Por Silvio Dutra
Trato civilizado e educado
pode existir, sem a santidade. A santificação não consiste em se educar o velho
homem, mas em crucificá-lo e se despojar dele, de maneira que toda a santidade
habita somente na nova criatura gerada pelo Espírito Santo.
Tampouco vida sem dor e sofrimento neste mundo, não
é o alvo da santidade; muito ao contrário, por causa de um viver santificado as
tribulações e perseguições aumentam.
A santidade não nos garante o recebimento de uma
reserva em depósito da graça, de tal forma que poderemos estar prontos para
enfrentar e vencer todas as provações, sentindo-nos sempre fortes e capacitados
para o confronto com elas.
Na verdade, a promessa divina é que a nossa força
será concedida conforme a necessidade do dia, e exatamente proporcional a ela
devendo, portanto ser buscada a graça, conforme somos ensinados na oração do
Pai nosso: “o pão nosso de cada dia dai-nos hoje”, e
também nos ensina o Senhor Jesus que basta a cada
dia o seu próprio mal.
Daí ser afirmado na Escritura: “Conforme os teus
dias, será a tua força”.
Como caem por terra diante desta verdade bíblica, as
expressões que são muito comumente ouvidas, como estas:
“Venha para Jesus para parar de sofrer.”
“Os santos no céu acumularam méritos suficientes
para interceder por nós.” (pensamento católico romano).
“Desde que me converti recebi força e graça
suficiente para ficar sempre de pé.”
“Já tenho Jesus e não preciso ficar orando e
vigiando em todo o tempo, porque a vitória já está garantida.”
Há um pensamento errado em razão disso, de quem é
crente, por pertencer a Jesus, é sempre calmo, educado, cortês, cheio de fé,
etc. Ainda que isto seja um dos alvos a ser buscado, não é uma realidade em
perfeição na vida de qualquer crente, enquanto estiver neste mundo, porque
estamos rodeados de fraquezas, e nosso suprimento de graça vem do Senhor,
quando o buscamos, e temos por alvo a perfeição em santificação.
Toda a plenitude, toda a graça está depositada em
Jesus, e não em nós, nem sequer na totalidade dos crentes. É então, somente
nEle que devemos buscar a graça que necessitarmos.
A Palavra de Deus nos ordena a cuidarmos para
permanecermos de pé e firmes na fé, para que não caiamos; que guardemos a nossa
coroa para que ninguém a furte; a orarmos e vigiarmos em todo o tempo, porque a
nossa permanência em santificação depende disto, porque temos uma carne para
ser mortificada, e um velho homem para nos despojarmos dele, para que sejamos
revestidos do novo homem.
Estando assim ordenados por Deus para um conflito
com as forças do mal, há uma guerra a ser travada de muitas batalhas, que
somente cessarão no final desta vida.
É o chamado bom combate da fé, no qual devemos
vestir toda a armadura de Deus, para que sejamos bem-sucedidos nas batalhas que
empreendermos contra os poderes das trevas e o mal que habita no nosso próprio
coração, para que dali o expulsemos.
(Efésios 6.10-20).
Esta guerra possui várias frentes de batalha, porque são muitas as áreas
em que somos chamados a atuar:
- Na familiar, no relacionamento entre os cônjuges, dos pais em relação
aos filhos, e estes em relação aos pais.
- No trabalho, entre empregados e patrões.
- Na sociedade em geral, pela submissão às autoridades constituídas, no
trato com o próximo, etc.
Deus tem regras para o comportamento do Seu povo em todas as
circunstâncias que for chamado a viver. É nisto principalmente, que a fé é
provada, no sentido de ser visto se será obediente aos mandamentos do Senhor ou
não.
Além disso, há o combate direto com os espíritos das trevas, que
procuram afastar o crente da comunhão com Deus, insuflando-lhe dúvidas,
desconfiança, e incredulidade nas promessas divinas, e com isto levá-lo a ficar
deprimido, intimidado, e enfim detido em sua caminhada feliz com o Senhor.
Tão grandes e sutis são as artimanhas dos demônios, que para confundir o
homem fazem com que deposite a sua confiança numa fonte maligna, pela concessão
de bens temporários pelo poder que têm, até mesmo para curar enfermidades,
abrir portas de trabalho, gerar influências de encantamento apaixonado entre
pessoas, e tudo com vistas a afastá-las de Deus, pelo compromisso que assumem
com estas “fontes geradoras de bondade e benefícios” espúrios.
