Por Silvio Dutra
Quando Jesus disse, que não se
coloca vinho novo em odres velhos, significando que é necessário nascer de
novo, receber uma nova natureza divina, para que nela seja colocado o vinho
novo do Espírito Santo que dá ao crente o pendor que há nele para o que é
divino, celestial e espiritual, é comum se pensar, que o crente ficou livre
completamente na conversão, da velha natureza, do odre velho, que mantém nela o
vinho velho do pecado.
Se não houvesse essa realidade
dual, não haveria necessidade de se ordenar na Bíblia que mortifiquemos, mesmo
como crentes, o pecado - que nos despojemos progressivamente do velho homem.
Este é o trabalho da
santificação do Espírito Santo, ao qual devemos nos entregar com toda a
diligência, para contarmos com o agrado de Deus.
Já fomos aceitos por Ele na
justificação e santificação, mas para
contar com Seu agrado dependemos de andar em santidade de vida, ainda que não
signifique que alcançaremos um dia, o estado de total não pecaminosidade neste
mundo.
Isto está reservado para o
porvir, para o dia em que formos para o céu, pois somente então receberemos a
perfeição total, todavia ainda sem o corpo ressuscitado glorificado que teremos
somente no dia do arrebatamento da igreja.
Quando nosso Senhor restaurar
todas as coisas ao estado de perfeição absoluta, depois da Sua segunda vinda,
então e somente então, estaremos para sempre livres de qualquer ação do pecado,
seja em nosso próprio interior, seja por tentação externa.
Até lá, devemos andar na fé
exercitando-nos na piedade, aprendendo nas provações a nossa inteira dependência
de Jesus; tanto que a perfeição total será atingida somente na Sua volta, para
que saibamos que toda a nossa santificação depende inteiramente dEle, de modo
que toda a glória Lhe pertence, e será muito glorificado na Sua volta,
sobretudo por esta vitória completa sobre o pecado.
(Atos 3.19-21; Romanos 8.18-25; I Coríntios 15.49-57; I João 3.2,3).
Recomendável a todos é a leitura do livro de John Owen, intitulado
“Resquícios de Pecado em Crentes”, que temos publicado na Web, numa tradução
pioneira para a língua portuguesa, no qual há argumentos suficientes para
comprovar, que de fato, a experiência do apóstolo Paulo em Romanos 7, não é
aplicável apenas ao tempo anterior à sua conversão, mas retrata a condição de
todo crente enquanto estiver neste mundo, inclusive do próprio apóstolo.
Ele clama dizendo ser um homem miserável, que buscava o livramento do
corpo de morte que carregava, ou seja, o velho homem, que apesar de morto na
cruz, ainda se fazia presente nos resquícios do pecado que permanecem na carne,
a par de termos recebido uma nova natureza.
Ele dá graças a Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, que pela lei do
Espírito da vida, em Cristo Jesus, nos livrou da lei do pecado e da morte.
Há uma lei maior operando no crente, que é a lei do Espírito; a graça
que agora reina, e é muito maior que o pecado.
Esta liberdade já opera na medida em que caminhamos no Espírito, mas
vemos aqui e acolá, o pecado ainda operando em nossos membros, num conflito de
vida e morte em que todo crente está empenhado.
A libertação completa e definitiva já foi conquistada, porque se diz que
fomos livrados da lei do pecado e da morte, mas isto será visto de forma
completa, somente depois da nossa partida deste mundo, porque Deus determinou
que assim fosse, para uma maior glória de Jesus, e para vermos o quanto
dependemos dEle para ter vida.
Suas palavras, de que Ele é o caminho, a verdade e a vida, que veio para
nos dar vida em abundância, que sem Ele estamos mortos em delitos e pecados,
não possuem qualquer exagero nelas, pois Ele e somente Ele é a fonte da vida
celestial, espiritual e divina; e na verdade, até mesmo de toda vida natural.
Tudo foi entregue a Ele pelo Pai. Nele habita toda a plenitude, e sem
Ele nada existiria. Um nada absoluto e completo é o que haveria sem Cristo. De
modo que Ele é tudo em todos.
Felizes aqueles que têm tal reconhecimento e se entregam a Ele para
serem justificados do pecado, regenerados e santificados, de modo que possam
coparticipar da natureza divina.
“Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as
coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Romanos 11.36)
“5 Porque,
ainda que há também alguns que se chamem deuses, quer no céu ou sobre
a terra, como há muitos deuses e muitos Senhores,
6 todavia,
para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem
existimos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as
coisas, e nós também, por ele.” (I Coríntios 8.5,6).
(I Coríntios 15.27,28; Colossenses 1.13-20; Hebreus 1.1-4; Hebreus 2.8-10).
“Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder,
porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a
existir e foram criadas.” (Apocalipse 4.11).
Qual crente, em sã consciência, à luz de toda esta verdade revelada,
teria a ousadia de afirmar estar agradando da vontade de Deus, à parte de uma
real comunhão com Jesus Cristo?
Muita carnalidade e mundanismo terá que amargar todo aquele que pensa de
modo diferente.
É a própria pessoa de Jesus, a nossa santificação. Nele e somente nEle
que podemos estar santificados, pois nos foi dado pelo Pai para que vivêssemos
por Ele (I Cor 1.30).
Bem-aventurados são aqueles que sabem e reconhecem que têm uma natureza
pecaminosa contra a qual lutar, sujeitando-a à graça de Jesus, para que seja
mortificada.
São de grande benefício para ajudarem a outros, a acharem descanso e paz
em Jesus, por removerem o grande fardo de acusação que a carne e o diabo lançam
sobre eles, por pensarem, que por terem ainda em si estes resquícios do pecado,
não podem de modo algum agradar a Deus. Devem confiar em Cristo, no poder de
Seu sangue para purificar, e confessarem seus pecados para serem perdoados e
retornarem à comunhão com o Senhor.
O que passa ou que fica aquém desta doutrina, não é o genuíno evangelho
de Jesus, que veio ao mundo para curar os doentes e injustos. Ele veio para
curar pecadores, para recebê-los por meio da fé nEle, e garantir-lhes a herança
de uma vida perfeita no céu.
Muito desta perfeição será experimentada como primícias, enquanto aqui
vivermos, mas a colheita completa da festa de Tabernáculos, ainda aguarda pela
vinda do Senhor.
Somente então, cumprir-se-á a Palavra de Apocalipse 11.15-18.
Estamos apresentando a seguir, o décimo quarto
capítulo do livro “Resquícios de Pecado em Crentes”, no qual John Owen discorre
sobre a realidade do pecado atuando na vida de homens santos, conforme o
próprio relato das Escrituras, e o modo pelo qual eles o venceram.
CAPÍTULO 14.
O poder do pecado mais
demonstrado pelos efeitos que teve na vida dos professantes - primeiro, nos
pecados reais; em segundo lugar, em declínios habituais.
Agora vamos proceder a outras
evidências, daquela triste verdade que estamos demonstrando, mas o principal de
nosso trabalho sendo passado, eu vou ser mais breve na gestão dos argumentos
que permanecem.
Por isso, então no próximo lugar,
o que pode ser citado é a demonstração que esta lei do pecado tem em todas as
épocas, dado o seu poder e eficácia, pelos frutos que ela produziu, mesmo nos
próprios crentes. Agora, estes são de dois tipos:
1. As grandes erupções reais do
pecado em suas vidas;
2. Suas declinações habituais do
estado e condição de obediência e comunhão com Deus, que obtiveram; que segundo a regra de Tiago, antes de se desdobrarem,
devem ser colocados à conta desta lei do pecado, e ambas são evidências
convincentes de Seu poder e eficácia.
1. Considere as terríveis
erupções do pecado real que estiveram na vida dos crentes, e devemos encontrar
nossa posição evidenciada. Devo abordar em grande parte essa consideração, devo
contar todas as falhas tristes e escandalosas dos santos que foram registradas
na Sagrada Escritura, mas seus detalhes são conhecidos de todos, de modo que eu
não precisarei mencioná-las, nem os muitos agravamentos que, em suas
circunstâncias são atendidos. Somente algumas coisas úteis que tendem à nossa
presente consideração podem ser observadas; como,
(1.) Elas são encontradas em sua
maioria, na vida dos homens que não eram da forma mais baixa ou do tipo comum
de crentes, mas dos homens que tinham uma eminência peculiar neles, por conta
de sua caminhada com Deus em sua geração. Tais foram Noé, Ló, Davi, Ezequias e
outros - não eram homens de estatura comum, mas superiores aos seus irmãos, em
sua profissão, sim, na santidade real. E
certamente, isso deve ser de uma poderosa eficácia que possa apressar tais
gigantes nos caminhos de Deus para pecados tão abomináveis como aqueles em que eles caíram. Um
motivo comum nunca poderia tirá-los do curso de sua obediência; foi um
veneno que nenhuma constituição atlética de saúde
espiritual, sem antídoto poderia suportar.
