sexta-feira, 23 de outubro de 2015

56) Evangelho

56) EVANGELHO

ÍNDICE

1 - O Evangelho Não Condena
2 - O Evangelho é o Farol da Vida
3 - Características do Evangelho Verdadeiro
4 - João Batista Sabia a Mensagem do Evangelho Verdadeiro Melhor do Que Muitos Pastores
5 - Boas Novas de Deus a Respeito do Seu Filho
6 - Quem Precisa do Evangelho?
7 - No Princípio Era o Verbo
8 - Boas Notícias para os Perdidos
9 - Voz do que clama no deserto
10 - O Evangelho em 6 minutos
11 - A Mensagem Central do Evangelho
12 - A Simplicidade do Evangelho
13 - Não há Evangelho sem Cruz
14 - Qual é a Esperança do Evangelho?
15 - A Mensagem do Evangelho é Imutável
16 - O Evangelho nos Chegou em Poder  
17 - O Evangelho que não Morre  
18 - Um Evangelho Simples para Gente Simples 
19 - Uma Bendita Corrente no Evangelho   
20 - Os Dois Efeitos do Evangelho
21 - A Coisa Inesperada   
22 - Graus de Poder Presentes no Evangelho   
23 - O Evangelho Glorioso do Deus Bendito   
24 - O Evangelho Glorioso   
25 - O Poder de Curar do Evangelho
26 - A Perpetuidade do Evangelho 
27 - O Evangelho que não Morre   
28 - Pregar o Evangelho   
29 - Todo o Evangelho em um Só Versículo
30 - O Coração do Evangelho


1 - O Evangelho Não Condena

O que condena é a sua rejeição.

“Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus...” (Rom 3.21a)

“E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé. Ora, a lei não procede de fé,...” (Gál 3.11,12a)

Quando João Batista disse que a Lei veio por Moisés, mas que a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo”, o que ele estava dizendo, em outras palavras, era que no período da dispensação da Lei, que vigorou de Moisés ao próprio João Batista, não houve nenhum evangelho em ação, apesar de ter sido anunciado pelos profetas do Antigo Testamento.

No período do Velho Testamento, correspondente à aliança da lei, imperava a condenação e a morte pelos juízos de Deus, inclusive contra o próprio povo da aliança, a saber, Israel.

Daí Paulo ter chamado aquela antiga aliança de ministério da morte e da condenação.

Porque não havia evangelho naquele período.

Mas quando Jesus se manifestou e quando morreu no lugar dos pecadores na cruz, entrou em vigor uma nova aliança, agora não apenas com Israel, mas com pessoas de todas as nações da terra.

A graça e a verdade começaram a ser abundantemente reveladas e manifestadas nas vidas dos que creem no evangelho, a saber, que já não há morte e condenação para os que creem em Jesus Cristo.

Assim, no evangelho propriamente dito, não há qualquer condenação, morte ou juízo, senão libertação, vida, salvação, que são o fruto da verdade e da graça que operam e habitam naqueles que nele creem. Graça, justiça e verdade que nos foram trazidas com a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo.

O ministério da Lei condenava, porque fora instituído por Deus para este propósito.

Todavia, o do evangelho liberta e salva, porque manifesta a honra, a glória, a majestade, o poder, a graça e todos os méritos que pertencem à pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo.

Daí dizer o apóstolo que já não há nenhuma condenação para quem está em Cristo Jesus.

Não confundamos portanto, toda a Bíblia, como se fosse o evangelho.

Porque em suas páginas há também registros de revelações e situações exclusivamente relativos à antiga dispensação da Lei.

O evangelho é encontrado, principalmente, nas páginas do Novo Testamento, porque foram produzidas e inspiradas por Deus, no período que marcou o encerramento da aliança do Velho Testamento, inaugurado com o advento de Jesus Cristo.

Daí, Lei x Graça, ser uma boa indicação destes dois períodos distintos, das duas grandes alianças instituídas por Deus, sendo que a antiga foi removida, por ter sido substituída pela nova que é feita no sangue de Cristo.

Não devemos no entanto confundir juízo com condenação.

Deus julga os seus próprios filhos, mas não como um juiz togado, senão como um pai amoroso que não os poupará da repreensão e disciplina sempre que for necessário.

Ele açoita a todo filho a quem quer bem. Todavia, a nenhum deles condenará a uma sentença de morte e danação eternas.

Nosso Senhor Jesus Cristo dirige as seguintes palavras à Igreja de Laodicéia:

“Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te.” (Apo 3.19)







2 - O Evangelho é o Farol da Vida

E não de  uma vida natural, de uma vida qualquer, mas da vida espiritual, celestial e eterna.

Portanto, se não cremos na mensagem do evangelho, permanecemos mortos espiritualmente, em delitos e em pecados.

E qual é a razão disto?

Simplesmente porque o único modo de se achar a vida eterna é crendo na verdade e justiça reveladas no evangelho.

Obviamente, no único e verdadeiro evangelho.

Se cremos em algo diferente, permanecemos perdidos.

Deus só pode ter a sua justiça satisfeita, que exige de nós plena conformidade à sua santidade, quando reconhecemos que sem Cristo, sem a sua justiça, estamos mortos em espírito, e não podemos de nenhum modo, estarmos unidos a Deus em espírito.

Deus somente poderia sentenciar a nossa culpa, e executar a sentença condenatória que repousa sobre nós, transferindo a nossa culpa para o próprio Cristo, e descarregando sobre ele toda a sua ira contra o pecado, em sua morte na cruz.

É crendo na verdade de que aquela morte foi a minha própria morte, que era eu quem estava sendo castigado em Cristo pelo meu pecado, que a minha culpa pode ser removida, e assim, ser declarado perdoado e justificado por Deus.

E isto é totalmente por graça e por fé.

Tentemos lhe acrescentar algo, como até mesmo as minhas boas obras, para que seja salvo por elas, e com isto anulo os méritos de Cristo, a sua morte na cruz, a minha própria morte com ele, e assim, permaneço perdido e sob a condenação da Lei.

Porque há somente um modo de ser livrado da justa condenação da lei de Deus, que é o de morrer para ela, sendo considerado como morto juntamente com Cristo em sua morte substitutiva.

Este é o evangelho no qual devermos crer.

É o único farol que nos indica com segurança o caminho da salvação e da vida eterna.

É a única luz verdadeira apontando para a direção correta, entre tantas luzes foscas e enganosas.

É o único farol que pode conduzir o barco da minha vida em segurança para o céu, em meio às densas trevas da ignorância e da maldade deste mundo.

E por que isto?

Porque é somente pelo poder operante da graça viva do evangelho, que é segundo a eficácia de nosso Senhor Jesus Cristo, que podemos atender à demanda da justiça divina, que sejamos santos assim como Ele é Santo.

Não há portanto, santificação real e eficaz, sem a qual ninguém verá a Deus, fora da fé no verdadeiro evangelho, porque é por ele, e somente por ele, que podemos ser verdadeiramente santificados.

E o evangelho é graça, a qual é poder.

A Lei, que veio por Moisés, é simplesmente norma, mas a graça do evangelho, que veio por Jesus Cristo, é poder. Poder transformador, poder vivificador, poder espiritual que dá vida ao nosso espírito.

Por isso se diz que é pela justificação pela graça, mediante a fé, que temos paz com Deus, ou seja, somos reconciliados com Ele, e é posto um fim na inimizade que havia na carne contra Ele, porque somos transformados em Seus filhos e amigos, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.

E se diz também que sem fé é impossível agradar a Deus. E ainda, que tudo é possível a quem tem fé.

Fé no evangelho, fé na palavra do evangelho, que é fé em Jesus Cristo.

Aleluia! Glórias ao Senhor, para sempre e sempre!








3 - Características do Evangelho Verdadeiro

Evangelho, semanticamente, reportando ao significado da palavra no original grego do Novo Testamento significa literalmente "anúncio de boas notícias". São boas em sua natureza e efeito para a humanidade.

Somente na Bíblia podemos achar os critérios de determinação do evangelho verdadeiro.
São tantas características a serem consideradas, que é muito comum, focar apenas numa ou em poucas, ou até mesmo distorcidas, e assim, não se chega a uma compreensão correta do verdadeiro significado do evangelho, em sua essência real e nos seus efeitos positivos para aqueles que o abraçam.

A principal característica que deve ser destacada é a do caráter de completa libertação e salvação que está sendo oferecida gratuitamente por Deus a todo aqueles que crêem em Cristo, porque o próprio Jesus é a única Justiça que nos justifica e nos torna perdoados e aceitáveis a Deus, de forma que possamos ser reconciliados com Ele.

Uma segunda característica importante é que esta justificação que conduz à vida eterna, é operada instantaneamente, num dado momento da vida, e tem validade para sempre, por toda a eternidade.    

Daqui em diante citaremos outras características sem enumerá-las.

Destaca-se também no evangelho, que é de fato boa notícia, a melhor das notícias, porque não traz em si qualquer juízo condenatório, porque esta justiça que é oferecida pela graça, e obtida mediante a fé, não é para condenar, mas para libertar da escravidão ao pecado.

Isto, por sua vez, nos conduz a um outro ponto importante, que é o de que todo aquele que é justificado pelo evangelho, é também instantaneamente transformado, ao que o Novo Testamento chama de novo nascimento do Espírito Santo, ou regeneração.

Há de fato uma mudança radical nos objetivos de vida de todo aquele que se converte, porque passa a habitar nele um novo princípio vivo operante de santificação, motivado pela presença do Espírito Santo, em comunhão com o espírito do convertido que se achava morto (separado de Deus, não participante da Sua vida divina, sem o conhecimento pessoal de Cristo, sem comunhão com o divino).

Este novo princípio de santidade implantado na natureza terrena do que crê, passa a exercer domínio e repulsa ao princípio vivo do pecado que ainda opera na carne.

Daí sucede uma luta entre a natureza terrena carnal, e a nova natureza espiritual recebida do Espírito Santo.

O alvo deste combate é o de crucificar o ego carnal e fazer prevalecer a mente de Cristo no cristão.

Então, há uma ação real, espiritual, celestial e divina operando em nosso caminhar neste mundo quando abraçamos o verdadeiro evangelho de Cristo, porque somente Ele é o poder de Deus para a salvação de todos os que nele creem.

Sem esta realidade espiritual operando no viver não podemos dizer que somos autênticos cristãos (discípulos de Jesus, filhos e servos do Deus vivo), porque tudo o que se ensina na Bíblia a tal respeito cumpre-se somente nos que tiveram um verdadeiro encontro pessoal com Cristo.








4 - João Batista Sabia a Mensagem do Evangelho Verdadeiro Melhor do Que Muitos Pastores

O testemunho que João Batista deu acerca de Jesus e de Sua missão em favor dos pecadores, e que o apóstolo João registrou no primeiro capitulo do seu evangelho, bem demonstra que lhe havia sido revelado de fato por Deus, o caráter essencial do ministério do Messias, revelação esta, que apesar de registrada na Bíblia, até muitos líderes cristãos não conseguem enxergar, por causa de muitos fatores, e entre estes, a antiga mentalidade legalista.
João testemunhou com vigor acerca da graça do evangelho, e não lhe misturou qualquer dogma legalista com o fim de se remover o pecado, porque sabia que isto só podia ser feito pelo poder e graça do Cordeiro de Deus.
Vejamos mais uma parte do seu testemunho em João 1.19-36:

“19 E este é o testemunho de João, quando os judeus mandaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para que lhe perguntassem: Quem és tu?
20 E confessou, e não negou; confessou: Eu não sou o Cristo.
21 E perguntaram-lhe: Então quem? És tu Elias? E disse: Não sou. És tu profeta? E respondeu: Não.
22 Disseram-lhe pois: Quem és? para que demos resposta àqueles que nos enviaram; que dizes de ti mesmo?
23 Disse: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías.
24 E os que tinham sido enviados eram dos fariseus.
25 E perguntaram-lhe, e disseram-lhe: Por que batizas, pois, se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta?
26 João respondeu-lhes, dizendo: Eu batizo com água; mas no meio de vós está um a quem vós não conheceis.
27 Este é aquele que vem após mim, que é antes de mim, do qual eu não sou digno de desatar a correia da alparca.
28 Estas coisas aconteceram em Betânia, do outro lado do Jordão, onde João estava batizando.
29 No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.
30 Este é aquele do qual eu disse: Após mim vem um homem que é antes de mim, porque foi primeiro do que eu.
31 E eu não o conhecia; mas, para que ele fosse manifestado a Israel, vim eu, por isso, batizando com água.
32 E João testificou, dizendo: Eu vi o Espírito descer do céu como pomba, e repousar sobre ele.
33 E eu não o conhecia, mas o que me mandou a batizar com água, esse me disse: Sobre aquele que vires descer o Espírito, e sobre ele repousar, esse é o que batiza com o Espírito Santo.
34 E eu vi, e tenho testificado que este é o Filho de Deus.
35 No dia seguinte João estava outra vez ali, e dois dos seus discípulos;
36 E, vendo passar a Jesus, disse: Eis aqui o Cordeiro de Deus.”.


Nos versos 15 a 18 nós temos o testemunho geral que João dava de Jesus, e aqui nestes versos 19 a 28 nós temos registrado o testemunho que ele deu em certa ocasião quando os judeus lhe enviaram sacerdotes e levitas de Jerusalém para lhe perguntarem quem ele era (v. 19).
João confessou que não era o Cristo. Que ele não era o grande profeta prometido desde Moisés (Dt 18.18). E também disse que não era o profeta Elias, que eles pensavam que voltaria à terra por causa da profecia de Malaquias 4.5, que era de fato uma referência a João Batista sob o codinome de Elias (Mt 17.10-13), mas isto não significava que João fosse de fato Elias.
Ele viria no mesmo tipo de espírito e poder do profeta Elias, conforme o anjo preanunciou o nascimento de João a seu pai Zacarias (Lc 1.17).
João disse aos sacerdotes e levitas que ele era aquele do qual havia falado o profeta Isaías. A voz que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor. Ele mostrou a eles que o seu ministério estava apoiado nas Escrituras.
Aqueles sacerdotes e levitas que eram fariseus não retrucaram a resposta que João lhes dera, mas questionaram ainda por que ele batizava, já que não era o Cristo, nem Elias e nem o profeta.
João lhes respondeu que ele batizava com água, mas já se encontrava entre os judeus Alguém que eles não conheciam, e que viria após ele, apesar de ser antes dele (até mesmo de Abraão e de tudo e de todos) do qual ele disse humildemente não ser digno sequer de lhe desatar a correia da sua sandália. Este serviço era prestado pelos escravos de mais baixa categoria aos seus senhores. Deste modo João testificou a respeito da dignidade dAquele que veio anunciando.
Era de se esperar que aqueles que tanto se dedicavam ao estudo das Escrituras, que fossem eles os primeiros a reconhecerem a vinda de João Batista e do próprio Cristo. No entanto, a grande maioria deles não chegou a conhecê-los apesar do testemunho das Escrituras acerca deles, e a própria manifestação deles entre os judeus.
Os escribas e fariseus formaram a própria idéia deles sobre o reino do Messias, e elaboraram o próprio sistema deles para a justificação do pecado, de maneira que não se submeteram à justiça de Deus revelada em Cristo.
O orgulho lhes impediu de renunciarem às suas convicções para que pudessem ser convencidos pela verdade de Deus. Eles não podiam entender que o reino não consiste em palavras e que nem vem em aparência visível porque é um reino espiritual que se manifesta espiritualmente. Assim, eles não podiam discernir as coisas do Espírito e permaneciam cegos.
É muito comum acontecer o mesmo em nossos dias quando especialmente ministros do evangelho criam o próprio sistema doutrinário deles, contra a verdade revelada nas Escrituras, e se fecham para as operações do Espírito Santo, e assim Deus não lhes é revelado, enquanto eles formam a sua própria idéia sobre Deus, segundo a sua própria imaginação e conclusão da interpretação incorreta que fazem das Escrituras, sem poderem entender que a alegria, a paz, o amor, a bondade e todas as demais virtudes às quais a Bíblia se refere são espirituais, e não o fruto de afetos e desejos naturais.
Tal como os fariseus do passado eles argumentam estarem se baseado somente nas Escrituras, mas eles avançam e vão além da doutrina de Cristo e a anulam quase que completamente porque se aplicam a interpretar a Palavra sem o auxílio da iluminação do Espírito Santo, e não praticam as coisas que são ordenadas por Deus.  

Deus havia revelado a João Batista que Jesus batizaria com o Espírito Santo, e deu um sinal a João de que o Messias era aquele sobre quem ele visse o Espírito descendo do céu na forma de uma pomba, e repousar sobre ele, quando o estivesse batizando nas águas do Jordão.
Ele deu testemunho disto que havia ocorrido, quando viu Jesus passando por ele, vindo do deserto, onde havia sido tentado pelo diabo.
João não sabia quem era o Messias, e por isso disse que não sabia que ele era Jesus, e que por isso Deus lhe deu o sinal da descida do Espírito sobre Aquele que batiza com o Espírito Santo; de maneira que ele fosse manifestado a Israel através do batismo que ele, João, vinha fazendo com água.
João estava batizando com água para o arrependimento e perdão pela purificação do pecado, mas deu o testemunho humilde que não era propriamente o seu batismo com água que operava tal purificação do pecado, senão o batismo do Espírito Santo que seria feito por Aquele para o qual o seu batismo com água apontava, porque ele foi comissionado simplesmente para dar testemunho dEle e nada mais.
Este trabalho de purificar o pecado somente pode ser realizado por Aquele do qual João testificou ser o Cordeiro de Deus e o Filho de Deus.
É importante verificar que João não disse que Jesus era o Cordeiro de Deus que tiraria o pecado de Israel, mas de todo o mundo; isto é, Deus lhe revelou que Ele não veio somente para os israelitas, mas para todas as nações do mundo.
Como o ministério de Cristo remove o pecado é nosso dever cooperar com este trabalho do Senhor odiando e nos despojando de toda forma de pecado. Ele nos dará a graça necessária para sermos purificados, mas é necessário que não a desperdicemos ou que a tornemos vã, pela permanência deliberada no pecado.
Em todos os seus testemunhos relativos a Jesus, João sempre destacou que Ele viria após ele, mas que já existia antes dele. Ele sempre destacou este fato de que Jesus não era um homem provindo deste mundo, mas do céu; e de que era Deus desde toda a eternidade.  
Nosso ministério quanto à pregação do evangelho deve ter o mesmo objetivo do qual João jamais se desviou, a saber, apontar para Cristo. O ministério da palavra tem este grande objetivo de conduzir as pessoas a Cristo e torná-lo manifesto a elas. O batismo de João, com água, dava testemunho de que a obra de Cristo é a de nos purificar dos nossos pecados; e de igual forma a pregação verdadeira da Palavra deve dar o mesmo testemunho.
 João tinha plena confiança de que seria Cristo que daria significado ao seu ministério de dar testemunho dEle. De igual maneira os ministros do evangelho devem ter esta confiança no Senhor e aguardar somente nEle para que faça frutificar o ministério deles, por batizar as pessoas com o Espírito Santo, e realizando tudo aquilo que se refere ao mundo espiritual, que os próprios ministros não podem realizar.  







5 - Boas Novas de Deus a Respeito do Seu Filho

Por John Piper

Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus, que ele antes havia prometido pelos seus profetas nas santas Escrituras, acerca de seu Filho, que nasceu da descendência de Davi segundo a carne, e que com poder foi declarado Filho de Deus segundo o espírito de santidade, pela ressurreição dentre os mortos - Jesus Cristo nosso Senhor,
Observamos no verso 1 semana passada, que Paulo é um servo de Cristo Jesus, quer dizer, ele foi comprado e é comandado por Cristo. Ele vive para agradar a Cristo. E, para que não formemos um conceito errôneo de que Cristo é de alguma forma dependente da iniciativa de Paulo e do trabalho escravo de Paulo, nós devemos notar em Romanos 15:18 que Paulo depende de Cristo para tudo o que o próprio Paulo faz a serviço de Cristo: “porque não ousarei falar de coisa alguma senão daquilo que Cristo por meu intermédio tem feito, para obediência da parte dos gentios, por palavra e por obras.” Em outras palavras, Paulo serve a Cristo no poder com o qual Cristo serve a Paulo. “O Filho do Homem veio não para ser servido mas para servir” (Marcos 10:45; veja também (1 Coríntios 15:10; 1 Pedro 4:11). Nós vamos deturpar totalmente o significado de Romanos logo de saída se não observarmos que Paulo serve a Cristo no poder que Cristo provê, para que Cristo receba a glória pelo serviço de Paulo (veja 1 Pedro 4:11).
Esse soberano e provedor Cristo é o que nós encontramos na próxima frase, “chamado para ser um apóstolo.” Cristo chamou Paulo na estrada para Damasco e o comissionou para ser seu representante autorizado na fundação da igreja com ensinamentos verdadeiros. A partir daí vemos a mão de Deus, que é soberana e tudo planeja, na próxima frase, “separado para o evangelho de Deus.” Deus separou a Paulo antes do seu nascimento, Gálatas 1:15 diz isso. Deus é tão zeloso quanto a chegada e revelação do Seu evangelho que Ele não deixa nada ao acaso.
Hoje nós olhamos esse termo, “o evangelho de Deus” (1:1) e como Paulo o explica nos versos 2-4.
“… Que ele antes havia prometido pelos seus profetas nas santas Escrituras…”
A primeira coisa que Paulo diz sobre isso está exatamente alinhada com o que acabamos de ver: que Deus é zeloso ao mostrar que o evangelho estava planejado muito antes do mesmo acontecer. Verso 2: “…[Paulo foi] , separado para o evangelho de Deus, que Ele antes havia prometido pelos seus profetas nas santas Escrituras.”
Considere o seguinte a respeito do verso 2.
1) O evangelho de Deus é o cumprimento das promessas do Velho Testamento.
Não é uma nova religião. É o cumprimento de uma antiga religião. O Deus do Velho Testamento é o Deus do Novo Testamento. O que Ele estava preparando e prometendo lá no Antigo Testamento, Ele está cumprindo na vinda de Jesus.
2) Deus Cumpre suas promessas.
Centenas de anos se passam. Os Judeus se perguntam se o Messias jamais virá. Eles passam por sofrimentos horríveis. Então Deus age e as promessas são cumpridas. Isso significa que em Deus se pode confiar. Talvez pareça que Ele esqueceu (Suas promessas). Mas Ele não esquece. Então o verso 2 não é somente uma declaração sobre o conteúdo do evangelho, mas é também uma razão para acreditar-se nele. Se pudermos perceber que Deus prometeu Cristo séculos antes da sua vinda e que muitos detalhes cumprem essa promessa, nossa fé é fortalecida.
3) Essas são santas, inspiradas Escrituras nas quais nós devemos reverenciar e acreditar.
Perceba os tremendamente importantes significados do verso dois para a nossa doutrina. Primeiro há Deus; depois há a promessa do que Deus quer fazer; então há profetas “através” dos quais (note bem: não pelos quais, mas “através” dos quais, o próprio Deus continuando como narrador) Ele profere sua promessa; em seguida há escrituras; e essas escrituras são chamadas santas. Por que elas são separadas de todas as outras escrituras e são únicas e preciosas? Porque é Deus quem fala nelas. Leia o verso com cuidado: “Ele (Deus) prometeu antes através de Seus profetas nas santas Escrituras. Deus prometeu nas escrituras. É isso que às faz serem santas. É assim que Paulo vê as escrituras e é assim que devemos vê -las. Se você já se perguntou por que sua Bíblia diz “Santa Bíblia” na capa, Romanos 1:2 é a resposta.
E para que não percamos de imediato a relevância disso para nossa exposição de Romanos, lembre-se de três fatos: (1) O próprio Paulo se vê em 1:1 como o apóstolo de Cristo Jesus, falando e escrevendo com autoridade representando a Cristo como fundador da igreja - em outras palavras, como um dos profetas da antiguidade (Efésios 2:20). (2) Paulo disse em 1 Coríntios 2:13, “as quais também falamos, não com palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito Santo, comparando coisas espirituais com espirituais.” Em outras palavras, Paulo afirma que há inspiração especial para seus ensinamentos. (3) em 2 Pedro 3:1, Pedro diz que “alguns distorcem [o que Paulo escreveu], como distorcem outras escrituras.”
Logo Pedro coloca as cartas de Paulo na mesma categoria das Santas Escrituras sobre as quais estamos lendo aqui. É por isso que a pregação é tão importante para nossa vida em comunidade Nós acreditamos que a carta de Paulo para os Romanos é a palavra de Deus, não meramente a palavra de um homem. O evangelho foi prometido em santas escrituras inspiradas por Deus; e o evangelho é desdobrado e preservado para nós em santas escrituras inspiradas por Deus. É nisso que acreditamos, e isso faz uma enorme diferença no modo como vemos a verdade e a doutrina e pregamos e louvamos e tudo mais no mundo.
Então, a primeira coisa que Paulo diz a respeito do evangelho de Deus é que ele foi planejado e previsto muito antes (1:2). É o evangelho “que Ele antes havia prometido pelos seus profetas nas santas Escrituras,”
“… Acerca de Seu Filho…”
O segundo fato que ele mostra sobre o evangelho de Deus (1:3) é que o evangelho é a respeito de Seu Filho. “…, que Ele antes havia prometido pelos Seus profetas nas santas Escrituras, acerca de Seu Filho…” O evangelho de Deus tem a ver com o Filho de Deus. Nós precisamos ter duas coisas bem claras a respeito do Filho de Deus imediatamente, senão vamos nos desviar para longe.
1) O Filho de Deus existia antes de se tornar um ser humano.
Veja em Romanos 8:3, “Porquanto o que era impossível à lei, visto que se achava fraca pela carne, Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança da carne do pecado, e por causa do pecado, na carne condenou o pecado.” Deus o enviou para tomar forma humana. Então o Filho existia como Filho de Deus antes de se tornar um homem. Isso significa que Cristo é e era o Filho de Deus de uma forma absolutamente única – não da mesma forma pela qual somos filhos de Deus (Romanos 8:14, 19).
2) O próprio Cristo é Deus.
Em Romanos 9:5, referindo-se aos privilégios de Israel, Paulo diz “…de quem são os patriarcas; e de quem [é Israel] descende o Cristo segundo a carne, o qual é sobre todas as coisas, Deus bendito eternamente. Amém.” E em Colossenses 2:9 Paulo diz, “porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade”. Então quando Paulo diz que o evangelho de Deus é a respeito do Seu Filho, ele quer dizer que o evangelho tem a ver com o divino, pré -existente Filho. O evangelho de Deus não é sobre Deus organizando assuntos humanos de uma maneira melhor. É sobre Deus penetrando em assuntos humanos de fora a para dentro na pessoa do Seu Filho que é a perfeita imagem do Pai e é Ele próprio Deus.
Então Paulo coloca um peso enorme no “evangelho de Deus” dizendo primeiro, que ele é prometido – planejado – por Deus muito antes de acontecer, e, Segundo, que ele trata do seu Filho divino. O Criador soberano do universo, tem planejado coisas boas para o mundo, e no centro desse plano está seu Filho.
“… nasceu da descendência de Davi segundo a carne…”
O terceiro fato ao qual Paulo se refere a respeito do evangelho de Deus é que esse divino Filho “nasceu da descendência de Davi segundo a carne”. Isso quer dizer duas coisas ao mesmo tempo.
1) O Filho de Deus se tornou homem.
Ele nasceu. O trabalho que ele tinha a fazer – a missão em que Ele estava – requeria que ele tomasse forma humana, lado a lado com sua natureza divina. Deus não escolheu a um homem e fez dele Seu filho; ele escolheu fazer seu eterno, e único Filho um homem.
2) Ele nasceu dentro da linhagem do Rei Davi do Antigo Testamento.
Por que isso é parte do evangelho de Deus? Por que isso são boas novas? A resposta é que todas as promessas do Antigo Testamento dependem da vinda do Messias – o ungido – que iria reinar como rei na linhagem de Davi e conquistar os inimigos do povo de Deus e trazer justiça e paz para sempre. Ele seria o Sim a todas as promessas de Deus.
Considere algumas promessas do Antigo Testamento. Jeremias 23:5 “Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo rei, reinará e procederá sabiamente, executando o juízo e a justiça na terra.” Ou Isaías 11:10 “Naquele dia a raíz de Jessé [ou, filho de Davi, descendente de Jessé] será posta por estandarte dos povos, à qual recorrerão as nações; gloriosas lhe serão as suas moradas.”
Sendo assim o evangelho de Deus são as boas novas de que agora, depois de séculos, Deus agiu para cumprir o seu plano e promessa de que um rei viria na linhagem de Davi, e, como Isaías 9:6-7 diz, “o governo estará sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz. Do aumento do seu governo e da paz não haverá fim.”
Então o “evangelho de Deus” são as boas novas de que o tempo chegou e o reino de Deus é chegado (Marcos 1:14-15, “veio Jesus para a Galileia pregando o evangelho de Deus e dizendo: O tempo está cumprido, e é chegado o reino de Deus. Arrependei-vos, e crede no evangelho”). A vinda do Filho de Deus ao mundo era a vinda do “Filho de Davi,” o prometido Rei. Ele governaria as nações e triunfaria sobre os inimigos de Deus e governaria com justiça e paz e, de acordo com Isaías 35:10 “E os resgatados do Senhor voltarão; e virão a Sião com júbilo, e alegria eterna haverá sobre as suas cabeças; gozo e alegria alcançarão, e deles fugirá a tristeza e o gemido.” É isso que faz do verso 3 o “evangelho de Deus.” A vinda do Filho de Deus como Filho de Davi significaria paz eternal na presença de Deus – para todos os resgatados do Senhor.
“…Foi declarado Filho de Deus segundo o espírito de santidade…”
Mas há algo mais que Paulo diz sobre “o evangelho de Deus.” Não somente ele foi planejado e prometido antes de acontecer; e não somente ele é acerca do divino, pré-existente Filho; e não somente ele representa boas novas de que esse Filho nasceu como o filho humano de Davi para cumprir as esperanças e sonhos do Antigo Testamento em termos de justiça e paz e alegria no reino de Deus; mas, no verso 4, Paulo diz algo que era ao mesmo tempo devastador e emocionante. Ele diz que o Filho de Deus “foi declarado Filho de Deus segundo o espírito de santidade, pela ressurreição dentre os mortos - Jesus Cristo nosso Senhor, “
Por que eu digo que isso era devastador? A maioria dos Judeus nos dias de Paulo esperavam que o Messias viesse com poder e força política, e derrotasse os governantes opressores do mundo (os Romanos), e estabelecesse um reino terreno em Jerusalém e vivesse para sempre triunfante com seu povo. Mas o que Paulo diz no verso 4 implica que entre versos 3 e 4 o Filho de David morreu. Ele morreu! Aqueles que pensavam que ele era o Messias ficaram devastados. Messias não morrem. Eles vivem para conquistar e governar. Eles não são presos e espancados e ridicularizados e crucificados deixando seus povos destituídos. Isso era absolutamente devastador. (Lucas 24:21 “Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia de remir Israel”).
Paulo voltara ao tema da morte de Cristo nos capítulos 3, 5 e 8. Mas por enquanto ele vai imediatamente para a emocionante nota do triunfo no evangelho de Deus. Esse Messias morto, Paulo diz no verso 4, foi ressuscitado dentre os mortos. Isso está no centro do evangelho de Deus. E Paulo diz duas coisas sobre essa ressurreição.
1) Essa ressurreição dentre os mortos foi “segundo o espírito de santidade”
O que isso significa? Eu tomo essa afirmação como significado de pelo menos duas coisas.
a. O Espírito Santo de Deus ressuscitou Jesus dentre os mortos.
Eu tomo minha sugestão a partir de Romanos 8:11 onde Paulo diz “E, se o Espírito daquele que dos mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dos mortos ressuscitou a Cristo Jesus há de vivificar também os vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita.” Isso ensina que nós seremos ressuscitados pelo Espírito de Deus que habita em nós, da maneira pela qual Cristo foi ressuscitado. Consequentemente o Espírito estava envolvido na ressurreição de Jesus dentre os mortos.
b. Mas por que Paulo usa essa expressão incomum, “Espírito de santidade” (não encontrada em nenhuma outra parte do Novo Testamento)?
Aqui está minha sugestão, lidando com essa ideia de que a morte é suja. Quando o rei Saul queria se comunicar com os mortos ele foi a bruxa de Endor (1 Samuel 28:7), e o encontro foi secreto e ilícito. Médiuns, adivinhos e feiticeiros eram uma abominação em Israel. Quando os mortos estão mortos, você os deixa em paz e não lida com eles. Sessões espíritas eram e são proibidas para crentes. Lidar com os mortos tem sido um tipo de magia negra, o que não é algo belo, limpo, e santo. Tudo menos isso. Falar de um homem que havia sido executado sendo ressurrecto deve ter soado de forma absolutamente horrível e impura para muitos ouvidos, como magia negra e feitiçaria.
Contra isso Paulo enfatiza exatamente o oposto: Cristo foi ressuscitado dentre os mortos de acordo com o Espírito de santidade, não um espírito escuro ou um mau espírito ou um espírito maculado, mas o próprio Espírito do próprio Deus que está posicionado acima de toda santidade. Ele não foi maculado ao ressuscitar Jesus. Isso foi algo santo a ser feito. Isso foi a coisa certa e boa e limpa e bela e que honra a Deus, não que diminui a Deus.
2) Através dessa ressurreição Cristo foi “declarado [ou nomeado] o Filho de Deus com Poder.”
A chave dessa frase está nas palavras “com poder”. Eu penso que as traduções bíblicas NASB e KJV e RSV estão certas em mostrar que essa frase refere-se ao “Filho de Deus.” A questão não é que na ressurreição Cristo deixou de ser Filho de Deus em humildade e limitações humanas e fraqueza e passou a ser Filho de Deus com poder. A chave da frase é “com poder”. Era isso que Jesus queria dizer depois da ressurreição quando ele afirma” Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra” (Mateus 28:18). É o que Paulo quis dizer em 1 Coríntios 15:25-26 quando ele disse a respeito do Cristo ressurreto, “Pois é necessário que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo de seus pés. Ora, o último inimigo a ser destruído é a morte.” Em outras palavras, Jesus é o Rei Messiânico. Ele reina agora sobre o mundo. Ele está colocando todos os seus inimigos debaixo de seus pés. Haverá um dia quando ele sairá de seu invisível e estabelecerá seu reino abertamente e gloriosamente na terra. É isso que Paulo quer dizer com “Filho de Deus no poder”. Ele está reinando agora. Ele está trabalhando seus propósitos através do Seu Espírito e da Sua igreja. E o dia virá quando Cristo derrotará todo inimigo, e todo joelho de sobrará e confessará que Ele é Senhor para a Glória do Deus Pai (Filipenses 2:11).
Essa será a consumação do evangelho de Deus. Ao que dizemos, “Amém, vem Senhor Jesus.”








6 - Quem Precisa do Evangelho?

por Charles Haddon Spurgeon

 “Os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento.” Marcos 2:17

“Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios.” Romanos 5:6

“Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” Romanos 5:8

“palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal.” I Timóteo 1:15

Na noite de quinta-feira passada, com considerável dificuldade, vim aqui para pregar o evangelho de Jesus Cristo, e usei em minha pregação alguns dos mais claros textos que se possa imaginar, repletos dos mais simples elementos do Evangelho. Em poucos minutos, o sermão produziu uma colheita. A congregação era escassa devido ao mau tempo, e vocês não esperavam que vosso pastor pudesse pregar. Mas, apesar de todas as circunstâncias, três pessoas passaram à frente, sem que ninguém requisitasse isso delas, para dar testemunho de que haviam encontrado a paz com Deus. Se o número de pessoas era maior, eu não sei, contudo essas três buscaram aos irmãos e confessaram de maneira sincera e de todo coração o feito bendito de que, pela primeira vez em suas vidas, tinham entendido o plano de salvação. Então, me pareceu que se um tema tão descomplicado do Evangelho foi de tão repentino proveito, que eu deveria sujeitar-me de novo à temas deste tipo.
Se um agricultor descobre que algum tipo determinado de semente tem um resultado tão eficaz, que produz uma colheita tal como nunca antes o agricultor obteve, ele certamente usará de novo essa semente e semeará mais dela. Esses processos eficazes de produção agrícola devem se manter, e ser usados em maior escala. Por isso, esta manhã irei pregar simplesmente o A B C do Evangelho; os primeiros rudimentos da arte da salvação, e dou graças a Deus que isto não será novo para mim. Que Deus o Espírito Santo, em respostas as orações de vocês, nos conceda no dia de hoje uma recompensa, na mesma proporção de quinta feira passada, e se é assim, nosso coração estará muito feliz.
De um abundante número de textos, eu selecionei os quatro mencionados acima para proclamar a verdade de que a missão de Nosso Senhor estava relacionada com os pecadores. Para que venho Cristo ao mundo? Para quem venho? Estas são perguntas muito importantes, e a Escritura tem as claras respostas. Quando os filhos de Israel encontraram pela primeira vez o Maná fora do acampamento, disseram um aos outros, “Maná? O que é isto?” porque não sabiam o que era. Ali estava essa pequena e redonda substância, tão diminuta como a geada no chão. Não há duvida que olharam o Maná , levantaram e tocaram ele com suas mãos; cheiraram ele, e como se alegraram quando Moises disse-lhes: ” É o pão que Jeová dá para vós para comer”. Não passou muito tempo antes que pudessem provar essa boa nova, pois cada homem recolheu uma medida completa, e levou para sua casa, e preparou-a a seu gosto.
Nesse instante, em relação ao Evangelho, há muitos que poderiam exclamar: “Maná?” por que não sabem o que ele é! Também, muito frequentemente, equivocam-se no que se refere a seu sentido e propósito, e consideram que é algo assim como uma lei superior, ou um sistema mais fácil de salvação por obras; e por isso também se equivocam em sua ideia sobre as pessoas a quem o Evangelho está dirigido. Imaginam que, certamente, as benções da salvação estão destinadas para as pessoas que merecem elas, e Cristo deve ser o Redentor daqueles que tem acumulado méritos. Sobre o princípio de “bem por bem”, chegam à conclusão que a graça é para quem possui excelência, e que Cristo é para o virtuoso. Portanto, é muito útil que recordemos continuamente aos homens o que é o evangelho, e para quem ele tem sido enviado ao mundo; porque ainda que a maioria de vocês o saiba muito bem, e não necessitam que diga-lhes, no entanto, há multidões ao nosso redor que persistem em graves erros e precisam ser instruídos uma e outra vez nas mais básicas doutrinas da Graça.
Há menos necessidade de laboriosas explicações dos profundos mistérios do que de simples explicações das mais simples verdades. Muitos homens somente necessitam de uma simples chave para abrir o cadeado e abrir a porta da fé, e tenho a esperança de que Deus, em sua infinita misericórdia, porá tal chave em suas mãos nesta manhã.
 Nossa missão é mostrar que o Evangelho está dirigido aos pecadores, e fixa seus olhos nos culpados; que ele não foi enviado ao mundo como uma recompensa para as pessoas boas ou excelentes, ou para aquelas que pensam que tem certas qualidades, ou que estão preparadas para o favor divino; mas antes, está destinado aos que descumprem a lei, aos indignos, aos ímpios, aos que tem se extraviado como ovelhas perdidas, ou os que tem abandonado a casa de seu pai como o filho pródigo. Cristo morreu para salvar os pecadores, e Ele justifica aos ímpios. A verdade é suficientemente clara na Palavra, mas como o coração da coices contra ela, devemos insistir nela com muita dedicação.