Aqui reside um grande perigo a que ficamos expostos, quando buscamos
apenas a concessão de coisas sem levar em conta qual é a fonte da qual elas
procedem: se de Deus ou do diabo.
Jesus nos alertou, que especialmente nos últimos dias, falsos pastores e
mestres se levantariam na terra operando sinais e maravilhas; que se fosse possível, até mesmo os eleitos
seriam enganados.
Eles não estão a serviço de Deus, senão do diabo, para conduzir pessoas
ao erro e afastá-las assim, da verdade - mesmo nas situações em que estes
espíritos do erro atuarem sob o comando de Deus, que lhes restringe as ações,
como foi no caso citado em I Reis 22.20-23.
A obstinação de Acabe contra o Senhor foi usada por Deus contra ele
mesmo, por aprofundar-lhe a convicção do erro em que insistia, através do engano citado
anteriormente.
Como o trabalho de enganar e mentir, não poderia ser feito por um anjo
eleito de Deus, ele foi feito por um demônio que se apresentou para tal, porque
a vocação e o prazer deles é o de enganar.
O mesmo pode ser dito de Balaão, que foi destruído em sua obstinação, e
morreu lutando contra Deus, apesar de ter tido a Sua Palavra em sua própria
boca, para profetizar em determinadas ocasiões.
Judas seguiu pelo mesmo caminho, e em nossos dias, os exemplos se
multiplicam nas vidas daqueles que se apresentam como servos de Deus, que falam
em nome dEle, mas cujo propósito é sempre o de enganar o coração dos incautos.
Quão complexo é o mundo espiritual! Quanto cuidado e discernimento
devemos ter para não sermos enganados!
Em outra consideração que nos cabe fazer, é que Deus jamais nos levará a
ficar devendo alguma coisa a alguém, seja por empréstimo não devolvido, ou
dívida contraída não saldada, pois Seu mandamento é que sejamos honestos e
confiáveis em todas as coisas.
“Balanças justas e medidas justas”, é o mandamento.
“A ninguém nada dever, senão somente o amor”.
Então, não pode ser considerado uma bênção, acumular bens mal
adquiridos, mediante o prejuízo de terceiros.
Se demônios se levantam contra nós e nos oprimem, será de pouco ou
nenhum efeito repreendê-los em nome de Jesus, em um suposto exercício da fé,
quando nos encontramos na condição citada anteriormente, com nossa vida pessoal
comprometida com coisas em que deveríamos fazer primeiro a devida reparação, ou
restituição do mal que praticamos.
Isto se aplica, sobretudo na área de não concessão de perdão, e somos
alertados diretamente pelo próprio Senhor Jesus, a perdoarmos os nossos
ofensores, para que não sejamos lançados em uma prisão espiritual sob a
opressão de verdugos (demônios), da qual somente poderemos sair depois de
pagarmos o último centavo do perdão que devemos conceder ao ofensor.
Há casos em que a obstinação pela permanência em uma deliberada posição,
contrária a um possível e necessário arrependimento é punida por Deus, a ponto
de sermos considerados estranhos para Ele, e sujeitados a Satanás para a
destruição da carne, de modo que nosso espírito possa ser salvo no dia do
Senhor.
Não é sem razão que somos ordenados veementemente, a ter a devida
reverência e temor a Deus - na verdade, temor e tremor diante dEle, porque as
consequências de um viver desordenado, contrário à Sua vontade são terríveis,
ainda que não venhamos a perder a salvação eterna que obtivemos pela fé em
Jesus.
(Leia Filipenses 2.12-15; I Pedro 1.17).
Ainda que não alcançássemos o tipo de temor filial, que é o ideal que
Deus espera de nós, é melhor ter o temor servil do tipo de um escravo relativo
ao seu senhor, do que não possuir nenhum tipo de temor dos juízos de Deus que
não nos leve a nos afastar do pecado, e buscar removê-lo de nossas vidas.
O temor filial - de um filho por um Pai amoroso, é baseado no respeito,
na reverência, no amor, e não no medo, como é o caso do temor servil. É este
tipo de temor filial que devemos aprender a cultivar e nunca nos descuidarmos
dele, porque quando o fazemos já não andamos conforme nos convém diante do
Senhor, no cumprimento dos Seus mandamentos.
