas”, disse José, “não fostes vós que me enviastes para cá, e sim Deus”. Estas ações pecaminosas emanaram deste grande e eterno decreto de Deus.
Ora, sejamos bem explícitos sobre isto. Em vista do que já concordamos sobre a santidade de Deus, devemos uma vez mais dizer o seguinte: Deus não causa o mal em nenhum sentido, em nenhum grau. Deus não aprova o mal. Ele, porém, permite que os agentes perversos o realizem, e então o administra para Seus próprios fins sábios e santos.
Ou o avaliem assim, se o preferirem: o mesmo decreto de Deus que ordena a lei moral, que proíbe e pune o pecado, também permite sua ocorrência.
Limita-o, porém, e determina o canal específico ao qual ele será restringido, bem como a finalidade exata para a qual ele será dirigido, e controla suas conseqüências para o bem.
A Bíblia nos ensina isso claramente.
Ouçam novamente aquele relato sobre José e seus irmãos em Gênesis 50:20.
Disse José: “Vós bem intentastes mal contra mim, porém Deus o tornou em bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar em vida a um povo grande.”
E creio que, em muitos aspectos, o exemplo mais chocante de todos se encontra na traição de Jesus por Judas: uma ação livre e voluntária, e no entanto um componente do grande e eterno propósito e plano de Deus.
Assim sendo, isso me conduz à minha terceira proposição geral, ou seja: todos os decretos de Deus são incondicionais e soberanos.
Eles não dependem, em nenhum sentido, das ações humanas.
Não são determinados por alguma coisa que a pessoa possa ou não fazer.
Os decretos de Deus não são nem ainda determinados à luz do que Ele sabe que as pessoas irão fazer.
Eles são absolutamente incondicionais.
Não dependem de nada, a não ser da própria vontade e da própria santidade de Deus.
Entretanto - quero deixar isto bem claro - não significa que não exista o que se chama causa e efeito na vida.
Isso não significa que não exista o que se chama ações condicionais.
Sim, existe aquilo a que se chama, na natureza e na vida, causa e efeito.
O que a doutrina afirma, porém, é que cada causa e efeito, bem como as ações espontâneas, são componentes do decreto do próprio Deus.
Ele determinou agir dessa maneira particular.
Deus decretou que o fim que Ele tem em vista será cumprido, certa e inevitavelmente, e que nada poderá impedi-lo nem frustrá-lo.

Deixem-me apresentar-lhes agora a minha evidência para tudo isso.
Tomem a profecia de Daniel: “E todos os moradores da terra são reputados em nada; e segundo a sua vontade ele opera com o exército do céu e os moradores da terra: não há quem possa estorvar a sua mão, e lhe diga: que fazes?” (Dan. 4:35).
Nada pode impedir a mão de Deus, nem mesmo questioná-la.
Ou então ouçam a nosso Senhor afirmar este mesmo fato em Mateus 11:25,26: “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim te aprouve.”
Por que Deus tem escondido estas coisas aos “sábios e entendidos” e as revelado aos “pequeninos”?
Só existe uma resposta – “porque assim te aprouve”, porque assim pareceu bem aos Seus olhos.
Paulo também afirma a mesma coisa: “E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade’ (Ef. 1:5).
Recomendo-lhes um cuidadoso estudo da primeira metade do primeiro capítulo da Epístola aos Efésios.
Atentem bem para tudo o que ela diz, e saberão que tudo o que Deus tem feito é sempre “segundo o beneplácito de Sua vontade”. Nada mais, absolutamente. E inteiramente pela graça.
Mas, naturalmente, vocês encontrarão esta doutrina afirmada ainda mais claramente naquele grande e poderoso capítulo nove da Epístola aos Romanos.
Desejo, neste momento, enfatizar especialmente o versículo 11.
Vocês descobrirão que ele é um versículo entre parênteses; porém, que grandioso versículo!
Que declaração! “Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama).” O argumento de Paulo consiste em que Deus decretara que o mais velho servisse ao mais jovem, porque, mesmo antes que houvessem nascido, Ele havia dito: “Amei Jacó, e aborreci Esaú” (v. 13).
“Por que”, vocês perguntam, “Deus amou Jacó, porém odiou Esaú? Foi em razão do que eles fizeram?” Não. Antes que nascessem, antes mesmo que fossem concebidos, Deus escolheu Jacó e não Esaú. Não tinha nada a ver com suas obras, em sentido algum.
O propósito de Deus é incondicional e absolutamente soberano.
Ouçam a Paulo dizer novamente: “Que diremos, pois? que há injustiça da parte de Deus? de maneira nenhuma” (Rom. 9:14).
Que Deus os livre de chegarem a tal conclusão! É impossível – “Pois diz a Moisés: compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia.
Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece.
Porque diz a Escritura a Faraó: para isto mesmo te levantei; para em ti mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra. Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer." (Rom. 9:15-18)