I. Primeiro, UM OLHAR SUPERFICIAL PARA A MISSÃO DE NOSSO SENHOR BASTA PARA MOSTRAR QUE SUA OBRA FOI PARA O PECADOR. Porque, queridos irmãos, a vinda do Filho de Deus para este mundo como Salvador significou que os homens necessitavam ser liberados de um mal muito grande, por meio de uma mão divina. A vinda de um Salvador, que mediante sua morte proporcionaria o perdão para o pecado do homem, significou que os homens eram extremamente culpados e incapazes de procurar o perdão por meio de suas próprias obras. Vocês nunca teriam visto um Salvador se não houvesse ocorrido uma caída. O Éden caído foi um prefácio necessário para as angústias do Getsêmani. Vocês nunca teriam conhecido de uma cruz, nem de um salvador sangrante nela, se não houvessem escutado primeiro da árvore da ciência do bem e do mal, nem de uma mão desobediente que arrancou a fruta proibida. Se a missão de nosso Senhor não se referisse ao culpado, seria então, até onde podemos entender uma tarefa totalmente desnecessária. O que justifica a encarnação, se não a ruína do homem? O que pode explicar a vida de sofrimento de nosso Senhor se não a culpa do homem? Acima tudo, o que explica sua morte e a nuvem sob a qual morreu se não o pecado do homem? “Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos.” Essa é a resposta a um enigma que, de qualquer outra maneira, não teria resposta.
Se olharmos o pacto sob qual venho nosso Senhor, logo perceberemos que sua orientação é para os homens culpados . A benção do pacto de obras tem a ver com os que são inocentes, a aqueles são prometidas grandes bênçãos. Se houvesse existido uma salvação por obras, haveria sido por meio da lei, já que a lei é integra e justa e boa; mas o novo pacto evidentemente trata com pecadores, porque não fala de recompensa ao mérito, mas antes, promete sem condições: ”Serei misericordioso quanto as suas injustiças e jamais me recordarei de seus pecados.“ Se não houvesse existido pecados, iniquidades e injustiças, não haveria tido necessidade do pacto da graça, do qual Cristo é o Mensageiro e o Embaixador. O mais ligeiro olhar ao caráter oficial de nosso Senhor como o Adão de um novo pacto deveria ser suficiente para convencer-nos de que sua missão é para os homens culpados. Moisés vem para mostrar para nós como o homem santo deve comportar-se, mas Jesus vem para revelar como o impuro pode ser limpo.
Sempre que escutamos algo da missão de Cristo, é descrito como uma missão de misericórdia e graça. Na redenção que está em Cristo Jesus, é a misericórdia de Deus a que é sempre exaltada. Nos salvou por sua misericórdia. Ele, por meio de Jesus, por sua abundante misericórdia, perdoa nossas ofensas. “a lei foi dada por meio de Moisés; a graça e a verdade nos vieram por Jesus Cristo.” “Quanto mais abundou para muitos a graça de Deus e a dádiva pela graça de um só homem, Jesus Cristo” . O apóstolo Paulo, que foi quem explicou de maneira mais clara o evangelho, estabelece a graça como a única palavra em que se apóiam as reviravoltas. “Onde o pecado abundou, superabundou a graça” e “ Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, pois é dom de Deus.” e “ Assim também a graça reine pela justiça para vida eterna, por meio de Jesus Cristo nosso Senhor.”
Mas, irmãos , a misericórdia implica pecado: não se pode reservar nenhuma misericórdia para os justos, porque é a justiça mesma quem lhes outorga todo o bem. Assim mesmo, a graça só pode ser dada aos pecadores. Que graça necessitam aqueles que tem guardado a lei, e merecem o bem das mãos de Jeová? Para eles, a vida eterna seria mais bem uma dívida, uma recompensa muito bem ganhada; mas quando se toca no tema da graça, de imediato há de eliminar-se a ideia de mérito, e é necessário introduzir outro principio. Só se pode praticar a misericórdia ali onde existe pecado, e a graça não pode ser concedida se não para aqueles a quem não tem mérito nenhum. Isto é muito claro e , no entanto, todo o conteúdo da religião de alguns homens está baseado em outra teoria.
O fato é que, quando começamos o estudo do evangelho da graça de Deus, vemos que sempre volta seu rosto até ao pecado, da mesma maneira que o médico olha para a enfermidade, ou a caridade atenta para a necessidade. O evangelho lança seus convites, mas, que são as convocações? Não estão dirigidos a aqueles que estão carregados com o peso do pecado , e estão fatigados tratando de escapar de suas consequências? Chama a toda criatura porque toda criatura tem suas necessidades, mas especialmente diz: “Deixe o ímpio seu caminho, e o homem iníquo seus pensamentos.” Convida o homem que não tem dinheiro, ou dito em outras palavras, sem nenhum mérito. Chama a aqueles que estão necessitados, e sedentos, e pobres, e desnudos, e todas essas condições são figuras de estados equivalentes produzidas pelo pecado.
Os próprios dons do evangelho implicam pecado; a vida é para os mortos, a vista para os cegos, a liberdade é para os cativos, a limpeza é para os sujos, a absolvição é para os pecadores. Nenhuma benção do evangelho é proposta como uma recompensa, e não se faz nenhuma convocação a quem reclama as bênçãos da graça como algo a que tem direito; os homens são convidados a vir e receber dons gratuitamente de acordo com a graça de Deus. E quais são os mandamentos do evangelho? O arrependimento. Porém, quem se arrepende, senão um pecador? A fé. Mas crer não é um mandamento da lei; a lei só fala de obras. Crer tem que haver com os pecadores, e com o método de salvação por meio da graça.
As descrições que o evangelho faz de si mesmo usualmente apontam para o pecador. O grande rei que faz uma festa e não encontra a nenhum convidado que se sente á mesa entre aqueles que naturalmente se esperava que chegassem, mas que obriga aos homens que vão pelos caminhos e pelos becos, a entrarem na sua festa. Se o evangelho se descreve a si mesmo como uma festa, é uma grande festa para os cegos, para os coxos, e para os alijados; se ele se descreve a si mesmo como uma fonte, é uma fonte aberta para limpar o pecado e as impurezas. Em todas as partes, em todo o que faz e diz e dá aos homens, o evangelho manifesta-se como o amigo do pecador. O tema de seu Fundador e Senhor é “este recebe aos pecadores”. O evangelho é um hospital para os enfermos, ninguém se não os culpados aceitará seus benefícios; é remédio para os enfermos, os sãos e os que crêem em sua justiça própria nunca poderão apreciar suas porções salvadoras. Aqueles que imaginam possuir alguma excelência ante Deus nunca se preocuparão de serem salvos pela graça soberana. O evangelho, eu digo , foca o pecador. Nessa direção, e só nessa direção, lança suas bênçãos.
E irmãos, vocês sabem que o evangelho sempre há encontrado seus maiores troféus entre os maiores pecadores: Alista seus melhores soldados não somente das fileiras dos culpados, se não que também das classes dos mais culpados. Disse nosso Senhor a Simão Pedro “uma coisa tenho a dizer-te. E ele disse: Dize-a, Mestre. Certo credor tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos dinheiros, e outro cinquenta. E, não tendo eles com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Dize, pois, qual deles o amará mais?” O Evangelho se baseia sobre o principio de quem teve muito para ser perdoado, esse irá amará mais, e assim seu Senhor misericordioso se deleita buscando os mais culpados e manifestando-se a eles com amor abundante e sobre-abundante, dizendo “Apago como nevoas tuas rebeliões e como nuvem seus pecados”. Entre os grandes transgressores encontra aos que mais intensamente o amam, uma vez que são salvos, e destes recebe a boa vinda mais cordial, e neles obtêm os seguidores mais entusiastas. Uma vez que são salvos, os grandes pecadores coroam essa graça imerecida com seus diademas mais ilustres. Podemos estar bem seguros que Ele tem seus olhos postos nos pecadores, posto que encontre sua maior glória nos maiores pecadores
Há outra reflexão que está muito perto da superfície, no caso, que se o evangelho não olha para os pecadores, a que mais poderia olhar? Parece que tem existido ultimamente um ressurgimento do antigo espírito que apresenta objeções, de maneira que os orgulhosos fariseus constantemente nos dizem que a pregação da justificação pela fé tem sido conduzida mais fora de seus limites, e que estamos conduzindo as gentes a valorizar menos a moralidade ao pregar a graça de Deus. Esta objeção, frequentemente refutada, esta saindo de seu esconderijo outra vez, por que o Protestantismo está perdendo sua seiva e sua alma. A mesma força e coluna vertebral do ensino dos Reformadores foi essa grande doutrina da graça, que a salvação não é por obras, mas sim somente pela graça de Deus; e como os homens estão se afastando da Reforma, e estão se deixando influenciar pela Igreja Católica Romana, estão deixando de lado essa grandiosa verdade da justificação pela fé somente, e pretendendo que lhe tenham temor. Porém, oh! Quais miseráveis e tontos são muitíssimos homens em relação com esse tema! Proponho a todos eles uma pergunta: Para quem, senhores, olharia o evangelho, se não aos pecadores, porque que coisa vocês são, se não pecadores? Vocês que falam que a moralidade é lastimada, que a santidade é ignorada, o que vocês têm a ver com qualquer delas?
A gente que usualmente recorre a estas objeções, geralmente, faria melhor em não tocar nesses temas. Em geral, esses furiosos defensores da moralidade e da santidade, são sumamente liberais, enquanto que os crentes na graça de Deus são frequentemente, acusados de Puritanismo e rigidez. Ele que mais se adianta em falar contra as doutrinas da graça é frequentemente o homem que mais necessita delas, enquanto o que se opõe as boas obras como a base para se confiar, é precisamente a pessoa cuja vida está cuidadosamente dirigida pelos estatutos do Senhor. Saibam, oh homens, que não vive na face da terra um homem a quem Deus possa olhar com prazer se considerará a esse homem à luz de Sua lei. “Cada um havia se desviado, e juntamente se corromperam. Não há quem faça o bem, nem sequer um só.” Nenhum coração, por natureza, é são e justo ante Deus, nenhuma vida é pura ou limpa quando o Senhor vem para examinar ela com Seus olhos que tudo o vêem. Estamos encarcerados na mesma prisão com todos os culpados, se não somos igualmente culpados, se somos culpados na medida de nossa luz e nosso conhecimento, e cada um é condenado justamente, porque temos nos desviado nosso coração e não temos amado ao Senhor. A quem, então, poderia o Evangelho mirar, se não dirigisse seus olhos para o pecador? Por quem mais poderia haver morto o Salvador? Que pessoas há no mundo para quem os benefícios da graça poderiam ter sido destinados?

II. Em segundo lugar, QUANTO MAIS FIXAMENTE OLHAMOS, MAIS CLARAMENTE VEMOS ESTE FATO, porque, irmãos, a obra de salvação certamente não foi levada a cabo em favor de nenhum de nós que somos salvos por causa de alguma bondade em nós mesmos. Se houvesse algo bom em nós teria sido posto pela graça de Deus, e certamente não estava ai quando, no princípio, as entranhas do amor de Jeová começaram a mover-se em favo depara nós. se toma o primeiro sinal distintivo de salvação que foi realmente visível na terra, quer dizer, a vida de Cristo, nos é dito que “Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios. Porque apenas alguém morrerá por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém ouse morrer. Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores”. Assim que, nossa redenção, meu irmão, foi efetuada antes que nascêssemos. Este foi o fruto do grande amor do Pai “que nos amou, ainda estando nós mortos em pecados.” Não havia antes, em nós , nada que pudesse ter merecido essa redenção, e certamente a simples ideia de merecer a morte de Jesus é absurda e é uma blasfêmia. Sim, em quando vivíamos no pecado e amávamos o pecado, faziam-se preparativos para nossa salvação; o amor divino estava ocupado em nosso favor enquanto nós estávamos ocupados na rebelião. O Evangelho foi trago perto de nós , corações sinceros se puseram a orar por nós ; foi escrito o texto que nos converteria, e como já disse, derramou-se o sangue que nos limpa, e foi dado o Espírito de Deus, que nos regeneraria. Tudo isso se fez quando, todavia, não buscávamos a Deus. Não é maravilhosa a passagem do livro de Ezequiel, onde o senhor, passou e olhou ao bebe indefeso, lançado ao campo aberto quando não estava envolto em panos e não havia sido lavado com água, se não que estava sujo e revolvendo-se em seu sangue ? Se diz que era tempo de amor, e no entanto, era um tempo de impureza e desprezo. Ele não amou ao elegido bebe por que estivesse bem lavado e adequadamente vestido, mas antes o amou quando ainda estava sujo e nu. Que cada coração crente admire a liberalidade e a compaixão do amor divino.

Meu viu arruinado na queda
Porém me amou, apesar de tudo;
Me salvou de meu estado perdido,
Sua misericórdia, oh, qual grande!

Quando teu coração era duro, quando sua cerviz era obstinada, quando não querias se arrepender nem submeter-se a Ele, antes se rebelava cada vez mais e mais, Ele te amou, sim, a você, com afeto supremo. Por que uma graça tal? Porque haveria de ser, mas se não é porque sua natureza está cheia de bondade e Ele se deleita na misericórdia? Não se enxerga a claramente a misericórdia estendida até o pecador em vez de ser cedida em base de algo bom?
Olhem ainda mais atentamente. O que venho fazer nosso Senhor ao mundo? Aqui está a resposta. “Ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.” Ele veio para ser quem carregaria, suportaria, o pecado: e vocês crêem que veio para carregar só com os pecados pequenos, os pecados sem importância do melhor tipo de homens, se existem tais pecados? Vocês supõem que Ele é um pequeno Salvador, quem veio nos salvar das pequenas ofensas? Meus amados, esse é o bem amado Filho de Jeová que vem a terra e leva a carga do pecado, uma carga que, quando a leva , descobre que não é uma carga fictícia, por que provoca Nele suores sangrentos. Tão pesada é essa carga, que inclina sua cabeça á tumba, e ainda a morte debaixo dela. Esse imenso peso que estava sobre Cristo era o somatório, o total, de nossos pecados; e, portanto quando nos fixamos nesse tema percebemos que o Evangelho tem que haver com os pecadores.
Não há pecado! Então a cruz é um equivoco. Não há pecado? Então o Lama Sabactani foi só uma queixa contra uma crueldade sem necessidade. Não há pecado! Então, oh, Redentor, quais são essas glórias que nós tão ansiosamente temos lhe atribuído? Como Tu podes tirar um pecado que não existe? A existência de uma grande pecado está implícita na vinda de Cristo, e essa vinda foi ocasionada e feita necessária pelo pecado, contra o qual Jesus vem como nosso Libertador. Ele declara que abriu uma fonte, cheio com o sangue de suas próprias veias. Porém, para que? Uma fonte que limpa implica sujeira. Deve ser, pecador, que de alguma forma ou outra , existe gente suja, ou se não, não teria existido uma assombrosa fonte como está, cheia do coração de Cristo. Se você é culpado, então você é um necessitado dessa fonte, e está aberta para ti. Vem como todo teu pecado e tua sujeira e lave-te hoje, e seja limpo.

Foi pelos pecadores que sofreu
Agonias inexprimíveis;
Podes duvidar que és um pecador?
Se tens duvidas, então adeus esperança.
Porém, ao crer o que está escrito:
Todos são culpados, mortos no pecado,
Olhando ao Crucificado
A esperança levantará tua alma.

Irmãos, todos os dons que Jesus Cristo venho dar, o pelo menos, a maior parte deles, implica que existe pecado. Qual é seu primeiro dom, se não o perdão? Como pode perdoar a um homem que não tem transgredido? Falo com toda reverência, não pode existir tal coisa como perdão onde não há ofensa cometida.
Propiciar pelo pecado e apagar a iniquidade, ambas as coisas requerem que haja um pecado para que possa ser apagado. Ou, se não, o que há de real nelas? Cristo vem para trazer a justificação, e isto mostra que deve existir uma falta de santidade natural nos homens, porque, se não, seriam justificados por eles mesmos e por suas próprias obras. E por que todas estas expressões sobre a justificação pela justiça do Filho de Deus, se os homens já estão justificados por sua própria justiça? Essas duas bênçãos, e outras do mesmo tipo, são claramente aplicáveis somente aos pecados. Para ninguém mais podem ser de utilidade.
Nosso Senhor Jesus Cristo venho também cingido com poder divino. Ele disse, “O Espírito do Senhor Jeová está sobre mim.” Com qual fim foi coberto com poder divino, a menos que o pecado houvesse tomado todo o poder e a força do homem, e que o homem estivera em uma condição da qual não podia ser levantado, exceto pela energia do Espírito eterno? E o que implica isto, se não que a missão de Cristo se dirige para aqueles que, através do pecado, estão sem força e sem mérito ante Deus? O Espírito Santo é dado porque o espírito do homem falhou: porque o pecado quitou a vida do homem, e o há deixado morto em transgressões e pecados.
Portanto, o Espírito Santo vem para reanimá-lo, dando-lhe uma nova vida, e esse Espírito vem por Jesus Cristo. Por conseguinte, a missão de Jesus Cristo é claramente para o culpado.
Não deixarei de dizer que, as grandes obras de nosso Senhor, se olham elas cuidadosamente, todas tem que ver com os pecadores. Jesus vive: é para que possa buscar e salvar o que está perdido. Jesus morre; é para que possa fazer uma propiciação pelos pecados de homens culpados. Jesus ressuscita; ressuscita para nossa justificação, e como tenho mostrado, não necessitamos da justificação a menos que houvéssemos sido naturalmente culpados. Jesus sobe ao alto e Ele recebe dons para os homens; mas observem essa palavra especial, “Ainda dos rebeldes, para que ali habitasse Jeová Deus.” Jesus habita no céu, porém Ele vive ali para interceder. “Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles.” Assim que, tomem qualquer parte que queiram de suas gloriosas conquistas e encontrarão que há uma relação clara para aqueles que estão imersos na culpa.
E meus amados, todos os dons e bênçãos que Jesus Cristo trouxe para nós derivam muito de seu brilho por sua relação com os pecadores. É em Jesus Cristo que somos eleitos, e para mim a glória desse amor que elege descansa nisto, que foi dirigido para tais objetos sem mérito algum. Como pôde existir uma eleição, se houvesse sido de acordo ao mérito? Então os homens teriam se classificado por direito próprio de acordo às suas obras. Porém, as glórias da eleição brilham com a graça, e a graça tem sempre como seu envelope e como seu conteúdo interno a falta de méritos dos objetos para os quais se manifesta. A eleição de Deus não é de acordo as nossas obras, mas antes, uma imerecida eleição dentre os pecadores. Adoremos e nos maravilhemos.
Voltem-se para contemplar o chamado eficaz, e veja qual delicioso é ver-lhe como uma chamada que vivifica aos mortos, e chama as coisas que não existem , como se existissem, como uma chamada aos condenados para dar-lhes perdão e favor. Voltem-se, continuando, para a adoção. Qual é a glória da adoção, se não que Deus tem adotado aqueles que eram estranhos e rebeldes, para fazer-lhes seus filhos? Qual é a beleza especial da regeneração, se não que ainda destas pedras Deus tem podendo levantar filhos a Abraão? Qual é a beleza da santificação, se não que tem tomado criaturas tão ímpias como nós somos, para fazer-nos reis e sacerdotes para Deus, e para santificar-nos completamente: espírito, alma e corpo? Penso que é a glória do céu pensar que aqueles membros do coro vestidos de branco estiveram algumas vezes criminosamente corrompidos; esses felizes adoradores foram, em outro tempo, rebeldes contra Deus.
É um quadro feliz ver aos anjos que não caíram e que conservaram seu primeiro estado, perfeitamente puros e para sempre louvando a Deus; porém a visão de homens caídos que foram divinamente resgatados está mais plena da glória de Deus. Por mais que os anjos elevem suas alegres vozes em corações perpétuos, nunca podem alcançar a doçura especial dessa canção: “Temos lavado nossas vestes e as branqueamos no sangue do Cordeiro.” Não podem experimentalmente entrar nessa verdade que é a glória que coroa ao nome de Jeová: “Tu fostes imolado e com teu sangue nos redimiu para Deus”
Desta maneira abundantemente demonstrei que quanto mais olhemos, mais claro resulta que o evangelho está dirigido aos pecadores e está especialmente planejado para seu beneficio.

III Agora, em terceiro lugar, é evidente que É NOSSA SABEDORIA ACEITAR A SITUAÇÃO. Sei que para muitos, está é uma doutrina de sabor amargo. Bem amigo, é melhor que mude teu paladar, porque nunca será capaz de alterar essa doutrina. É a verdade do Deus eterno, e não pode ser mudada. O melhor que podes fazer, já que o evangelho foca aos pecadores é estar no lugar para onde o evangelho olha; e posso te recomendar isso, não somente como política, se não que por honestidade, porque somente estará no lugar correto quanto estejas ali.
Parece que ouço que apresentam objeções. “Não admiro esse sistema. Vou ser salvo da mesma maneira que um ladrão moribundo?” Assim é precisamente, senhor, a menos que sucedera que te é dada maior graça a ti que a ele, ” Porém tu não quer dizer que no tema da salvação, vou ser colocado no mesmo nível que a mulher que foi uma pecadora? Fui puro e casto, e , vou dever minha salvação à absoluta misericórdia de Deus tanto como ela?” Sim senhor, digo isso, exatamente assim. Só há um princípio sob qual Deus salva aos homens, e é o da graça imerecida. Quero que estenda isto. Ainda que isso se mastigue entre teus dentes como grão de areia e te enoje, não lamentará se chegas, a saber, que é o que quero dizer; por que a verdade, todavia, pode entrar em sua alma, e pode te inclinar ante seu poder. Oh, filhos de piedosos pais, vocês jovens de excelente moral e de delicada consciência, a vocês falo, sim, a vocês! Alegrem-se de seus privilégios, porém não se orgulhem deles, porque vocês também tem pecado, tem pecado contra a luz e o conhecimento, vocês o sabem. Se não caíram nos pecados mais terríveis de obras e feitos, no entanto, no desejo e na imaginação já se extraviaram o suficiente, e em muitas coisas terrivelmente ofenderam a Deus. Se, com estas considerações ante vocês, tomam seus lugares como pecadores, não serão desonrados, mas sim que simplesmente estarão onde devem estar.
E então recordem, se obtêm a benção desta maneira, terão obtido ela da maneira mais segura possível. Suponham que há um numero de salões para os convidados, e eu ocupei um dos melhores, poderia ser que não tenha direito de estar ali; Estou comendo e bebendo das provisões para os convidados de maior classe, e meu bilhete não corresponde a esta categoria, e, portanto, me sinto muito incomodado. Cada mordida que dou, penso comigo mesmo: “Não sei se permitirão permanecer aqui, e talvez o senhor da festa venha e me diga’ Amigo, como entraste aqui sem estar vestido de roupa de boda?” E com muita vergonha devo proceder a tomar meu lugar em um salão de classe muito menor. “
Irmãos, quando começamos de baixo, e nos sentamos no salão de menor categoria, nos sentimos seguros, estamos satisfeitos porque o que temos é para nós, e não nos será tirado. Talvez, quando o rei venha, nos possa levar a um salão de melhor classe. Não a nada como começar no lugar mais baixo. Quando me afirmo na promessa como um santo, tenho minhas duvidas acerca dela, porém quando me agarro dela como um pecador, já não me cabe nenhuma duvida. Se o Senhor me pede que eu alimente-me de sua misericórdia, como Seu filho eu o faço, porém o diabo sussurra ao meu ouvido que estou presumindo, porque nunca fui realmente adotado pela graça; mas quando chego a Jesus como culpado, como um pecador sem méritos e tomo o que o Senhor livremente me apresenta ao crer, o diabo mesmo não pode me dizer que não sou um pecador, ou se o diz, a mentira é demasiadamente clara, e não me vem nenhuma preocupação. Não há nada como ter um título irrevogável, e se a descrição de vocês no titulo é que são pecadores, isso é indisputável porque realmente vocês o são. De tal maneira que o lugar do pecador é o verdadeiro lugar de vocês e seu lugar mais seguro.
Outra benção é que é um lugar ao que podes ir diretamente, inclusive, nesse mesmo instante. Se o evangelho olhasse para os homens que tem certo estado de coração, no qual existam virtudes dignas de elogio, então, quanto tempo me tomará elevar meu coração a esse estado? Se Jesus Cristo vem ao mundo para salvar homens que tem certa medida de excelência, então quanto tempo me tomaria alcançar essa excelência? Posso enferma-me e morrer em um lapso de meia hora, e ouvir a sentença do juízo eterno, e seria para mim um pobre evangelho o que me dissesse que possivelmente obteria a salvação se alcançasse um estado que tomaria vários meses para obtê-lo. Nessa hora eu, um moribundo, sei que posso sair deste mundo, e além do alcance da misericórdia, no espaço de uma hora; que consolo é que esse evangelho venha a mim e se me dê justo agora, ainda na situação em que me encontro! Já estou nessa posição, na que a graça começa com os homens, porque sou um pecador, e só tenho que reconhecê-lo. Agora, pois, pobre alma, senta-se ante o Senhor e diga: “Senhor, venho teu Filho a salvar os culpados? Eu o sou, e confio Nele para que me salve. Morreu Ele pelos ímpios? Eu sou um, Senhor, confio em que seu sangue me limpe. Sua morte foi pelos pecadores? Senhor, assumo essa posição. Confesso-me culpado. Aceito a sentença de tua lei como justa, porém, salva-me, Senhor, pois Jesus morreu.” Se foi concluída, você está seguro. Vai em paz, meu filho; teus pecados, que são muitos, te são perdoados. Vá, filha minha, segue teu caminho, e alegre-se; o Senhor tirou teu pecado; não morrerás, porque quem crê, está justificado de todo pecado.
“Bendito é o homem a quem o Senhor não lhe culpa de iniquidade, e em cujo espírito não há engano.” Vá, então, à sua verdadeira posição, aceita a situação em que a graça considera que deve estar. Não fale nem de justiça nem de mérito; mas sim, apela à piedade e ao amor.
Certo homem havia conspirado várias vezes contra o primeiro Napoleão, e eventualmente, estando completamente nas mãos do imperador, pronunciou-se sua sentença de morte. Sua filha suplicou ardentemente por sua vida, e por fim, quando obteve uma audiência com o imperador, caiu de joelhos ante ele. “Minha filha,” disse Napoleão, “é inútil que suplique por teu pai, porque tenho a evidência mais clara de seus múltiplos crimes, e a justiça requer que morra.” A menina lhe disse, “Senhor, não peço justiça, imploro misericórdia. Eu confio na misericórdia de teu coração e não na justiça do caso”. Ele a ouviu pacientemente, e pelo seu pedido, e a vida de seu pai foi salva. Imitem essa súplica e clamem: ” Tem piedade de mim, oh Deus, conforme a sua misericórdia.”
A justiça não te deve nada se não somente a morte, só a misericórdia pode te salvar. Deixa de lado qualquer ideia de poder defender-se eficazmente; admite que não tem defesa e declare-se culpado. Confia na misericórdia da corte e pede misericórdia, misericórdia por pura graça, imerecida misericórdia, favor gratuito: isto é o que deve pedir e tal como na lei a uma forma de juízo chamada in forma pauperis, quer dizer, na forma de um indigente, adote ao método e como um homem cheio de necessidades, suplica o favor das mãos de Deus, in forma pauperis, e lhe será concedido.

IV Agora encerro esse discurso com o seguinte ponto, o qual é ESTA DOUTRINA TEM UMA GRANDE INFLUÊNCIA SANTIFICADORA. “Isso,” diz alguém, “não posso crer. Certamente tem estado outorgando um valor ao pecado, ao dizer que Cristo veio a salvar somente aos pecadores, e não chama a ninguém ao arrependimento que não aos pecadores.” Queridos senhores, ouvi esse tipo de comentários tantas vezes que já os sei de memória; as mesmas objeções contra essa doutrina foram apresentadas pelos seguidores do Papa nos dias de Lutero, e desde então, por todos os que obtêm benefícios especiais com a boa fé.
A opinião que a graça imerecida se opõe à moralidade, não tem nenhum fundamento. Eles sonham que a doutrina da justificação pela fé conduzirá ao pecado, porém se pode demonstrar pela história que cada vez que esta doutrina tem sido magistralmente pregada, os homens são feitos mais santos, e cada vez que essa verdade tem sido obscurecida, abundou todo tipo de corrupção. A doutrina da graça e a vida sustentada pela graça encaixam perfeitamente, e o ensino da lei e uma vida sem lei, geralmente se encontra associadas.
Vamos mostrar-lhes o poder santificador deste evangelho. Sua primeira operação nessa direção é esta: Quando o Espírito Santo faz penetrar a verdade do perdão imerecido em um homem, muda completamente seus pensamentos no concernente a Deus. “O que?” diz ele, “ Deus tem perdoado-me gratuitamente de todas as minhas ofensas por causa de Cristo? E me ama apesar de todo meu pecado? Eu não sabia que Ele fora assim, tão cheio de graça e bom! Pensei que Ele era duro; chamei-lhe de tirano, colhendo onde não havia plantado, porém, Ele sente assim por mim?” ” Então”, diz a alma, ” então eu o amo por isso” Há uma mudança radical de sentimento, um giro completo tão logo que ele entende a graça redentora e o amor até a morte. Ao contemplar a graça, se produz a conversão.
Mais ainda, esta grandiosa verdade faz algo mais que mudar a um homem, o inspira, o derrete, o vivifica e o inflama! Esta é uma verdade que sacode as profundezas do coração e enche o homem de vivas emoções. Nós conversamos sobre fazer o bem, e dos justos, e da justiça , e da recompensa e castigo, e ele ouviu tudo isso que poderia ter tido alguma influência sobre ele, mas não o sentia profundamente. Uma lição assim é demasiadamente fria para aquecer o coração. Porém, a verdade que enche o coração do homem lhe parece nova e excitante. Vai mais ou menos assim: Deus, por sua pura misericórdia, perdoa ao culpado, e Ele te perdoou a ti. Então, isto o desperta , o sacode, toca a fonte de suas lágrimas, e move todo seu ser. Possivelmente, quando ouve o evangelho pela primeira vez, não lhe preocupa e até o odeia, porém quando chega-lhe com poder , tem um controle maravilhoso sobre ele. Quando recebe sua mensagem como realmente dirigida a ele, então seu frio coração de pedra se converte em carne; quente emoção, amor terno, humilde desejo, e um sagrado anelo pelo Senhor se agita em seu ventre. O poder vivificante desta verdade divina, assim como seu poder de conversão , nunca podem ser admirados em excesso.
Alem disso, quando essa verdade entra no coração, ela dá um golpe mortal na arrogância do homem. Muitos homens se haveriam feitos sábios, simplesmente pensado que já o são; e muitos teriam se feito virtuosos, somente concluindo que já tem alcançado a virtude. Eis aqui, esta doutrina golpeia duramente o crânio para tirar-lhes a confiança na própria bondade de vocês, e faz com que vocês sintam sua culpa; e ao fazer isso, arranca o grande mal do orgulho. Um sentido do pecado é o umbral da misericórdia. uma consciência da própria incapacidade, uma dor por todas as ofensas passadas, é uma preparação necessária para uma vida mais elevada e mais nobre. O evangelho cava os cimentos, cria um grande vácuo e dessa forma faz um espaço para colocar as gloriosas pedras de um nobre caráter espiritual, no devido lugar.
E também, quando se recebe essa verdade , é certo que brota na alma um sentimento de gratidão. O homem a que se tem perdoado muito, com toda segurança, em troca, amará muito. A gratidão a Deus é a grandiosa mola que move a santa ação. Aqueles que fazem o justo para serem recompensados por isso atuam de maneira egoísta. O egoísmo está no âmago de seu caráter; se abstém de pecar só para que seu Eu evite o sofrimento, e obedecem somente para que seu Eu esteja seguro e feliz. O homem que faz o justo, não pelo céu ou pelo inferno, mas porque Deus o salva, e ama a Deus que o salvou, é verdadeiramente o homem que ama o justo. O que ama o justo porque Deus o ama, tem sido levantado do pântano do egoísmo e é capaz da virtude mais elevada; sim, tem nele uma fonte viva, que fluirá e se derramará em uma vida santa enquanto viva.
E, queridos irmãos, penso que todos verão que o perdão imerecido para os pecadores promove uma parte do caráter verdadeiro, quer dizer, disposição para perdoar a outros, porque a quem se lhe há perdoado muito, resulta-lhe ser fácil perdoar as transgressões dos demais. Se não o faz, bem pode duvidar se tem sido ele mesmo perdoado; porém, se o senhor há apagado sua divida de mil talentos, ele de imediato perdoará os cem centavos que seu irmão lhe deve.
Por último, alguns de nós sabemos, e quiséramos que todos o soubessem por experiência pessoal, que um sentimento de favor imerecido e livre perdão, é a alma mesma do entusiasmo, e o entusiasmo é para os cristãos o que o sangue é para o corpo. Alguma vez vocês se entusiasmaram diante de um discurso frio sobre a excelência da moralidade? Sentiram que sua alma sacudia-se dentro de vocês ao escutar um sermão sobre as recompensas da virtude? Alguma vez entusiasmaram quando lhes foi dito sobre os castigos da lei? De nenhuma forma, senhores; porém preguem as doutrinas da graça, deixem que o favor soberano de Deus seja exaltado, e observem as consequências.
Há gente que está disposta a caminhar muitos quilômetros e aquentar juntos sem cansaço durante muitas horas para ouvir isto. Tenho conhecido aos que suportam duras caminhadas de muitas milhas para escutar a esta doutrina. Por quê? Porque o homem era eloquente, ou porque era bom orador? Nada disso: algumas vezes a pregação tem sido má, apresentada com uma linguagem sem educação, e, no entanto, esta doutrina sempre tem movido as pessoas. Existe algo na alma do homem que está buscando o evangelho da graça, e quando vem, há sempre fome para ouvi-lo. Vejam como nos tempos da Reforma, quando existia a pena de morte por ouvir um sermão, como que as gentes se reuniam à meia-noite; como caminhavam largas jornadas até os desertos e as covas para escutar o ensino destas velhas verdades grandiosas.
Há uma doçura sobre a misericórdia, da misericórdia divina, graciosamente dada, que captura o ouvido do homem e sacode seu coração. Quando esta verdade penetra na alma, gera entusiastas, mártires, confessores, missionários, santos.
Se existe cristãos sérios, e cheios de amor a Deus, e ao homem, são aqueles que sabem o que a graça tem feito por eles. Se há aqueles que permanecem fieis ante as criticas e cheios de gozo diante das penalidades e as cruzes, são aqueles que estão conscientes de sua divida para o amor divino. Se existe aqueles que se deleitam em Deus enquanto vivem, e descansam Nele quando morrem, são os homens que sabem que são justificados pela fé em Jesus Cristo que justifica ao ímpio.
Toda a glória seja para o Senhor que elevou ao mendigo, desde o montão de esterco e o colocou em meio dos príncipes de Seu povo. Ele toma aos descartados pelo mundo e os adota como membros de sua família e os faz herdeiros de Deus por Jesus Cristo. O Senhor nos permite conhecer o poder do evangelho sobre nosso Eu pecador. O Senhor nos faz querer o nome, a obra e a pessoa do Amigo do Pecador. Oxalá que nunca esqueçamos o buraco do poço do qual fomos tirados, nem a mão que nós resgatou, e nem a bondade imerecida que moveu a essa mão. A partir de agora, e cada vez com maior zelo, temos que falar da infinita graça. “Graça imerecida e amor até a morte” Bem diz essa canção espiritual: ” Soem esses sinos encantadores”
Graça imerecida e amor até a morte são as janelas de esperança do pecador! Nossos corações se alegram com essas palavras. Glória a ti, Oh Senhor Jesus, sempre cheio de compaixão. Amém.