Este temor filial não é, no entanto entre seres separados entre si por
um abismo, por um afastamento entre o que é grande e o que é pequeno, pois há
uma união vital do crente com Cristo, assim como há entre os ramos da videira e
seu caule, e da cabeça com os membros do corpo.
É nesta união que consiste toda a nossa santificação. É nEle que somos
aperfeiçoados. É nEle que vivemos e somos transformados.
Essa é a essência mesma da santificação, que nos revela claramente, que
não está fundada em nossas boas obras isoladas, mas em quanto temos da própria
vida de Jesus se manifestando em nós. Onde isto faltar, por melhores que sejam
as obras, não haverá nenhuma santificação aprovada por Deus.
A consequência dessa nossa união
com nosso Senhor Jesus Cristo, é que se vivêssemos em pecado negaríamos esta verdade, porque se
somos um com Ele, então devemos estar no mundo como Ele estava; e
cheios do Seu Espírito
procurar reproduzir Sua vida perante o mundo.
Daí o apóstolo comparar a nossa união com Cristo, com a que
deve existir entre os cônjuges, pois além da união vital que há entre a videira
e os ramos, há no presente caso do casamento, a união em amor (Efésios
5.29,30).
Esta unidade do crente com Cristo é unidade espiritual de fé e amor,
fundada na verdade da Palavra, na doutrina verdadeira, a saber, a do Senhor e
Seus apóstolos.
Esta unidade é promovida pelo Espírito Santo e é vista principalmente,
quando os crentes se reúnem para adorar o Senhor em Espírito e em verdade.
Seus corações são unidos num mesmo querer e sentir, e o poder e amor de
Deus se faz sentir entre eles, fazendo-os se sentir um só corpo com o Senhor e
entre eles mesmos.
Outros tipos de unidade são promovidas pela carne e não pelo Espírito, e
assim, não podem contar com o reconhecimento de Deus para que manifeste a Sua
presença entre eles.
É somente quando se reúnem em nome do Senhor para adorá-Lo, segundo as
condições que Ele estabeleceu em Sua Palavra para ser cultuado, que se pode
contar com Sua bênção.
Tudo o que passa, ou fica aquém disso terá nascido na carne e na carne
morrerá, porque tudo o que a carne pode gerar é carnal, e jamais,
verdadeiramente espiritual.
Toda a unidade verdadeira com Jesus requer que haja previamente
santificação; por isso somos ordenados na Palavra, a purificar o coração para nos
aproximarmos de Deus.
(Hebreus 10.19-25; I João 1.5-9).
Nossas orações devem ser segundo a vontade de Deus, em razão de que a
nossa união com Cristo não é apenas de vida e amor, mas também de identidade,
pois somos parte do Seu corpo, do qual Ele é a cabeça.
Tudo a que temos nos referido deve ser vivido pela fé, e tomado somente
pela mão da fé, de maneira que teremos mais da experiência destas realidades,
quanto maior for a nossa fé no Senhor e nas Suas promessas.
Se ainda não aprendemos a dar total crédito à Palavra de Deus, quando
nossa fé for colocada à prova, é bem certo que ela falhará.
Aqueles que continuam crendo e agindo de acordo com a Palavra revelada,
ou mesmo obedecendo a direções particulares que tenha recebido da parte de Deus
pelo Espírito Santo, hão de saber que o Senhor é sempre fiel, e nunca falhará
em cumprir tudo o que tem prometido fazer.
Ele quer que aprendamos isto, porque é dando-Lhe toda a nossa confiança,
que podemos melhor experimentar de forma alegre e sossegada, a comunhão com Ele
em todas as circunstâncias, por mais adversas que possam se apresentar a nós.
Nisto Deus é glorificado, pois damos-lhe ocasião para revelar em nossas
vidas toda a Sua bondade, amor e fidelidade.
Nada mais lhe agrada do que manifestar Seu amor, longanimidade, graça e
misericórdia.
Os juízos e correções dolorosas são a Sua obra estranha, pois recorre
aos mesmos por exigência do atributo da Sua justiça, mas não que se agrade na
morte de ímpios, ou mesmo em açoitar Seus filhos por conta dos males que
praticam, mas para conduzi-los à verdade, para o próprio bem deles.
Se somos desobedientes voluntariamente, e nos tornamos endurecidos ao
arrependimento, ficamos imediatamente sujeitos à ação do Inimigo de nossas
almas. Esta é uma lei espiritual que não pode deixar de ser cumprida, e explica
a razão de ser tão deplorável a condição daqueles filhos de Deus, que andam de
maneira desordenada, não consentindo abandonarem a posição de desviados em que
se encontram.