(2.) Esses homens não caíram em
seus grandes pecados no início de sua profissão, quando tinham pouca
experiência da bondade de Deus, da doçura e prazer da obediência, do poder e do
oficio do pecado, de seus impulsos, solicitações e surpresas, mas depois de uma
longa caminhada com Deus, e conhecimento de todas essas coisas, juntamente com
inúmeros motivos para a vigilância.
Noé, de acordo com a vida dos
homens naqueles dias, andou retamente com Deus algumas centenas de anos, antes
de ser tão surpreendido como foi. (Gênesis 9).
O justo Ló parece ter sido
contaminado no final de seus dias, com as abominações que havia condenado
antes.
Davi, em uma vida curta, teve
tanta experiência de graça e pecado, e tão íntima comunhão espiritual com Deus,
como jamais teve algum dos filhos dos homens, antes de ser levado para o chão
por esta lei do pecado.
Assim foi com Ezequias em seu
grau, que não era pior.
Agora, para se estabelecer sobre
tais pessoas, tão bem familiarizadas com seu próprio poder e engano, tão
armadas e proporcionadas contra o pecado residente, que tinham sido vencedores
por tantos anos, e ainda assim prevaleceu contra eles, argumenta um poder e
eficácia muito poderosos.
Quem pode vigiar para ter um
maior estoque de graça inerente, do que aqueles homens tiveram; para ter mais
experiência de Deus e da excelência de Seus caminhos, da doçura de Seu amor e
da comunhão com Ele, do que eles?
Quem tem melhor mobiliário para
se opor ao pecado, ou mais obrigação para agir, do que eles?
E, no entanto, vemos com quanto
temor foram atacados.
(3.) Como se Deus tivesse
permitido suas quedas em propósito fixo, para que possamos aprender a
desconfiar desse poderoso inimigo - todos eles caíram quando receberam novas e
maravilhosas misericórdias da mão de Deus, que deveriam ter produzido uma forte
obrigação de diligência e vigilância em estreita obediência.
Noé, porém surgiu recentemente
daquele mundo de águas, onde viu o mundo ímpio perecer pelos seus pecados, e
ele mesmo foi preservado por aquele milagre surpreendente que todas as épocas
devem admirar. Enquanto a desolação do mundo era uma lembrança para ele, de sua
estranha preservação pelo cuidado imediato da mão de Deus, ele caiu na
embriaguez.
Ló tinha visto recentemente o que
todo aquele que pensa estar de pé não pode deixar de tremer, viu, como se fala
"o inferno que cai do céu" sobre os pecadores impuros; a maior prova,
exceto a cruz de Cristo, que Deus jamais deu em Sua providência do julgamento
por vir. Ele viu a si mesmo e suas filhas livrados pelo cuidado especial e mão
milagrosa de Deus; e ainda assim, enquanto estas estranhas misericórdias
estavam frescas sobre ele, caiu em embriaguez e incesto.
Davi foi libertado de todos os
seus problemas, e teve seus inimigos ao redor entregues em sua mão, e ele faz
uso de sua paz em um mundo de provações e problemas para praticar homicídio e
adultério.
Imediatamente após houve a grande
e milagrosa libertação de Ezequias, e ele caiu em orgulho carnal.
Eu digo que suas quedas, em tais ocasiões
parecem ser permitidas com o objetivo de instruir todos nós, na verdade que
temos à mão; de modo que nenhuma pessoa, em nenhuma época, com que mobiliário
de graça que tenha possa prometer-se a segurança, desde a sua prevalência de
outras maneiras, além de guardar-se constantemente para Aquele que tem
provisões para distribuir, que estão acima de seu alcance e eficácia. Parece
que isso deve nos fazer vigiar sobre nós.
Somos melhores do que Noé, que
teve esse testemunho de Deus, de que era "um homem perfeito em suas
gerações", e "andou com Deus?"
Somos melhores do que Ló, cuja
"alma justa estava vexada com as más ações dos homens ímpios", e,
portanto é recomendado pelo Espírito Santo?