7 - No Princípio Era o Verbo

Por John Piper

“1 No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. 2 Ele estava no princípio com Deus. 3 Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez.” (João 1.1-3)
O evangelho de João é o retrato de Jesus Cristo e sua obra redentora. Ele foca nos últimos três anos da vida de Jesus — e especialmente em sua morte e ressurreição. O propósito do evangelho é claro como se afirma em João 20.30-31: “Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome”. O evangelho foi escrito para ajudar as pessoas a crerem em Cristo e terem vida eterna.
Escrito para cristãos e não cristãos
Mas não entenda que o evangelho é somente para os não cristãos. Aqueles que creem em Jesus precisam continuar assim para serem salvos no fim. Jesus disse em João 15.6: “Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora, à semelhança do ramo, e secará; e o apanham, lançam no fogo e o queimam”. E em João 8.31, ele afirma: “Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos”.
Desse modo, quando João declara: “Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome”, quis dizer que escreveu para despertar a fé nos incrédulos e sustentar a fé dos cristãos e, assim, conduzir a ambos à vida eterna. E, talvez, não haja um livro melhor na Bíblia para ajudá-lo a prosseguir confiando e apreciando Cristo acima de tudo.
A narrativa de uma testemunha ocular

Esse retrato de Jesus foi escrito por uma testemunha ocular que foi parte destes eventos infinitamente relevantes. Cinco vezes neste evangelho encontramos as palavras fora do comum: “o discípulo a quem ele amava” (13.23; 19.26; 20.2; 21,7,20). Por exemplo, bem no fim é dito em João 21.20: “Então, Pedro, voltando-se, viu que também o ia seguindo o discípulo a quem Jesus amava”. Então, o versículo 24 declara: “Este é o discípulo que dá testemunho a respeito destas coisas e que as escreveu”. Assim, a pessoa chamada de “o discípulo a quem Jesus amava” — estava ali recostado em seu ombro na Última Ceia (13.23) — escreveu este livro como sua testemunha divinamente inspirada dos eventos sobre a vida de Jesus e que foram escritos para nós.
Divinamente inspirado
Uma das razões pelas quais digo que o evangelho é divinamente inspirado é porque foi o que Jesus prometeu realizar. Ele disse em João 14.26: “O consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito”. E em João 16.13, ele afirmou: “Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo que tiver ouvido...”.
Em outras palavras, Jesus escolheu seus apóstolos como seus representantes, salvou-os, ensinou-os e os enviou e, em seguida, deu-lhes o Espírito Santo, a divina orientação da Escritura como fundamento da igreja (Efésios 2.20). Cremos que o evangelho de João é, por conseguinte, a palavra inspirada de Deus.
Os primeiros três versículos de João
Essas palavras — “a palavra de Deus”— nos conduzem às primeiras palavras do evangelho de João. João 1:1–3: “1 No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. 2 Ele estava no princípio com Deus. 3 Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez”. Esses são os versículos em que focaremos hoje.
“O Verbo”: Jesus
Primeiro, focaremos no termo Verbo. “No princípio, era o Verbo”. O fato mais importante para saber sobre esse Verbo é encontrado no versículo 14: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como a do unigênito do Pai”. O Verbo se refere a Jesus Cristo.
João conhece o que escreve nesses 21 capítulos. Ele vai nos contar a história sobre o que Jesus Cristo fez e ensinou. É um livro sobre a vida e a obra do homem Jesus Cristo — o homem que João conheceu, viu, ouviu, tocou com suas mãos (1 João 1.1). Ele era de carne e sangue. Não era um espírito, aparição ou esvaecimento. Ele comeu, bebeu, ficou fatigado e João o conheceu muito intimamente. A mãe de Jesus viveu com João na última parte da vida dela (João 19.26).
Portanto, João (1.1-13) narrou os fatos mais fundamentais a respeito de Jesus que estivessem a seu alcance. A obra tomou três anos de esforço de João para que ele pudesse compreender a plenitude que Jesus representava. Mas ele não deseja que seus leitores tomem mais que três versículos para compreender o que tomou um tempo tão longo para que ele mesmo compreendesse. Ele quer que tenhamos em nossas mentes, fixados e claros, do princípio de seu evangelho, a majestade eterna, deidade e os direitos de Criador de Jesus Cristo.
Jesus em sua infinita majestade
Esse é o fato dos versículos 1-3. Ele propõe que leiamos este evangelho com um sentido de adoração, humildade, submissão e fascinação que o homem na cerimônia de casamento, junto à fonte e na montanha é o Criador do universo. Você entende e sente isso? Esse fato não é o meu propósito. Esse fato não é a estrutura do meu sermão. É a estrutura do evangelho. É a forma como João escreveu — a forma que Deus propôs a ele que ajuntasse toda a informação. Você ou eu poderíamos ter escrito esse evangelho de uma forma que sutilmente permitisse que a identidade de Jesus se ampliasse para os leitores ficarem fascinados: “Quem é este homem?”
Mas João diz não. “Nas primeiras palavras essenciais que escrevo com minha pena, vou surpreendê-lo e impressioná-lo com a identidade deste homem que se tornou carne e habitou entre nós. Portanto, não há engano”. João pretende que leiamos cada palavra desse evangelho com o conhecimento claro, sólido e surpreendente que Jesus Cristo estava com Deus e era Deus; e aquele que entregou sua vida por nós (João 15.13) criou o universo. João deseja que você conheça e creia no magnificente Salvador. Seja mais o que for que goste em Jesus, João quer que você conheça e aprecie Jesus em sua infinita majestade.
Por que o “Verbo”?
Mas ainda devemos perguntar, por que João preferiu chamar Jesus de “o Verbo”? “No princípio, era o Verbo”. Minha resposta a essa pergunta é: João chama Jesus de o Verbo porque ele compreendeu as palavras dele como a verdade de Deus e a pessoa de Jesus como a verdade de Deus de um modo unificado que o próprio Jesus em sua vinda, trabalho, ensino, morte e ressurreição foi a mensagem de Deus decisiva e final. Ou, para expressar isso de uma maneira simples: que o que Deus precisava dizer para nós não foi apenas ou principalmente o que Jesus disse, mas o que Jesus era e o que fez. Suas palavras elucidaram a ele mesmo e sua obra. Mas sua personalidade e sua obra se constituíram a verdade fundamental que Deus revelou. “Eu sou a verdade”, Jesus disse em João 14.6.
Cristo veio para dar testemunho da verdade (João 18.37) e ele era a verdade (João 14.6). Seu testemunho e sua pessoa foram a Palavra da verdade. “Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos” (João 8.31) e Jesus disse: “Se permanecerdes em mim” (João 15.7). Quando permanecemos nele, permanecemos na Palavra. Ele disse que suas obras eram um “testemunho” sobre ele (João 5.36; 10.25). Em outras palavras, em sua obra, ele era o Verbo.
Jesus é a mensagem de Deus decisiva e final
Em Apocalipse 19.13 (escrito pelo mesmo autor deste evangelho), João descreve o retorno glorioso de Jesus: “Está vestido com um manto tinto de sangue, e o seu nome se chama Verbo de Deus. Jesus é chamado de o Verbo de Deus quando retorna à terra. Em dois versículos seguintes, João declara: “Sai da sua boca uma espada afiada” (Apocalipse 19.15).” Para expressar de outro modo, Jesus ataca as nações no poder da palavra de Deus que ele proclama — a espada do Espírito (Efésios 6.17). Mas o poder dessa palavra é tão ligado com o próprio Jesus que João afirma que ele não tem apenas a espada da palavra de Deus saindo de sua boca, mas ele é o Verbo de Deus.
Desse modo, quando João começa seu evangelho, tem em vista toda a revelação, toda a verdade, todo o testemunho, toda a glória, toda a luz, todas as palavras que procedem de Jesus em sua vida, ensino, morte e ressurreição e ele sintetiza toda a revelação de Deus com o nome: Ele é “o Verbo” — a palavra, primeira, final, definitiva, decisiva, absolutamente verdadeira e confiável. O sentido é o mesmo como Hebreus 1.1-2: “Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho...”. O Filho de Deus encarnado é do próprio Deus o Verbo máximo e decisivo para o mundo.
Quatro observações sobre Jesus
Agora, que João quer nos dizer primeiramente a respeito deste homem Jesus Cristo cujas obras e palavras preenchem as páginas desse evangelho? Ele deseja nos dizer quatro fatos sobre Jesus Cristo: 1) o tempo de sua existência, 2) a essência de sua identidade, 3) seu relacionamento com Deus e 4) seu relacionamento com o mundo.
1) O tempo de sua existência
Versículo 1: “No princípio, era o Verbo”. As palavras “no princípio” são idênticas, em grego, às duas primeiras palavras no grego do Antigo Testamento: “No princípio, criou Deus os céus e a terra”. Essa expressão não é acidental, porque o primeiro fato de João irá nos dizer sobre o que Jesus fez é que ele criou o universo e é isso o que ele diz no versículo 3. Portanto, as palavras “no princípio” significam: antes que houvesse alguma matéria criada, havia o Verbo, o Filho de Deus.
Lembre-se: “Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus” (João 20.31). João começa seu evangelho por situar Jesus, o Cristo, o Filho de Deus, em relação ao tempo, a saber, antes do tempo. Judas exulta essa verdade com sua estupenda doxologia: “Ao único Deus, nosso Salvador, mediante Jesus Cristo, Senhor nosso, glória, majestade, império e soberania, antes de todas as eras, e agora, e por todos os séculos. Amém!” (1.25). Paulo afirma em 2 Timóteo 1.9 que Deus nos concedeu graça em Cristo Jesus “antes dos tempos eternos”. Assim, antes não havia algum tempo ou alguma matéria, havia o Verbo, Jesus Cristo, o Filho de Deus. Este Jesus que iremos encontrar nesse evangelho.
2) A essência de sua identidade
O versículo 1, ao fim: “O Verbo era Deus”. Uma das marcas desse evangelho é que as doutrinas de maior importância frequentemente são enunciadas com as palavras mais simples. Essa doutrina poderia não ser tão simples e poderia não ser a mais importante que o Verbo que se fez carne e habitou entre nós. Jesus Cristo era e é Deus.
Permita que essa verdade seja conhecida em bom som e com clareza em Bethlehem — absolutamente de fato, as verdadeiras igrejas cristãs — adoramos Jesus Cristo como Deus. Caímos prostrados com Tomé diante de Jesus em João 20,28 e confessamos com alegria e assombro: “Senhor meu e Deus meu!”
Quando ouvimos os líderes judeus dizerem em João 10.33: “Não é por boa obra que te apedrejamos, e sim pela blasfêmia, pois, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo”. Bradamos, não! Isso não é blasfêmia. É o que ele é: nosso Salvador, nosso Senhor e nosso Deus.
Você compreende o que isso significa para as nossas séries de sermões no evangelho de João? Significa que dedicaremos semana após semana aprendendo sobre Deus enquanto aprendemos a respeito de Jesus. Você quer conhecer a Deus? Junte-se a nós e convide outras pessoas para vir e encontrar a Deus enquanto encontramos Jesus.
Se uma testemunha de Jeová ou um muçulmano sempre diz a você: “Esta é uma má tradução”. Não deveria ser: “O Verbo era Deus”. Deveria ser: “O Verbo era um deus”. Há uma forma aqui nesse contexto que você pode saber que está errada mesmo se não sabe grego. Vou lhe mostrar isso em um momento no último fato. Mas, primeiro, vamos examinar o relacionamento do Verbo com Deus.
3) O relacionamento do Verbo com Deus
O versículo 1, o meio do versículo: “O Verbo estava com Deus”. No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Esse texto é a essência da grande doutrina histórica da trindade. Um dia, vou pregar uma mensagem exatamente nessa doutrina do restante do evangelho de João e outras partes das Escrituras.
Mas por agora simplesmente permita que essa afirmação sincera esteja em sua mente e desça até seu coração: “O Verbo Jesus Cristo estava com Deus e ele era Deus. Ele é Deus e tem um relacionamento com Deus. Ele é Deus e ele é a imagem de Deus e reflete perfeitamente tudo que Deus é e permanece por toda eternidade como a plenitude da divindade em uma Pessoa distinta. Há uma essência divina e três Pessoas — três centros de consciência. Dois deles são mencionados aqui. O Pai e o Filho. Aprendemos esses nomes posteriormente no evangelho. O Espírito Santo será introduzido mais tarde.
Já que vemos em um espelho obscuramente e conhecemos somente em parte (1 Coríntios 13.9, 12), não fique surpreso que a Trindade continue a ser para nós um mistério. Mas não lance isso fora. Se Jesus Cristo não é Deus, ele não poderia realizar a sua salvação (Hebreus 2.14-15). E sua glória não seria suficiente para satisfazer seu anelo eterno por novas descobertas da perfeição. Se você despreza a deidade de Jesus Cristo, menospreza sua alma e toda sua alegria na vida por vir.
Por conseguinte, vimos 1) o tempo da existência do Verbo (antes de todo tempo), 2) a essência da identidade do Verbo (“o Verbo era Deus”), e 3) o relacionamento do Verbo com Deus (“o Verbo estava com Deus”). E agora concluímos esse relacionamento com o mundo.
4) O relacionamento do Verbo com o mundo
Versículos 2 e 3: “Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez”. O Verbo que se fez carne e habitou entre nós, ensinou-nos, curou-nos, repreendeu-nos, protegeu-nos, amou-nos e morreu por nós e criou o universo. Lembre-se de reter o mistério da Trindade do versículo 1. Não abandone o tema assim que você passar ao versículo 3. “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele”. Sim, porque outro agia através do Verbo. Deus agia. Mas o Verbo é Deus. Portanto, não permita a você diminuir a majestade da obra de Cristo como Criador. Ele foi o agente do Pai, ou Verbo na criação de todas as coisas. Mas, ao fazer isso, ele era Deus. Deus, o Verbo, criou o mundo. Seu Salvador, Seu Senhor, Seu amigo — Jesus é seu Criador.
Jesus não foi criado
Agora, suponha que um muçulmano ou testemunha de Jeová ou uma pessoa de alguma ramificação do arianismo (a antiga heresia do quarto século) diga: “Jesus não era Deus, não era eterno — não foi eternamente gerado — mas, pelo contrário, Jesus foi criado. Ele foi o primeiro da criação. O mais exaltado dos anjos”. Ou os arianos diriam: “Houve um tempo quando ele não era”. João escreveu o versículo 3 precisamente de uma forma que torna isso impossível.
Ele não diz apenas: “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele”. Você poderia cogitar que isso é suficiente para resolver a questão. Ele não é uma criatura; ele criou criaturas. Mas alguém poderia dizer conceitualmente: “Sim, mas todas as coisas não o incluem ele próprio”. Todas as coisas incluem tudo, exceto ele próprio. Portanto, ele foi gerado pelo Pai, mas então com o Pai ele criou todas as coisas.
Mas João não deixou que essa questão teológica ficasse assim. Ele disse em acréscimo (a última parte do versículo 3): “… e sem ele nada do que foi feito se fez”. O que as palavras finais “se fez” significam? Elas adicionam sentido à frase “sem ele nada do que foi feito”. Elas tornam explícito, enfático e claro como o cristal que tudo na categoria da criação, Cristo fez. Portanto, Cristo não foi criado. Porque antes ele existia e você não pode trazer a si mesmo à existência.
Cristo não foi criado. Significa ser Deus. E o Verbo era Deus.
Que o Senhor possa nos ajudar a ver a sua glória e adorá-lo. Amém.








8 - Boas Notícias para os Perdidos

Citações de um sermão de C. H. Spurgeon, traduzidas e adaptadas por Silvio Dutra.

"Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que estava perdido." (Lucas 19.10)

As promessas de Deus são como as estrelas, não que sejam uma delas, mas têm por sua vez guiado almas agitadas pela tempestade ao porto desejado. Assim como as constelações servem de guia para os marinheiros, há passagens das Escrituras que têm sido estrelas-guia para milhares de mentes simples que, através de sua ajuda, encontraram o porto da paz. Eu poderia citar uma série de textos, esta manhã, que eu poderia comparar com a Ursa Menor ou com o Cruzeiro do Sul, porque eles têm apontado diretamente o olho penitente para Jesus, a Estrela Polar, e ao olhar para ele, os pecadores têm encontrado "o caminho, a verdade e a vida".
Este texto é uma das estrelas mais notáveis, ou melhor, as suas palavras formam uma constelação maravilhosa do amor divino, uma verdadeira Plêiade de misericórdia. As palavras e sílabas parecem brilhar aos meus olhos com um esplendor sublime. Eu bendigo a Deus por todas as letras deste três vezes abençoado texto - "O Filho do Homem veio buscar e salvar o que estava perdido". Mas, como as estrelas são de pouco benefício quando o céu está todo encoberto, ou o ar adensado pelo nevoeiro, por isso o mesmo pode acontecer com a luz brilhante do Evangelho e deste modo o nosso texto não trará conforto para as almas cercadas com as névoas de dúvidas e temores.
Por isso, vamos orar ao Espírito Santo para varrer, com seu vento Divino, as nuvens da nossa incredulidade e capacitar cada olhar sincero na luz de Deus para ver a luz da paz. Oh! que muitas mentes despertadas possam encontrar perdão e vida eterna no Salvador esta manhã!
I. Vejamos como os homens estão perdidos. Sabemos, primeiro, que eles estão perdidos por natureza. Por mais que os homens possam se rebelar contra a doutrina, é uma verdade da Palavra de Deus que estamos perdidos mesmo quando nascemos, e que a palavra "perdido", tem a ver, não apenas com aqueles que praticaram pecado grave, mas com toda a humanidade.
Estamos perdidos por nossas próprias ações. Nossa natureza tem se revelado em nosso caráter. Nossas inclinações interiores se desenvolveram em nossa conduta e nós nos perdemos pelos nossos próprios atos e ações. Nós erramos e nos desviamos dos caminhos de Deus voluntária e perversamente como ovelhas perdidas, e agora a palavra "perdido", pertence a nós por nossos próprios atos explícitos, assim como a queda de Adão. E além disso, estamos perdidos, porque o nosso pecado real e nossa depravação natural têm cooperado para produzir em nós uma incapacidade de nos restaurarmos de nossa condição caída. Nós não somos apenas peregrinos, mas não temos nenhuma vontade de voltar para casa, nós somos filhos pródigos, mas nunca dizemos: "Eu me levantarei, e irei ter com meu Pai", até que a Graça de Deus coloque o desejo em nossos corações, para fazê-lo. Nós somos como ovelhas que vagam e vagam, sem qualquer chance de retornar, a menos que o Bom Pastor das almas nos procure.
Quando uma alma vagueia longe de Deus, ela não tem luz em si mesma com a qual possa ver a Deus e nenhuma força para achar a Deus por si mesma. Deus deve iluminar e trazer a alma a ele. De modo que, nesse sentido, estamos três vezes perdidos: pela natureza, pela prática, e por uma incapacidade absoluta para encontrar nosso Deus e retornar a ele. No entanto, por mais terrível que seja esta condição de estado perdido, "O Filho do homem veio buscar e salvar o que estava perdido." Além disso, estamos todos perdidos pela condenação que o pecado trouxe sobre nós. Às vezes somos informados por pregadores imprecisos que estamos em um estado de provação neste mundo. Meus irmãos e irmãs, nada pode ser mais anti-bíblico do que tal afirmação! Temos sido há muito tempo provados e achados em falta. Nossa provação está terminada. Estamos, agora, se não renovados, em um estado de condenação!
A provação não está pendente agora – ela está encerrada e nós já estamos condenados, pelos nossos pecados. (Adão foi provado e caiu no teste da obediência, e todos nós fomos encerrados sob o pecado –nota do tradutor). A sentença terrível de condenação paira sobre cada homem aqui que não crê no Senhor Jesus. O pecador está perdido nesse sentido. É apenas uma questão de tempo, e este tempo está nas mãos de Deus - e  homem condenado será trazido para a execução - e a punição da ira divina cairá sobre sua cabeça culpada. Estamos perdidos, porque estamos sob sentença judicial e somos incapazes de escapar dela. Nós não podemos fazer expiação a Deus pelo mal que fizemos, nem evitar a sua jurisdição justa. Nem mortificações do corpo, nem lamentações do espírito, podem acabar com um único pecado - "Poderiam minhas lágrimas fluírem para sempre; poderia o meu zelo não conhecer descanso; nada disso poderia expiar o pecado,  Cristo deve salvar, e Cristo, somente." De modo que, estando diante do tribunal de Deus considerado como criminosos condenados, os homens não regenerados (não nascidos de novo do Espírito Santo)  estão perdidos, de fato.
Mas o Filho do Homem, que é infinitamente puro e santo,  tem um verdadeiro horror ao pecado, mas não odeia os pecadores, veio buscar e salvar os perdidos! A varredura da compaixão divina não está limitada pelos costumes da humanidade! As fronteiras do amor de Jesus não são fixadas por hipocrisia farisaica! "O Filho do Homem veio buscar e salvar o que estava perdido."
Ó perdidos! Ó vocês se arruinaram e se destruíram! O Filho do Homem veio buscar e salvar vocês!
II. Agora, voltemo-nos para um outro ponto. Há muito de consolo em nosso texto para o culpado. Jesus veio como o Filho do Homem. E aqui notemos, em primeiro lugar, a sua divindade. Você diz: "Divindade, como é isso? O texto diz "o Filho do Homem". Sim, e esse é o ponto sobre o qual eu fundamento minha observação. Nenhum profeta ou apóstolo precisava chamar a si mesmo por meio da distinção de filho do homem. Seria ridículo para qualquer um de nós falar de si mesmo enfaticamente como sendo o filho do homem, pois seria uma afetação de condescendência extremamente absurda.
Portanto, quando ouvimos o Senhor em particular e, especialmente, chamando a si mesmo por esse nome, somos obrigados a pensar disso, em contraste com sua natureza superior, e vemos uma condescendência no fundo de sua escolha para ser chamado o Filho do Homem, quando Ele poderia ter chamado a si mesmo de Filho de Deus. Ó minha alma, Aquele que veio para salvá-la, é tão claramente Deus que Ele vê razão para lhe lembrar que Ele é também o Filho do Homem, para que você não duvide! Nenhum braço de anjo está estendido para a sua ajuda, mas o braço daquele que criou todos os mundos!
Ao falar de si mesmo como o Filho do Homem, o Senhor nos mostra que Ele veio a nós em caráter condescendente. Não foi em chamas de fogo que Jesus desceu do céu. Não foi no seu carro de indignação, cingido com a espada da vingança, que o Senhor Jesus veio para os homens. Ele veio em Sua missão de misericórdia, como aquele que ficou sob o seio de uma mulher, que conheceu a fraqueza, sofrimento e necessidade. Ele veio como Aquele que conhece, por experiência pessoal, a humildade de sua condição. Oh, pecador, não é uma alegria saber que o Filho de Deus veio para salvá-lo como o Filho do Homem? "O Filho do Homem" - que descreve também a ternura de seu caráter.
Ele vem em seu caráter mediador, pois "há um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem." Ele pode colocar a mão sobre você, e, ao mesmo tempo, pôr a mão sobre Deus. Aquele que preenche o abismo entre a miséria da humanidade decaída e a dignidade eterna do Deus imaculado veio para salvar os perdidos! Que alegria é esta!
Nosso Senhor veio em seu caráter representativo, pois Ele chama a Si mesmo o Filho do Homem, como para denotar que é o representante dos homens. Ele sofreu em nosso lugar, morreu em nosso lugar, pagou as nossas dívidas em nosso lugar, ressuscitou em nosso lugar, e foi para o céu como nosso Fiador! Ele é o Filho do Homem que, em todas as coisas, tem atuado para os homens, aquele que "veio buscar e salvar o que estava perdido."
Alma, com que Salvador atraente você tem que lidar! Deus é um fogo consumidor – você não pode, oh culpado, ir a Ele - mas Jesus é seu irmão, seu amigo. Ele é o amigo dos pecadores, que os recebeu e comeu com eles. Vá a Ele sem medo ou tremor antes que o sol se ponha neste dia de misericórdia. Vá e diga a ele que você quebrou as Leis do Pai – diga-lhe que você está perdido e precisa ser salvo. Derrame o seu coração partido a seus pés, deixe a sua alma fluir em Sua Presença - e eu lhe digo que ele não pode rejeitá-lo! Apesar de suas orações serem débeis como a fagulha no pavio, ele não irá apagá-las! E embora seu coração esteja ferido como um junco, Ele não vai quebrá-lo! Que o Espírito Santo lhe abençoe com um desejo de ir a Deus através de Jesus Cristo. E que Ele possa encorajá-lo a fazê-lo, mostrando que Jesus é manso e humilde de coração, suave e terno, e cheio de compaixão.








9 - Voz do que clama no deserto

“Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas." (Lucas 3.4)

A voz que clama no deserto fez um caminho para o Senhor, um caminho preparado,  um caminho preparado no deserto. Gostaria de atentar à proclamação do Mestre, e lhe dar uma estrada no meu coração, através das operações da graça, no deserto da minha natureza. As quatro direções no texto devem ter a minha total atenção.
“Todo  vale será aterrado” (Lc 3.5a). Pensamentos pequenos e rasteiros sobre  Deus devem ser abandonados; dúvida e desespero devem ser removidos e prazeres carnais egoístas devem ser abandonados. Através destes vales profundos uma gloriosa calçada da graça deve ser levantada.
“Cada monte e outeiro serão nivelados.” (Lc 3.5b). A orgulhosa suficiência da criatura, e a arrogância dos que se gloriam na sua justiça própria, devem ser niveladas para que se faça uma estrada para o Rei dos reis. A divina comunhão nunca é concedida a altivos, a pecadores ensoberbecidos. O Senhor habita com os humildes, e visita os contritos de coração, mas o altivo é uma abominação para Ele. Minha alma, peça ao Espírito Santo para te endireitar quanto a isto.
“Os caminhos tortuosos serão retificados” (Lc 3.5c). O coração vacilante deve ter um caminho direto de decisão por Deus e de santidade balizada por essa decisão. A duplicidade é estranha para o Deus da verdade. Minha alma, tome cuidado para que seja encontrada apenas nas coisas honestas e verdadeiras, segundo um exame de consciência à luz de Deus.
“Os lugares escabrosos serão aplainados.” (Lc 3.5d) . Os tropeços do pecado devem ser removidos, e os espinhos e abrolhos da rebelião precisam ser extirpados. Tão profundamente que um visitante não deve encontrar caminhos pantanosos e lugares pedregosos, quando ele vier para honrar seus favorecidos com a sua companhia. Oh, que esta noite o Senhor possa encontrar em meu coração uma estrada preparada pela Sua graça, para que Ele possa fazer uma marcha triunfal através dos limites mais extremos da minha alma, desde o início  até o final de cada ano.

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.









10 - O Evangelho em 6 minutos

Por John Piper

O que é o Evangelho?
O que é o Evangelho? Vou dizer o que significa numa só frase.
O Evangelho é a notícia de que Jesus Cristo, o Justo, morreu pelos nossos pecados e ressuscitou triunfante para toda a eternidade sobre todos os seus inimigos, para que agora não haja condenação para aqueles que acreditam, mas sim alegria eterna.
Isto é o Evangelho.

Não podes exceder o Evangelho
Nunca, nunca, nunca podes exaurir a tua necessidade do Evangelho. Nunca penses no Evangelho como “sendo essa a maneira de te salvares e depois de te tornares mais forte, deixando-o e fazendo outra coisa qualquer”.
Não! Deus fortalece-nos diariamente através do Evangelho e até ao dia em que morrermos.
Tu nunca excedes a necessidade de pregar o Evangelho a ti próprio.

Como o Evangelho nos fortalece
Aqui deixo um exemplo e uso-o não porque seja muito importante falar da minha vida, mas porque foi por aquilo que passei e onde eu no último ano pude experimentar o poder do Evangelho para me fortalecer. (Muitos de vós estão a passar por coisas muito mais difíceis do que o câncer na próstata – muito mais difíceis).
Lembram-se dos versos que partilhei convosco em fevereiro passado, os quais foram poderosos para mim? Foi esse o momento logo a seguir ao médico ter dito “creio que será necessário fazer uma biópsia”, quando senti uma punhalada de medo. Felizmente não durou muito.
E depois veio – o quê? Tessalonicenses 5.9-10. É apenas o mais puro Evangelho.
Deus não te destinou para a ira, mas para obteres a salvação através do nosso Senhor Jesus Cristo, que morreu por ti para que ou acordado ou a dormir tu vivas com ele.
Estável. Paz como um rio.

O Evangelho é perfeito para as tuas necessidades
Isto é o Evangelho – no momento perfeito, perfeitamente aplicado, perfeitamente adaptado às minhas necessidades. É por isso que a Bíblia é tão volumosa – porque são muitas as necessidades que tens. E existem lugares adequados onde o Evangelho se desdobra para ti, para que se tu mergulhares no livro todo, sempre com especial atenção ao que Cristo preparou e comprou para ti nesta grande, gloriosa história da interação de Deus com as pessoas, Ele te dará o que precisas.
Por isso, todo o meu ser diz e espero que diga até ao dia da minha morte, “agora, para Ele que é capaz de me fortalecer, de acordo com o Evangelho de Paulo, para Ele – para esse Deus – seja a glória para todo o sempre.
Deus entrou na história em Jesus Cristo; Ele morreu para destruir o poder do inferno, a morte, Satanás e o pecado; e Ele fê-lo através do Evangelho de Jesus Cristo.

Um pedido para acreditar
Eu sei que existem pessoas que estão lendo isto e que não acreditam em Jesus Cristo e por isso mesmo só podem esperar condenação. Assim, apenas instarei contigo aqui no final: deixa essa rebelião. Deixa-a. E simplesmente abraça o Evangelho que Jesus Cristo, o Filho de Deus, o Justo, morreu pelos teus pecados. Ele ressuscitou ao terceiro dia, triunfante sobre todos os seus inimigos. Ele reina até colocar todos os seus inimigos debaixo dos seus pés. O perdão dos pecados e o espírito de justiça vêm livremente através d’Ele, apenas pela fé.
Eu imploro a você, não tente ser forte na tua própria força; ela não estará contigo quando necessitares dela. Apenas uma força estará lá para ti – a força que Deus dá de acordo com o Evangelho.
Não a desperdices.








11 - A Mensagem Central do Evangelho

 O apóstolo Paulo afirma em Romanos 1.16,17 que é o evangelho o poder de Deus para a salvação de todo o que crê.
E por que somente o evangelho tem este poder de conduzir os que creem à salvação?
O apóstolo diz que isto decorre do fato de a justiça de Deus ser revelada no evangelho de fé em fé.
Devemos confiar então, que o evangelho verdadeiro é poderoso para salvar a nós pecadores, porque ao pregá-lo, Deus abrirá os olhos da fé dos que serão salvos para aceitarem e receberem a justiça que Ele está oferecendo gratuitamente.
Justiça esta que os salvará.
O próprio Senhor Jesus Cristo é a justiça que devemos receber para sermos justificados e salvos.
Por isso se diz nos profetas que é  Ele que a nossa justiça.
Sendo chamado por Senhor Justiça Nossa no livro do profeta Jeremias.
É somente por se estar em Cristo pela fé, que alguém poderá ser salvo.
Porque este é o único modo de sermos participantes da Sua justiça que nos justifica.
A justiça prometida por Deus para a nossa justificação, e que passou a se manifestar na dispensação da graça, à qual Paulo chama de tempo presente, com a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo a este mundo para morrer na cruz, foi profetizada nas Escrituras do Velho Testamento, porque Paulo diz que ela foi testemunhada pela Lei e pelos profetas, modo comum de se designar as Escrituras no passado.
Esta justiça de Deus prometida seria manifestada sem lei, conforme dizer do apóstolo, isto é, ela não consistiria num novo conjunto de leis para serem observadas pelo povo da nova aliança, conforme havia se dado com Israel desde os dias de Moisés, mas num ato de justiça que seria cumprido por Cristo morrendo no lugar do pecador, carregando sobre Si todos os pecados deles, para que pudessem ser perdoados e justificados por Deus.
E isto seria feito também por um ato de pura graça para qualquer um que creia, sem qualquer distinção pessoal.
Deus deliberou que seria, na dispensação da graça, misericordioso para com as nossas transgressões e não lembraria dos nossos pecados, porque poderia nos perdoar completamente uma vez que castigaria o Seu próprio filho unigênito no lugar daqueles que viriam a crer nEle.
Estes que creem, e somente eles, podem receber o dom precioso da justiça divina, porque não serão apenas perdoados, mas completamente santificados.
Por isso se diz que o Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo o que crê.








12 - A Simplicidade do Evangelho

Por D. M. Lloyd Jones

O mistério da piedade continua sendo e sempre será um mistério. Tal fato, conforme foi concebido e planejado na mente de Deus, é inescrutável e infinito; e, quando nos pomos a meditar nele, ficamos perplexos. Mas não é esse o caso no tocante aos efeitos, resultados e operações do evangelho. Nesse particular, podemos aplicar certo número de testes. Podemos comparar o Antigo Testamento com o Novo. Podemos confrontar textos bíblicos, contando com hábeis manuais de instrução, escritos pelos apóstolos e por outros, nenhum dos quais pode ser acusado de falta de intelectualidade. No tocante ao ponto de vista do evangelho acerca da vida e ao remédio que ele oferece para os males da vida, podemos dizer que o evangelho se caracteriza, acima de tudo, em contraste às demais idéias, por sua simplicidade essencial e por sua objetividade. Essa é a explicação do aparente paradoxo que, o evangelho, por um lado, sempre deixou e continua deixando perplexos os maiores filósofos que o mundo já conheceu, mas, por outro lado, pode salvar até a uma criança.
Outra contradição aparentemente estranha é que homens e mulheres, ao invés de se gloriarem e se regozijarem na simplicidade do evangelho, quase invariavelmente têm feito objeção à mesma. Esse ponto de vista tem se mostrado dominante não apenas fora da igreja, mas, com freqüência, até mesmo em seu interior. Basta que comparemos a Igreja Católica Romana com a igreja neo-testamentária, para que percebamos claramente essa contradição. A tendência humana sempre será fazer a religião tornar-se intricada, complexa; e essa tendência é marcante em nossa época. Assim como a vida em geral vai se tornando mais complexa a cada dia, assim também a religião tende a ser afetada pela complexidade.
No mundo secular, a vida moderna se tornou complexa e sofisticada; em todas as direções se vê organização e multiplicidade de maquinaria burocrática. Agitação e negócios, conferências e convenções são a ordem do dia. Jamais a vida neste planeta esteve tão complicada. A desculpa dada para isso é que os problemas são imensos! Princípios têm sido esquecidos. As verdades simples estão sendo ignoradas, e os homens passam o seu tempo efetuando conferências a fim de sondar suas dificuldades.
A mesma inclinação se vê no mundo religioso. Parece ter ficado subentendido que, se os negócios humanos são tão difíceis e complicados, então os negócios divinos devem ser ainda mais complicados, por serem ainda maiores. Daí se origina a tendência por aumentar o cerimonial e o ritualismo, multiplicando organizações e atividades, associações e instituições. O argumento continua o mesmo, a saber, que à medida em que vão aumentando os problemas e dificuldades da vida, assim também a igreja deverá ir ampliando a sua organização e aprimorando os seus métodos. Essa argumentação, em síntese, diz ser ridículo afirmar que os vastíssimos problemas da vida atual podem ser solucionados de maneira aparentemente simples como a sugerida por aqueles que pregam o evangelho à antiga maneira.
No que concerne a essa acusação, há duas respostas principais. A primeira é que sempre é muito perigoso argumentar a respeito de Deus, tomando o homem por base, pressupondo que aquilo que é verdade no tocante ao homem, sempre é verdade no tocante a Deus, ainda em maior medida. Ainda que a Bíblia sugira que apesar dessa conclusão até certo ponto parecer veraz no princípio, tudo se modificou devido à entrada do pecado neste mundo. Enquanto o homem não caiu em pecado, a vida foi simples. O efeito do pecado, desde o princípio, foi o de criar complicações e dificuldades.
Esse fato é perfeitamente ilustrado nos primeiros capítulos do livro de Gênesis. Podemos ver isso no caso de Adão e Eva. Podemos percebê-lo, ainda mais claramente, no caso de Caim, que foi o primeiro a erigir uma cidade. Vemo-lo mais tarde, na tentativa de levantarem a torre de Babel. De fato, essa verdade é demonstrada por toda a parte. Na verdade, à medida em que nos afastamos de Deus, a vida vai se tornando mais emaranhada e complexa. Isso pode ser percebido não somente na Bíblia, mas, de igual modo, na história subseqüente. A reforma protestante simplificou não apenas a religião, mas também a vida em seu todo, o que também ocorreu na época do Puritanismo e do despertamento da evangelização, no século XVIII. A vida religiosa verdadeira é sempre simples.
Realmente poderíamos ir mais adiante, dizendo, com toda a reverência, que nada há de tão característico nas operações de Deus, em todas as áreas, quanto a sua simplicidade e ordem essenciais. Olhemos para onde quisermos e veremos Deus sempre operando com base em um esquema sem complicações. Pode-se ver como Deus repete as estações, ano após ano — primavera, verão, outono e inverno. Examinando uma flor ou dissecando um animal, descobriremos que o padrão básico da natureza sempre é simples. A simplicidade é o método divino. Seria porventura razoável crermos que, no assunto mais vital de todos, a salvação do homem e a correção de sua vida, Deus poria de lado abruptamente o seu próprio método, tornando-o intricado e complexo? Sugerir tal coisa é sugerir uma contradição na mente do próprio Deus.
Mas, ocasionalmente temos forte suspeita de que a objeção ao caráter direto e simples do evangelho não é de natureza puramente intelectual, como querem que acreditemos. A verdadeira objeção encontra-se em outros motivos. Nada é mais conveniente e confortável do que o senso de que a religião é nebulosa e vaga. Enquanto ela for mantida nebulosa e indefinida, enquanto os seus seguidores puderem manter-se ocupados com diversas atividades, eles poderão persuadir-se de que tudo vai bem consigo. Não havendo definições claras e precisas, a religião não causa qualquer incômodo. Quanto mais complicada tanto mais acomodadora e confortável ela se mostrará. Nada existe de tão desconcertante como o evangelho puro e direto, o qual, despido de vãs decorações e adornos e ignorando tudo quanto não é essencial e fingido, desmascara a alma e a desnuda, projetando sobre ela a luz de Deus. É bem mais fácil apreciar a cerimônia e o ritual, mergulhar em conceitos vagos e idealistas, com aparência de grande importância, e ocupar-se com ações filantrópicas — como essas coisas são muito mais gratificantes para a natureza humana — do que enfrentar as questões diretas e simples da Palavra de Deus! Os idealistas e humanistas, raramente, ou mesmo nunca, são perseguidos.