Afinal, a Sua eleição foi feita em amor, antes mesmo da fundação do
mundo, para que fossem santos e piedosos no Espírito Santo.
Sua conversão não foi uma questão de sorte, que dependeu de terem
decidido por si mesmos crerem em Cristo para serem salvos.
Se assim fosse, haveria o risco de não crerem, caso cogitassem ser algo
não necessário, e por se encontrarem satisfeitos com o que vinham sendo em suas
vidas.
Mas, como a salvação de nossas almas não é algo que foi deixado por Deus
à incerteza e instabilidade de nossas decisões, Ele enviou o Espírito Santo
para fazer o trabalho de convencimento, de que somos pecadores necessitados da
justiça de Cristo, para sermos aceitos como Seus filhos amados.
Não existe, portanto esta hipótese de que alguém venha a ficar fora do
céu, por motivo de não ter tido a sorte e a ventura de fazer a escolha certa e
necessária.
O tempo, a hora da nossa conversão encontram-se no poder e decisão de
Deus. Ele conhece o propósito, as circunstâncias, e tudo o que cooperará de
modo adequado para que sejamos atraídos por Ele a Cristo, para sermos salvos.
Ele conheceu em Sua onisciência todos aqueles que resistiriam à Sua
pessoa e vontade, antes mesmo de serem concebidos nos ventres de suas mães, e
assim o Senhor os rejeitou antes de ter sido rejeitado por eles, como foi o
caso de Esaú, faraó nos dias de Moisés, Judas e tantos outros.
Destes que têm sido rejeitados, muitos se aproximam dEle e dos Seus
assuntos, mas pelos mais diversos motivos errados e egoístas, como foi o caso
de Judas, e assim permanecem rejeitados para a salvação.
Crer em Cristo é algo substancial, real e consciente. Ninguém ao chegar
no céu suspirará aliviado e surpreso, com o fato de lá estar, e concluir:
“Que sorte que eu tive de ter acreditado em Jesus. Imagine se eu não
tivesse crido? Eu não estaria aqui agora.”
Quando o assunto é assim com alguém, que considera se terá a sorte ou
não de estar no céu, é melhor que tal pessoa examine-se à luz da Palavra e
diante de Deus, para ver que tipo de conversão foi a sua, pois por esta forma
de duvidar, tudo indica que não houve uma experiência real com a fé verdadeira,
que é a única que salva.
Há evidências indicativas da nossa eleição e conversão. Há uma
transformação real de nossa mente e inclinação, que antes de uma conversão
real, não era para Deus e Sua Palavra como verdade revelada, e também para o
mover do Espírito Santo.
Toda conversão real vence o pendor da carne, e estabelece no crente um
pendor para o Espírito Santo.
O que é puro e santo é o que ele ama agora, e não mais o pecado. A
inclinação remanescente na carne é algo que o desagrada, e fica na expectativa
de vencer pelo poder da graça de Jesus.
Sua sede pela verdade é genuína, e nada além da verdadeira Palavra de
Deus, tal como se acha revelada na Bíblia, é o que lhe satisfaz, de modo que
preferirá perder amizades, conveniências e tudo o mais que possuía antes, por
causa do seu amor a Cristo e à verdade.
Todavia, não significa que se
sinta livre do pecado e de tentações, pois sua experiência real é a relatada
pelo apóstolo Paulo no sétimo capítulo de Romanos.
Ele quer sempre o bem, ele ama o
Senhor de todo o seu coração, e rejeita o mal, todavia está sujeito a não fazer
o bem que prefere, e a fazer o mal que rejeita, pois nele ainda habita o que se
chama de pecado residente, ou resquícios do pecado.
Isto decorre que, apesar de ser
uma nova criatura (nova criação) com uma nova natureza divina, o crente possui
enquanto estiver neste mundo, também uma natureza terrena no qual habita o
pecado. Esta natureza terrena, que é chamada de velho homem recebeu a sentença
de morte na cruz, mas o livramento completo dela somente ocorrerá no dia da
nossa morte, quando deixarmos este corpo que possui uma mente corrompida pelo
pecado, sujeita a errar e a pecar ao lado de todo o trabalho da nova natureza
para contê-la.
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