Somos mais santos, sábios e
atentos que Davi, que obteve esse testemunho, de que era "um homem segundo
o próprio coração de Deus?" Ou melhor do que Ezequias, que apelou para o
próprio Deus, que ele o tinha servido retamente, com um coração perfeito?
E, no entanto qual a prevalência
que esta lei do pecado causou sobre eles, nós vemos. E não há fim de exemplos
semelhantes. Todos eles são configurados como boias para nos revelar os bancos
de areia, as rochas, com os quais eles fizeram naufrágio - o perigo, a perda,
sim, e teriam feito sua ruína, se Deus não tivesse ficado satisfeito
graciosamente em Sua fidelidade, para evitar isso. Esta é a primeira parte
dessa evidência do poder do pecado em seus efeitos.
2. Ele manifesta seu poder nas
declinações habituais do zelo e da santidade, do estado e da condição de
obediência e comunhão com Deus que
alcançaram, e é encontrado em muitos crentes. Promessas de crescimento e
melhoria são muitas e preciosas o meio excelente e eficaz, os benefícios são
excelentes e indescritíveis; e embora muitas vezes sejam derramados, em vez
disso, muitos dos santos de Deus desmoronam.
Agora, enquanto isso deve ser
causado principalmente pela força e eficácia do pecado residente, e é uma boa
evidência disso, devo demonstrar primeiro, que a própria observação é
verdadeira, ou seja, que alguns dos próprios santos o fazem muitas vezes,
recusando esse crescimento e melhoria na fé, graça e santidade que poderia se
esperar justamente deles, e então mostrar que a causa desse mal está no que
estamos tratando.
E qual é a causa da apostasia
total em professantes infundados, que deve ser depois declarada?
Mas, este é um trabalho maior que
temos em mãos.
O prevalecer sobre os verdadeiros
crentes em uma declinação pecaminosa e apostasia gradual, exige uma colocação
de mais força e eficácia do que sobre os professantes infundados, que
prevalecem para a total apostasia; como o vento que derrubará uma árvore morta
que não tem raiz no chão, dificilmente agitará ou derrubará uma árvore viva e
bem enraizada - mas isso vai acontecer.
Há menção feita na Escritura dos
"primeiros caminhos de Davi", que são elogiados acima de seu último,
2 Crônicas 17: 3. Os últimos caminhos, mesmo de Davi foram manchados com o
poder do pecado residente. Embora mencionemos apenas a erupção real do pecado,
ainda que a impureza e o orgulho que estava trabalhando nele, em seu censo do
povo, certamente foram enraizados em uma declinação de seu primeiro quadro.
Aqueles brotos não cresceram sem lodo. Davi não teria paralelo em seus primeiros
anos, quando seguiu a Deus no deserto
sob tentações e provações, cheio de fé, amor, humildade, quebrantamento de
coração, zelo e carinho para todas as ordenanças de Deus; todos os quais eram
eminentes nele. Mas, sua força é prejudicada pela eficácia e engano do pecado,
suas fechaduras cortadas, e ele se torna uma presa de velhos desejos e
tentações. Nós temos um exemplo notável, na maioria das igrejas que nosso
Salvador desperta para a consideração de sua condição em Apocalipse. Podemos
citar uma delas.
Muitas coisas boas estavam ali na
igreja de Éfeso, Apocalipse 2: 2, 3, pelas quais é grandemente elogiada, mas
ainda é carregada com uma decadência, uma declinação, uma queda gradual e uma
apostasia, versículos 4, 5:
"Abandonaste o teu primeiro
amor. Lembra, pois, de onde caístes, arrepender-te e faz as primeiras
obras".
Houve uma decadência, tanto
interna no coração quanto à fé, ao amor;
e no exterior, quanto à obediência e às obras, em comparação com o que
antes tinham vivido, pelo testemunho do próprio Cristo.
O mesmo pode ser mostrado sobre o
resto dessas igrejas, exceto uma ou duas delas. Cinco são acusadas de decadências e declínios.
Por isso, é mencionado
na Escritura da "bondade da juventude", e do "amor”, de acordo
com o grande elogio, Jeremias 2: 2, 3,
De nossa "primeira fé",
1 Timóteo 5:12,
Do "princípio da nossa
confiança", Hebreus 3:14. E somos advertidos que "não percamos as
coisas que alcançamos", 1 João 8.
Mas, por que precisamos que
olhemos para trás, ou procuremos instâncias para confirmar a verdade dessa
observação?
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