13 - Não há Evangelho sem Cruz

Não há evangelho sem cruz, e a cruz que devemos carregar é uma lâmina afiada que separa-nos das impurezas da carne.
Deveríamos portanto nos perguntar: qual é o significado da morte de Jesus na cruz? E qual é o significado da minha própria cruz que devo carregar diariamente?
Se não considerarmos o pecado com a devida seriedade para que seja extirpado contínua e progressivamente de nossas vidas, jamais poderemos responder corretamente a estas perguntas.
Por isso é necessário primeiro conhecer o pecado, ser convencido do pecado pelo Espírito Santo, para que possamos ser salvos e santificados.
E a absoluta e necessária mortificação do pecado está claramente expressada nestas palavras de Jesus que é tão vital fazê-lo, que caso fosse necessário sentir a dor e a perda de um dos nossos órgãos do nosso corpo, como o nosso olho direito, ou a nossa mão direita, caso fossem eles a causa de estarmos pecando, do que sermos lançados eternamente no inferno de fogo.
Aqueles que não têm sido purificados de seus pecados, de seus maus sentimentos, malícia, ira, dureza de coração, deveriam fazer uma séria reflexão quanto ao estado de suas almas, porque não será a religiosidade deles que os salvará do inferno, mas a certeza de que têm a habitação do Espírito Santo em suas vidas, e isto só pode ser sentido quando percebemos um trabalho de santificação do Espírito sendo operado em nossas vidas.
O salário do pecado sempre será a morte. Esta morte à qual a Bíblia se refere é sobretudo separação eterna de Deus. Então ninguém espere uma paga diferente desta caso viva na prática deliberada do pecado, em todas as suas formas de ações ou sentimentos contrários à bondade, misericórdia, justiça e santidade de Deus.
Se o pecado não fosse algo tão terrível, não haveria necessidade que Jesus morresse na cruz.
Se o pecado não fosse de fato o maior impedimento para a nossa santificação, nunca seria ordenado que carregássemos a nossa própria cruz diariamente para mortificar o pecado em sua raiz maligna que persegue tão de perto os nossos corações.
O reino do céu é conquistado portanto, somente por estes que estão sentindo dores, perdas, renúncias, por amor a Cristo, ao nível da perda de nossos olhos e mãos, para que possamos vencer o pecado pelo Espírito, e assim escaparmos do juízo de fogo eterno.
Ninguém se abençoe em seu íntimo pensando que tem sido livrado do fogo eterno porque simplesmente faz uma afirmação verbal de que crê em Cristo, ou então porque se submete a alguns ritos da religião, porque Deus olha o coração do homem e procura colocar ali a pureza de coração necessária para que se escape do inferno e se ganhe o céu.
Por isso ninguém poderá entrar no reino do céu se não tiver nascido de novo do Espírito. E este novo nascimento do Espírito é comprovado pela busca de santificação, porque em qualquer pessoa em quem ele estiver habitando de fato, haverá sempre esta inclinação para a busca de  uma santificação cada vez maior. E nenhum crente verdadeiro ficará confortável e satisfeito consigo mesmo enquanto estiver sendo dominado por qualquer forma de pecado que lhe tenha sido revelada pelo Espírito, para que seja mortificada e extirpada da sua vida.
Esta era a razão de muitos, nos dias de Jesus, que se diziam seus discípulos no princípio, virem a abandoná-lO e já não mais segui-lO, porque eles não podiam simplesmente suportar um tal ensino verdadeiro quanto à real condição deles perante Deus.








14 - Qual é a Esperança do Evangelho?

Por D. M. Lloyd Jones

As promessas do evangelho não se verificaram? O Seu Cristianismo fracassou? Sua esperança, e a esperança do seu evangelho, seria melhor em alguma coisa do que a esperança dos políticos, dos filósofos e dos poetas?

Ah, sim, mas você precisa saber com toda a clareza o que ele é. As pessoas em geral não entendem a mensagem do cristianismo. Elas pensam que o cristianismo ensina reforma do mundo e que nos concita a fazer do mundo um lugar melhor, a fazer aprovar leis do parlamento, a promover o bem social e político, transformar gradativamente a sociedade até que o mundo inteiro seja mudado. Mas nunca foi essa a mensagem do evangelho. Como eu já lhes disse, a mensagem do evangelho é que este mundo é a Cidade da Destruição. O nosso Senhor disse pessoalmente que haveria “guerras e rumores de guerras” (Mt 24.6) até o fim dos tempos. Ele não promete uma reforma e melhoramento gradual e crescente. Muito ao contrário. Não, não; não é essa a mensagem do evangelho. O  evangelho nunca prometeu trazer a nova Jerusalém para a “verde e aprazível terra” da Inglaterra. Você pode requerer as suas espadas, pode requerer as suas lanças, pode falar sobre  a sua luta mental, e vai morrer como um completo fracasso.

Que nos é prometido então? O capítulo 11 de Hebreus nos responde: é a promessa que manteve Abraão em movimento. Ele “esperava a cidade que tem fundamentos, da qual o artífice e construtor é Deus” (Hb 11.10). Abraão estava em busca de uma cidade não produzida por idéias humanas, não baseado na inteligência e na cultura humanas, na ciência e no conhecimentos humanos. Não, não: “da qual o artífice e construtor é Deus”. Deus é o arquiteto, Deus é o construtor. Não é algo produzido pela atividade humana; ao contrário, é o grande plano e obra de Deus. Ele está trabalhando, Ele está chamando, ele está em movimento, ele está executando o Seu plano. Esta é a mensagem.

O evangelho não traz uma mensagem de reforma mundial. Qual é então, a sua mensagem? É aquela grande mensagem sobre a qual lemos no livro do Apocalipse, uma mensagem que fala da cidade celestial, “a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu” (Ap 21.2). É uma mensagem de  “novos céus e nova terra, em que habita a justiça” (2Pe 3.13). Essa é a mensagem, e é a única esperança para o mundo. Notem as suas maravilhosas características: “E vi um novo céu, e uma nova terra” (Ap 21.1). Não há esperança para os atuais céu e terra, mas ainda há esperança: “Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. E eu, João, vi a santa cidade, a nova Jerusalém que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido” (Ap 21.1,2). Não eu e vocês construindo-a por nossos esforços, por nosso ‘combate mental”. Oh, o absurdo com o qual os homens, poetas e políticos, nos têm enganado através dos séculos! Não, não; a nova Jerusalém desce do céu, de Deus. Ele a fez; ela é perfeita.







15 - A Mensagem do Evangelho é Imutável

Não seria de se supor que um Deus eterno e imutável que revelou integralmente a nós qual é a Sua vontade, na pessoa de Seu Filho Jesus Cristo, que Ele viesse a mudar esta verdade que nos foi revelada nas Escrituras por alguma outra mensagem, por conta do avanço tecnológico e científico que tem experimentado a humanidade, especialmente neste dois últimos séculos.
Ainda que...
o cavalo não seja mais usado como o meio principal de transporte que foi usado por séculos, criado por Deus especialmente para este propósito;
o boi não seja mais o principal meio usado para se lavrar o solo... bem como tudo o mais que foi criado pelo Senhor para servir ao homem, isto não significa que podemos também substituir a boa e antiga mensagem do evangelho que aponta sobretudo para as necessidades imutáveis de nossos espíritos, por qualquer outro tipo de mensagem considerada mais atual e ajustada ao modo de pensar pós-moderno.
Todavia, este esforço maligno que é empreendido para suprimir o evangelho, sempre esteve presente no mundo, mesmo nos dias iniciais da sua pregação e ensino, porque sem evangelho não há salvação de almas, e não seria portanto para se admirar que Satanás se empenhe tanto para tentar eliminá-lo em sua inteireza, tal como nos foi revelado pelos profetas, por Jesus e pelos apóstolos nas Escrituras.  
Veja o que o apóstolo Paulo disse aos cristãos da Galácia, cerca de 46 d.C.:

 “6 Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho;
7 O qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo.
8 Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema.
9 Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema.”  (Gál 1.6-9)

O apóstolo afirma a sua perplexidade diante da rápida apostasia dos gálatas do evangelho que ele lhes havia ensinado, para abraçarem aquilo que ele chama de um outro “evangelho”.
Ele usa de uma ironia, porque não há mais do que um único evangelho.
Paulo diz que eles haviam se afastado daquele que lhes havia chamado para serem alcançados pela graça de Cristo, e nisto não estava se referindo apenas a ele próprio que fora o instrumento da evangelização deles, mas a Deus, quem é que de fato chama eficazmente, pelo poder do Espírito Santo, os pecadores à salvação.
E a chamada à salvação é feita pela pregação e ensino do evangelho bíblico, e se concretiza pela fé nesta mensagem que nos é anunciada.
A fé no evangelho é comprovada pelo amor a Jesus Cristo.
É por este amor que atua pela fé, que multidão de pecados são perdoados.
Como Jesus disse da pecadora citada em Lc 7.47,48:

Luc 7:47 Por isso, te digo: perdoados lhe são os seus muitos pecados, porque ela muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama.
Luc 7:48 Então, disse à mulher: Perdoados são os teus pecados.

E o modo de permanecer no amor ao Senhor é pela prática da palavra do evangelho.
Não admira portanto, o grande empenho que o Inimigo faz para tentar esconder e adulterar esta verdade celestial que nos foi revelada.
Deste modo o apóstolo se refere em Gál 1.8 ao único, verdadeiro e imutável evangelho como sendo o que ele já havia anunciado aos gálatas.
Isto implica que a Palavra revelada do Novo Testamento é definitiva e inalterável.
Portanto, deixar o verdadeiro evangelho para abraçar um outro “evangelho” é negar aos pecadores o único poder que pode salvá-los, porque é pela verdade do evangelho que eles são salvos, de modo que não há nenhum outro poder designado por Deus para que os pecadores possam ser salvos dos seus pecados.

Assim toda doutrina pregada à igreja de Cristo, que oculte ou adultere o verdadeiro evangelho, conforme faziam os judaizantes nos dias de Paulo, faz com que os que pregam tal doutrina sejam achados culpados diante de Deus e sujeitos ao anátema que está proferido contra eles, porque o Senhor não pode abençoar aqueles que são contra Ele e o Seu ensino.






16 - O Evangelho nos Chegou em Poder  

Por Charles Haddon Spurgeon

Traduzido e adaptado do texto em espanhol, em domínio público na Internet, pelo Pr Silvio Dutra.


“Porque o nosso evangelho não chegou até vós tão-somente em palavra, mas sobretudo em poder, no Espírito Santo... Jesus que nos livra da ira vindoura.” 1 Tessalonicenses 1:5-10

Se qualquer ministério faz algo bom, é porque Deus o tem feito, e toda a glória é devida tão somente a Ele.
Não falar do que Deus tem feito seria uma ingratidão. Poderia ter alguma semelhança com a humildade, porém na realidade seria deslealdade ao Altíssimo. Por isso mesmo Paulo não duvidou em falar de seus convertidos em Tessalônica, e de seu bom caráter, e do bom fruto que haviam dado, e da forma em que haviam difundido o evangelho em outras comarcas. Ele não se jactava, dava a glória a Deus, porém ele comentava o que havia feito. Nós pensamos que podemos fazer o mesmo, na medida que Deus abençoe nosso trabalho, qualquer de nós pode falar disso para louvor e glória de Deus, e para o estímulo de nossos companheiros trabalhadores. O apóstolo nesta passagem nos diz o que tem feito Deus em Tessalônica.
Nestes tempos, meus amados, deve se fazer uma diferenciação entre o evangelho dos homens e o evangelho de Deus, hoje em dia o evangelho do homem é bastante popular. Alguém se põe a pensar em novidades até que lhe doa a cabeça, produz disparates, vem e o oferece como algo novo. Os homens vão até o fundo do tema e batem até que removam o lodo desse fundo e logo não podem ver seu próprio caminho, e ninguém mais pode vê-lo, e logo saem com algo maravilhoso, e, usando palavras difíceis de pronunciar e ainda mais difíceis de entender, ganham o prestígio barato de serem grandes eruditos e profundos teólogos. Bem, deixemos que sigam seu caminho, esse é seu evangelho, porém nós temos outro evangelho, o qual o temos ganho de outra maneira, e desejamos propagá-lo de outra maneira. Paulo disse: “nosso evangelho”,  pois, para fazer uma distinção.
Porém também quis dizer que era seu evangelho porque lhe havia sido encomendado, o havia recebido como um depósito sagrado, ele era, por assim dizer, um mordomo de Deus, com a missão de preservar e manter viva a verdade no mundo, e Paulo a preservou sem adulterá-la. Assim quando terminou sua vida, pôde dizer: “Tenho combatido o bom combate, guardei a fé.”. Se alguém adulterou o evangelho, não foi Paulo. Ele o entregou tal como Cristo lho deu. Oh que cada um de nós que é chamado a pregar o evangelho, isto é, cada membro da igreja sinta que a verdade nos é encomendada para ser conservada no mundo. Nossos antepassados a conservaram na fogueira, e no tormento cruel, e quando foram para o céu em seus carros de fogo, deixaram a verdade para que a preservassem seus filhos. Transmitida a nós pela longa fila de mártires e confessores, presbiterianos e puritanos, que vamos fazer com ela agora? Não sentiremos que todo o custo de conservá-la através dos séculos exige de nós que atuemos como eles? Se houver necessidade (ainda que a custo de nosso sangue) e,  enquanto vivamos, que nunca se diga que em nossa vida, em nossa oração, em nossa conversação, ou em nossa pregação, o evangelho sofreu em nossas mãos.  
Quando Paulo utilizou a expressão “nosso evangelho” quis dizer que o havia experimentado. Antes que Ezequiel desse a mensagem de Deus, lhe foi ordenado que comesse a mensagem que estava num rolo. Ele teve que comê-lo e quando estava em seu próprio corpo então pôde falar da mensagem com grande poder. Assim se dá com o evangelho, temos que experimentá-lo, temos que vivenciar suas doutrinas da graça, para que possamos pregá-lo com poder aos outros.
É uma boa máxima antiga a que diz: “Se tua pregação deve chegar ao coração, deve sair do coração.”. Deve ter comovido a nossas almas, antes que possamos esperar comover as almas de outros. O Senhor é minha testemunha que ao pregar aqui a vocês, todas estes anos, meus amados, lhes tenho pregado o que tenho provado e aplicado da boa Palavra de Deus. Tenho pregado a doutrina do pecado humano, porque tenho sentido seu poder, sentido sua amargura, e vergonha, e me tenho revolvido no pó diante de Deus, quase em desespero. Lhes tenho pregado o poder do sangue precioso para limpar o pecado, porque tenho contemplado as feridas de Cristo e tenho encontrado purificação nelas. Somente lhes temos falado do que nós mesmos temos conhecido, e sentido, e comprovado que é certo.
Agora muitos de vocês estão comprometidos na pregação de Cristo a outros, e em ensinar a Cristo aos meninos nas escolas. Sempre falem do profundo de seus corações, porque quando podem dizer: “Tenho provado isto; me regozijo nisto,”, a palavra de vocês seguramente chegará com poder aos corações de quem os escuta. O homem que deseja trazer outros a Cristo deve imitar a Elias, o profeta, que, quando falou ao menino morto em sua cama, e que não podia ser levantado de maneira nenhuma, foi e pôs sua boca na boca do menino, e suas mãos sobe as mãos do menino, e seus pés sobre os seus pés, e então pouco a pouco a vida foi restituída ao menino. Devemos sentir uma compaixão íntima por aqueles a quem queremos trazer a Cristo, e então proclamar desde nossa própria alma o que sabemos acerca do Salvador, e então chegará com frescura e com poder, e Deus e o Espírito Santo abençoem isto.
Primeiro Paulo diz que “o nosso evangelho” tem vindo em palavra, e todos a têm escutado, e a têm escutado de tal maneira que entendem seu sentido, o dom dela. A têm ouvido de muitas maneiras e formas prestando-lhe a devida atenção. Porém é de se temer que haja alguns para os quais a palavra tem vindo nisso, em palavras somente, e é muito triste para o pregador (e deve ser mais ainda para os que se encontram em tal condição), que esta palavra que dá vida seja somente uma palavra. Houve o banquete do evangelho, e a mensagem foi enviada, mas a mensagem, o convite não era tudo, havia um banquete que lhe correspondia para ser usufruído. Assim se dá com a mensagem e convite do evangelho, nas basta ser ouvido, deve ser atendido, para que se entre na posse das coisas que nos estão sendo oferecidas graciosamente por Deus, mediante o Seu poder. Mas, aqueles que  haviam sido convidados não vieram ao banquete. Escutaram a mensagem e isso foi tudo. Ali estão os enfermos junto ao tanque de Betesda, veem a água e isso é tudo; porém não entram no tanque e não são curados. Oh, encontrar-se enfermo e ter a cura à mão! Ter fome com o pão estando disponível! Estar sedento, e com o riacho correndo entre os pés, e não beber!  Se as palavras vêm a vocês como palavra somente, algum dia será mais que isso, já é uma verdade certa da Escritura que os que ouvem a palavra são responsáveis pelo que ouvem. Vocês escutaram o evangelho, porém o recusaram! Será uma das acusações que apresentarão contra os que o escutaram, e haverá mais tolerância para Tiro e para Sidon, do que para eles.  
Agora, o terceiro grau da chegada da Palavra a Tessalônica foi que veio no Espírito Santo. Então se alcança o objetivo porque o Espírito Santo nos ilumina mostrando mil verdades que nunca antes havíamos visto, descobrimos que temos entrado num novo mundo; passado das trevas para a luz. Então o Espírito começa a nos purificar. Nos limpa deste e daquele pecado, e nos livra de impurezas, nos renova, está em nós como um espírito para queimar e consumir o pecado, um espírito que nos limpa de nossas maldades. Logo vem como espírito de consolação e nos dá alegria e paz, e nos eleva sobre nossas preocupações, tentações, dúvidas, e nos enche com uma antecipação da bênção eterna. Bendito é o homem para o qual o nosso evangelho chega com o Espírito Santo. O evangelho sem o Espírito é como uma espada sem o braço do guerreiro para sustentá-la. Por disso se diz que a Palavra é a espada do Espírito Santo.
Mas a palavra chegou também aos tessalonicenses “em plena convicção”. A todos os cristãos chega no Espírito Santo, porém para alguns chega com um grau ainda maior de poder espiritual, a saber, em plena convicção. Eles creem no evangelho, porém não o creem timidamente, o aceitam como uma realidade firme, sólida, indisputável; se aferram a ele como se fosse com uma mão de ferro, e seu próprio interesse nele não permanece em dúvida. Não, eles sabem em quem têm crido, estão persuadidos de que Ele é capaz de guardar o que se lhes tem encomendado. Eles creem em Cristo com a fé de Abraão, que não titubeou diante da promessa por falta de fé. As nuvens e as trevas se vão do céu deles, e veem o céu azul claro da presença de Deus por cima deles. Se regozijam no Senhor sempre, e outra vez tornam a se regozijar. Há alguns assim nesta congregação, e bendigo a Deus por cada um deles. Que haja muitos mais.
Tendo crido deste modo, Paulo disse acerca deles: ”também vos fizeste nossos imitadores e do Senhor”. Quando alguém se converte não está ainda apto para ser um  condutor; tem que ser um imitador. Não tomamos recrutas sem experiência e os fazemos capitães, devem ser treinados, devem ir às filas e marchar um pouco. De maneira que, uma das primeiras coisas que a graça faz, é fazer de um homem um discípulo, isto é, um aprendiz, e então ele vê na palavra de Deus o que deve ser sua vida e conduta, e vendo ao redor de si, vê alguns dos que Deus tem abençoado com sua graça, cuja vida e conduta está de acordo com a Palavra, e ele segue aos servos de Deus, não cegamente, faz uma distinção entre eles e seu Mestre, somente os segue tanto quanto se mantenham em companhia com o seu Senhor. Não se trata de uma obra pequena da graça quando um homem é chamado para ser um imitador do que é bom.








17 - O Evangelho que não Morre  

Por Charles Haddon Spurgeon

 Traduzido e adaptado do texto em espanhol, em domínio público na Internet, pelo Pr Silvio Dutra.


"Porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios" (Romanos 5:6)

Queridos amigos, qualquer que seja a condição de um filho de Deus, não está sem esperança. Um cristão no Senhor Jesus Cristo pode ser provado duramente, suas aflições podem se multiplicar, e podem ser muito intensas; porém, ainda nessa condição, tem esperança. Não é possível que Deus o abandone; seu Deus deve ajudar-lhe. Se lhe sobrevier o pior, e for abandonado completamente pelos homens, e não houver um caminho de saída para suas tremendas dificuldades, ainda assim, seu Deus deve ajudar-lhe. Não há nenhum motivo para ter medo.
Seguidamente, somente os ímpios necessitavam que Ele morresse por eles. Se tu és piedoso, se tu és bom, se tens guardado perfeitamente a lei de Deus, que tens a ver com Cristo? Já és salvo, de fato, não estás perdido, e portanto, não necessitas da salvação. Se tens guardado todos os mandamentos desde a sua infância, mui bem podes dizer: “que me falta?”. Se és tão bom que dificilmente podes ser melhor, e tens o mais respeitável traje de justiça própria para se apresentar diante de Deus, eu pergunto novamente: que tens a ver com Cristo? Por que teria Ele que morrer por um homem que não tem nenhum pecado que necessite ser lavado?
Por que haveria de ofertar sua vida pelo pecado de quem não tem nenhum pecado? “Cristo morreu pelos ímpios”, porque ninguém senão os ímpios necessitam que morresse por eles?. Ele não morreu por ter pecado Ele mesmo, senão morreu como os pecadores devem morrer, já que carregou sobre si os pecados dos ímpios; e ao substituí-los, sentiu o açoite de Deus que deveria ter caído sobre os ímpios. Disse o açoite? Deveria ter dito a espada de Deus. Ele sentiu, que deveria de terminar assim como os ímpios, tal como está escrito: “Levanta-te, oh espada, contra meu pastor e contra o homem meu companheiro, diz Jeová dos Exércitos!”, referindo-se à morte de Jesus na cruz.
Ele morreu, o Justo pelos injustos, para nos levar a Deus. Esta é a única e verdadeira doutrina da expiação, e todo aquele que a receba será confortado por ela, porém todo aquele que a rechaçar o faz para o dano de sua própria alma.
Se Ele morreu por ti quando não tinhas paz com Deus, quando, de fato, não tinhas nenhum Deus, quando eras ímpio, isto é, sem a influência de Deus, quando eras inimigo de Deus fazendo obras perversas, se Cristo morreu por ti então, não te salvará agora? Se sentes dentro de teu coração, hoje, uma doce reconciliação com Deus teu Pai celestial, então, não importa qual seja teu problema, não penses que Deus possa te abandonar. Não importa a profunda depressão de teu espírito, não penses que Deus possa te abandonar. Ele, que morreu por ti quando eras ímpio, certamente te salvará agora que tens paz com Deus por meio dEle.  
Éramos fracos. Porém quando nos encontramos nesse lamentável estado, sem nenhuma dessas graças que agora são nossa fortaleza, sem nenhum desses santos frutos do Espírito que são agora a fonte de nosso consolo, ainda então, quando ainda éramos fracos, Cristo morreu por nós. Quando cada tendão e cada osso estavam quebrados, todo poder aniquilado, a vida mesma se haveria evaporado, pois estávamos mortos em delitos e pecados, e ainda assim Cristo morreu por nós. Pois bem, irmãos, isso é certo, e devem crê-lo assim. Quero que entendam o argumento desta verdade, pois este é: se o Senhor Jesus nos amou o suficiente para morrer por nós quando estávamos totalmente sem nenhuma força, então certamente nos salvará agora que nos tem dado forças.  
Ainda que estejas fraco agora, Ele, que morreu por ti quando ainda eras fraco no pleno sentido da palavra, virá para te ajudar. Dou graças a Deus hoje, do mesmo modo que o tenho feito tantas vezes, por trazer-me tão grandes tribulações; Às vezes, minha vida tem sido muito tranquila durante anos. Recordo ter dito a mim mesmo alguma vez: “Bem, no tempo passado, durante as grandes necessidades do Colégio de Pastores e do Orfanato, tenho experimentado milagres maravilhosos de livramento. Naquela época parecia pisar, como um gigante, desde cima de uma montanha até a outra, passando sobre os vales, e agora caminho calma e tranquilamente pelos vales.”. Quase tenho desejado ver outra grande montanha e outro grande precipício aberto, para poder ver o que Deus vai fazer. Durante os últimos anos, ainda tenho falado muito pouco acerca disto, tenho tido muitas brechas abertas diante de mim. Dava a impressão que o céu ia desabar, e tinha que contemplara para baixo, as profundezas azuis, porém tenho seguido adiante com passo firme, e Deus tem feito meu caminho tão fácil, como se houvesse sido um caminho sobre um terreno com o pasto recém cortado. É algo glorioso ter um grande problema, uma gigantesca onda do Atlântico, que te agita e balança e te arrasta mar adentro e te arroja às profundidades, às covas mais escondidas do velho oceano, até chegar ao fundo das montanhas e ver ali a Deus, e depois sair à superfície e proclamar quão grande é Deus, e com quanta graça Ele livra o seu povo. Ele te livrará, Ele deve livrar-te. O argumento do texto é este: “a seu tempo Cristo morreu pelos ímpios”. Portanto, a seu tempo, Ele deve ajudar o piedoso. Se o Senhor Jesus Cristo tem amado a Paulo, por que não haveria de amar a João? E se tem amado a Marta, porque não haveria de amar Helena? Se tem salvo a Henrique, por que não haveria de salvar a Manoel? Falo sério, já que Ele não nos ama porque haja algo de valor em nós, senão simplesmente porque Ele tem decidido amar-nos, como está escrito: “Terei misericórdia de quem tenha misericórdia e me compadecerei de quem me compadecer.”. Portanto vocês podem vir, vocês culpados, ao Soberano Doador da misericórdia não merecida e tocar o cetro de prata de sua graça, e serem salvos hoje! Quando Ele diz que terá misericórdia de quem lhe aprouver ter misericórdia, significa que faz uso dela sem ter que dar satisfação a ninguém, que pode fazê-lo por seu critério de graça, e não segundo os nossos méritos, quer dizer que pode usar de misericórdia com qualquer um que creia, e não que escolheu alguns para usar de misericórdia com eles, e outros para odiá-los. Não é desta forma que Deus é misericordioso. Porque isto não seria misericórdia, mas escolha caprichosa. A misericórdia para ser misericórdia demanda que se recorra a ela; que o necessitado busque o socorro de que necessita, e a misericórdia se mostrará como tal, quando estender a sua mão para ele, ainda que não o mereça e não tenha como pagar tal favor. É nesse sentido que Cristo não lança fora a ninguém que venha a Ele, e convida a todos para que venham a Ele para que sejam salvos. Porque através dEle, especialmente da Sua morte, Deus tem se mostrado misericordioso para com os pecadores, na expectativa de que se arrependam, creiam, e vivam. A dificuldade de entendimento da doutrina da eleição reside no fato de que apesar da manifestação de tão grande misericórdia há muitos que permanecem endurecidos no pecado, e orgulhosos a rejeitam deliberadamente. Mas veja, isto não procede de Deus que deseja que todos se salvem, mas da própria parte do pecador. E daí se atribui erroneamente a Deus a ideia de que tenha criado alguns para serem justos e outros para serem perversos. Deus não criou o mal, o pecado. O pecado tem tudo a ver com a criatura, e nada com o Criador.
Assim, que seu doce Espírito os traga a Cristo! Que nenhum de nós pergunte se somos santos ou pecadores, senão que vamos todos juntos, vamos em massa à cruz, voemos todos ao Calvário, e estejamos ali e vejamos a Ele, o eterno Filho de Deus, sangrando e morrendo sobre o madeiro, e creiamos todos agora que Ele pode, que Ele quer, e que Ele salva, mais ainda, que Ele tem salvado nossas almas.  








18 - Um Evangelho Simples para Gente Simples   

Por Charles Haddon Spurgeon

Traduzido e adaptado do texto em espanhol, em domínio público na Internet, pelo Pr Silvio Dutra.

“Porque este mandamento que hoje te ordeno, não é demasiado difícil, nem está longe de ti. Não está nos céus, para dizeres: Quem subirá por nós aos céus, que  no-lo traga, e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos? Nem está além do mar, para dizeres: Quem passará por nós além do mar, que no-lo traga, e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos? Pois esta palavra está mui perto de ti, na tua boca, e no teu coração para a cumprires.” (Dt 30.11-14).


Quando Deus se digna falar com o temeroso indivíduo que o busca, não o faz da maneira de um doutor difícil de compreender, senão à maneira de um pai com seu filho, desejoso que seu filho conheça imediatamente o que está em sua mente de pai. Faz o caminho muito fácil para que o viajante, ainda que não seja muito inteligente, não se equivoque ao percorrê-lo. Ele explica seus grandes pensamentos de maneira adequada para nossas limitadas capacidades. Ele tem compaixão do ignorante, e se converte no mestre das crianças. Verdadeiramente o conhecimento que o Senhor nosso Deus nos concede é sublime, porém sua maneira de ensiná-lo é simples porque Ele nos traz mandamento sobre mandamento, e linha sobre linha, um pouquinho ali, e um pouquinho aqui. Ele não vem a nós com reservas, senão que se inclina aos homens de humilde condição, e enquanto Ele esconde estas coisas ao sábio e prudente ele as revela aos pequeninos: “Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado.”.
Recordem meus irmãos que nosso Senhor tem cuidado de que não haja provisão alguma para o orgulho dos homens. Ele odeia da mesma maneira que qualquer outro tipo de orgulho, o orgulho do intelecto. Nenhuma carne se glorificará em Sua presença. Ele apanha o orgulhoso em sua própria astúcia, enquanto que eleva ao humilde e ao manso, por isso, podemos esperar que fale em termos claros a pastores e pescadores, a quem outros consideram incultos e ignorantes, para que os homens sábios deste mundo não se exaltem sobre os mais humildes. Não é desígnio do Todo-poderoso Senhor que uma classe de pessoas, que se consideram superiores, monopolize as bênçãos do evangelho afirmando que as verdades da revelação estão envoltas em termos cultos que as pessoas sem educação não podem entender. Os diversos sistemas de idolatria têm buscado cercar seus falsos ensinos com segredos místicos, porém a palavra de nosso Deus é reveladora de coisas ocultas desde a fundação do mundo, e podemos estar seguros que quando Deus trata com os homens não fará nada que permita à sabedoria humana que se jacte de si mesma. Ninguém receberá a glória por considerar que, depois de tudo, sua cultura era a coisa necessária para que o evangelho de Deus fosse efetivo. A filosofia não porá sua tenda na terra de Emanuel exclamando: “Eu sou, e não há outra além de mim”. É o modo de Deus inclinar-se ao humilde e contrito, que faz com que sua salvação seja a alegria dos humildes.
Também podemos esperar simplicidade quando recordamos a intenção do plano da salvação. Deus quer claramente, por meio do evangelho, a salvação dos homens. Nos é pedido para pregar o evangelho a toda criatura. Era necessário um evangelho, simples para que fosse pregado a toda criatura. Dou graças a Deus com todo meu coração que o sábio aqui é posto no mesmo nível que um menino, porque o evangelho deve ser recebido por ele como uma criança o recebe. A graça que Deus dá à pessoa menos educada de qualquer aldeia, é tão capaz de recebê-lo quanto o mais profundo erudito na universidade. Quisera algum de vocês que fosse de outra maneira? Poderiam ser tão inumanos? Deve o evangelho estar limitado a uma aristocracia? Acaso as poucas pessoas cultas devem ser gratificadas às expensas da ruína das massas?        
A palavra de vida está dirigida aos homens como pecadores e não como filósofos, e por isso a mensagem é simples e clara. Ademais, esperaríamos que o evangelho seja muito simples, pelas muitas mentes débeis que seriam incapazes de recebê-lo, caso não fosse simples. Lembrem aos meninos: Quão felizes somos porque nossos jovens podem conhecer ao Salvador que disse: “deixai as criancinhas e não as impeçais de vir a mim”!. Se para sua salvação nossas crianças tivessem que ser teólogos eruditos, se antes de poder conhecer ao Senhor tivessem que entender as discussões de nossas publicações teológicas, estariam seguramente numa terrível situação. Teríamos que fechar nossas escolas dominicais, convencidos de que as crianças devem perecer, ou quando menos, esperar até que cheguem à maioridade. Lhe agradaria isto? Estou certo que não, penso que prefeririam ajudar a reunir as ovelhas.
Recordem também, que muitas pessoas padecem de debilidade mental em sua velhice. Quantos que demonstraram uma grande força intelectual em seus anos de maturidade encontram suas faculdades começando a falhar conforme aumentam seus anos. Queremos um evangelho que um ancião possa entender quando a vista e o ouvido lhe falharem, quando se lhe debilitar a memória, e quando ficar débil o seu juízo. Queremos um evangelho que possa se estender à segunda infância, pois, se não, nossos anciãos sentirão falta do bastão no qual se têm apoiado por tanto tempo, e outras pessoas de avançada idade que têm chegado à última hora sem fé em Jesus devem ser abandonadas em seu desespero. Alguém quer que seja assim? Nenhum de nós o deseja.
Lembrem também que muitas pessoas que possuem mentes débeis, não são necessariamente atrasados mentais, porém não têm a categoria de intelectuais; não carecem de pensamento e razão, porém têm um alcance de entendimento muito limitado. Eles devem ser lançados fora por causa de um evangelho complicado e filosófico? Não podemos pensar isso. Nós podemos dar testemunho de ter conhecido a muitas pessoas fortes na fé, que dão glória a Deus, e muito bem instruídas na doutrina divina, que têm sido desprezadas completamente pelo juízo de intelectos presunçosos. O evangelho de nossa salvação salva da mesma maneira ao de mente débil quanto ao inteligente. Não está bem que seja assim? O Senhor tem dado um evangelho que muitos podem entender ainda que não possam chegar a compreender nenhuma outra coisa.
Que pensam meus amigos, que ocorreria com os moribundos se o evangelho fosse complexo e enredado? Como obteriam consolo os santos na hora de sua morte em meio de um labirinto de mistérios? Há ocasiões que nos chamam para visitar pessoas que estão em seus últimos momentos, enfrentando o juízo sem Deus e sem esperança. É uma situação triste. É sempre um motivo para que nos ponhamos a tremer, quando temos que tratar a um impenitente nas fronteiros do mundo eterno. Porém não visitaríamos outro leito de enfermo, pois não poderíamos falar com esperança a nenhum moribundo, se não pudéssemos levar-lhe um evangelho, que possam entender aqueles cujas mentes estejam aturdidas em meio das sombras da tumba. Necessitamos de um evangelho que um homem possa receber igual ao modo pelo qual se toma um remédio, ou ainda, melhor, como se toma um copo de água fria que lhe dá a enfermeira que está junto à sua cama. Esperaríamos, pois, do objetivo do evangelho que é salvar a muitos, incluindo os menos inteligentes, que deve ser muito simples, e assim o encontramos.
Os escolhidos por Deus (aqueles que creem em Cristo) são usualmente pessoas de mente honesta e sincera, que estão mais desejosos de crer do que de discutir. O Espírito Santo que tem aberto seus corações, não os tem feito sutis, e amigos de andar buscando argumentos. Não os tem posto na clave musical da dúvida perpétua. Sem chegar nunca a nada concreto: senão que os tem afinado para outra nota, a saber, a inclinar seus corações e vir ao Senhor Jesus, e escutar que suas almas podem viver. Daí que a maioria dos que seguem a Jesus não estão ansiosos de ser contados entre os sábios e filósofos, preferem ser cristãos na revelação que espertos na especulação. Para nós o conhecimento de Cristo crucificado é a ciência mais excelente, e a doutrina da cruz a filosofia mais elevada. Preferimos receber a palavra de nosso Senhor como criancinhas do que ser famosos como homens pensadores.
Descobrirão que aqueles que têm pregado o evangelho com maior aceitação, sem importar seus dons naturais e habilidades, têm sido quase sempre pessoas que têm preferido recorrer a uma grande simplicidade em sua linguagem. Têm sentido que o evangelho é em si mesmo tão belo que adorná-lo com adornos de pura aparência seria um ato para desonrá-lo. Poderiam dizer com Paulo: “Porém se nosso evangelho ainda está encoberto, é entre os que se perdem que está encoberto.  Assim que, tendo tal esperança, atuamos com muita confiança.”. Não somos como Moisés que colocava um véu no rosto. Os verdadeiros servos de Deus retiram todos os véus que possam, e se esforçam para mostrar um Cristo claramente crucificado entre sua gente. Além do mais, Deus tem se comprazido em reconhecer como apropriada esta mensagem para a conversão das almas. Toda a economia levítica proclamava em alta voz que o homem tem pecado. Todos os dez mandamentos retumbavam com esta verdade. Não poderiam evitar conhecê-lo. Era evidente também que a salvação é pelo sacrifício. Não passava nenhum dia sem o cordeiro da manhã e o da tarde. Durante todo o ano havia sacrifícios especiais por meio dos quais a doutrina da expiação pelo sangue era declarada claramente. Estava escrito como um raio de sol: “sem derramamento de sangue não há perdão.”. Era evidente também a doutrina da fé; cada pessoa que trazia um sacrifício poria sua mão sobre a vítima, confessava seu pecado, e por esse ato transferia seu pecado à oferta.
Dessa maneira se descrevia tipicamente a fé com o ato pelo qual aceitamos a propiciação preparada por Deus, e reconhecemos ao Substituto dado por Deus. Também era claro para cada israelita que esta limpeza não era o efeito dos próprios sacrifícios que serviam de tipos, porque não os teriam repetido ano após ano e dia após dia, porque como bem disse Paulo, com a consciência limpa, não se teria requerido um sacrifício posterior. A recordação do pecado se repetia uma e outra vez, para que Israel conhecesse que os sacrifícios visíveis apontavam a uma autêntica forma de limpeza, e estavam destinados a apresentar o Cordeiro bendito de Deus que tira o pecado do mundo.
Igualmente claro deve ter sido para cada israelita que a fé que traz o benefício do grande sacrifício é uma fé prática e operativa que afeta a vida e o caráter. Eram exortados continuamente a servir ao Senhor com todo seu coração. Eram exortados à santidade e se lhes advertia contra a transgressão e se lhes ensinava a obedecer de coração os mandamentos do Senhor. De maneira que, ainda que a dispensação possa ser considerada uma sombra comparada com o dia do evangelho, de maneira real e positiva era suficientemente clara. Ainda então “a palavra estava próxima” para eles, “em sua boca e em seu coração.”.
Se posso dizer isto da dispensação mosaica, posso assegurar com energia que no evangelho de Cristo a verdade é agora manifesta mais abundantemente. Moisés trouxe luz de lua, porém em Jesus se tem levantado o sol, e nos alegramos em seus raios do meio dia. Irmãos, benditos são os nossos olhos porque veem e nossos ouvidos porque ouvem coisas que profetas e reis desejaram em vão ver e ouvir. Agora nosso Senhor fala claramente, e não utiliza parábolas. Em nossas ruas ouvimos o evangelho e não teremos necessidade de subirmos ao céu nem buscar por todos os lados no mar para encontrá-lo. Neste dia ouvimos a cada homem falar em seu próprio idioma, acerca das maravilhosas obras de Deus.
Moisés também acrescentou: “e em teu coração”. Para os hebreus, coração não significa os afetos, senão os elementos internos, que incluem o entendimento. Meus queridos ouvintes, vocês podem entender o evangelho. Quem crê no Senhor Jesus será salvo, não é uma frase obscura. A salvação pela graça por meio da fé é uma doutrina tão evidente como o nariz no rosto. Que Jesus se entregou Ele mesmo para morrer no lugar dos homens, para que quem cresse nEle não perecesse, senão que tivesse vida eterna, é algo que pode ser entendido pelo menos educado dos homens sob o céu. Ademais, as doutrinas do evangelho são tais que nossa natureza interna dá testemunho da verdade delas. Quando pregamos que os homens são pecadores, a consciência de vocês diz: “É verdade”. Quando declaramos que há salvação pelo sacrifício, o entendimento de vocês está de acordo com o fato de que este é um modo gracioso pelo qual Deus é justo, e ao mesmo tempo justificador do que tem fé. Ainda se não são salvos pela palavra, não podem deixar de dizer que é um sistema digno de Deus, que quis salvar por meio do dom de seu Filho Unigênito como sacrifício pelo pecado. Se o creem, este evangelho será tão simplesmente verdadeiro que cada parte da natureza de vocês testificará disso.    
O evangelho não contém nem dificuldades nem obscuridades exceto as que nós mesmos criamos. O que consideramos como obscuridade é na realidade nossa própria cegueira. Se não crês no evangelho, por que é que não crês nele? Se apoia na melhor evidência, e em si mesmo é evidentemente verdadeiro. A razão da tua incredulidade está em parte na tendência natural do homem para o legalismo. A natureza humana não pode crer na graça imerecida. Está acostumada a comprar e vender, e por conseguinte deve trazer um preço em sua mão, ter tudo por nada parece impossível. A noção de um salário que deve ser ganho é bastante natural, porém que a vida eterna é o dom de Deus não se percebe facilmente, e contudo é assim.
Termino dizendo que o objetivo desta simplicidade e proximidade do evangelho é para que o recebamos. Observem como o texto o expressa claramente: “Pois esta palavra está mui perto de ti, na tua boca, e no teu coração para a cumprires.”. Para que a cumpras. Vocês que têm abertas suas Bíblias notarão que os versículos doze e treze terminam com “a fim de que a cumpras”, mas o quatorze com “para que a cumpras”. A finalidade de ouvir é cumprir. E no final se ordena que seja cumprido. Se têm sido até aqui apenas ouvintes, agora então cumpram. FACA-no!  O evangelho não é enviado aos homens para satisfazer sua curiosidade. Cristo não veio para nos divertir, mas para nos redimir. Sua palavra não está escrita para nosso assombro, porém “estas coisas têm sido escritas para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que crendo tenhais vida em seu nome.”.
O evangelho nos é enviado como maná para o dia de hoje, para ser comido imediatamente. Não deve ser guardado para o dia seguinte.
Quão dura e néscia é a vontade do homem. Requer a graça todo-poderosa para trazê-lo ao ponto de aceitar sua própria salvação. Levar alguém a aceitar a Cristo como Salvador requer um milagre da graça.
Outra vez digo, a dificuldade não está no evangelho, senão no homem cujo coração perverso não quer receber o dom mais escolhido do céu. Se tu estás desejoso de ter a Cristo, Cristo é teu. O fato de que estás desejoso de recebê-lo prova que Ele tem vindo a ti. Crê que é teu e tenha a paz. Se tu queres inclinar-te diante de Cristo, e rece-lo de agora em diante para que seja teu Salvador, serás salvo.