OS DECRETOS ETERNOS DE DEUS

Martyn Lloyd-Jones

P 3

Deixem-me apresentar o quarto princípio, o qual é que: os decretos de Deus são eficazes.
Ora, isso, naturalmente, se deduz necessariamente. Visto que Deus é um Senhor soberano, em virtude de Sua onipotência e de Sua grandeza, Seus propósitos jamais podem fracassar.
O que Deus determina e decreta, infalivelmente deverá ser cumprido. Nada pode impedi-lo. Nada pode frustrá-lo.
E isso me traz ao quinto princípio: os decretos de Deus são em todos os aspectos perfeitamente consistentes com Sua própria natureza muitíssimo sábia, benevolente e santa.
Creio que não é necessário que eu argumente tal fato.
Noutras palavras, não existe contradição em Deus.
Nem pode haver. Deus é perfeito, como temos visto, e Ele é absoluto, e tudo quanto estou expressando agora se entrosa perfeitamente com tudo quanto já consideramos antecipadamente.
Conforme já lhes adverti na introdução, vocês e eu, aqui na terra, com nossas mentes finitas e pecaminosas, somos confrontados com um problema. Ei-lo: por que Deus decretou permitir o pecado? E há somente uma resposta a essa pergunta: simplesmente não sabemos. Sabemos que Ele decretou permitir o pecado, do contrário o pecado jamais teria acontecido.
Por quê, não sabemos. Eis aqui um problema insolúvel. Veremos, porém, tudo claramente quando estivermos na glória e face a face com Deus.
De duas coisas podemos estar certos e devemos sempre asseverar: primeira, Deus jamais é a causa do pecado.
Em Habacuque 1:13, vocês encontrarão expresso: “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal.” Tiago diz: “... Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta” (Tiago 1: 13).
Segunda, o propósito de Deus é, em todas as coisas, perfeitamente consistente com a natureza e o modo de agir de Suas criaturas.
Noutras palavras, ainda que não possamos conciliá-lo, há uma conciliação final.
Os decretos de Deus não negam a existência de agentes livres.
Tudo o que sabemos é isto: ainda que Deus concedeu esta liberdade, Ele, não obstante, a tudo governa a fim de que Seus fins determinados possam ser concretizados.

Como pode Deus decretar tudo e ainda nos manter responsáveis pelo que fazemos? Eis a resposta: “Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: porque me fizeste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra? E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para perdição; para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já antes preparou” (Rom. 9:20-23).

“Mas”, talvez vocês perguntem, “como você concilia estas duas coisas?”

Respondo: não posso. Sei que a Bíblia me afirma as duas coisas: que o homem, em certo sentido, é um agente livre, e, em contrapartida, que os decretos eternos de Deus governam todas as coisas.

Em seguida, devo apresentar minha última proposição, ou seja, a salvação dos homens e das mulheres e dos anjos e alguns deles em particular foi determinada por Deus antes da fundação do mundo.
Isso Ele faz inteiramente de acordo com o Seu beneplácito e de Sua graça.
Devo remetê-los novamente a Mateus 11:25,26.
E em João 6:37, lemos: “Todo aquele que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora.”
E no versículo 44 nosso Senhor diz: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer.”
Em Atos 13:48, leio o seguinte: “e creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna.”
Em 2 Tessalonicenses 2:13, vocês encontram: “Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade.”
 Em seguida, em sua carta a Timóteo, Paulo diz: “Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos” (2 Tim. 1:9).
Especialmente, porém, gostaria de enfatizar novamente aquela grande afirmação, a qual já citei, de Romanos 9:20-23.
O apóstolo Paulo, pregando esta grande doutrina dos decretos eternos de Deus, imagina alguém em Roma dirigindo-lhe uma pergunta e dizendo: eu não entendo isso.
A mim soa contraditório, injusto. Se o que você me diz sobre estes decretos é verdadeiro, então a impressão que fica é que Deus é injusto. O questionador diz a Paulo: “Por que se queixa ele ainda? Porquanto, quem resiste à sua vontade?” (Rom. 9:19).
E a réplica de Paulo é: “Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas?
Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: por que me fizeste assim?
Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra?
E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para perdição; para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou.”
Eis aí a resposta do apóstolo. Eis aí a resposta das Escrituras. Eis aí, portanto, a resposta de Deus, a nós e por nós, enquanto estamos neste mundo passageiro.
Ela se acha além de nós.
Não podemos apreender o supremo funcionamento da mente de Deus. Não adianta perguntar: por que isso? e, por que aquilo? Por que Deus levantou Faraó? Por que Ele escolheu Jacó e não Esaú? Por que Ele nos castiga, se todas as coisas estão determinadas e decretadas?
A resposta é: “Mas, ó homem, quem és tu?”
Vocês estão opondo sua própria mente contra a de Deus.
Estão ignorando quão ínfimos vocês são, quão finitos vocês são, quão pecaminosos em resultado da Queda.
Vocês têm que abrir mão do entendimento até chegarem à glória. Tudo o que vocês têm a fazer aqui, no momento, é crer que Deus é sempre consistente conSigo mesmo, e aceitar o que Ele explícita e abertamente nos revelou sobre Seus decretos eternos, sobre o que Ele determinou e decidiu antes mesmo que criasse o mundo.
E, acima de tudo, compreendam que, se vocês são filhos de Deus, é em razão de Deus o ter determinado, e o que Ele determinou a seu respeito é indiscutível, seguro e certo.
Nada e ninguém pode jamais tirá-los de Suas mãos, nem tampouco levá-1O a renunciar Seu propósito com relação a vocês.
A doutrina dos decretos eternos de Deus existiu antes da fundação do mundo.
Ele me conheceu. Conheceu a vocês. E os nossos nomes foram escritos no “livro da vida do Cordeiro” antes mesmo que o mundo fosse criado, antes mesmo que vocês e eu, ou algum outro, entrássemos nele.
Curvemo-nos diante de Sua Majestade. Humilhemo-nos em Sua augusta presença. Submetamo-nos à revelação que Ele tão graciosamente Se agradou em nos comunicar.




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