19 - Uma Bendita Corrente no Evangelho   

Por Charles Haddon Spurgeon

Traduzido e adaptado do texto em espanhol, em domínio público na Internet, pelo Pr Silvio Dutra.

“Respondeu Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada.” (Jo 14.23).

Jesus disse: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra.”, Bem, quando guardas a palavra de Cristo (quando o Espírito de Deus te está fazendo obediente a Jesus e semelhante a Jesus) estás andando pelo caminho pelo qual o teu Pai Celestial quer que caminhes, e portanto Ele te ama.
Deixem-me fazer uma clara distinção aqui. Não estou falando agora sobre o amor geral que Deus tem por toda a humanidade, esse amor de benevolência e de beneficência que é demonstrado até para com os ingratos e os ímpios. Nem tampouco estou falando neste momento, do que se refere ao amor essencial de Deus para com seus próprios eleitos aos quais Ele ama, independentemente de seu caráter, mas por causa da própria eleição soberana deles desde a eternidade. Senão que estou falando desse amor de complacência que Deus, como um Pai, tem para com seus próprios filhos. Vocês sabem que frequentemente dizem a seu filho: “Se fazes isto ou aquilo, teu pai te amará.”, contudo, vocês sabem que um pai amará seu filho por ser seu filho, e sempre o fará apesar de que seu caráter não seja sempre como seu pai o deseja. Porém que amor tão grande é o que sente um pai por um bom filho, responsável, obediente. É um amor acerca do qual lhe fala continuamente, é um amor que manifesta por meio de muitas palavras doces e amáveis, um amor que demonstra por meio de muitas ações, e que de outra maneira não teria outorgado tantos favores e que não teria podido outorgar sem correr riscos, de haver sido seu filho um desobediente ou um perverso. Nunca esqueças que o Pai Celestial aplica uma disciplina sábia em sua casa. Tem varas de castigo para seus filhos que não o obedecem, e tem sorrisos para seus filhos que guardam seus mandamentos. Se caminhamos em sentido contrário a Ele, nos tem dito que Ele caminhará em sentido contrário ao nosso, porém se nossos caminhos lhe agradam, há muitos favores escolhidos que Ele nos concede. Este ensino não sugere serviço legal, pois não estamos debaixo da lei, e sim da graça, porém esta é a lei da casa de Deus sob o regime da graça, por exemplo, se um homem guarda os mandamentos do Senhor, terá poder com Deus na oração, porém quando um homem vive habitualmente em pecado, ou ainda ocasionalmente cai em pecado, não pode orar de forma que prevaleça, não pode ganhar o ouvido de Deus como o fazia antes. Sabes de sobra que se tens ofendido ao Senhor de qualquer maneira, não podes gozar do evangelho da maneira que o fazias antes de que pecasses. A Bíblia, em vez de sorrir-te parece mais ameaçar-te, em cada texto e cada linha, parece que se levanta, como em letras saídas de uma fogueira, e abre caminhos de fogo até tua consciência.
Todas as coisas (incluindo suas provações) serão abençoadas para o homem que caminha retamente com Deus, e a maneira de fazer isso é amar a Cristo, e guardar sua palavra. De tal homem disse Jesus: “Meu Pai o amará.”.
Veja a corrente que liga cada citação no nosso texto: “Se alguém me ama”, e aí vem a primeira corrente que se liga a este fato: “guardará minha palavra”, e aí vem outra corrente: “e meu Pai o amará”, mas não pára aí, e há outra corrente: “e viremos a ele e nele faremos morada”. Isto significa distância suprimida. Já não há mais uma brecha entre a alma de um homem assim e seu Deus.
Quando Jesus diz que fará morada no cristão que o tem amado guardando sua palavra, isto significa que viveremos juntos na mesma casa. Neste caso, quer dizer que o Senhor fará que seu povo seja seu templo no qual Ele habitará continuamente. Paulo diz claramente que o corpo do cristão é o templo do Espírito Santo.  
Que conhecimento mútuo está implicado aqui? Queres conhecer uma pessoa? Deves viver com essa pessoa; não conheces realmente a ninguém, independentemente do que penses que o conheças, até que hajas convivido com essa pessoa. Porém, se o Pai e o Filho vêm e fazem sua morada conosco, os conheceremos, conhecer ao Pai e ao Filho. Esta não é a porção de mentes carnais, nem tampouco é a porção dos cristãos que professam porém que não têm cumprido com as condições impostas por nosso Senhor, porém é para quem ama a Cristo, e guarda sua palavra, para quem vive conscientemente no gozo da complacência do Pai, e que tem comunhão com o Pai, com o Filho e com o Espírito Santo. A estes indivíduos privilegiados, Deus se revela em sua personalidade trinitária, e a eles lhes dará a conhecer tudo o que está em Seu pacto de amor e misericórdia.  
O que eu tenho apresentado a Ele tem sido do Seu agrado? Deve ser, pois do contrário não habitaria em minha casa. E quando o Pai e o Filho vêm para habitar na alma do cristão, então tudo o que faz é aceito, se ele mesmo é aceito, seus pensamentos e suas palavras, suas orações e seus louvores, suas ofertas e seus trabalhos para Cristo serão aceitos tanto pelo Pai como pelo Filho.
Todos os cristãos têm a habitação do Espírito Santo, mas nem todos têm permanentemente comunhão com Ele, com o Pai e com o Filho. Esta é para aqueles que guardam a palavra de Cristo. Espero que não pensem que quando Deus o Pai e Deus o Filho fazem sua morada com um homem, esse homem continuará sendo o mesmo que era quando vieram a ele. Não, meus irmãos, o Senhor paga com generosidade por sua habitação, onde Ele habita, converte tudo o que toca em ouro. Quando vem ao coração de um homem, pode estar muito obscuro, porém Ele o inunda com a luz do céu. Pode ter estado frio antes, porém Ele o esquenta com a chama de seu amor todo-poderoso.
Quão doces e maravilhosos são os momentos em que sentimos a presença do Senhor, o Seu governo sobre nossa vida e sobre tudo o que nos cerca. Estou seguro que temos um baixo conceito das possibilidades da comunhão cristã, e do gozo cristão, e da vida cristã. Aspira ao mais alto grau concebível de santidade, e ainda não serás perfeito, nunca te desculpes por não sê-lo. Sempre aspira a algo mais alto e mais alto ainda do que já tenhas realizado, pede ao Senhor que venha e habite contigo para sempre. Serão cristãos muito felizes se alcançam este privilégio, e se mantêm nessa condição, e seremos uma igreja muito abençoada se a maioria de nós alcançar isso. Eu quero ir atrás dessa bênção, com a ajuda da graça de Deus. Não queres vir meu irmão e minha irmã? Acaso pode estar algum de vocês vivendo contente com uma vida inferior à que é possível para vocês? Espero que não se contentem com isso, senão espero que vocês darão todos estes passos que lhes tenho mencionado, e pedirão a Deus em oração que lhes ajude a superá-los. “Senhor ajuda-me a amar a Jesus. Que minha alma seja um incêndio de amor a Ele. Senhor, faz-me capaz de guardar todas as tuas palavras. E depois Senhor olha para mim com misericórdia. Faz-me de tal maneira que Tu possas deleitar-te em mim. Faça-me semelhante a Teu Filho, e depois vem Senhor e faz morada comigo para sempre. Amém.”. Uma oração assim, apresentada verdadeiramente, será respondida, e o Senhor receberá a glória por isso.








20 - Os Dois Efeitos do Evangelho

Por Charles Haddon Spurgeon

Traduzido e adaptado do texto em espanhol, em domínio público na Internet, pelo Pr Silvio Dutra.


“Porque nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo, tanto nos que são salvos, como nos que se perdem. Para com estes cheiro de morte para morte, para com aqueles aroma de vida para vida. Quem porém é suficiente para estas coisas.” (II Cor 2.15,16).

Estas são palavras de Paulo expressadas em nome próprio e no de seus irmãos apóstolos. São verdadeiras no que concerne a todas aqueles que são eleitos pelo Espírito, preparados e enviados à vinha para pregar o evangelho de Deus. Sempre tenho admirado o versículo 14 deste capítulo, especialmente quando recordo os lábios que as pronunciaram: “Graças porém a Deus, que faz que sempre triunfemos em Cristo e que manifesta em todo lugar o odor de seu conhecimento por meio de nós.”.
Imaginemos a Paulo, já ancião, dizendo-nos: “Cinco vezes tenho recebido dos judeus quarenta acoites menos um”, que depois foi arrastado sendo dado por morto, homem de grandes sofrimentos, que havia passado através de mares de perseguições, pensemos quando disse, ao fim de sua carreira ministerial: “Graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo.”.
Triunfar quando se tem naufragado, triunfar apesar de ter sido flagelado, triunfar havendo sido torturado, triunfar ao ser apedrejado, triunfar em meio à burla do mundo, triunfar ao ser expulso da cidade e ter tido que sacudir o pó de seus pés; triunfar sempre em Cristo Jesus!
Agora, se falassem desse modo alguns ministros de nossos tempo, não daríamos muita importância às suas palavras, pois gozam do aplauso do mundo. Sempre podem ir em paz às suas casas. Têm cristãos que os admiram, e não têm inimigos declarados, contra eles nem sequer um cão move a língua, tudo é seguro e prazeroso.
E quão doce é, irmãos, o consolo que Paulo aplicava a seu próprio coração em meio de todas as suas tribulações. Dizia que apesar de tudo, Deus manifesta em todo lugar o perfume do seu conhecimento por meio de nós. Ah! Com esse pensamento um ministro pode dormir tranquilo em seu leito: “Deus manifesta em todo lugar o odor de seu conhecimento. De fato pode fechar seus olhos ao completar sua carreira e abri-los no céu: “Deus por meio de mim manifestou em todo lugar o perfume do seu conhecimento.”.
Assim, ainda que o evangelho seja um bom perfume em todo lugar, produz contudo diferentes efeitos em pessoas diferentes, pois para uns é cheiro de morte para morte, enquanto para outros, é aroma de vida para vida.
Em razão disso, os ministros do evangelho não são responsáveis pelo seu êxito, porque se diz que para Deus somos o perfume de Cristo nos que se salvam e nos que se perdem. E isto faz com que o ofício do ministro não seja uma tarefa suave, antes seu dever é muito agonizante. O apóstolo mesmo disse: “e quem é suficiente para estas coisas?”.
O evangelho é para alguns homens, cheiro de morte para morte. Agora, isto depende em grande parte de qual é o evangelho, porque há algumas coisas chamadas “evangelho” que são cheiro de morte para todos aqueles que o ouvem, porque não podem ser aroma de vida para vida. O pregador John Berridge dizia que pregou a moralidade até que não ficou no povo um só homem moral, porque o modo mais seguro de acabar com a moralidade é a pregação legalista. A pregação das boas obras e a exortação aos homens à santidade como meio de salvação são muito admiradas na teoria, porém na prática demonstra, não somente que não é eficaz, como também, o pior é que às vezes se convertem em cheiro de morte para morte.
Assim se tem comprovado, e creio que inclui o grande Chalmers que confessou que durante anos e anos, antes de conhecer ao Senhor, não pregou outra coisa que moralidade e preceitos, porém nunca viu a nenhum alcoólatra convertido pelo mero fato de lhes mostrar os males da embriaguez. Nem viu a nenhum blasfemo deixar a blasfêmia porque lhe dissera quão odioso era seu pecado. Quando começou a pregar o amor de Jesus, quando pregou o evangelho como é em Cristo, em toda sua clareza, plenitude e poder, e a doutrina de que pela graça sois salvos pela fé, e isto não é de vós, pois é dom de Deus, foi quando conheceu o êxito. Quando pregou a salvação pela fé, multidões de alcoólatras deixaram a bebida, e os blasfemos frearam suas línguas, os ladrões se fizeram honrados, e os injustos e ímpios se inclinaram diante do cetro de Jesus.
Mas mesmo quando se prega o verdadeiro evangelho muitos homens se endurecem em seus pecados ao ouvi-lo. Que verdade mais terrível é a de que alguns pecadores da igreja são os piores. Aqueles que podem submergir mais e mais no pecado, e têm a consciência mais tranquila e o coração mais endurecido, se encontram na própria casa de Deus. Há muitos que recebem a graça de Deus não para serem santificados, mas para transformá-la em motivo para reafirmar a sua lascívia, e usam o argumento da graça de Deus para justificar seu pecado. Dizem que estão na graça e não sob a lei, e assim justificam a prática das suas más obras sob o argumento de que já foram  perdoados em Cristo. Asseguram que foram eleitos desde antes da fundação do mundo e que por isso podem viver do modo que lhes convier, e caminham na direção oposta à verdade. E assim se fazem mais perversos do que aqueles que não se encontram debaixo da pregação da Palavra.
Há entre nós alguém como estes que gostam de ouvir o evangelho e não obstante vivam impuramente? Que podem dizer que são filhos de Deus, e apesar disso se comportam como servos de Satanás? Saibam bem que são uns mentirosos e hipócritas, porque a verdade não está de nenhum modo neles. Qualquer um que é nascido de Deus não vive pecando. Aos eleitos de Deus não se lhes permitirá cair permanentemente no pecado, eles nunca converterão a graça de Deus em libertinagem, isto é, eles não a usarão como argumento para justificar as suas impiedades, senão que, em tudo o que depender deles, se esforçarão para permanecer perto de Jesus. Tenham isto por certo: “Por seus frutos os conhecereis.”.  A má árvore não pode dar bons frutos, assim como a boa árvore não pode dar maus frutos. Não obstante, estas pessoas estão continuamente pervertendo o evangelho. Pecam com arrogância pelo mero fato de que têm ouvido o que eles consideram que são desculpas para seus vícios.
Mas, não encontro outra coisa sob o céu, que possa extraviar tanto aos homens, como um evangelho pervertido. Uma verdade pervertida é, geralmente pior que uma doutrina que todos sabem que é falsa. É igual ao fogo, um dos elementos mais úteis que pode causar a mais intensa destruição, assim o evangelho, que é o melhor que possuímos, pode converter-se na mais vil das causas. Este é o sentido em que o evangelho é cheiro de morte para morte. A condenação de vocês será também maior se opõem ao evangelho. Se Deus tem um plano de misericórdia, e o homem se levanta contra ele, não será grande seu pecado? Não foi imensa a culpa em que incorreram homens como Pilatos, Herodes e os judeus que crucificaram Jesus? Queira Deus ajudar o blasfemo e infiel! Deus salve suas almas.
Mas bendito seja Deus porque o evangelho tem um segundo poder. Além de ser “morte para morte”, é “vida para vida”. Voltemos nossa vista para o passado quando estávamos mortos em delitos e transgressões. E contemplemos também, com alegria, aquela hora em que entramos pela primeira vez em um templo e, para nossa salvação, ouvimos a voz da misericórdia.
Quando foi pela primeira vez “aroma de vida” para nossas almas. Assim pois, meus amados, se alguma vez tem sido “aroma de vida”, sempre o será, porque não diz que seja aroma de vida para morte, mas aroma de vida para vida. Os arminianos afirmam que o evangelho às vezes é aroma de vida para morte, mas não encontramos isto no texto da Palavra de Deus. Eles afirmam que um homem pode receber vida espiritual, e não obstante, morrer eternamente. A saber, pode ser perdoado, e depois, castigado, pode ser justificado de todo pecado, e contudo suas transgressões podem ser lançadas de novo sobre seus ombros para efeito de condenação eterna. Que podem ter nascido de novo e terem sido feitos filhos de Deus, e depois serem considerados por Deus como não nascidos de novo e como verdadeiros bastardos. Que podem ter sido amados por Deus, e apesar disso Deus poderá odiá-los amanhã.
Oh! Não posso sequer suportar o só ouvir falar de tais doutrinas cheias de mentiras; que eles creiam no que quiserem. Quanto a mim, creio tão profundamente no amor imutável de Jesus, que suponho que se um cristão estivesse no inferno, o mesmo Cristo não estaria muito tempo no céu sem gritar: “Ao resgate! Ao resgate!”. Em termos proporcionais Ele demonstrou isto, deixando o céu para vir a este mundo pecador para buscar a ovelha perdida.  Não, o Senhor não permitirá que nenhuma de suas ovelhas se perca. É aroma de vida para vida, e não de vida para morte. Jesus disse que conhece as suas ovelhas e que lhes dá a vida eterna. Mas os arminianos apontam às ovelhas a possibilidade de vida temporária, e que elas podem perdê-la, porém Jesus disse que dá vida eterna e que jamais perecerão eternamente.  Se qualquer filho de Deus pode perecer onde está o maravilhoso e a boa nova do evangelho? Se temos recebido algo inseguro, incerto, que depende da nossa própria capacidade para ser preservado e mantido, jamais seria uma boa notícia. Ao contrário, seria um bom motivo para ansiedade. Mas graças a Deus, porque a Palavra tem demonstrado que a promessa de salvação é para incapazes, coxos, pobres, aleijados. O evangelho é adequado aos pecadores em sua insuficiência, porque é em Deus que eles são tornados suficientes para estas coisas.  
É cheiro de vida para vida. Não somente vida para vida neste mundo, senão vida para vida eternamente.
Agora, veremos porque eu disse que o ministro do evangelho não é responsável pelos seus êxitos. É responsável pelo que prega e por sua vida e ações, porém não é responsável pelos resultados de seu testemunho. Se eu prego a Palavra de Deus, porém não há nenhuma alma que se salve, assim mesmo o Rei me diria apesar de tudo: “muito bem, servo bom e fiel!”. Se não deixo de dar minha mensagem, e se o faço no poder do Espírito, e ninguém a queira escutar, Ele dirá: “tens combatido o bom combate, recebe a tua coroa.”.
Como é natural a um pescador ele não é responsável pela quantidade de peixes que pesca, senão pela forma como pesca. Se é encontrado fiel lançando sua rede, o Senhor virá ao seu encontro e mesmo que tenha conseguido pegar apenas dois peixinhos, lhe dirá que poderia ter enviado uma multidão de peixes para serem salvos.
Por isso, pregar a Palavra de Deus não é o que alguns pensam, uma simples brincadeira de crianças, um negócio ou profissão que qualquer um pode exercer. Um homem deve sentir, em primeiro lugar, que tem um chamado solene, depois, deve saber que realmente possui o Espírito de Deus, e quando fala existe uma influência sobre ele que o capacita a pregar como Deus quer que o faça. Doutra maneira deve abandonar o púlpito imediatamente, porque não tem nenhum direito a estar ali, ainda que a igreja seja de sua propriedade. Não tem sido chamado para anunciar a verdade de Deus.
Pregar não é tarefa fácil, pois o apóstolo disse: “quem é suficiente para estas coisas?”. Quando se tem que falar com severidade, o coração nos diz: “não o faças. Se falas desta forma julgarás a ti mesmo”, então existe a tentação de não fazê-lo. Outra prova é que temos que desagradar o rico de nossa congregação. Desta forma pensamos: “se digo isto, fulano de tal se ofenderá, pois não aprova esta doutrina.”. Talvez suceda que recebamos os aplausos das multidões e não queremos dizer nada que lhes desagrade, porque se hoje gritam: “hosana”, amanha gritarão: “crucifica-o!”. Todas estas coisas operam no coração de um ministro. Ele é um homem como vocês, e sente como vocês. Além de tudo está sob a afiada espada da crítica e das flechas daqueles que o odeiam e ao seu Senhor, e às vezes não pode evitar o sentir-se ferido. Possivelmente poderá colocar a armadura e dizer: “não me importam as críticas de vocês!”, porém houve épocas em que os arqueiros afligiram penosamente inclusive a José. Então se encontra em outro perigo, de querer defender-se, porque quem o faz comete uma grande loucura. O que deixa a seus detratores sozinhos, e que como a águia, não se intimida com o canto do pardal, ou como o leão que não fica molestado com o grunhido do chacal, é um homem e será honrado. Porém o perigo está em que queiramos deixar estabelecida nossa reputação de justos. E quem é suficiente para conduzir o barco no meio destas perigosas rochas?
Mas o trabalho do ministro, a par de todas as dificuldades, é um trabalho solene, e quanto bem farão todos os que amam a verdade orar por todos aqueles que a pregam, para que sejam suficientes para estas coisas.
Se o ministro tiver em sua igreja aquelas pessoas que se dedicam à oração, que se reúnem nas tardes de segunda-feira para pedir a Deus que derrame sua bênção sobre ele, vencerá assim até mesmo o inferno apesar de toda oposição. Nossos perigos nada são se temos orações. Porque se ainda que aumente minha congregação, ainda que tenha gente nobre e educada, e que tenha influência e entendimento, se não tenho uma igreja que ore, tudo me sairá mal. Assim, que nunca se diga de nós como igreja: “aquele povo era tão fervoroso, e tem se tornado tão frio!”.
Levantem-se amigos! Empunhem o estandarte e mantenham-no bem alto até que chegue o dia em que nos encontraremos no último baluarte que conquistamos nos domínios do inferno, e quando todos louvaremos ao Senhor dizendo: “Aleluia! Aleluia! Porque reina o Senhor nosso Deus Todo-poderoso!”.
Até então, continuemos lutando, combatendo o bom combate da fé.








21 - A Coisa Inesperada   

Traduzido e adaptado do texto em espanhol, em domínio público na Internet, pelo Pr Silvio Dutra.

“Então ele se levantou e, no mesmo instante, tomando o leito, retirou-se à vista de todos, a ponto de se admirarem todos e darem glória a Deus, dizendo: Jamais vimos cousa assim.” (Mc 2.12).

Uma das coisas surpreendentes do evangelho é que deve chegar às pessoas incapazes. A pessoa da narrativa não podia por si mesma ir a Cristo em razão da sua paralisia, e teve que ser levada por outros à Sua presença.

O evangelho considera a cada pessoa a que se dirige como alguém incapaz de fazer algum bem. Se dirige a ti não como um simples paralítico, senão que vai mais além e te descreve como um morto que foi vivificado em Cristo. O evangelho fala aos mortos. Frequentemente tenho ouvido dizer que é dever do pastor despertar as atividades dos pecadores. Eu creio exatamente o contrário: deve esforçar-se para matar suas atividades baseadas numa confiança em si mesmo fazendo ver às pessoas que tudo o que podem fazer por si mesmos é pior que nada. Não podem fazer nada, pois como podem mover-se os mortos? Como poderiam os mortos em pecado nascer de novo por si mesmos? O poder que pode salvar não repousa no pecador. Não está nele. O poder está em Deus.

E se alguns de vocês não são cristãos, não venho lhes dizer algo que possam fazer para se salvar a si mesmos, mas lhes advirto que vocês estão perdidos, arruinados e condenados. Têm poder para se extraviar como ovelhas perdidas, mas se alguma vez regressarem, seu Pastor tem que trazê-los de volta ao aprisco, nunca poderão regressar por si mesmos. Teriam poder para se destruir e têm exercitado este poder. Porém agora sua ajuda não está em vocês, sua ajuda está em Deus. É algo estranho que o Evangelho represente ao homem numa condição tão desesperada, porém é um fato. E ainda é muito surpreendente, não devemos ter nenhuma dúvida a respeito.  
Algo igualmente notável é que o evangelho pede que os homens façam o que não podem fazer, pois Jesus disse a este homem paralítico: “A ti te digo, levanta-te, toma tua cama e anda.”. Ele não poderia fazê-lo. E é uma das coisas estranhas do caminho da salvação que: tenhamos que dizer, em nome de Jesus, ao homem que tem a mão paralisada, cuja mão está tão paralisada que sabemos que não tem nenhum poder nela: “estende tua mão”. E dizemos isso em nome de Deus. Alguns de meus irmãos que professam um certo tipo de doutrina dizem: “isso é ridículo! Se admites que um homem não pode fazê-lo, é ridículo que lhe peças que o faça.”.
O evangelho te pede que creias, ainda que esteja morto em teus delitos e pecados. “Não posso entendê-lo”, dirá alguém. Não, não poderás entendê-lo até que Deus to revele. Porém, quando o Senhor vier e habitar contigo, então entenderás perfeitamente e verás como o exercício da fé da parte do pregador do evangelho é uma parte da operação divina mediante a qual as almas mortas são levantadas.
Outra coisa mais admirável ainda é esta: que apesar do evangelho chegar a homens incapazes e mortos e lhes ordenar fazer algo que não podem fazer por si mesmos, na realidade o fazem. Isso é o maravilhoso. No nome de Jesus dizemos ao homem paralítico: “Toma tua cama e vai para tua casa.”. Porque quando se prega a Palavra de Deus fielmente, com a confiança em Deus,  vem poder eterno ao homem que não teria nenhum poder. E os eleitos de Deus, chamados pela pregação do evangelho, ouvem a mensagem do céu e veem o poder ao mesmo tempo que escutam a mensagem, de tal forma que obedecem e vivem. Apesar de que estavam mortos, vivem. É algo estranho ter que dizer a vocês gente boa da igreja que sempre têm feito tudo tão bem, que a menos que se convertam, estão mortos em delitos e pecados e todas suas boas obras são a mortalha na qual estão envoltos seus cadáveres, somente isso. E é estranho que estejamos obrigados a convidá-los a crer em Jesus quando já lhes temos dito que não têm nenhuma vida espiritual. E temos que advertir-lhes que estão vivendo em grande pecado se não creem em Jesus.
Vocês podem julgar mais singular ainda que nós tenhamos a confiança que ao dizer-lhes estas coisas de maneira sincera e honesta no nome de Deus, o Espírito de Deus os abençoará e lhes guiará a crer e a confiar em Jesus. Ainda que pareça estranho, é assim. Mais notável ainda foi isto, sem dúvida para a multidão: este paralítico foi curado imediatamente. Que a recuperação de uma paralisia total se dê imediatamente é algo muito raro. Jesus ordenou que o homem se levantasse e andasse. Cada ligamento está em seu lugar. Cada músculo está pronto para a ação num momento. Pensarias que poderia levar um mês ou dois, e uma boa quantidade de massagens para por o sangue deste homem em circulação adequada, para voltar à normalidade; porém não foi assim, ele somente escutou a estranha ordem que lhe pediu para que fizesse algo que não podia fazer, e fez o que não podia fazer por um poder que veio unido à mensagem.
E temos aqui o maravilhoso do evangelho. Um pecador ouve o evangelho e todos os pecados de sua vida inteira estão sobre ele, porém ele crê no evangelho e todos os pecados são removidos num momento. E ele está tão limpo diante do trono de Deus como se nunca tivesse sido manchado pelo pecado. Até o momento de receber o evangelho, ele era um inimigo de Deus por suas más obras. Porém ele aceita o testemunho de Deus relativo a Seu Filho, ele descansa em Jesus e seu coração se torna como o coração de uma criança. Num momento a pedra é removida e recebe um coração de carne. Converte-se numa nova criatura em Cristo Jesus.
Isto é o que o evangelho tem feito por nós. Mas há alguns que pensam que usam a religião como um tipo de bálsamo que devem usar enquanto eles continuam em seus pecados. Quero que vejam que é algo muito diferente. Cristo tem vindo para salvá-los de seus pecados. Não para mantê-los no fogo e evitar que se queimem, senão para tirá-los como um carvão para fora do fogo. Tem vindo para fazê-los novas criaturas e isso Ele pode fazer neste instante, enquanto lêm esta mensagem.







22 - Graus de Poder Presentes no Evangelho   

Por Charles Haddon Spurgeon

Traduzido e adaptado do texto em espanhol, em domínio público na Internet, pelo Pr Silvio Dutra.

“Porque o nosso evangelho não chegou até vós tão-somente em palavra, mas sobretudo em poder, no Espírito Santo, e em plena convicção, assim como sabeis ter sido o nosso procedimento entre vós, e por amor de vós.” (I Tes 1.5).

O evangelho vem a todos os que o ouvem. O evangelho é destinado tanto ao regenerado quanto ao não regenerado. E enquanto para uns é “cheiro de morte para morte”, para outros é “cheiro de vida para vida.”, contudo a distinção não está no evangelho senão na forma em que é recebido ou rechaçado.
Alguns de nossos irmãos que estão muito ansiosos de levar a cabo os decretos de Deus em vez de crer que Deus pode levá-los a cabo por Si mesmo, sempre estão tratando de fazer distinções em sua pregação. Pregar um evangelho a um conjunto de pecadores e outro a outra classe diferente! São muito diferentes os velhos semeadores que, quando saíam a semear, semeavam entre espinhos e nos pedregais e junto ao caminho. Estes irmãos, com profunda “sabedoria”, se esforçam por encontrar qual é a boa terra. Insistem muito em que não se deve lançar nem sequer um simples punhado de convites se não é no terreno preparado.
São demasiado “sábios” para pregar o evangelho aos ossos secos que estão no vale, como Ezequiel o fez enquanto estavam mortos. Eles não soltam nem uma palavra do evangelho enquanto não haja um pequeno estremecimento de vida entre os ossos! E somente então começam suas operações. Não consideram seu dever ir aos caminhos e aos becos para convidar a todos, a todos os que encontrarem, para vir ao banquete. Oh, não! São demasiado ortodoxos para obedecer à vontade do Senhor. Isto significa que eles querem fazer algo que é desnecessário. Não têm fé suficiente ou não têm submetido sua vontade o suficiente aos mandamentos supremos do grande Senhor para fazer isso que somente a fé se atreve a fazer, isto é, gritar aos ossos secos que vivam, dizer ao homem de mão paralisada que estenda sua mão ou pedir ao paralítico que tome sua cama e ande.
Os profetas diziam valentemente: “lavai-vos, limpai-vos, tirem a maldade de vossas ações de diante dos meus olhos. Deixem de fazer o mal. Aprendei a fazer o bem.”. Um deles exclama de maneira contundente: “Adquiri um coração novo e um espírito novo.” (Ez 18.31). E contudo, não duvido que ele estava perfeitamente de acordo com esse outro profeta que ensinou a incapacidade do homem por meio daquelas duas memoráveis perguntas: “Poderá o etíope mudar a cor da sua pele e o leopardo suas manchas?”. Estes homens nunca pensaram que teriam que selecionar o que teriam que pregar, segundo o grau de poder de seus ouvintes.
E aconteceu com os apóstolos o mesmo que acontecia com os profetas! Pedro gritou à multidão congregada ao redor da porta do templo chamada Formosa: “Portanto, arrependei-vos e convertei-vos para que sejam apagados vossos pecados.”. Eles apresentavam o evangelho, o mesmo evangelho tanto aos mortos como aos vivos; o mesmo evangelho aos não eleitos como aos eleitos. O ponto distintivo não está no evangelho senão em se é aplicado pelo Espírito Santo ou é deixado para que seja rechaçado pelo homem. Vemos no texto que o mesmo evangelho vem para todos. E o ponto distintivo está mais além, a saber, na aplicação desse evangelho no coração.
Para outros, a Palavra vem num sentido um pouco melhor, porém em palavras somente. Eles a ouvem, e a entendem na teoria, e provavelmente estão mais contentes com ela, especialmente se é entregue de uma maneira adequada a seu gosto, ou se pode ser louvada conforme o seu entendimento particular. Ouvem e não esquecem tão rápido.
Eles podem recordar e são gratificados com ilustrações, verdades doutrinais e outras coisas similares. Porém quando se tem dito isto, se tem dito tudo. O evangelho permanece neles como certas drogas potentes permanecem nos frascos das farmácias. Estão ali, porém não produzem nenhum efeito. O Evangelho vem a eles como um canhão descarregado guardado, ou como um barril de pólvora armazenado num depósito, não há força nele porque o fogo do Espírito de Deus está ausente. O pregador dá açoites ao ar. Corteja ao vento e convida a nuvem quando prega a gente assim. Ouvem, porém em vão, são insensíveis como a palha.    
Queridos irmãos e irmãs, os homens choram no teatro. Choram mais ali do que em muitos lugares de adoração. Portanto, simplesmente chorar pela influência de algum sermão não é sinal de ter obtido algum benefício dele. Alguns de meus irmãos pregadores são espertos em desenterrar aos mortos. Sabem trabalhar bem sobre as emoções das pessoas. Porém não acho isso um meio seguro para se trabalhar com um evangelho verdadeiro e glorioso.
A simples excitação produzida pela oratória é a arma que utiliza o mundo para obter seu fim. Necessitamos de algo mais que isso para os propósitos espirituais. Se pudéssemos “falar em línguas de homens e de anjos” e comovê-los até alcançar o entusiasmo que Demóstenes gerava nos antigos gregos que o escutavam, tudo isso não serviria para nada se somente fosse o efeito da linguagem apaixonada do pregador e de sua força de expressão. O evangelho teria vindo a vocês “em palavra somente”. E o que é nascido da carne é carne, e somente isso. Há uma certa classe de pessoas  que são ouvintes profissionais de sermões. Vão num domingo escutar ao Sr H, e depois no outro domingo o Sr Y. E sempre levam com eles “sacarômetros”, ou seja, instrumentos para medir a quantidade de doçura do sermão que ouviram. E fazem uma medição disto bem como do próprio pregador. Registram todos os disparates que dizem e dizem como poderia ser melhorado. E o comparam e o contrastam com outros pregadores, como se fossem provadores de fé.
Alguns indivíduos desta classe não são senão vagabundos espirituais sem uma habitação nem uma ocupação estabelecidas. Andam rodando de lugar a lugar, pondo atenção nisto e naquilo sem obter nenhum benefício e sem fazerem qualquer serviço para Deus. E quanto a fazer o bem, este pensamento nunca entra no seu cérebro. Não podes esperar que o evangelho venha a ti de nenhuma outra maneira senão somente como uma letra que mata, pois tu vais a ouvir o evangelho como simples palavras. Não buscas fruto, te sentas satisfeito se somente vês as folhas. Não desejas nenhuma bênção, nem para ti, nem para ninguém. Não reconheces diante de Deus as tuas próprias necessidades, não consegues ver que és carente e dependente da Sua graça, e assim não estendes as mãos em busca de direção e socorro. Se desejasses bênçãos as terias. É um dos hábitos mais vis e néscios desperdiçar nosso tempo criticando constantemente a Palavra de Deus e os ministros de Deus.
Não podemos explicar como o Espírito Santo opera por meio da Palavra. A obra do Espírito é equiparada a algo tão misterioso como um nascimento ou como o soprar do vento. É um grande segredo e portanto não pode ser explicado. Enquanto ouviam a letra que mata, o Espírito de Deus veio com ela e o Espírito que dá vida os fez viver com uma vida nova, mais eleva e mais abençoada.
Não podemos dizer que o evangelho tem vindo a vocês no Espírito Santo e em plena convicção a menos que se mostrem os resultados correspondentes. Os tessalonicenses os mostraram, porque Paulo disse acerca deles que se fizeram imitadores dele e do Senhor, recebendo a palavra no meio de grande tribulação com gozo do Espírito Santo, de tal maneira que se tornaram exemplo para todos os cristãos da Macedônia e da Acaia, porque a Palavra do Senhor estava ressoando a partir deles não somente em toda Macedônia e Acaia como em todos os lugares, e haviam se convertido dos ídolos para Deus, para servir ao Deus vivo e verdadeiro.
Aqui podemos ver uma imitação do exemplo apostólico, uma fé que chega a ser tão conhecida que sua fama se estende, um gozo que não pode ser apagado pela própria aflição, e uma perseverança que permanece apesar de todas as dificuldades. Podem ver uma conversão que renuncia aos ídolos mais queridos e nos une a Cristo e nos faz vigiar e esperar por Ele. Todas estas coisas são necessárias como provas que o Espírito Santo tem acompanhado a Palavra.
Está claro pelo texto que não basta pregar o evangelho. Se requer algo mais que isso para a conversão das almas. Devemos ter o poder do Espírito Santo. E o lado prático disto envolve que se requer que oremos muito a Deus para que o Espírito Santo opere. É preciso ter um espírito de oração na congregação e não perdê-lo nunca. E o prático disto deve ser visto na regularidade e grande participação da igreja nas reuniões de oração. E aumentemos nossas orações proporcionalmente às nossas ações. Matinho Lutero certa vez disse: “Tenho tanto que fazer no dia de hoje que não será possível realizá-lo com menos de três horas de oração.”. A maior parte do povo diria: “Tenho que fazer tanto no dia de hoje que somente posso ter três minutos de oração.”. Porém Lutero pensava que quando tinha mais que fazer mais tinha que orar ou do contrário não poderia realizá-lo. Este é um tipo bendito de lógica. Queira Deus que possamos entendê-la.
Aprendamos do texto nossa dívida à Graça Soberana que faz a distinção. Vocês observam que o evangelho não vem com o poder do Espírito Santo para todos. Se então tem vindo para nós, que faremos senão bendizer e louvar a graça soberana que o fiz vir a nós?
Vocês podem observar que a distinção não se encontrava nas próprias pessoas. Estava na maneira em que o evangelho veio. A distinção nem sequer estava n o evangelho, senão na presença do Espírito Santo, que o fez efetivo. Se vocês têm ouvido a Palavra com poder, queridos irmãos, não foi porque vocês estavam mais preparados, porque estavam menos inclinados ao pecado, ou sentiam mais simpatia a Deus, mas isto se deveu exclusivamente à graça de Deus que tem se manifestado entre nós através da presença e poder do Espírito Santo.





23 - O Evangelho Glorioso do Deus Bendito   

Por Charles Haddon Spurgeon

 Traduzido e adaptado do texto em espanhol, em domínio público na Internet, pelo Pr Silvio Dutra.

“Segundo o evangelho da glória do Deus bendito, que me tem sido encomendado.” (I Tim 1.11).

Este versículo aparece justamente depois de uma larga lista de pecados, que o apóstolo declara que vão contra a sã doutrina, do que concluímos que uma prova da sã doutrina é sua oposição a toda forma de pecado. Qualquer doutrina que de alguma maneira exclua a importância do pecado pode ser popular, porém não é sã doutrina, porque por suas vidas revelam a corrupção de seus corações, necessitam estar mais envergonhados de sua hipocrisia do que orgulhosos de sua ortodoxia. O apóstolo nos oferece neste versículo, outra medida que nos serve para provar essas doutrinas, nos diz que a sã doutrina sempre é evangélica – “sã doutrina segundo o evangelho da glória”. Qualquer doutrina que enaltece a vontade ou o mérito do homem, qualquer doutrina que exalta as cerimônias e os ofícios dos sacerdotes, qualquer doutrina, pois, que não coloca a salvação sobre o único fundamento da graça livre, não é sã. Estes dois pontos são absolutamente necessários em todo ensino que professe vir de Deus; deve recomendar e promover a santidade na vida; e, ao mesmo tempo, deve, muito além de toda dúvida, ser uma declaração de graça e misericórdia através do Mediador.
Tem sido o evangelho boa nova para nós? Tem sido boa nova para vocês? “Nós o temos ouvido tão frequentemente”, diria alguém, “que não podemos esperar que seja novidade para nós. Fomos educados por pais piedosos, nos levaram à escola dominical, temos aprendido o evangelho desde nossa juventude, não pode ser uma novidade para nós!”. Deixem-me dizer-lhes que, não conhecem a palavra da reconciliação a menos que tenha sido, e todavia o seja, uma nova para vocês. Para cada homem que se salva pelo evangelho, este vem como uma nova, tão nova, fresca e assombrosa, como se nunca antes a tivesse ouvido. A letra pode ser velha, porém o significado interior é tão novo como se a tinta estivesse fresca na caneta da revelação. Confesso que fui educado na piedade, colocado em minha família por mãos cheias de oração, e embalado com canções que louvavam a Jesus, porém depois de ter ouvido o evangelho, continuamente, linha sobre linha, mandato sobre mandato, um pouquinho aqui, e um pouquinho ali, contudo, quando a palavra do Senhor me chegou com poder, foi tão nova como se eu tivesse vivido entre as tribos remotas da África central, e nunca tivesse ouvido a notícia da fonte limpadora cheia com o sangue que flui das veias de nosso Salvador. O evangelho em seu espírito e poder sempre leva o orvalho de sua juventude, brilha com a frescura da manhã – sua força e sua glória permanecem para sempre. A voz refrescante de Jesus é uma nova que diz: “vinde a mim e eu lhes farei descansar”. Ainda tenho ouvido o chamado externo milhares de vezes, e ainda assim, quando chega ao meu coração a própria voz de Jesus, é tão surpreendentemente fresca  e revela mistérios que têm sido ocultos desde a fundação do mundo.
Quando Paulo chama a mensagem de misericórdia de “o evangelho”, lhe acrescenta um adjetivo – “o evangelho da glória”, e é um evangelho glorioso. A glória de ser misericordioso e perdoador, e não é esta glória que se revela em Jesus mediante o evangelho?
O evangelho visto com estes olhos, e ouvido com estes ouvidos externos será, como o Senhor mesmo, “uma raiz seca. Não havia aparência nele nem formosura”, porém o evangelho entendido por um coração renovado, será uma coisa completamente diferente. Oh, será o evangelho da glória seguramente, se vocês forem levantados numa nova vida, para gozar as bênçãos que lhes traz. Assim que lhes suplico que respondam à pergunta e para ajudá-los deixem-me recordar ao povo de Deus quão glorioso tem sido o evangelho para eles. Recordam o dia em que o evangelho tomou de assalto o coração de vocês? Nunca poderão esquecer quando o grande aríete da verdade começou a golpear as portas da fortaleza em redor de suas almas. Recordam como reforçaram as colunas e as vigas, e enfrentaram o evangelho resolvidos a não ceder? Às vezes foram impulsionados a chorar por causa das impressões, porém secaram suas lágrimas passageiras – a emoção foi “como o orvalho da manhã”. Porém o amor eterno não quis abandonar seus assaltos de graça, porque tinha a determinação de salvar. A providência e a graça juntas sitiaram a cidade da alma de vocês, e trouxeram a artilharia divina para atacá-la. Vocês estavam completamente encerrados até que – como aconteceu com Samaria assim foi com vocês – houve uma grande fome na alma de vocês. Recordam como domingo a domingo, cada sermão foi um assalto renovado dos exércitos do céu – um novo golpe do aríete celestial. E Satanás ajudou a colocar novas barricadas em seus corações, mas num bendito dia o aríete do evangelho deu o golpe da graça definitivo, e as portas se abriram, e por elas entrou o Príncipe da paz, como um conquistador. Nossa vontade foi submetida, nossos afetos foram dominados, toda nossa alma foi colocada em sujeição sob o domínio da misericórdia. Jesus foi glorioso diante de nossos olhos naquele dia. Esse dia único está registrado nas tábuas do nosso coração porque foi o verdadeiro dia da coroação de Jesus em nós, e nosso nascimento para a eternidade.    
Não intentem flagelar-se para obter a graça, a nova vida não deve ser tocada com o chicote da escravidão. Vão à cruz para receber motivação e energia ou mesmo santidade. Olhem a Jesus no evangelho como fizeram no início de sua nova vida. Saibam que são salvos nEle, e então sigam adiante para lutar contra a tentação, com o evangelho como estandarte de sua guerra de toda a vida. Se algum de vocês tem intentado fazer a guerra contra o pecado aparte do Capitão de sua salvação, já têm sido feridos para seu mal, ou o serão, porém se o Leão de Judá vai adiante de vocês, e vocês o seguem com o evangelho como grito de guerra, a vitória é segura e vocês terão outra grinalda para colocá-la aos pés de Jesus e seu glorioso evangelho.
O evangelho é glorioso porque é somente por ele que podemos achar consolo em nossas aflições e tribulações. Ele afirma que é bem-aventurado o perseguido por causa da justiça do Reino. O que é o sofrimento e a perseguição que nos sobrevêm exatamente por causa do evangelho? Não são gozo  para o cristão fiel?
Agora, Paulo diz: “o evangelho da glória do Deus bendito, que me tem sido encomendado.”. Veja que o evangelho tem sido encomendado aos cristãos. Isto é, devemos reconhecer que temos uma responsabilidade para com ele. Paulo bem poderia ter dito, “o evangelho que tem sido encomendado a cada cristão.”. O evangelho é um tesouro de valor inestimável, e os santos são os seus banqueiros. Está encomendado ao nosso cuidado como os homens encomendam seus negócios a seus empregados.
É um dever de todo cristão instruído, trabalhar para ter o domínio de toda a verdade até onde lhe seja possível. Suponho que ninguém senão a mente infinita pode conhecer a verdade em toda sua altura e profundidade, contudo a educação não deveria nos deformar nem os prejuízos impedir que recebamos a verdade. Devemos lutar contra toda parcialidade, e deve ser, cada vez que abrirmos a Bíblia, uma de nossas orações: “Abre meus olhos, e contemplarei as maravilhas da tua lei.”.
O primeiro negócio de um cristão é seu cristianismo, tudo o mais, ainda que seja seu patriotismo deve conservar-se subordinado a isso, porque o céu é mais seu país do que o Brasil, e Jesus Cristo é mais seu Rei do que qualquer um dos governantes da terra. “Buscai primeiro o reino de Deus e sua justiça.”. Eu perguntaria especialmente aos jovens que amam ao Senhor, se realmente estão fazendo para a causa de Cristo o que eles deveriam fazer? Se não podem fazer algo mais de maneira que tornem manifesto em cada lugar o odor do nome de Cristo?
O primeiro chamado para a mulher cristã é servir a Jesus na família, e depois disso servir a Cristo em sua comunidade. Estamos fazendo assim? “O evangelho da glória do Deus bendito” está encomendado a ti mulher cristã, como está a todo servo de Deus.






24 - O Evangelho Glorioso   

Por Charles Haddon Spurgeon

Traduzido e adaptado do texto em espanhol, em domínio público na Internet, pelo Pr Silvio Dutra.


“Fiel é esta palavra e digna de toda aceitação, que Cristo Jesus veio a mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal." -- 1 Timóteo 1:15

Quando antigamente os profetas vinham da parte do Senhor, pregavam tais juízos e ameaças e calamidades que seus rostos refletiam muita tristeza e seus corações pesar. Normalmente começavam sua mensagem anunciando: “A carga do Senhor, a carga do Senhor”. Porém agora, nossa mensagem não é essa carga. Nem ameaças nem trovões formam o tema do ministro do evangelho. Somente se fala de misericórdia. O amor é a suma e a substância de nosso evangelho – amor imerecido – amor para o principal dos pecadores. Mesmo quando falamos da ira de Deus e dos Seus juízos que sobrevirão aos ímpios, é para lhes apontar a graça e a misericórdia que está disponível para eles em Cristo nesta presente dispensação.
Quando pregamos o evangelho, não devemos titubear. Devemos mostrar-lhes hoje um Salvador tal que nem a terra nem o céu podem mostrar. É tão amoroso, tão grandioso, tão poderoso e tão bem adaptado a todas as nossas necessidades que é suficientemente evidente que Ele foi preparado desde o princípio para encher nossas mais profundas necessidades. Sabemos que Jesus Cristo que veio ao mundo para salvar os pecadores era Deus. E que desde muito tempo antes que viesse a este mundo, os anjos o adoravam como o Filho do Altíssimo. Quando lhes pregamos o Salvador, lhes dizemos que ainda que Jesus era Filho do Homem, osso dos nossos ossos e carne de nossa carne, Ele era desde toda a eternidade o Filho de Deus e tem nEle todos os atributos que constituem a perfeita Divindade.
O nome dado a Cristo sugere algo relacionado com sua Pessoa. Ele é chamado em nosso texto: “Cristo Jesus”. Essas duas palavras querem dizer o “Salvador Ungido”. O Salvador Ungido que veio ao mundo para salvar os pecadores.  
Cristo veio ao mundo no sentido da mais perfeita e completa união com a natureza humana. Quando pregamos a um Divino Salvador, talvez o nome de Deus é tão terrível para ti, que dificilmente pensas que o Salvador se adapta a ti. Porém escuta de novo a velho história. Ainda que Cristo era Filho de Deus, Ele abandonou seu altíssimo trono na glória e se inclinou até a manjedoura. Ali está como um recém-nascido. Veja-o crescer desde sua infância até a idade adulta e como vai pregar ao mundo e sofrer. Veja-o gemer sob o jugo da opressão. É humilhado e desprezado. Seu rosto está mais desfigurado do que o de qualquer outro homem e sua figura mais que a dos filhos dos homens. Veja-o no horto com suas gotas de sangue. Veja-o na casa de Pilatos onde é açoitado e seus ombros abertos sangram pelos açoites.
Veja-o na cruz sangrenta. Veja-o morrendo numa agonia demasiado terrível para poder imaginá-la, muito menos descrevê-la. Veja-o no sepulcro silente. Veja-o finalmente rompendo as ataduras da morte levantar-se ao terceiro dia para depois subir aos céus “levando cativo o cativeiro”. Pecador, agora tens ao Salvador diante de ti, claramente manifestado.
Aqueles pelos quais morreu são descritos, sem nenhum adjetivo que diminua o alcance da palavra, como pecadores, como simplesmente pecadores, sem nenhum distintivo de mérito ou marca de bondade que os possa distinguir de seus companheiros. Pecadores. Agora o termo inclui uma mostra de cada tipo de pecadores. Os pecados de alguns homens são pouco visíveis. Têm educação religiosa e possuem também educação moral, portanto não se lançam às profundidades do pecado. Se contentam com marchar ao largo das costas do vício – e se guardam de aventurar-se terra adentro. Agora, Cristo tem morrido por estes também, já que muitos deles têm sido levados a conhecê-lo e a amá-lo. Que ninguém pense que devido a que seus pecados são menores, que há menos esperança para ele.
Que estranho que alguns pensem assim! “Se tivesse sido um blasfemo, diz alguém, “ou que tivesse prejudicado a muitos, teria tido mais esperança. Ainda sei que tenho pecado grandemente diante de meus próprios olhos, diante dos olhos do mundo me tenho equivocado pouco e portanto não me sinto plenamente incluído”. Não digas isso! Diz: “Pecadores”. Se te podes incluir neste catálogo,  seja do princípio ao fim, não importa onde estejas incluído.
Cristo também morreu para salvar os pecadores sobrecarregados com os piores pecados. Seria uma vergonha mencionar as coisas que eles praticam em privado. Há homens que têm inventado vícios que nem o demônio mesmo conhecia até que eles os inventaram. Tem havido homens de natureza tão bestial que mesmo os cachorros são criaturas mais honoráveis do que eles. Temos sabido de seres cujos crimes têm sido mais diabólicos e mais detestáveis do que qualquer ação atribuída ainda que ao demônio mesmo. Porém meu texto nem sequer exclui a estes.
Há alguns pecadores que indubitavelmente se perderão porque rechaçam a Cristo. O desprezam. Não se arrependem. Elegem sua própria justiça. Não se voltam para Cristo. Não aceitam seus caminhos nem seu amor. Para tais pecadores, não há promessa de misericórdia, já que não existe nenhum outro caminho de salvação. Quando desprezas a Cristo desprezas tua própria misericórdia. Se te afastas dEle terás demonstrado que Seu sangue não é eficaz para ti. Despreza-o, e quando o desprezares, então morrerás sem entregar tua alma em suas mãos e terás dado mostras terríveis que ainda que o sangue de Cristo seja Todo-poderoso, nunca te foi aplicado, nunca foi vertido no teu coração para apagar os teus pecados.
Agora, o que significa “salvar os pecadores? Cristo veio salvar os pecadores, e esta salvação significa todo o trajeto que inclui desde a conversão de uma pessoa caída em seus pecados até o dia em que o seu espírito for elevado às alturas na presença de Deus no céu. Salvação consiste em que nossos velhos pensamentos sejam convertidos em novos, que nossos velhos hábitos e costumes sejam mudados em novos. Que nossos velhos pecados sejam perdoados e recebamos uma justiça que não é nossa. Ter paz em nossa consciência, paz com o homem e paz com Deus. Ter o vestido sem mancha de uma justiça que não é nossa sobre nosso corpo e ser curados e lavados.
Ser salvo é ser resgatado do golfo da perdição. É ser levantado ao Trono do céu. Ser livrado da ira e da maldição e dos trovões de um Deus irado, e ser levados a sentir e a provar o amor, a aprovação e o aplauso de Jeová, nosso Pai e nosso Amigo. E Cristo dá aos pecadores tudo isto. Quando prego este simples evangelho, não tenho nada que ver com aqueles que não se considerem pecadores. Não tenho nada que ver com aqueles que devem ser canonizados, nem com os que reclamam uma santa perfeição obtida por meio deles mesmos. Meu evangelho é para os pecadores e somente para os pecadores. E a totalidade desta salvação, tão ampla e brilhante e indizivelmente preciosa e eternamente segura, está dirigida hoje aos marginais, aos desprezados – numa palavra, está dirigida aos pecadores.
Creio haver declarado a verdade do texto. Certamente, ninguém pode me entender mal a menos que o faça intencionalmente. “Cristo veio para salvar os pecadores.”.
O nosso texto diz: “Fiel é esta palavra” – essa é uma recomendação para o que duvida. E depois diz: “e digna de toda aceitação” – esta é uma recomendação para o indiferente e para o ansioso.
Primeiro, "Fiel é esta palavra". Este texto se recomenda ao que duvida. O diabo tão logo detecta que há um homem sob o som da Palavra de Deus, desliza pela multidão e sussurra no seu  coração: “Não o creias!”. E no ouvido de outro: “Ri-te disso”; e no de outro: “Não aceites isso!”. E quando topa com uma pessoa para quem a mensagem foi dirigida – alguém que se sente pecador, então o diabo redobra seus esforços, para que não creia absolutamente na mensagem. Sei o que Satanás tem dito a ti, meu pobre amigo. Ele diz que é demasiado bom para ser certo, e que portanto não deves crer. Deixem-me responder ao diabo com as próprias palavras de Deus: “Fiel é esta palavra”. É boa e é tão verdadeira como boa. É demasiado boa para ser realidade se Deus mesmo não a houvesse dito. Porém, posto que é Ele que a diz, não é demasiado boa para ser realidade. Te direi porque pensas que é demasiado boa para ser certo – é porque tu pesas o trigo de Deus com a tua própria balança. Por favor recorda que teus caminhos não são Seus caminhos, nem Seus pensamentos são teus pensamentos. Como são mais altos os céus que a terra, assim são Seus caminhos mais altos que vossos caminhos e Seus pensamentos mais altos que vossos pensamentos.
Pois bem, tu pensas que se algum homem te ofende, não poderias perdoá-lo. Como, porém Deus não é um homem – Ele pode perdoar onde tu não podes. E nessas situações onde tu agarrarias a teu irmão pelo pescoço, Deus o perdoaria setenta vezes sete. Não conheces a Jesus, de outra maneira crerias nEle. Cremos honrar a Deus quando pensamos graves coisas de nossos pecados. Recordemos que enquanto devemos pensar grandemente em nossos pecados, não damos a devida honra a Deus se pensamos que o nosso pecado é maior do que Sua graça. A graça de Deus é infinitamente maior que nossos maiores crimes. Somente há uma exceção que Ele tem estabelecido e um penitente não está incluído nessa exceção, que é a de blasfemar contra o Espírito.
Meu espírito está enfermo pelo pecado – pode este remédio curar-me? Sim, o evangelho é digno de ti – é equivalente à tua enfermidade, é equivalente às tuas necessidades, é completamente suficiente para tuas demandas. Se tivesse um meio-evangelho que pregar, ou um evangelho defeituoso, não o pregaria com ardor. Mas tenho um que é digno de toda aceitação, a saber: Cristo.
Oh que possam mirá-lo fixamente, e ver nele sua própria salvação e a glória do Senhor.
Observem a confiança com que Paulo fala. É evidente de maneira categórica que não tinha a menor dúvida que o evangelho que ele proclamava é verdadeiramente certo, mais ainda, que é verdadeiro de maneira tão manifesta que se os que o têm escutado não o aceitam, deve ser porque o deus deste mundo tem cegado suas mentes. E cabe destacar que Deus fazia pelas mãos de Paulo sinais e maravilhas poderosos com o fim de confirmar a genuinidade da mensagem que ele pregava. O acento da convicção faz que cada palavra seja muito enfática. Ele crê e está seguro e plenamente convencido que aqueles que não creem devem estar sob a escravidão do diabo. Isto não é o estilo ordinário em que o evangelho é pregado hoje em dia. Escutamos muitos homens que se desculpam cortesmente por afirmar algo como certo, pois temem que se pense deles que são fanáticos e de mente estreita: tentam demonstrar coisas que são tão claras como a luz do dia, e de apoiar com argumentos o que o próprio Deus tem dito, como se o sol necessitasse de velas para ser visto, ou como se Deus necessitasse do apoio da razão humana. O apóstolo não assumiu uma posição defensiva de nenhuma maneira: levou a guerra às filas inimigas e pôs sítio aos incrédulos. Trazia uma revelação de Deus, e cada uma de suas palavras indicava uma direção aos homens: “Esta é a palavra de Deus, têm que crê-la, porque se não o fizerem incorrerão em pecado, e provarão que estão perdidos, e que estão sob a influência do diabo.”.
Quando o evangelho era pregado nesse estilo real, prevalecia com poder e aniquilava toda oposição. Supostamente alguns deviam fazer objeções. Que vai dizer este charlatão? Era uma pergunta comum, porém os mensageiros da cruz davam um alto aos que objetavam, pois simplesmente seguiam declarando o evangelho glorioso. Sua única palavra era: “Isto vem de Deus: se creem serão salvos, se o rechaçam serão condenados.”. Não mostravam escrúpulos ou respeito aos desejos corrompidos dos homens, senão que falavam como homens que criam em sua mensagem, e estavam convencidos que a mensagem deixava aos incrédulos sem escusa alguma. Nunca alteraram sua doutrina ou suavizaram o castigo por rechaçá-lo. Como fogo no meio do matagal, o evangelho consumia tudo o que estava ao seu redor quando era pregado como a revelação de Deus. Hoje não se propaga com a mesma fidelidade porque muitos de seus mestres têm adotado, segundo eles, métodos mais sofisticados, têm menos certeza e mais indiferença, e portanto arrazoam e argumentam onde deveriam proclamar e afirmar.
Alguns pregadores passam metade do seu tempo analisando as asneiras que o homem científico ou não científico tem afirmado, e passam a outra metade do seu tempo procurando responder a tais afirmações. Que sentido tem desatar os nós que são atados pelos céticos? Simplesmente vão atar mais. Não compete a mim mensageiro discutir acerca de minha mensagem, senão entregá-la fielmente como minha mensagem, e deixar as coisas assim. Se regressamos à velha plataforma, e falamos a mensagem de Deus, não teremos falado em vão, já que Ele honrará sua própria palavra. Este ponto é importantíssimo, porque é uma grande tentação argumentar em favor ou contra a ciência com base nos seus próprios termos, e com isto se oculta a pregação da mensagem do evangelho. Não somos levantados para fazer apologética com tudo aquilo que Satanás levanta contra o evangelho, atuando no mesmo campo das coisas que são afirmadas contra a Palavra, mas sim, afirmarmos cada doutrina, cada ponto da Palavra na autoridade do Espírito Santo. Foi isto que fez de Lutero o que foi Lutero, de Zwinglio o que foi Zwinglio, e de nós, aquilo que seremos nas mãos de Deus nestes dias em que tem manifestado de forma tão clara a presença do Seu poder entre nós.
O pregador deve falar em nome de Deus, ou é melhor que se cale. Meu irmão, se o Senhor não te tem enviado com uma mensagem, volta à tua cama, ou à escola, ou te dedica aos teus interesses, porque que importa o que tu tens a dizer se somente sai de ti? Se o céu te tem dado uma mensagem, proclama-a como tem que fazê-lo o que é chamado a ser a boca de Deus. Se inventamos nosso próprio evangelho no caminho, produto de nossas cabeças, e compomos nossa própria teologia, como os farmacêuticos preparam seus remédios, temos uma tarefa sem término diante de nós, e o fracasso nos contempla a face. Ai da debilidade do gênio humano e da falácia do raciocínio dos mortais. Porém se temos que entregar o que Deus declara temos uma simples tarefa, que nos levará a grandiosos resultados, pois o Senhor tem dito: “Assim será com a minha palavra que sai da minha boca: Não voltará para mim vazia.”.
Onde aprendeu o apóstolo a falar de maneira tão positiva? No primeiro versículo deste capítulo nos diz: “Por isto, tendo nós este ministério segundo a misericórdia que nos foi dada, não desmaiamos.”. Ele mesmo havia sido uma vez um perseguidor; e havia sido convencido de seu erro quando lhe apareceu o Senhor Jesus. Este foi um grande ato de misericórdia. Agora ele sabia que seus pecados lhe haviam sido perdoados; ele sentia em seu próprio coração que era um homem regenerado, mudado, limpo, criado de novo e isto era para ele uma evidência contundente que o evangelho era de Deus. Para ele, de qualquer maneira o evangelho era uma verdade comprovada, que não necessitava de nenhuma outra demonstração que o efeito maravilhoso que havia exercido sobre ele. Havendo recebido ele mesmo a misericórdia, julgava que outros homens também necessitavam dessa misericórdia, tal como ele, e que o mesmo evangelho que havia trazido luz e consolo à sua própria alma lhes traria a salvação. Isto lhe animava para seu trabalho. Esta consciência que tinha lhe impulsionava a falar como alguém que tem autoridade. Não duvidava nem o mínimo, pois falava do que havia experimentado. Ah, amigos, nós não somente entregamos uma mensagem que cremos que é de Deus senão que dizemos o que tem sido provado e comprovado dentro de nossas próprias almas. Para um pregador não convertido deve ser uma aperto terrível, pois não tem a evidência da verdade que proclama. Um homem que conhece o efeito do evangelho em seu próprio coração deve suportar muita ansiedade quando prega o evangelho. Na realidade, que sabe do evangelho se nunca tem sentido seu poder? Porém se tem sido convertido por sua mediação então tem muita confiança e não será perturbado pelas perguntas e estratagemas dos que se lhe opõem. Sua consciência mais íntima o fortalece durante a pregação da mensagem. Nós devemos sentir também a influência da palavra para que possamos dizer o que conhecemos, e dar testemunho do que temos visto. Havendo recebido misericórdia não podemos senão falar dessa misericórdia positivamente, como uma coisa que temos provado, e experimentado: e sabendo que é Deus quem nos tem dado a misericórdia, não podemos senão falar desejando ansiosamente que outros também possam participara da graça divina.
O evangelho é em si mesmo uma gloriosa luz, pois no versículo quatro Paulo fala da luz do evangelho glorioso de Cristo; em segundo lugar, este evangelho é em si mesmo compreensível e simples, em terceiro lugar, se o pregamos como devemos pregá-lo, o manteremos compreensível, e não o mancharemos com sabedoria do mundo, e em quarto lugar, se é em si mesmo uma grande luz, e se é em si mesmo claro, e se a pregação é clara, então se os homens não o veem é porque estão perdidos e  é um sinal fatal que não possam perceber a luz do evangelho da glória de Cristo.
Em primeiro lugar, pois, o evangelho é em si mesmo uma gloriosa luz. (“o povo que jazia em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região e sombra da morte, resplandeceu-lhes a luz”. Mt 4.16”). Em inumeráveis lugares do Novo Testamento é descrito dessa maneira. Esta é a luz que tem vindo ao mundo. “Porque as trevas vão passando e a verdadeira luz já brilha”. Observem que esta luz revela a glória de Cristo. Assim o traduzem claramente as novas versões da Bíblia. “O resplendor do evangelho da glória de Cristo”. O evangelho revela a glória de Cristo. Nos diz que Ele é o eterno Filho do Pai, e que todas as coisas foram feitas por meio dEle, e que todas as coisas foram criadas para Ele e que por sua causa continuam existindo. Tomadas isoladamente, estas coisas poderiam não ter sido boas notícias para nós, porque sempre é bom que a criatura esteja informada acerca de seu Criador; porém o evangelho vai mais além e nos revela que este sempre bendito Filho do Altíssimo veio à terra em sua infinita misericórdia, tomou nossa natureza, e nasceu em Belém, e se converteu num homem verdadeiro assim como era verdadeiro Deus. Esta era a primeira nota do evangelho e havia tanto deleite nela que motivou a cantar a todos os anjos no céu, e os pastores que cuidavam dos rebanhos durante a noite, escutaram os anjos cantarem, e um deles lhes anunciou que trazia uma boa notícia de grande alegria para todo o povo, porque havia nascido em Belém o Salvador. Que Deus se fizera homem só podia significar paz para o homem. Que o Herdeiro da glória se encarnara em sua raça somente poderia significar misericórdia para o culpado. Que Aquele que tem sido ofendido assumira a natureza do ofensor deve ser boas novas para nós. O Senhor Deus Onipotente se converteu em Emanuel, que significa “Deus conosco”. “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o domínio estará sobre seu ombro. Se chamará seu nome Maravilhoso...”. Este é o princípio do evangelho da glória de Cristo. Ele obteve uma maior glória ao se despojar de sua glória divina. Mais ainda, o evangelho nos diz que este mesmo Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz, habitou aqui entre os homens, pregando e ensinando, e fazendo milagres de misericórdia sem igual, mostrando a si mesmo como o irmão do homem, compassivo,  terno e manso, recebendo ainda aos mais humildes do povo, inclinando-se para os pequeninos da raça humana. Está escrito: “Se aproximavam dele todos os publicanos e pecadores para ouvir-lhe”, e de novo tomou as crianças em seus braços e as abençoou, e disse: “Deixai vir a mim os pequeninos e não lhos impeçais.”. Houve uma boa nova acerca de tudo o que Ele fez, e uma glória que os homens são puros de coração veem e admiram. Sua vida foi uma boa nova: era algo novo e cheio de gozo que Deus habitasse entre os homens, e que fosse achado na condição de homem. O Deus que odeia o pecado, e cuja ira se acende contra a iniquidade, habitou entre os pecadores, e viu e palpou seus perversos caminhos, e rogou por eles: “Pai perdoa-lhes”. Sua glória consistia em ser tão paciente, tão manso, tão abnegado, ao mesmo tempo que era justo e verdadeiro. Com toda propriedade disse João: “E o verbo se fez carne e habitou entre nós, e contemplamos sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.”.
Há uma luz infinita no evangelho, tanto para o futuro como para o presente. Ela nos revela a glória de Cristo, a glória do amor, a glória da misericórdia, a glória de um sangue que pode tornar alvo o que é mais escuro, a glória de uma intercessão que pode fazer aceitável a oração mais pobre, a glória de um Salvador que tem triunfado e que vive, que havendo colocado sua mão na obra não falhará nem se desanimará até que todos os propósitos do amor infinito tenham sido alcançados por Ele. Este é: “o Evangelho da glória de Cristo”, e sua luz é muito clara e brilhante.
Agora se nos mostra uma segunda verdade: o evangelho é uma luz que revela a Deus mesmo, pois de conformidade com nosso texto o Senhor Jesus é a imagem de Deus. Não disse Jesus: “O que me tem visto, tem visto ao Pai?”. Pois, antes de tudo, nosso Senhor é a imagem de Deus neste sentido, que é essencialmente um com Deus. Ele é “o resplendor de sua glória e a expressão exata de sua natureza.”. Nosso Senhor mesmo disse: “Eu e o Pai somos um”. Porém o texto contém algo mais que isso. Cristo é a imagem de Deus no sentido que nos mostra o que Deus é. Se conhecem o caráter de Jesus, conhecem o caráter de Deus. Deus mesmo é invisível, e não pode ser visto pelo olho de nenhum mortal, nem pode ser compreendido por uma mente finita. De fato, não pode ser conhecido  verdadeiramente de nenhuma maneira, exceto pelo ensino do Espírito Santo. Porém tudo o que se pode conhecer de Deus está claramente escrito com letras maiúsculas na pessoa de Jesus. Que mais alto conceito de Deus podem ter?  
Não se pode dizer dos verdadeiros cristãos: “Vocês adoram o que não conhecem”, porque nós sabemos o que adoramos. Cada um de nós pode afirmar: “porque eu sei em quem tenho crido”. Não temos nenhuma dúvida acerca de quem é nosso Deus, ou o que é. Há um conhecimento dado aos homens mediante o evangelho, que gera a luz do dia no entendimento.E Deus mesmo fez esta promessa de que na Nova Aliança, por meio do evangelho, todos os aliançados o conheceriam (Jer 31.34). É por isso que Jesus afirma que conhece as suas ovelhas assim como é também conhecido por elas.
Mas o evangelho é também luz noutro sentido, a saber, no sentido de consolo. Quando um homem vê a Deus em Jesus Cristo, não pode ser infeliz. Estava esse homem carregado de pecados? Quando vê a Jesus Cristo carregando o pecado em seu próprio corpo sobre o madeiro, e crê nEle, nesse momento é liberado de sua carga. Quando se agita sob os cuidados e as provas da vida e por meio da fé contempla a Jesus, que padeceu sofrimentos infinitamente maiores, então é liberado do aguilhão da aflição. Já não tem mais medo da morte, quando ouve que Jesus disse: “Eu sou a ressurreição e a vida”.  Um arcanjo não poderia dizer-te o gozo que este “evangelho da glória de Cristo” tem dado aos filhos e às filhas da aflição. Aonde chega libera a mente cativa, e remove as dores do remorso.
Este evangelho é em si mesmo muito compreensível e simples. O evangelho não contém nada que possa deixar perplexo a ninguém a menos que queira voluntariamente ficar perplexo. Não há nada no evangelho que um homem não possa captar se deseja entendê-lo. Tudo é muito simples para o homem que submete seu entendimento a Deus.
Se Deus tem apresentado a Cristo como propiciação por nossos pecados, nossa opção mais razoável é aceitá-lo. Não necessitamos pelejar com a graça somente porque não podemos entender tudo sobre ela. É mais sábio comer tudo o que se põe à nossa frente que morrer de fome devido a que não conhecemos todos os segredos da cozinha. Deus não me pede que entenda como nos justifica em Cristo, porém me pede que creia que Ele o faz.
A algumas pessoas lhes agrada um evangelho de perplexidade, eles preferem um pouco de confusão de intelecto, lhes encanta vaguear em meio a uma neblina luminosa, na qual nada está definido de maneira clara. Pensam que seguem adiante quando deixam outros atrás, enquanto escalam um absurdo sublime. Agora, suponhamos que o evangelho contém terríveis mistérios e que  está amarrado a assuntos difíceis de entender, suponhamos que requer previamente a leitura completa de dezoito volumes antes de poder ser entendido, suponhamos que requer precisão matemática e elegância clássica antes de poder vê-lo. Sendo assim, milhões de pessoas não poderiam ir ao céu, porque nunca têm lido nem sequer um volume, e portanto não seriam capazes de digerir uma biblioteca. Alguns homens estão tão ocupados, e alguns têm um cérebro de tal natureza que nunca poderão ser estudantes profundos, e se o evangelho requeresse deles uma reflexão profunda e uma ampla investigação, eles se dariam por vencidos e perdidos. Se os homens necessitassem ser filósofos para poderem ser cristãos, a maioria dos cristãos estaria fora do limite da esperança. Se as massas do povo tivessem que ler muito antes de poder captar a ideia da salvação pela fé em Cristo Jesus, nunca captarão essa ideia, e perecerão inevitavelmente.
Quando se tem o objetivo de definir um profundo e estrito evangelho conforme as próprias conveniências, cava-se com isto um fosso ao redor da cruz para impedir a passagem das pessoas comuns. Esse não é o evangelho nem o espírito do Senhor Jesus. Tenham muito cuidado para que a verdade não fuja de vocês mesmos. Temo que enquanto vocês estão buscando às escuras a porta do céu, o povo que vocês desprezam estará dentro e cantando “glória e aleluia, temos encontrado ao Salvador.”. O Senhor permite que o sábio deste mundo tropece, enquanto recebe os pequeninos no Seu reino.    
Suponhamos que o evangelho fosse difícil de entender, que faríamos em nosso leito de morte? Muitas vezes nos chamam em emergência para atender a pessoas que têm sido negligentes em buscar a graça e que estão morrendo na ignorância. É uma tarefa terrível para nós ter que explicar-lhes o caminho quando já estão entrando na obscura descida à morte.
Quando a lâmpada ainda arde, temos esperanças, e portanto explicamos o caminho pelo qual o pecador pode retornar a Deus. Acaso não é bom tê-lo resumido em poucas frases, e poder expressá-lo com palavras comuns? Lhe dizemos que Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, e que qualquer que creia nEle não morrerá, senão que viverá para sempre. Que poderíamos fazer se o evangelho não fosse assim simples?
Em terceiro lugar, se pregamos o evangelho como devemos pregá-lo, o manteremos compreensível. Paulo disse expressamente: “Assim que, tendo tal esperança, atuamos com muita confiança”, e também disse: “Nem minha mensagem, nem minha pregação foram com palavras persuasivas de sabedoria, senão com demonstração do Espírito e de poder.”. O apóstolo Paulo era um pensador profundo, um homem de um grande discernimento e de uma mente sutil. Teria tal estrutura mental que poderia ter sido um filósofo de primeira linha, ou um místico das mais profundas trevas, porém ele foi contra a sua inclinação natural e dedicou todas suas energias para explicar o evangelho.
Nossa única obrigação é explicar o evangelho de maneira simples. Nosso negócio é o alimento, não as flores. Que os ornamentos chamativos fiquem para o teatro e para o bar, onde os homens buscam se distrair, ou deixemos que todas estas pobres tolices fiquem para o Senado, lugar onde os homens defendem causas ou denunciam de acordo ao que convenha a seu partido. Não nos toca a nós converter o pior argumento no melhor, nem esconder a verdade sob montanhas de palavras. No que a nós toca, devemos nos esconder atrás da cruz, e fazer saber aos homens que Jesus Cristo veio para salvar os perdidos, e que se creem nEle, serão salvos de maneira imediata e para sempre.
O apóstolo explica como termina um homem na condição de incrédulo. Nos diz que Satanás, o deus deste mundo, tem cegado sua mente. Que terrível pensamento é este de que Satanás pretenda ser um deus. Cristo é a imagem de Deus, Satanás pretende imitar a Deus: ele imita a Deus e tem um poder usurpador sobre as mentes e pensamentos dos homens. Para manter seu poder se assegura de que suas vítimas do engano não vejam a luz do evangelho. Satanás sabe que é um espírito, e um espírito não pode ser destruído por Deus, senão absolvido ou condenado, e ele sabe que está destinado à condenação eterna, então tudo fará para conduzir ao inferno o maior número de pessoas possível. É por isso que se esforça tanto em seu trabalho de cegar os incrédulos, porque se sente como se fosse um deus pelo exercício do seu poder sobre a mente dos incrédulos. Os véus que ele utiliza são aprovados pelos corações egoístas dos homens; pois ele raciocina assim: “Se te convertes em cristão, nunca progredirás no mundo.”. Tapa cada um de teus olhos com uma moeda de ouro, e então não podes ver, apesar de que o sol brilha com a intensidade do meio dia. O orgulho ata uma banda de seda ao redor de teus olhos, e assim novamente a luz não pode passar. Satanás sussurra: “Se te tornas cristão, vão burlar de ti.”. Assim paralisa sua vítima por temor ao ridículo. Tem muitos mecanismos geniosos mediante os quais perverte o juízo dos homens até que lhes impede de ver o que é totalmente evidente, e não podem crer o que é inquestionável. Faz com que ganhar o céu pareça algo que não é digno de ser considerado quando se compara com a pequena perda que a religião possa implicar. Ele oculta à alma a bênção do pecado perdoado, a adoção na família de Deus, e a certeza da glória eterna, lançando pó em seus olhos para que a alma não possa contemplar verdadeiramente as coisas.
Que posso dizer para terminar senão isto: há alguns perdidos entre vocês? Segundo a explicação do texto, todos vocês são aqueles para quem o evangelho está encoberto. Bem, porém graças a Deus vocês podem ser achados todavia onde estão perdidos, porém não têm que estar perdidos enquanto leem estas palavras, e podem ser achados ao terminar esta leitura. O Bom Pastor tem saído a buscar a ovelha perdida. Sentes algum anelo por Ele, algum desejo de regressar a Ele? Então contempla-o com um olhar de confiança. Não estás perdido se olhas dessa maneira, nem nunca o estarás. O que crê em Jesus é salvo, e é salvo eternamente. Há algum de vocês que está com os olhos vendados? Teus olhos estão vendados se o evangelho está encoberto para ti, de tal forma que não vês sua claridade. Porém não tens que permanecer na obscuridade. Há alguém cujos olhos não veem? Clama a Ele como fizeram os cegos: “Tem misericórdia de nós, filho de Davi!”. O Messias veio precisamente para dar vista aos cegos: era parte de sua missão quando veio da glória do Pai. Ele pode dar a vista a ti. Busca-a.
É o deus deste mundo teu senhor? Assim deve ser se não podes ver a glória do evangelho, porém não tem que seguir sendo teu deus. Peça em oração ao Espírito Santo que te ajude a destronar este intruso. Por que tens que adorá-lo ou servi-lo? Que bem tem te feito alguma vez? Que paz verdadeira ele pode te fazer sentir? Que descanso e salvação pode dar à tua alma? Que elemento há no caráter dele que o faça digno de ser o teu deus? Rompe o jugo, rompe as cadeias que te mantêm em escravidão. O verdadeiro Deus se tem encarnado para te libertar, e para destruir todas as obras do diabo. Ele pode remover qualquer coisa que te impeça de ver a glória de Deu na face de Jesus Cristo. Tenho sido enviado para te dizer em nome do meu Senhor: “O que crê nele não é condenado, e o que crê e é batizado, será salvo.”. Vinde pois, diz Jeová, e arrazoemos juntos, ainda que os vossos pecados sejam como a escarlate, serão embranquecidos como a alva lã.”. Confia no Salvador, confia no Deus encarnado, confia nEle agora e confia nEle imediatamente, e ainda que eras trevas tão escuras como a meia noite, estarás tão limpo e brilhante como o meio dia eterno do céu. Num instante desaparecerão todos os pecados que tens carregado ainda que seja por mais de cinquenta anos; as transgressões de todos os teus dias serão lançadas no fundo do mar, e nunca serão vistas de novo. Somente deseja-o, obedeça-o e submeta-se a Ele, a Jesus Cristo, que vive para sempre para cuidar de quem põe a sua confiança nEle. Que o Senhor os abençoe queridos amigos, eternamente. Amém.









25 - O Poder de Curar do Evangelho

Por Charles Haddon Spurgeon

 Traduzido e adaptado do texto em espanhol, em domínio público na Internet, pelo Pr Silvio Dutra.


“Ora, aconteceu que num daqueles dias, estava ele ensinando, e achavam-se ali assentados fariseus e mestres da lei, vindos de todas as aldeias da Galileia, da Judeia e de Jerusalém. E o poder do Senhor estava com ele para curar.”. Lucas 5:17

Em primeiro lugar, o texto sugere quando o lemos, que o poder de Cristo no evangelho é principalmente um poder de curar. “O poder do Senhor estava com ele para curar.”. O poder do evangelho, do qual Cristo é a suma e a substância, é um poder de curar. Quando Cristo veio à terra poderia ter vindo com o poder de destruir. Com toda justiça Deus poderia ter enviado a seu Filho Unigênito com os exércitos da vingança para destruir este mundo rebelde. Porém: Ele disse: “O Filho do Homem não veio para condenar as almas, senão para salvá-las.”. Elias pediu que chovesse fogo do céu sobre os capitães de cinquenta e seus cinquenta homens, para que fossem totalmente consumidos. Porém Cristo traz fogo do céu para um propósito muito diferente, a saber, que por seu poder os homens possam ser salvos da ira vindoura. O evangelho não está destinado a ser um poder que destrói. “Deus não enviou a seu Filho ao mundo para condenar o mundo, senão para que o mundo seja salvo por ele.”. E se esse evangelho é feito cheiro de morte para morte para alguns, não é devido às suas próprias qualidades intrínsecas nem a seu objetivo senão à perversidade e à corrupção do coração humano.
Uma das mais claras exposições da situação caída do homem é o evangelho da graça de  Deus. Porém a condição do homem em ruína é melhor mostrada pela lei do que pelo evangelho. É sob o resplendor do trovão do Sinai que os homens, tremendo, leem a sentença de condenação sobre aqueles que têm quebrado a lei de Deus. Sob a luz mais tênue do Calvário podem ler a mesma verdade de Deus, e devem lê-la, porém este não é o propósito principal do Calvário.
O Calvário é o lugar mais propício para o bálsamo que sara, do que para a lança e a espada. O trabalho de Jesus, nosso Médico celestial, não é tanto diagnosticar a enfermidade senão receitar e aplicar o remédio. Certos filósofos têm assumido o trabalho e se alegram nisso, apontando seus dedos à corrupção e à fraqueza humanas, como um tema digno do ridículo e do sarcasmo. A filosofia dos estóicos, a sabedoria de homens como Diógenes, não foi senão uma demonstração de falta de misericórdia e sem coração em relação à insensatez humana e ao pecado.
Sua filosofia não conhecia nenhum remédio e não se preocupava em buscar um. Esses filósofos mostravam à pobre humanidade que estava embrutecida, enganada, degradada e depravada. E a deixavam nessa condição, passando de lado como o sacerdote e o levita fizeram com o homem ferido da parábola. Porém Jesus não viria com uma missão infrutífera como essa. Ele condena o mundo pelo pecado por meio de Seu Espírito, porém não é para deixar o mundo num estado de desespero e sem esperança de restauração, senão para recuperá-lo pelo Seu poder. Jesus tem poder para curar. Esta é sua honra e seu renome. Tem olho de águia para ver nossas enfermidades, coração de leão para enfrentá-las valentemente, e mão de uma dama para aplicar com suavidade o unguento celestial. Nele se reúnem em perfeição os três ingredientes de um bom cirurgião.
Amados, confio que tanto vocês como eu temos conhecido este poder de curar nossos próprios casos, e se é assim, sabemos com toda certeza que é um poder divino o que vem de Jesus, porque Ele é certamente Deus. É somente prerrogativa de Deus curar as enfermidades espirituais. A enfermidade natural pode ser instrumentalmente curada pelos homens, porém, ainda assim, deve dar-se a honra a Deus que dá o poder ao remédio, e também sabedoria aos homens para o exercício da medicina, como ao dá poder ao corpo humano para lançar fora a enfermidade. Porém quanto às enfermidades espirituais, estas têm que ser tratadas unicamente pelo grande Médico.
Então vem ao Senhor com a cegueira do teu entendimento. Aproxima-te com a tua fraqueza. Vem com a mão ferida da tua fé. Vem como és e estás, porque Ele que é Deus, certamente pode curar-te. Ninguém lhe dirá diante do Seu amor que sara: “Até aqui podes chegar porém não mais além.”. A enfermidade humana mais complicada pode ser curada por este grande Médico. Tem confiança, tu pobre coração que duvidas. Tem uma confiança inabalável no divino Doutor.
Ainda que nosso Senhor Jesus curava como Deus, lembra que Ele também possuía poder para curar por causa da sua natureza humana. Não está escrito: “O castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e por suas feridas fomos sarados”? Ele não usou nenhum outro remédio para curar nossa enfermidade do pecado, senão o carregar Ele mesmo com nossas enfermidades e dores.
Este é o grande remédio para todos os males. Bendito seja o Filho de Deus porque esse remédio tão amargo, não é para que o bebamos, senão que Ele o tomou sozinho. Ele tomou o terrível cálice no Getsêmani e o bebeu completamente por nós.
Os agudos cortes feitos pela lança não ferem nossos corpos, Ele os suportou em sua própria carne. Quando os torturadores abriram sulcos profundos, estes sulcos não foram abertos sobre os ombros dos pecadores, senão sobre os ombros do Substituto dos pecadores. Alguma vez ouviste, oh Terra, de algum Médico como este? De alguém cujas dores, e pesares e sofrimentos, e angústias e tormentos, e aflição e morte constituem o único remédio por meio do qual elimina a enfermidade dos homens?
Ele curou a todos os que necessitavam dEle enquanto residiu entre nós, e o caro bálsamo de Sua expiação não tem perdido nada do seu poder. O poder que estava em Cristo para curar, que saía dEle como Deus e como homem, se aplicava de maneira proeminente, para tirar a culpa do pecado. Ao ler todo este capítulo, alguém se detém com alegria no versículo vinte e quatro: “O Filho do Homem tem autoridade na terra para perdoar pecados.”. Aqui temos, então, uma das artes mais poderosas do grande Médico; Ele tem poder para perdoar pecados. Enquanto viveu aqui debaixo, antes de que o resgate fosse pago, antes que o sangue fosse literalmente lançado sobre o propiciatório, Ele já tinha poder para perdoar pecados. Acaso não tem poder de fazê-lo agora depois que morreu por nós? Irmãos, que poder deve residir nEle que já pagou com fidelidade até o último centavo, as dívidas de Seu povo. Certamente Ele tem poder, quando vemos que tem terminado com a transgressão e acabado com o pecado.        
O poder do Senhor para curar a enfermidade do espírito é operado em todo aquele que creia nEle para a salvação, e Ele não deixa de curar a nenhum que se aproxime dEle pela fé. É possível que Ele não cure alguma ou todas as enfermidades físicas de quem tem curado do espírito, mas jamais deixará de curar a enfermidade do espírito de quem quer que seja que nEle creia. Por que isso? Uma das principais razões é porque este corpo terreno está mesmo destinado a encontrar a morte física, e isto vem comumente pelas enfermidades. E este corpo vai para o pó com a promessa da ressurreição para os cristãos por ocasião do arrebatamento da igreja. Já o espírito volta para Deus e permanece para sempre, e é por isso que deve ser curado de modo definitivo, para que possa adentrar a eternidade afora livre do pecado.
As enfermidades físicas se tornam assim, figura da enfermidade que mata realmente, a produzida pelo pecado no espírito. Quando o homem está enfermo fisicamente, com uma enfermidade grave que é para morte, ele definha em seu leito de dor, e tudo nele prenuncia o que é a morte, mas é curado totalmente, logo haverá de se levantar e a viver plenamente. O mesmo se dá com os que estão enfermos e mortos em seus pecados, eles ganham nova vida quando são curados por Cristo, tendo todos os seus pecados perdoados.
Assim onde Cristo está há esperança para aqueles que têm a enfermidade de nascença do pecado. Uma palavra saída dos poderosos lábios do Filho de Deus pode curar e devolver a saúde. O poder do evangelho é um poder para curar o culpado, da dor e da influência do pecado. Jesus veio ao mundo para destruir as obras do diabo em todas as suas formas. Não deve esquecer que o Senhor pode curar-nos de nossas recaídas. Tenho escutado que alguns dizem que uma recaída é frequentemente mais temida pelo médico que a enfermidade inicial, e que há frequentemente um período no processo de convalescença quando o vírus da enfermidade recobra renovadas energias e o médico sente que é nesse momento e não no princípio, quando se tem que lutar a verdadeira batalha.
Temos conhecido a alguns homens que têm professado a fé, e confiamos que foram renovados, porém que têm voltado atrás, e são como o cão que voltou ao vômito, e a porca lavada que voltou ao espojadouro de lama. Temos tido que nos lamentar de alguns em quem a mudança parecia muito grande, porém era superficial, e logo o poder do mal retornou sobre eles. Porém Jesus pode curar destas quedas. Quanta misericórdia é esta! “Eu os sararei de sua infidelidade. Os amarei generosamente, porque meu furor se terá apartado deles”. Que importa que sejas sete vezes mais um filho do inferno do que antes, contudo, ainda assim, a eterna misericórdia que expulsou uma legião de demônios de um homem, pode expulsá-los da vida dos que estão cativos. O poder de curar do meu Senhor é tal, que se tem recaído, ainda assim Ele diz: “Regressa! Regressa! Volta para mim e eu te curarei!”.
Haverá maior alegria por uma pobre ovelha perdida, do que pelas noventa e nove que não se extraviaram. Ele se alegrará mais em receber-te, filho pródigo errante, do que se alegra com o filho que sempre permaneceu na casa de seu Pai. Resumindo, meu Senhor, como um Médico, cura de maneira instantânea. Ele somente toca e a saúde é recuperada de imediato. Ele realiza curas de todo tipo. Aquelas enfermidades que têm servido de pedra de tropeço para outros médicos têm sido rapidamente curadas por Ele. Ele nunca falha. Não tem em seu diário registrado nenhum caso que tenha falhado. Seu poder é onipotente. Ele cura com efetividade e a enfermidade não pode reinar jamais, uma vez que tem sido destronada por Ele. Quando expulsa o demônio de alguém, esse demônio não regressará.
Uma segunda observação surge do texto. Há períodos especiais nos quais se manifesta de maneira especial o poder de curar. O versículo que estamos analisando diz que um certo dia o poder do Senhor estava com ele para curar, e por isso eu entendo, não que Cristo em alguma vez tivesse sido incapaz de curar, senão que havia certos momentos nos quais lhe agradava manifestar sua divina energia para curar em grau não costumado. O mar nunca está vazio. Sempre está cheio, porém nem sempre está a ponto de transbordar. O sol nunca está à meia luz. Brilha com igual força a todas as horas, e contudo nem sempre temos dia, nem tampouco nos banhamos sempre no calor do verão.
Cristo tem sempre a mesma plenitude, porém esta plenitude nem sempre transborda. Ele poder curar, porém nem sempre está ocupado em curar. Há momentos nos quais o poder de salvar se manifesta mais do que o usual. Tempos de refrigério, estações de avivamento, dias de visitação, dias aceitáveis, dias de salvação. Qualquer estudante da história do mundo que já tenha lido à luz da verdadeira religião terá observado que já houve períodos especiais nos quais o poder de Deus tem estado presente de maneira especial para curar os homens. Minha convicção solene é que estamos vivendo num desses períodos, que o momento presente é um desses momentos prefixados quando o poder de Deus se manifesta de maneira especial.  Quando o poder de Deus está se movendo há um movimento correlato entre o povo. Querem ouvir quando o poder de Deus está com o pregador. Considerem quando os templos dedicados ao culto de adoção estão cheios. Estejam seguros que o Senhor vai encher as redes quando os peixes se ajuntarem ao redor do barco. Não podemos esperar que o evangelho seja abençoado para quem não o escuta. Podemos esperar com toda legalidade e propriedade que seja um bênção para quem tem uma intensa necessidade de escutá-lo. Neste momento, vejo um avivamento religioso em meio das massas do Brasil, não tão grande como gostaria, porém contudo ali está e devemos estar agradecidos por isso. Observem a continuação que o poder de curar estava claramente presente quando Cristo estava ensinando. Prestem muita atenção à hora favorecida, “Jesus estava ensinando”. Jesus vinculava a cura com o ensino. Assim sucedia com a cura física, e com maior razão com a cura espiritual, pois “a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Cristo.”. Irmãos, acaso não há entre nós mais ensino de Cristo do que antes? Estou persuadido que a maioria de meus irmãos pregam com maior fidelidade do que antes e em sua totalidade a simples verdade de Jesus Cristo. O ensino está voltando aos púlpitos.  
Agora preste muita atenção, se és salvo ou não, se estás presente no lugar onde Cristo é pregado em sua totalidade, onde é levantado, exaltado, proclamado, e recomendado a ti, então estás no lugar onde Ele também está presente para curar. Acaso não está escrito: “E eu, quando for levantado da terra, atrairei a todos a mim mesmo”? Um sinal adicional do poder presente se encontra muito claramente na gente enferma que foi curada por Jesus. Nós também sabemos que neste mesmo templo não passa um domingo sem que se convertam algumas almas. Temos o testemunho de casos de centenas de pessoas a quem Deus tem abençoado por meio da história da cruz apresentada de maneira simples. Esta é uma prova positiva que quando se ensina o tema de Cristo, e as almas estão sendo abençoadas, Ele está presente de uma maneira admirável, para curar.
Devemos notar outra coisa, a saber, que este tempo particular mencionado neste texto foi precedido por uma temporada especial de oração por parte do principal Ator. Ele se retirou e orou, e então o poder do Senhor estava presente para curá-los. Se em relação a Cristo, o Senhor e doador da vida foi assim, quando mais nós não necessitamos então de orar fervorosamente para que o Seu poder de curar esteja conosco. E devemos fazer isto principalmente como igreja para que o Senhor opere através de nós.
Passando a um terceiro pensamento, observamos que quando o poder do Senhor está presente para curar, pode não ser visto em todos, porém pode ser visto em alguns casos especiais e não em outros. É uma triste reflexão que alguns homens possam estar na região do poder divino sem sentir suas operações. Tenho lido e relido este versículo muitas vezes com um objetivo: fazer que o versículo queira dizer que os fariseus e doutores da lei estavam presentes e que o poder do Senhor estava presente para curar a eles.
Porém o texto não nos ensina isso. O poder do Senhor não estava presente para curar aos doutores da lei nem aos fariseus, posto que eles não foram curados. O poder de Deus estava presente para curar aos enfermos, não para curar aos doutores nem aos fariseus. Contudo, quão perto estava a saúde para eles, pois se houvessem conhecido sua enfermidade, e houvessem desejado admiti-la e confessá-la haveria poder suficiente para curá-los.
Onde então não havia poder? Onde não era buscado e onde não era sentido? Era, em primeiro lugar, entre a gente culta, os doutores da lei. Estes mestres sabiam muito para se submeterem ao ensino do Grande Mestre. Existe tal coisa como saber muito e ser muito sábio para ser qualquer coisa exceto um tolo. O conhecimento dos doutores era esse conhecimento que incha, não o conhecimento que vem de Deus. O conhecimento da cabeça é perigoso, quando não se tem o conhecimento do coração. É preciso ter cuidado de ser tão ortodoxo que nos erijamos como um juiz do pregador e nos recusemos a ser obedientes à verdade de Deus. Observem com o devido respeito seu caráter público. Não eram, eminentíssimos? Vejam a amplitude das bordas de suas vestimentas! Quão escrupulosos eram acerca de coar os mosquitos do vinho. Quão cuidadosos em entregar o dízimo da menta, do endro e do cominho. Contudo estas foram as pessoas que não obtiveram nenhuma bênção de Jesus. Eram demasiado bons para serem salvos. Quanta gente igual não há? Dizem: “Nunca roubei ninguém. Fui educado finamente, e tenho me conduzido com um decoro que ninguém pode encontrar qualquer falha em mim.”.
Mas além dos sábios e bons, também não obtiveram a bênção os indiferentes. Como podemos observar, não vieram para receber a pregação, senão para que Cristo somente pregasse diante deles. Esse era o velho estilo dos prefácios dos sermões: “Um sermão pregado ante o honorável e admirável Senhor Fulano de tal.”. Porém essa é a pior maneira de pregar em qualquer lugar. Pregar ao coração é a única pregação digna de ser escutada e digna de ser pregada. Porém não vieram para que Cristo os curasse, não eram seus pacientes, eram unicamente visitantes nos hospitais. Como visitantes iam ao redor das camas e revisavam as receitas colocadas às cabeceiras dos enfermos e observavam cada caso. É uma coisa maldita deixar de apelar aos corações para que se arrependam e se convertam, deixar de pregar o evangelho e toda a vera Palavra de Deus, para nos ocuparmos em falar aos homens segundo o desejo dos seus corações, que são segundo este mundo.
E quando veio o médico e começou a exercer seu ofício nos enfermos, estavam parados ali observando seu tratamento, imaginando em todo momento que eles mesmos não estavam enfermos. Se tivessem estado em seus leitos de enfermos poderiam ter sido sarados, porém somente se interessaram de maneira superficial na cura, pois não vieram para participar dela. Muito cuidado, queridos leitores, não vão aos lugares de adoração como simples espectadores. Não haverá espectadores no céu. Nem tampouco haverá espectadores no inferno. Muito cuidado para não serem meros espectadores na adoração de Deus. Cada verdade de Deus dita pelos servos de Deus tem muito que ver contigo. Se é ameaçante e estás em fel de amargura, é tua, trema ao ouvi-la. E tu pregador, ministro, nunca deixes de pregar a verdade, a Palavra de Deus, para dar vez e voz à palavra dos homens que os colocam na condição de simples espectadores e juízes das coisas que são faladas.
Vir às reuniões públicas seja de adoração ou oração para declarar o seu próprio poder sobre as condições desfavoráveis da vida é um grande erro e equívoco, pois devemos nos achegar ao trono da graça com um coração sincero e humilde, reconhecendo a nossa necessidade da graça do Senhor para que sejamos curados e fortalecidos, e isto deve ser feito estendendo-se as mãos do coração com firmeza de fé e com o desejo de receber a bênção que procede do Senhor, e somente dEle.
Os que não obtêm nenhuma bênção são aqueles que não supõem que não a necessitam particularmente, havendo vindo simplesmente para ver e para serem vistos, porém não para receber a cura. Mais adiante, no mesmo texto os fariseus disseram: “Quem pode perdoar pecados, senão somente Deus?”. Quando um homem não obtém nenhum bem do ministério, é quase seguro que pense que não tem nenhum bem para ele no ministério. E quando ele mesmo não encontra água no rio, conclui que está seco, não se dando conta que sua boca não se abre voluntariamente para receber o evangelho.
Quando descobrimos que o poder de curar está presente, desejamos trazer a outros para que também possam experimentá-lo. Quatro pessoas tomaram uma cama e trouxeram um paralítico que não podia vir por si mesmo e o baixaram pelo telhado em meio a muita incomodidade. Deus está abençoando a igreja agora. Os cristãos, homens e mulheres, se unem para orar pelos amigos que não podem ou não querem orar por si mesmos. E se encontram com alguém que sofre de uma profunda angústia, que paralisado pelo desespero não pode levantar o dedo da fé, esforçam-se para trazê-lo para ouvir o evangelho. Tragam-nos onde Cristo está fazendo milagres. Esforcem-se por trazer  pecadores moribundos onde Cristo está fazendo milagres espirituais. Levi fez uma grande festa, pois pensou: “Quero que Jesus venha e pregue aos publicanos. São grandes pecadores com eu. Se eu conseguisse que ao menos o escutassem, poderiam se converter.”.    
O poder do Espírito de Deus tem levado a muitos a virem a Ele, e muitos destes têm sido salvos. Porém devemos lamentar que todavia há uma multidão de pessoas que não são salvas. E que perecem não porque Cristo não tenha sido pregado em suas ruas. Descerão ao inferno, com a luz brilhando em suas pálpebras, porém com seus olhos voluntariamente fechados a ela. Irão perecer com a voz da misericórdia soando em seus ouvidos. E no inferno serão um terrível monumento à justiça de Deus, que então lhes dirá: “Vocês pecaram contra a luz e o conhecimento, contra o amor e a misericórdia.”.
   








26 - A Perpetuidade do Evangelho 

Por Charles Haddon Spurgeon

Traduzido e adaptado do texto em espanhol, em domínio público na Internet, pelo Pr Silvio Dutra.

“Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão.” (Lucas 21:33)

O evangelho de Cristo não é meramente o evangelho de ontem, senão, como o próprio Cristo, é o mesmo ontem, hoje, e pelos séculos dos séculos. Não é simplesmente um evangelho para esta época, ou para outra, um evangelho que, à larga, se gastará e se deixará de lado, senão que quando esses céus azuis se enrolarem como um velho vestido, todavia o evangelho será tão poderoso como sempre. “O céu e a terra passarão”, disse nosso Senhor, “porém as minhas palavras não passarão.”.
Tudo tem mudado no mundo através dos tempos, mas o evangelho de Cristo permanece o mesmo. O mundo se torna cada vez mais civilizado, - isso é o que dizem, ainda quando lemos os jornais, não estou muito seguro disso. O mundo fica mais inteligente, - isso dizem, ainda quando leio as revistas, e não me sinto tão seguro de que seja assim, porque parece que a ignorância dos valores de Deus se torna a cada dia maior, e mesmo entre os homens da ciência e instruídos, parece que através de suas descobertas fazem com que a humanidade fique cada vez mais distante da Palavra revelada infalível, como também de tudo que é racional e verdadeiro. Porém, ainda assim, o mundo muda; e de acordo com sua própria noção, vai se aproximando rapidamente da perfeição. Houve alguma vez um século como o nosso? Um mundo tecnológico como este? Porém depois que estas maravilhas tenham todas se ido, as palavras de nosso Senhor Jesus Cristo todavia persistirão, e não passarão. À moda segue a moda, aos sistemas sucedem os sistemas; tudo o que está debaixo da lua é como ela, cresce e mingua, e sempre está mudando, porém ainda que venha qualquer mudança, ainda que a raça humana chegue a alcançar esse desenvolvimento maravilhoso que alguns profetizam, ainda assim, as palavras de nosso Senhor não passarão. E quando a maior alteração de todas tiver lugar, e este presente desígnio divino chegar ao seu final, e todas as coisas materiais forem consumidas pelo fogo, e forem destruídas, ainda então permanecerá sobre as cinzas do mundo, e tudo o que há nele, a revelação imorredoura do Senhor Jesus Cristo, porque como disse Pedro, “a Palavra do Senhor permanece para sempre. Esta é a palavra do evangelho que lhes tenho anunciado.”.  







27 - O Evangelho que não Morre   

Por Charles Haddon Spurgeon

Traduzido e adaptado do texto em espanhol, em domínio público na Internet, pelo Pr Silvio Dutra.

"Porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios" (Romanos 5:6)

Queridos amigos, qualquer que seja a condição de um filho de Deus, não está sem esperança. Um cristão no Senhor Jesus Cristo pode ser provado duramente, suas aflições podem se multiplicar, e podem ser muito intensas; porém, ainda nessa condição, tem esperança. Não é possível que Deus o abandone; seu Deus deve ajudar-lhe. Se lhe sobrevier o pior, e for abandonado completamente pelos homens, e não houver um caminho de saída para suas tremendas dificuldades, ainda assim, seu Deus deve ajudar-lhe. Não há nenhum motivo para ter medo.  
Seguidamente, somente os ímpios necessitavam que Ele morresse por eles. Se tu és piedoso, se tu és bom, se tens guardado perfeitamente a lei de Deus, que tens a ver com Cristo? Já és salvo, de fato, não estás perdido, e portanto, não necessitas da salvação. Se tens guardado todos os mandamentos desde a sua infância, mui bem podes dizer: “que me falta?”. Se és tão bom que dificilmente podes ser melhor, e tens o mais respeitável traje de justiça própria para se apresentar diante de Deus, eu pergunto novamente: que tens a ver com Cristo? Por que teria Ele que morrer por um homem que não tem nenhum pecado que necessite ser lavado?
Por que haveria de ofertar sua vida pelo pecado de quem não tem nenhum pecado? “Cristo morreu pelos ímpios”, porque ninguém senão os ímpios necessitam que morresse por eles?. Ele não morreu por ter pecado Ele mesmo, senão morreu como os pecadores devem morrer, já que carregou sobre si os pecados dos ímpios; e ao substituí-los, sentiu o açoite de Deus que deveria ter caído sobre os ímpios. Disse o açoite? Deveria ter dito a espada de Deus. Ele sentiu, que deveria de terminar assim como os ímpios, tal como está escrito: “Levanta-te, oh espada, contra meu pastor e contra o homem meu companheiro, diz Jeová dos Exércitos!”, referindo-se à morte de Jesus na cruz. 
Ele morreu, o Justo pelos injustos, para nos levar a Deus. Esta é a única e verdadeira doutrina da expiação, e todo aquele que a receba será confortado por ela, porém todo aquele que a rechaçar o faz para o dano de sua própria alma.
Se Ele morreu por ti quando não tinhas paz com Deus, quando, de fato, não tinhas nenhum Deus, quando eras ímpio, isto é, sem a influência de Deus, quando eras inimigo de Deus fazendo obras perversas, se Cristo morreu por ti então, não te salvará agora? Se sentes dentro de teu coração, hoje, uma doce reconciliação com Deus teu Pai celestial, então, não importa qual seja teu problema, não penses que Deus possa te abandonar. Não importa a profunda depressão de teu espírito, não penses que Deus possa te abandonar. Ele, que morreu por ti quando eras ímpio, certamente te salvará agora que tens paz com Deus por meio dEle.     
Éramos fracos. Porém quando nos encontramos nesse lamentável estado, sem nenhuma dessas graças que agora são nossa fortaleza, sem nenhum desses santos frutos do Espírito que são agora a fonte de nosso consolo, ainda então, quando ainda éramos fracos, Cristo morreu por nós. Quando cada tendão e cada osso estavam quebrados, todo poder aniquilado, a vida mesma se haveria evaporado, pois estávamos mortos em delitos e pecados, e ainda assim Cristo morreu por nós. Pois bem, irmãos, isso é certo, e devem crê-lo assim. Quero que entendam o argumento desta verdade, pois este é: se o Senhor Jesus nos amou o suficiente para morrer por nós quando estávamos totalmente sem nenhuma força, então certamente nos salvará agora que nos tem dado forças.    
Ainda que estejas fraco agora, Ele, que morreu por ti quando ainda eras fraco no pleno sentido da palavra, virá para te ajudar. Dou graças a Deus hoje, do mesmo modo que o tenho feito tantas vezes, por trazer-me tão grandes tribulações; Às vezes, minha vida tem sido muito tranquila durante anos. Recordo ter dito a mim mesmo alguma vez: “Bem, no tempo passado, durante as grandes necessidades do Colégio de Pastores e do Orfanato, tenho experimentado milagres maravilhosos de livramento. Naquela época parecia pisar, como um gigante, desde cima de uma montanha até a outra, passando sobre os vales, e agora caminho calma e tranquilamente pelos vales.”. Quase tenho desejado ver outra grande montanha e outro grande precipício aberto, para poder ver o que Deus vai fazer. Durante os últimos anos, ainda tenho falado muito pouco acerca disto, tenho tido muitas brechas abertas diante de mim. Dava a impressão que o céu ia desabar, e tinha que contemplara para baixo, as profundezas azuis, porém tenho seguido adiante com passo firme, e Deus tem feito meu caminho tão fácil, como se houvesse sido um caminho sobre um terreno com o pasto recém cortado. É algo glorioso ter um grande problema, uma gigantesca onda do Atlântico, que te agita e balança e te arrasta mar adentro e te arroja às profundidades, às covas mais escondidas do velho oceano, até chegar ao fundo das montanhas e ver ali a Deus, e depois sair à superfície e proclamar quão grande é Deus, e com quanta graça Ele livra o seu povo. Ele te livrará, Ele deve livrar-te. O argumento do texto é este: “a seu tempo Cristo morreu pelos ímpios”. Portanto, a seu tempo, Ele deve ajudar o piedoso. Se o Senhor Jesus Cristo tem amado a Paulo, por que não haveria de amar a João? E se tem amado a Marta, porque não haveria de amar Helena? Se tem salvo a Henrique, por que não haveria de salvar a Manoel? Falo sério, já que Ele não nos ama porque haja algo de valor em nós, senão simplesmente porque Ele tem decidido amar-nos, como está escrito: “Terei misericórdia de quem tenha misericórdia e me compadecerei de quem me compadecer.”. Portanto vocês podem vir, vocês culpados, ao Soberano Doador da misericórdia não merecida e tocar o cetro de prata de sua graça, e serem salvos hoje! Quando Ele diz que terá misericórdia de quem lhe aprouver ter misericórdia, significa que faz uso dela sem ter que dar satisfação a ninguém, que pode fazê-lo por seu critério de graça, e não segundo os nossos méritos, quer dizer que pode usar de misericórdia com qualquer um que creia, e não que escolheu alguns para usar de misericórdia com eles, e outros para odiá-los. Não é desta forma que Deus é misericordioso. Porque isto não seria misericórdia, mas escolha caprichosa. A misericórdia para ser misericórdia demanda que se recorra a ela; que o necessitado busque o socorro de que necessita, e a misericórdia se mostrará como tal, quando estender a sua mão para ele, ainda que não o mereça e não tenha como pagar tal favor. É nesse sentido que Cristo não lança fora a ninguém que venha a Ele, e convida a todos para que venham a Ele para que sejam salvos. Porque através dEle, especialmente da Sua morte, Deus tem se mostrado misericordioso para com os pecadores, na expectativa de que se arrependam, creiam, e vivam. A dificuldade de entendimento da doutrina da eleição reside no fato de que apesar da manifestação de tão grande misericórdia há muitos que permanecem endurecidos no pecado, e orgulhosos a rejeitam deliberadamente. Mas veja, isto não procede de Deus que deseja que todos se salvem, mas da própria parte do pecador. E daí se atribui erroneamente a Deus a ideia de que tenha criado alguns para serem justos e outros para serem perversos. Deus não criou o mal, o pecado. O pecado tem tudo a ver com a criatura, e nada com o Criador.
Assim, que seu doce Espírito os traga a Cristo! Que nenhum de nós pergunte se somos santos ou pecadores, senão que vamos todos juntos, vamos em massa à cruz, voemos todos ao Calvário, e estejamos ali e vejamos a Ele, o eterno Filho de Deus, sangrando e morrendo sobre o madeiro, e creiamos todos agora que Ele pode, que Ele quer, e que Ele salva, mais ainda, que Ele tem salvado nossas almas.    











28 - Pregar o Evangelho   

Por Charles Haddon Spurgeon

Traduzido e adaptado do texto em espanhol, em domínio público na Internet, pelo Pr Silvio Dutra.

“Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho!” (I Cor 9.16).

O que é pregar o evangelho?

Pregar o evangelho é expor cada doutrina contida na Palavra de Deus, e dar a cada verdade sua própria importância. Os homens podem pregar uma parte do evangelho, podem pregar unicamente uma só doutrina do evangelho, e eu não diria que um homem não prega em absoluto o evangelho se sustentasse a doutrina da justificação pela fé – “Porque pela graça sois salvos por meio da fé.”. Eu o consideraria um ministro do evangelho, porém é alguém que não prega todo o evangelho. Não pode se afirmar que um homem prega um evangelho completo de Deus se prega intencionalmente uma só verdade do nosso bendito Deus.
Ouvi alguém dizer: “não se deve pregar a doutrina da eleição, já que não tem a capacidade de converter os pecadores.”. Eu lhe respondi: “Porém quem se atreve a identificar falhas na verdade de Deus? Você está de acordo comigo, que a eleição é uma verdade, e contudo afirma que não deve ser pregada. Eu não me atreveria a afirmar algo assim. Eu considero que é uma arrogância suprema se atrever a dizer que uma doutrina não deve ser pregada, quando Deus, em sua suprema sabedoria tem desejado revelá-la aos homens. Eu além disso me perguntaria: A única finalidade do evangelho é somente a conversão dos pecadores? Há muitas verdades que Deus bendiz para a conversão dos pecadores, porém, acaso não há outras verdades destinadas a trazer consolo aos santos? E não deveriam estas verdades ser objeto do ministério da pregação como as demais? Devo usar umas e descartar as outras? Não, pois Deus disse: “consolai, consolai o meu povo.”. Se a eleição consola o povo de Deus, então deve ser pregada.    
Qualquer coisa que está escrita na Palavra de Deus foi escrita para nossa instrução e toda ela é útil, seja para repreensão ou para consolo, ou para instrução na justiça. Nenhuma verdade da Palavra de Deus deve ser ocultada senão que cada porção dela deve ser pregada segundo seu próprio sentido. E enquanto pregamos a Palavra de Deus, seja qual for a doutrina ou parte, Deus é poderoso para salvar alguns pelo poder da verdade do evangelho de que Cristo veio ao mundo salvar os pecadores, e que de fato salva os que creem em Seu nome. Aqui reside a sutileza do ponto relativo ao que é o poder do evangelho para salvar os que creem: Por exemplo alguém se converteu ouvindo qualquer outra porção da Palavra de Deus ou alguma verdade relativa a ela, como foi o caso do Dr Robert Kalley, que fundou o congregacionalismo no Brasil, que se converteu quando leu a Bíblia e viu que Deus havia preservado Israel mesmo em sua dispersão pelo mundo. Ele creu em Deus e foi salvo. Mas quem o salvou foi Cristo e Seu evangelho, ainda que ele a princípio não o soubesse claramente. E uma vez tendo sido salvo, foi devidamente instruído quanto ao evangelho e gastou toda a sua vida na sua pregação e ensino. Qualquer pecador, em qualquer época, é salvo por causa do evangelho. Isto é, o perdão dos pecados em Cristo Jesus. E não é demais lembrar que o evangelho não é condenação mas salvação. Não é má notícia, mas boa notícia, de grande alegria.    
O que deve ser pregado é toda a Bíblia. Mas muitos fazem um círculo de ferro ao redor de suas doutrinas, e qualquer um que ouse dar um passo mais além desse pequeno círculo, não é considerado como possuidor da sã doutrina. Muitos convertem a teologia numa espécie de cilindro que contém cinco doutrinas que rolam de maneira indefinida, nunca se aventuram a outros temas. Deve ser pregada toda a verdade. E se Deus tem escrito em sua palavra que “o que não crê está condenado”, isso deve ser pregado tanto quanto “nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”.  
Mas pregar o evangelho é também exaltar a Jesus Cristo. Talvez esta seja a melhor resposta para a pergunta o que é pregar o evangelho? Mas nos entristece verificar que pouco se entende o evangelho mesmo entre alguns dos melhores cristãos. Faz algum tempo uma jovem mulher se encontrava em meio de uma grande tribulação em sua alma; ela se aproximou de um homem cristão muito piedoso, que lhe disse: “Minha querida amiga, deve ir para casa orar.”. Eu pensei comigo, isso não é nada bíblico. A Bíblia não diz: “vai para casa e ora”.  A pobre jovem se foi para casa, e orou e continuou sofrendo a tribulação. Ele lhe disse: “Deves ter paciência, deves ler as Escrituras e estudá-las.”. Isso tampouco é o que a bíblia ordena, para se recomendar a alma aflita, pois isto não é exaltar a Cristo. Vejo que há muitos pregadores que estão pregando este tipo de doutrina. Eles dizem a um pobre pecador convencido: “Tens que ir para casa e orar, e ler as Escrituras, deves assistir ao culto, etc.”. Obras, obras, em vez de: “Pela graça sois salvos por meio da fé”. Eu lhe diria: “Cristo deve salvar-te. Crê no nome do Senhor Jesus Cristo.”. Eu não diria a ninguém, nessas circunstâncias, que ore, ou que leia as Escrituras ou que frequente o templo até ter um encontro com Cristo; eu lhe apresentaria a fé, a simples fé no evangelho de Deus. Não que menospreze a oração – isso deve vir depois da fé. Não que diga nem uma palavra contra o estudar as Escrituras – esse é um sinal infalível de ser filho de Deus. Não que tenha objeções contra ir ao templo escutar a Palavra de Deus – Deus não o permita! Me alegro vendo as pessoas no templo. Porém nenhuma dessas coisas é o caminho da salvação. Em nenhuma parte está escrito: “O que frequenta o templo será salvo”. Ou “o que lê a Bíblia será salvo”. Não tenho lido em nenhuma parte: “O que ora e for batizado será salvo”, porém sim: “O que crê” – o que tem fé no “Homem Deus Cristo Jesus” – em sua Divindade, e em sua humanidade, é livrado do pecado. Pregar que somente a fé salva, é pregar a verdade de Deus.   
E essa fé que nos une ao Cordeiro é um dom instantâneo de Deus, e aquele que crê no Senhor Jesus é salvo no momento, sem nenhuma outra exigência.
Oh, que haja sempre um ministério que somente exalte a Cristo! Que a pregação sempre o mostre como profeta, sacerdote e rei para o seu povo! Que o Espírito manifeste o Filho de Deus a seus filhos através da pregação. Necessitamos ter uma pregação que diga: “Olhai para mim e sede salvos, todos os confins da terra!”. Pregação do Calvário, teologia do Calvário, livros sobre o Calvário, sermões sobre o Calvário! Estas são as coisas que queremos e na proporção em que o Calvário seja exaltado e Cristo seja engrandecido, nessa medida o evangelho é pregado em nosso meio.
Há momentos em que se deve alimentar os filhos, e há outras ocasiões em que deve ser advertir os pecadores. Há propósitos diferentes para ocasiões diferentes. Se um ministro prega aos santos de Deus, e não diz nada aos pecadores, está atuando corretamente, sempre e quando em outras oportunidades em que não esteja consolando aos santos, dirija sua atenção de maneira especial aos ímpios. 
Se tivesses lido o prefácio do livro Leituras para a Manhã e para a Noite, do Dr. Hawker, terias visto que esse livro não foi escrito para converter os pecadores, senão para alimento do povo de Deus, e se cumpre esse objetivo, o escritor tem sido sábio, ainda que não tenha tido outro objetivo. Cada grupo de pessoas deve receber o que é seu. O que prega unicamente aos santos e somente a eles, não prega o evangelho completo, o que prega unicamente aos pecadores e somente a eles e nunca aos santos, não prega também o evangelho completo. Nós temos aqui uma mescla de tudo. Temos o santo que está cheio de segurança e é forte, temos o santo que é fraco de pouca fé, temos o recém convertido, temos o homem que duvida entre duas opiniões, temos o homem moral, temos o que vive pecando, temos o réprobo, temos o marginal. Cada um desses grupos deve receber sua palavra. Cada um deles deve receber sua porção de alimento a seu tempo; não em todo tempo, senão a seu devido tempo. O pregador que esquece algum desses grupos não sabe como pregar o evangelho completo. 
Não podemos aceitar que preguemos somente aos santos. Deus dá aos homens corações para que amem o seu próximo, e portanto devem desenvolver esses corações. Se amo aos ímpios, não devo ter os meios para lhes falar? Não posso lhes falar acerca do juízo vindouro, da justiça e de seu próprio pecado? Deus não permita que eu corrompa de tal maneira minha natureza e que de tal maneira me endureça, que não chegue a derramar nenhuma lágrima quando considero a perdição dos seres humanos que me rodeiam e que me dirija a eles dizendo: “Vocês estão mortos, portanto não tenho nada para dizer-lhes.”.  E que pregue na realidade (ainda que não seja com palavras) essa heresia abominável, que se os homens estão destinados à salvação, então se salvarão – e que se não estão destinados à salvação, então não se salvarão; e que então, necessariamente, devem ficar quietos e não fazer absolutamente nada, e que não tem nenhuma importância se vivem em pecado ou em justiça – um destino fatal os tem aprisionado com cadeias inquebráveis e seu destino está tão determinado que podem continuar tranquilamente vivendo em pecado. Eu creio que seu destino está determinado – como eleitos se salvarão e se não são eleitos estão condenados para sempre. Contudo não creio na heresia que se deriva como uma inferência que estabelece que portanto os homens não são responsáveis e não têm que fazer nada. Essa é uma heresia à qual sempre me oponho já que é uma doutrina do demônio e não de Deus. Cremos no destino, cremos na predestinação, cremos que há eleitos e não eleitos, porém, apesar disso, cremos que devemos pregar a todos os homens, porque a ordem de Deus é que o evangelho seja pregado a todos, e que aquele que crê em Jesus é salvo, porém o que não crê está condenado.       
Assim, pois, pregar o evangelho não é pregar certas verdades acerca do evangelho, não é pregar acerca das pessoas, senão pregar às pessoas. Pregar o evangelho não consiste em falar sobre o que é o evangelho, senão pregá-lo ao coração, não por meio de teu próprio poder, senão sob a influência do Espírito Santo – não é estar no púlpito e falar como se estivéssemos nos dirigindo ao anjo Gabriel dizendo-lhe certas coisas, senão falar de homem a homem e derramar nosso coração no coração do companheiro. Isto, creio, é pregar o evangelho, e não dizer entre os dentes algum árido manuscrito no domingo pela manhã e à noite.
Pregar o evangelho é proclamar com língua de trombeta e zelo inflamado as inescrutáveis riquezas de Cristo Jesus, para que os homens possam ouvir, e entendendo, possam voltar-se para Deus com todo seu coração. Isto é pregar o evangelho.
A segunda pergunta é: Por que não é permitido aos ministros gloriar-se? “Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar”. Há um mal que pode crescer em qualquer parte, e este mal é o orgulho. O orgulho pode crescer numa rocha tanto quanto num jardim. Ele cresce no coração do servo e do seu senhor. No coração da criança como no coração do ancião. E o orgulho pode crescer também no púlpito. É uma erva que se espalha de maneira terrível. Requer que seja cortado cada semana, já que de outra forma estaríamos afundados nele até nossos joelhos. Este púlpito é um excelente  terreno para o orgulho. Cresce de maneira desenfreada, e eu estou seguro que dificilmente encontrariam um pregador do evangelho que não confesse que tem uma tentação muito forte para o orgulho. Eu suponho que, ainda aqueles ministros sobre os quais não se comenta nada, e que são gente muito boa, e que têm uma igreja numa cidade grande à qual assistem menos de seis pessoas, sofrem a tentação do orgulho. Porém, independentemente de que isso seja assim, ou não, estou seguro que onde quer que haja uma grande congregação, e onde haja muito ruído e agitação em relação ao pastor, há ali um grande perigo de orgulho. E vejam bem, quanto mais orgulhoso for o homem, mais estrondosa será a sua queda no final. Se o povo sustenta em seus braços no alto a um ministro, e deixa de sustentá-lo e o solta, que grande golpe se dará ao pobre indivíduo no final de tudo. Assim tem ocorrido com muitos. Muitos homens têm sido sustentados no alto pelos braços de outros homens, têm sido sustentados no alto pelos braços dos elogios, e não pela oração, e estes braços ficam enfraquecidos e têm caído ao solo. Digo que há a tentação ao orgulho no púlpito, porém não há razão para o orgulho no púlpito, não há terra para que cresça o orgulho, porém crescerá de todas as maneiras. “Não tenho de que me gloriar.”, Porém apesar de tudo isso, frequentemente aparece algum motivo para nos orgulharmos, não real, senão aparente para nós mesmos.        
Agora, como é que um verdadeiro ministro sente que não tem do que se gloriar? Primeiro, porque está muito consciente de suas próprias imperfeições. Outro motivo para não nos jactarmos é o fato de que Deus nos recorda que todos os nossos dons são emprestados. Outro meio que o Senhor utiliza para preservar os seus ministros da tendência a se orgulhar é este: Ele lhes faz sentir sua dependência constante do Espírito Santo. Confesso que alguns ministros não sentem isso. Alguns se atrevem a pregar sem o Espírito de Deus, ou sem haver orado. Porém penso que nenhum homem que verdadeiramente haja sido chamado do alto, se atreverá a fazer isso; senão sentirá que necessita do Espírito.
Uma vez, quando me encontrava pregando na Escócia, o Espírito de Deus deixou-me só, e não pude falar como habitualmente faço. Tive a necessidade de dizer ao povo que a carruagem havia perdido suas rodas, e por isso se arrastava pesadamente. Tenho sentido o benefício disso desde então. Fui humilhado amargamente.
Penso que estou obrigado a estudar com dedicação e assim não tentar o Espírito com sermões sem preparação. Usualmente considero meu dever pedir a instrução do Espírito para meus sermões e lhe imploro que o grave em minha mente; porém nessa ocasião, creio que me havia preparado mais cuidadosamente do que de costume, de tal forma que a falta de preparação não era a causa. A causa simplesmente foi: “o vento sopra onde quer”, e os ventos nem sempre são fortes. Em algumas ocasiões o vento está quieto. E, portanto, se me apoio no Espírito, devo saber que nem sempre sentirei seu poder com a mesma força. O que eu faria sem a influência celestial já que a ela devo tudo? Por meio deste pensamento Deus humilha aos que lhe servem. Deus nos ensinará quanto necessitamos dele. Não permitirá que pensemos que fazemos algo por nós mesmos.  
Cada ministro será levado a sentir sua dependência do Espírito, e então dirá com ênfase, igual a Paulo: “Porque se anuncio o evangelho, não tenho do que me gloriar.”.
Agora vem a terceira pergunta, com a qual concluiremos esta mensagem. Qual é essa obrigação que nos é imposta de pregar o evangelho? 
Em primeiro lugar, uma grande parte dessa obrigação se deve ao chamamento mesmo. Se um homem é verdadeiramente chamado por Deus para o ministério, eu o desafio que se negue a aceitar o chamamento. Um homem que verdadeiramente tem em seu seio a inspiração do Espírito Santo, que o chama para pregar, não pode deixar de fazê-lo. Tem que pregar. Como fogo nos ossos, assim será essa influência até que projete suas chamas para fora. Os amigos podem querer freá-lo, os inimigos criticá-lo, os depreciadores burlar-se dele, porém o homem é indomável – ele tem que pregar se tem o chamado do céu. Todo o mundo pode abandoná-lo, porém ele pregaria nos áridos cumes das montanhas. Se tem o chamado do céu, ainda que não tenha uma congregação, ele pregaria às cachoeiras e daria sua voz aos riachos. Não poderia calar-se. Seria uma voz proclamando no deserto: “Preparai o caminho do Senhor”. Não creio que se possa deter a um ministro da mesma forma que não se pode deter as estrelas do céu. Não creio que se pode conseguir que um ministro deixe de pregar, se realmente tem o chamado, da mesma maneira que não se pode deter as poderosas cataratas querendo consumir suas águas com a taça de um menino. O homem que tem sido guiado pelo céu não pode ser detido por ninguém. Tem sido tocado por Deus e ninguém lhe impedirá de pregar. Assim como o crescimento físico e natural  de uma pessoa não pode ser detido, muito mais não pode ser detido o mover de Deus na nova natureza de alguém que é chamado a pregar o evangelho. Se alguma dificuldade se lhe apresentar voará com asas de águia e ninguém poderá prendê-lo à terra. Falará com a voz de um serafim e ninguém poderá fechar a sua boca. Não é sua palavra como fogo dentro de mim? Devo calar quando Deus tem colocado sua Palavra em mim? E quando um homem fala em conformidade com o que o Espírito lhe dá para falar, sente um gozo semelhante ao céu, e quando termina deseja voltar a seu trabalho de novo e anseia estar pregando novamente. Eu creio que os jovens que pregam tão somente uma vez por semana e pensam que já têm cumprido com seu dever, não têm sido chamados por Deus a uma grande obra. Penso que se Deus tem chamado a alguém, o impulsionará a pregar constantemente as inescrutáveis riquezas de Cristo.      
Porém outra coisa nos fará pregar: sentiremos: ai de mim se não prego o evangelho! E essa é a triste carência deste pobre mundo caído. Oh ministro do evangelho! Faz uma pausa por um instante e pensa em teus pobres próximos! Veja-os como uma torrente se apressando à eternidade – muitíssimos saem deste mundo a cada hora. Contempla bem ao término dessa torrente, essa tremenda cachoeira que lança torrentes de almas ao abismo! Oh ministro, pensa que os homens são condenados aos milhares a cada hora, e que cada vez que bate teu pulso, uma nova alma abre seus olhos no inferno em meio de tormentos; pensa como os homens aceleram seu caminho à destruição, como “o amor de muitos se esfria” e como “se multiplica a iniquidade”. Não sentes uma grande necessidade? Não sentes o ai de mim se não pregar o evangelho? Ministro! Ministro! Ai de ti se não anuncias o evangelho! Mantenhamos estas coisas ao alcance de nossa vista e então teremos que pregar. Se te disserem: Deixa de pregar! Deixa de pregar! Responderás: Ainda que o sol deixasse de brilhar, nós pregaríamos na escuridão. Ainda que os mares deixassem de existir nossa voz pregaria o evangelho. 
E tudo isto nos remete à nossa presente necessidade neste século XXI. Quantos falsos evangelhos têm sido pregados pelo mundo afora. Quantos falsos ministros têm se levantado. Mas Cristo disse que as portas do inferno não prevaleceriam contra a sua igreja. Que os verdadeiros ministros se levantem pois e preguem a Palavra da verdade, tal como nos foi transmitida por Cristo e pelos seus apóstolos. Que não se coloquem apenas na defesa do evangelho, mas que combatam o bom combate da fé proclamando a salvação que é em Cristo Jesus a todos, em toda parte. E que preparem e incentivem a outros que sejam idôneos para fazê-lo, porque certamente não é por sua própria iniciativa e vontade que o fazem, senão as do próprio Deus que os tem chamado para isto. 







29 - Todo o Evangelho em um Só Versículo   

Por Charles Haddon Spurgeon

Traduzido e adaptado do texto em espanhol, em domínio público na Internet, pelo Pr Silvio Dutra.

“Fiel é esta palavra e digna de toda aceitação, que Cristo Jesus veio a mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal." -- 1 Timóteo 1:15

Um pastor perguntou a um cristão que demorou a se decidir porque somente depois de tantos anos frequentando a igreja veio a encontrar o Salvador, e ele respondeu: “Creio que isto se deveu a que vinha escutar-lhe (o pastor) e havendo escutado, dava-me por satisfeito. Porém quando Deus me ensinou a vir aqui para buscar a Cristo, e a vida eterna, então obtive a bênção.”.
“Cristo Jesus veio a mundo para salvar os pecadores”. Jesus veio para salvar toda classe de pecadores. Enquanto te encaixes dentro da classificação geral de “pecador”, não importa que forma tenha tomado teu pecado. Todos os homens sem exceção têm pecado, porém nem todos têm pecado da mesma maneira. Todos se têm desviado do caminho e contudo cada um tem ido por uma rota diferente. Cristo Jesus veio ao mundo para salvar tanto a pecadores respeitáveis como a pecadores vergonhosos. Veio ao mundo para salvar tanto a pecadores orgulhosos como a pecadores desesperados. Veio ao mundo para salvar os bêbedos, os ladrões,  os mentirosos, os que frequentam as prostitutas, os adúlteros, os assassinos e similares. Qualquer que seja o tipo de pecado existente, esta palavra é maravilhosamente ampla e includente. Os pecadores configuram um grupo negro, horrível, e o inferno é a recompensa que merecem; porém esta é a gente que Jesus veio salvar.
Se tens algum mérito, se há algo bom em ti, é tão somente como uma gota de água de rosas num mar de imundície. Contudo, definitivamente não há nem sequer uma só gota de água de rosas em nossa natureza.
Que coisa estranha é a “sociedade”, ela mesma frequentemente está podre até suas entranhas, e contudo, se alguma pobre mulher se desvia, essa “sociedade” grita: “Desterrem-na! Levem essa miserável criatura para longe de nós!”. Conheço uma dessas mulheres que não pode se hospedar em nenhum hotel. Não podem tolerar ter perto de suas corretas pessoas a alguém que quebre, ainda que seja no mínimo, as leis da sociedade; porém Cristo não era assim. Apesar de todo seu repúdio e horror ao pecado, por certo muito maior que o nosso, posto que sua mente é sensível devido à sua pureza suprema, então, apesar de tudo isso, veio  ao mundo para salvar os pecadores, e com os pecadores conviveu, incluindo a publicanos e prostitutas. Comeu com pecadores, viveu com pecadores, morreu com pecadores, compartilhou seu sepulcro com perversos; entrou no paraíso com um ladrão, e hoje, todos aqueles que cantam um cântico novo no céu confessam que foram pecadores, posto que dizem: “porque foste imolado e com teu sangue tem redimido para Deus gente de toda raça, língua, povo e nação.”. Sim, apesar de toda a contaminação do pecado, Cristo veio para salvar os pecadores.  
Jesus veio para nos salvar. Não veio para nos condenar. Quando Deus desceu à terra, pode se pensar que veio para condenar; pois quando desceu para inspecionar a torre de Babel, e viu o pecado que havia no mundo, dispersou os pecadores sobre a face de toda a terra. Agora, poderia se pensar que, se viesse à terra, ficaria horrorizado com o resultado de sua investigação pessoal do pecado e logo diria: “Vou destruir o mundo.”. Porém Jesus disse: “o Filho do Homem não veio  para condenar o mundo, senão para que o mundo seja salvo por ele.”. Se percebem alguma condenação no evangelho, é simplesmente porque vocês mesmos estão introduzindo esta condenação. Não é o evangelho, senão a recusa de vocês do evangelho, o que os condenará. Portanto, peço a Deus que vocês nunca desprezem a Palavra de Deus, nem se julguem a si mesmos indignos da vida eterna, como fizeram aqueles judeus a quem Paulo e Barnabé pregaram em Antioquia. 
Seguidamente lhes direi que Cristo não veio ao mundo para ajudar-nos a que nos salvemos a nós mesmos. Ele veio para salvar-nos; não para ajudar-nos a nos pormos de pé dizendo-nos: “Agora faça isto e aquilo e eu me encarregarei do resto.”. Não senão que Ele veio para salvar-nos. Do princípio ao fim a salvação é totalmente por graça e totalmente o dom de Deus por Jesus Cristo.
Ele não veio para nos salvar em parte, para que nós façamos o resto. Leva muito tempo tentar que alguns se deem conta disto. Conheço um bom número de cristãos que têm um pé sobre a rocha e outro sobre a areia. Há uma certa doutrina, ou melhor dizendo, uma incerta doutrina, que faz com que as pessoas se sintam inseguras. Esta doutrina afirma que você não deve dizer que é salvo, mas se você não se afastar do caminho e mantiver a rota correta, então, talvez, quando estiver a ponto de morrer, poderá abrigar esperanças de que será salvo. Eu não daria um centavo por um evangelho como este. Queremos que se nos dê a salvação de maneira indiscutível e que nos seja dada de uma vez por todas, e isto é o que Cristo nos dá quando vamos a Ele e nEle confiamos. “O que crê não é condenado”. É salvo nesse mesmo instante, por obra de Deus. “Aquele que começou a boa obra em  vós há de aperfeiçoá-la até ao dia de Cristo Jesus.”. Ele não veio para nos salvar parcialmente, mas para nos salvar completamente.     
E o Senhor Jesus não tem vindo para nos deixar contentes em nossa condenação. Tenho escutado a certas pessoas falarem dos não convertidos desta maneira: “Agora, deves esperar. Tu deves esperar. Não podes fazer nada; portanto, fica tranquilo e espera até que te suceda algo.”. Isso não é o evangelho. O evangelho é: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo.”.
O quê significa que Jesus Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores? Quer dizer que veio para salvá-los do castigo que merecem por seus pecados. Seu pecado não lhes será tomado em conta e não serão condenados. Isso é uma coisa. Também veio para salvá-los da contaminação do seu pecado, de tal forma que, ainda que sua mente tenha sido corrompida e seu gosto tenha sido viciado, e sua consciência tenha sido endurecida pelo pecado, Ele veio para extirpar todos esses males, e para dar-lhes um coração terno, para que possam odiar o pecado e amar a santidade, e desejar a pureza. Porém Jesus veio para fazer algo maior. Veio para erradicar nossa tendência a pecar, tendência que é inata e cresce conosco. Veio para erradicá-la, isto é, arrancar pelas raízes, por meio do seu Espírito, para colocar dentro de nós outro princípio que vai combater o antigo princípio do pecado, e que vai dominá-lo até que somente Cristo reine e todo pensamento seja levado cativo à Sua obediência. Veio para salvar o seu povo da apostasia. Veio ao mundo para salvar os pecadores, conservando-os fiéis até o fim, não permitindo que retornem ao seu antigo estado de perdição.
Fazer que um homem mude, é pouca coisa; porém conseguir que esse homem se mantenha firme até o fim, isto pode ser somente o triunfo da graça Todo-poderosa, e foi precisamente para isto que Cristo veio. Jesus não veio ao mundo para nos salvar pela metade, não nos salvar em relação a isto ou àquilo, senão para salvar-nos do pecado, para salvar-nos do orgulho, do álcool, da ambição, de todo o mal, e para nos apresentar sem mancha diante da presença da Sua glória com grande alegria.
“Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores”. Cristo Jesus, e não um anjo, não o melhor dos homens, senão Cristo Jesus.
Cristo significa, ungido, isto é, enviado por Deus, ungido por seu próprio Espírito, preparado, capacitado, qualificado, e dotado para o trabalho da salvação. Jesus vem, não sem uma unção de Deus. Não é um Salvador aficcionado, que veio por sua própria conta, sem uma comissão nem autoridade, senão que Deus o ungiu para que Ele pudesse salvar os pecadores. Ele foi designado salvador dos pecadores pela expressa vontade do Pai. Quando entrou na sinagoga de Nazaré no dia de sábado, Ele se apropriou das palavras do profeta Isaías: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me tem ungido para anunciar boas novas aos pobres, me tem enviado para proclamar liberdade aos cativos, e dar vista aos cegos, para por em liberdade os oprimidos e para proclamar o ano agradável do Senhor.”.
Por outro lado, o seu nome é “Jesus” que significa Salvador. Ele tendo vindo, portanto, para ser o Salvador ungido, comissionado para ser um Salvador; e se Ele não é um Salvador, Ele não é nada. Veio ao mundo para salvar; e se não salva, não tem atingido o alvo. Se despojou de Suas glórias celestiais para assumir esta glória ainda maior de ser o Salvador dos pecadores. Agora, que sentido haveria em ter-se despojado da glória celestial se não pudesse elevar os pecadores caídos à glória? Ele desceu para que pudesse nos elevar de nossa condição caída, e é exatamente o que Ele tem feito, e no que nunca, jamais, poderia falhar. Como não creremos que queira de fato nos salvar e nos glorificar depois que entendemos que Ele se esvaziou a si mesmo despojando-se da glória celeste, quando veio ao mundo não na sua glória infinita, mas assumindo a natureza humana? Para que propósito o teria feito se não precisássemos de fato ser resgatados da perdição eterna?         
Por isso os anjos cantavam referindo-se a Ele: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra entre os homens de boa vontade!”. E o anjo do Senhor disse a José: “O seu nome será Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados.”.
Não tenho nenhuma necessidade de encontrar palavras para adornar este evangelho da glória do bendito Deus. Ele é o mais grandioso tema sobre o qual jamais falou homem algum; não requer  nenhuma oratória quando é pregado. A própria história é maravilhosa. A antiga, antiga história do amor de Jesus. Deus não poderia, em justiça, passar por alto o pecado humano sem que houvesse uma expiação; porém ele mesmo fez a expiação. Jesus, que é um com o Pai, veio aqui, e se ofereceu a Si mesmo como sacrifício para assim poder salvar os pecadores.
Paulo disse: “Cristo Jesus veio a mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal.". Alguém diria que Paulo errou no tempo do verbo, porque quando disse essas palavras já era um cristão, e deveria ter dito então “fui” o principal pecador, e não “sou”. Mas o próprio Paulo teria dito que o tempo do verbo está corretíssimo, porque sabia que apesar de ter sido libertado da escravidão do pecado por Cristo, de ter sido lavado do pecado, entretanto, continuava sendo, enquanto neste corpo terreno, sujeito à ação do pecado, e também continuava precisando do Salvador para ter vitória continuamente sobre o pecado, na condição de Sumo-Sacerdote que intercede por nós à direita do Pai, dando-nos a força da Sua graça para que possamos viver em novidade de vida, servindo à justiça de Deus.      
Há muitos irmãos que pensam erroneamente que já são perfeitos. E muitos se apresentam diante de Deus se jactando de suas virtudes, esquecidos de que as têm recebido pela graça do Senhor. Mas quando oramos dessa maneira, tocamos à porta e ninguém nos atende. Mas se batemos à porta da misericórdia e dizemos assumindo que somos pobres pecadores que têm se apresentado diante de Cristo como pecadores e que têm experimentado a Sua justiça e salvação, então seremos reconhecidos e atendidos por Deus.
Pois bem, colocando-me nesta posição, onde sempre devo estar, e onde sempre espero estar, diria a qualquer pecador, a quem quer que seja: vem amigo, vem comigo à cruz. Alguém dirá porém:   “eu não posso ir contigo, tu tens sido um ministro do evangelho durante muitos anos.”. Meu querido amigo, sou todavia um pobre pecador, e tenho que olhar para Cristo a cada dia com o fiz no primeiro dia. Ele não me salvou para que eu andasse por minha própria conta. Ele me salvou, para que permaneça sendo salvo por meio dEle. Ele me salvou para permanecer nEle e Ele em mim. É assim que somos salvos. Então vem comigo. E encontre também nEle a salvação.









30 - O Coração do Evangelho 

Por Charles Haddon Spurgeon

Traduzido e adaptado do texto em espanhol, em domínio público na Internet, pelo Pr Silvio Dutra.

“De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus. Aquele que não conheceu pecado ele o fez pecado por nós, para que nele fôssemos feitos justiça de Deus.” (II Cor 5.20,21).  

O coração do evangelho é a redenção, e a essência da redenção é o sacrifício substitutivo de Cristo.
A grande doutrina, a maior de todas é esta, que Deus ao ver os homens perdidos por causa de seu pecado, tem tomado esse pecado deles e o tem posto sobre seu Filho unigênito, fazendo-lhe pecado por nós, a Ele que não conheceu nenhum pecado, e como consequência desta transferência do pecado, o que crê em Cristo Jesus é feito justo e reto, sim, é feito justiça de Deus em Cristo. Cristo foi feito pecado para que os pecadores fossem feitos justiça. Essa é a doutrina da substituição de nosso Senhor Jesus Cristo a favor dos homens culpados. 
Nosso substituto era sem mancha, inocente, e puro. “Ao que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós.”, Cristo Jesus, o Filho de Deus, se encarnou e foi feito carne, e habitou aqui entre os homens; porém ainda que foi feito em aparência de carne pecadora, Ele não conheceu nenhum pecado. Ainda que o pecado lhe tenha sido imposto, não foi encontrado culpado. Ele não foi, não podia ser um pecador. Ele não tinha um conhecimento pessoal do pecado. Ao longo de toda a sua vida nunca cometeu uma ofensa contra a grande lei da verdade e justiça. A lei estava em seu coração; era sua natureza ser santo. Ele poderia dizer a todo o mundo: “quem de vocês me acusa de pecado?”. Ainda que um juiz titubeante tenha perguntado: “que mal pois tem ele feito?”. Quando toda Jerusalém foi pressionada e subornada para testificar contra Ele, não se pôde achar nenhum testemunho. Foi necessário mudar seus comentários e torcer suas palavras antes de que encarniçados inimigos fizessem uma investida contra Ele. Sua vida o pôs em contato com ambas as tábuas da lei, porém não transgrediu nem um só mandamento. Assim como os judeus examinavam ao cordeiro Pascal antes de que o sacrificassem, assim examinaram ao Senhor Jesus os escribas e fariseus, e os doutores da lei, e governantes e príncipes, sem achar ofensa nEle. Ele era o Cordeiro de Deus sem mancha e sem contaminação.  
Nosso Senhor tampouco cometeu nenhum pecado de pensamento. Sua mente nunca produziu sequer um mal desejo. Nunca houve no coração de nosso bendito Senhor uma atração para nenhum prazer maligno, nem nenhum desejo de escapar dos sofrimentos ou da vergonha que estavam envolvidos em Sua missão. Quando disse: “Pai,  se possível, passa de mim este cálice”, Ele nunca procurou evitar a bebida amarga à custa do trabalho perfeito de sua vida. O “se” significava: “se é consistente com a completa obediência ao Pai, e a realização do propósito divino.”. Vemos a debilidade de sua natureza horrorizada, e a santidade de sua natureza que decide e conquista, quando acrescenta: “porém não seja como eu quero, senão como tu queres”. Ele tomou sobre si a aparência da carne pecadora, porém ainda que essa carne frequentemente lhe causava cansaço em seu corpo, nunca produziu nele a debilidade do pecado. Ele tomou sobre si nossas enfermidades, porém Ele nunca exibiu uma enfermidade que tivesse o mínimo de culpa censurável ligada a ela.
Porém com respeito a nosso Senhor, era sua natureza ser puro, e reto, e amoroso. Todos seus doces desejos foram para a bondade. Sua vida sem nenhuma restrição era  pura santidade. Ele era o santo menino Jesus. O príncipe deste mundo não encontrou nEle combustível para a chama que ele desejava acender. Não somente não fluía pecado dEle, como também não havia pecado nEle, nem inclinação, nem tendência nessa direção. Observem-no em secreto, e o encontrarão em oração; olhem dentro de sua alma e o encontrarão ansioso de agir e sofrer segundo o desejo de seu Pai. Oh, que bendito caráter o de Cristo!
Nosso Senhor Jesus Cristo como homem viveu sob a lei; porém Ele não devia nada a essa lei, porque Ele a cumpriu perfeitamente em todos seus aspectos. Ele foi capaz de estar no lugar que correspondia aos outros, porque não estava sob obrigação própria. Ele estava obrigado somente para Deus porque Ele se havia comprometido voluntariamente para ser fiador e sacrificar-se por aqueles que o Pai lhe entregou. Ele não foi culpado de nada, de outra maneira não poderia haver sido fiador de homens culpados. 
E a maravilhosa condescendência do Senhor está no fato de ter se identificado plenamente com os homens quanto à sua formação segundo a descendência de Adão, desde um embrião no útero materno, passando a ser feto, bebê, criança, jovem e adulto. Pois Ele poderia ter sido formado como foi formado o próprio Adão, já adulto e independentemente. Mas, para se identificar plenamente com a descendência de Adão, foi preciso que fosse formado homem como é todo filho de Adão, e assim ele é real e plenamente o Filho do homem, que sendo Deus, se fez também homem, mas sem pecado. Por isso se registra na Bíblia que era da genealogia de Adão (Lc 3.23-38). Era pois nascido sob a lei, conforme qualquer outro descendente de Adão. Fez parte da descendência para que pudesse socorrê-la. Ele socorre efetivamente os que têm fé nEle, e por isso se diz que socorre não a anjos, mas a descendência de Abraão, e que para isto mesmo convinha que em todas as cousas se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus, e para fazer propiciação pelos pecados do povo. (Hb 2.16,17). Note que se fosse criado independentemente, não teria nascido sujeito à lei, porque esta foi imposta à descendência de Adão. Ele teria sido condenado pela lei, como qualquer outro descendente de Adão, caso tivesse pecado. Mas como não tinha pecado, e estava sujeito à lei, por ter nascido sob ela, Ele nada deveu à lei, ao contrário tinha o testemunho da lei de que era um perfeito cumpridor dos seus mandamentos e assim contava não com a condenação da lei, mas com a sua recompensa para a vida, porque Ele e somente Ele tinha atingido a justiça que é segundo as obras da lei, porque jamais descumpriu qualquer um dos seus mandamentos. Assim, poderia ser ofertado como propiciação pelos pecados daqueles que são transgressores da lei, para satisfazer a exigência da justiça de Deus que determina a morte eterna do pecador.
Ora, se Ele era tão perfeito homem, sem nenhuma mancha ou pecado, quão difícil foi para Ele se identificar com os pecadores. Pode não ser uma desgraça para um homem pecador conviver com pecadores; porém é uma pesada tristeza para alguém de mente pura viver em companhia de infelizes  licenciosos. Que abrumadora tristeza deve ter sido para o puro e perfeito Cristo morar entre os hipócritas, os egoístas, os profanos. E pior ainda, que Ele mesmo tivesse que carregar os pecados desses homens culpados. Ele mais do que uma vez suspirou diante desta realidade e indagou até quando deveria suportar uma geração má e incrédula. Sua natureza sensível e delicada deve ter evitado até a sombra de um pecado, e contudo leiam as palavras e fiquem assombrados: “Aquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós.”. Nosso perfeito Senhor e Mestre carregou nossos pecados em seu próprio corpo na cruz.       
O Senhor Deus colocou sobre Jesus, que voluntariamente o aceitou, todo o peso do pecado humano. No lugar em que repousara sobre o pecador, que o cometeu, o fez repousar sobre Cristo, que não o cometeu, e a justiça que Jesus operou foi posta na conta do culpado, que não a havia realizado, de maneira que o culpado é considerado como justo. Aqueles, que por natureza são culpados, são considerados como justos, enquanto que Ele que por sua natureza não conheceu nenhum pecado, foi tratado como culpado.
Deus se agrada dos transgressores? Ele ama a transgressão, para fazer uma tal obra como esta? De modo nenhum. Exatamente o oposto. Por muito detestar o pecado e a transgressão, condenou o pecado na pessoa do Seu Filho amado, para que aqueles que quiserem ser livrados da escravidão do pecado, possam ser aperfeiçoados na santidade, e também não terem mais qualquer pecado na glória vindoura, e assim participarem da vitória de Deus sobre o pecado, em Cristo Jesus. O pecador não é pois considerado justo pela fé, para continuar na prática da injustiça, mas exatamente para que possa ser agora servo da justiça e não mais do pecado. Cristo foi considerado culpado para que os transgressores pudessem receber o dom da justiça, e serem livrados da condenação eterna, pela graça, mas os benefícios da Sua morte são aplicáveis somente àqueles que viverão um dia em perfeita santidade. Os que pretendem permanecer na prática da injustiça não poderão contar com a expiação do pecado que foi feita por Ele. Porque Ele remove a culpa somente daqueles que viverão para Deus.         
É um fato que Deus tenha colocado sobre Jesus a iniquidade de todos nós. Cristo não era culpado, e não poderia ser feito culpado, porém foi tratado como se o fosse, porque Ele queria estar no lugar do culpado. E Ele de fato morreu por todos para que todo aquele que nEle creia possa ter a culpa do seu pecado removida, e ser inteiramente aceito por Deus. Não podemos portanto falar da graça que está em Cristo Jesus como algo fácil, sem valor, barato, pois custou um alto preço para Ele. Bendigo seu santo nome porque para reivindicar sua justiça Ele determinou que, ainda que um perdão gratuito seria proporcionado aos cristãos, teria que estar fundado sobre uma expiação que cumpriria todos os requisitos da lei. Não significa uma pequena coisa quando se nos diz “feitos justiça”. É mais, não somente somos feitos justiça, senão que somos “feitos justiça de Deus.”. Aqui há um grande mistério. A justiça que teria Adão no jardim era perfeita, porém era a justiça do homem, mas a nossa justiça é de Deus. A justiça humana falhou, porém o cristão tem uma justiça divina que nunca pode falhar. Não somente a tem, senão que ele é a justiça, pois é feito justiça de Deus em Cristo. Assim como Cristo foi feito pecado, e contudo nunca pecou, assim também somos feitos justiça, ainda que não possamos afirmar que somos justos em e por nós mesmos.
Contudo pecador que sejas, manchado, deformado, e envilecido, se aceitas ao grande Substituto que Deus te proporciona na pessoa de seu querido Filho, teus pecados são removidos, e a justiça te é dada. Teus pecados foram postos sobre Jesus, a vítima propiciatória; já não são teus, porque Ele os tem removido. Posso dizer que sua justiça é atribuída a ti; porém vou mais além, e digo com o texto: “tu és feito justiça de Deus nEle.”.
Amigo, sem Cristo, estás em inimizade com Deus, e Deus está irado contigo; porém a reconciliação estão ao teu alcance. Ele tem feito um caminho pelo qual pode ter converter em seu amigo – uma via custosa para Ele mesmo, porém sem qualquer custo para ti. Ele não pode renunciar à sua justiça, e dessa maneira destruir a honra de seu próprio caráter; porém Ele renunciou a seu Filho, seu Unigênito,  e seu Amado, esse Seu Filho tem sido feito pecado por nós, ainda que Ele não conheceu pecado. Vê como Deus sai ao teu encontro! Vê quão desejosos, quão ansioso está para que haja reconciliação entre Ele mesmo e os homens culpados. Oh senhores, se não são salvos não é porque Deus não possa ou não queira salvá-los,  é porque recusam aceitar sua misericórdia em Cristo.  
O que Ele tem feito por mim, também está completamente desejoso de fazê-lo por ti. Ele é um Deus que está pronto para o perdão. Tenho pregado seu evangelho há muitos anos, porém nunca me encontrei com um pecador que Cristo tenha se recusado a limpar quando se achegou a Ele.








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